Eu sou a voz que clama no deserto.
Punho em riste, voz estrondante, fala bombástica!
Eu sou uma bomba humana!
Pedaços do meu coração e do meu cérebro, porções do meu sangue espalham-se na sala
quando meu grito se levanta e os poderosos incham e implodem, silenciosamente, entre
a vergonha e o medo diante dessas palavras que desnudam toda a sua mentira e revelam
sua
ideologia, seu fascismo capitalista ordinário e opressor
que se refestela sobre os cadáveres de nossas crianças mortas
de disenteria e diarréia
enquanto nós choramos lágrimas amargas e nos derramamos de amor
sobre seus corpos inertes e esquálidos,
que jazem em simples caixões de madeira
feitos assim, para anjos!
Minha voz se levanta pelas mulheres espancadas, amarradas, esmurradas,
acorrentadas, enterradas vivas nas paredes das casas grandes a mando dos
seus senhores, escravizadas sexualmente pelos senhores de tudo, senhores
de nada, de aristocratas a carroceiros, senhores de merda, cagões fedidos,
cuecas sujas,
há milênios matando mulheres e crianças para impor sua supremacia.
Por que isso ainda é uma coisa normal no século das pesquisas das
células-tronco, dos transgênicos, dos clones humanos para salvar vidas
(que pretexto perverso da luxuosa ciência neoliberal para produzir a cura
dos ricos, enquanto chacina inocentes nas basrbas da lei, gerados sem pai
nem mãe, sob a assinatura da lei – e quem, senão eles mesmos, faz a lei?)
da cibernética, da informática, da astronáutica?
Por que a Ciência insiste em ser tão inútil? Muito mais lhe seria honrado
se já tivesse descoberto a cura da fome. O que fazer diante das
prateleiras dos supermercados abarrotados de produtos alimentícios
enquanto nas calçadas destas mesmas super lojas de comida amontoam-se dia
e noite famílias inteiras de sem – teto, sem – chance, sem – emprego, sem
– dignidade, sem…sem…sem…
De que adianta salvar 10 vidas por transplante e perder milhões por
inanição, desidratação, disenteria, fome? Mas a eles pouco se lhes dá,
contanto que seus cofres estejam abarrotados de dólares imundos e suas
mesas de escritório exibam estatuetas de prêmios internacionais que lhes
renderam fama e prestígio!
A minha voz clama pelos negros discriminados, escravizados, segregados do
mundo.
UM DIA
EU NASCI NA ÁFRICA
MAS ME ROUBARAM DA ÁFRICA
E ROUBARAM A ÁFRICA DE MIM
Ah, Valdelice Pinheiro,não nos roubaram só a África, a corja de ladrões
brancos, roubaram nossa linda Pindorama também,esses inúteis fantoches do
progresso e do desenvolvimento e agora surrupiam nossa água, nossas
florestas, nossas plantas medicinais, nossa fauna, nossa história…
Oh paz, branca paz avermelhada e encharcada do sangue de tantos inocentes,
banhada no óleo negro dos desertos e dos oceanos; como a Águia do Norte
tem manchado a Terra de dor em teu nome e quantos loucos a seguirem esses
alucinados que dizem defender a paz do mundo com bombas, tanques de
guerra, invasões arbitrárias a outras nações, mísseis… quando na verdade
só querem defender mesmo os seus cofres escondidos em paredes secretas,
cheios de tesouros roubados e saqueados dos pobres do mundo, que morrem à
míngua para que seus governantes corruptos paguem a dívida externa que
eles mesmos e seus afins contraíram no nosso nome.
Vendem os bancos do povo, as empresas de comunicaçâo do povo, as usinas
siderúrgicas do povo sem nem perguntar-lhe se quer que vendam suas
instituições masis lucrativas e ainda mandam bater, prender e até matar
aqueles que se manifestam contra o sucateamento, o leilão, a doação, a
esculhambação, a venda ilegal da coisa pública.
E a quem vendem? Vendem ao capital internacional, à iniciativa privada o que é do
povo. E vendem por preço de bagatela. Sucateiam e vendem. É o neoliberalismo, a
sustentação filosófica sofisticada do capitalismo sangrento do século XXI.
Construiu-se instituições financeiras poderosas com o salário dos trabalhadores e os
impostos pagos pelo povo e depois de muito roubarem e sucatearem e se locupletarem
das riquezas públicas, vendem-nas para os chefes das quadrilhas internacionais, os
banqueiros internacionais, com o apoio da ONU, das Forças Armadas, de outros
Partidos Políticos, tudo inventado para manter e referendar a ordem mundial que lhes
interessa e assim garantir seus favores, seus privilégios, seu status quo de poder e
soberania, sangria desatada dos povos do Terceiro Mundo mantidos na ignorância que
ratifica a exploração do mundo pelo voto, elegendo bandidos sanguinários,
assassinos, ladrões, aves de rapina, que têm dinheiro, muito dinheiro roubado, para
fazer campanhas
políticas milionáriias com out-door’s, bandeiras de todas as cores hasteadas por
favelados que ganham como pagamento, numa fila, um cachorro – quente e uma lata de
xarope preto gaseificado e à base de cafeína norte americano e talvez um trocado
para matar sua fome funcional ao Estado capitalista no fim do dia, contanto que
esteja assegurado que amanhã ele precisará novamente daquele punhado de pão e
daquele tosco quinhão.
“Ah, não me dê piedosas intenções, não me peça definições, não me diga:vem por aqui!
A minha glória é esta, criar desumanidade e não ac ompanhar ninguém, porque eu vivo
com o mesmo sem vontade com que rasguei o ventre à minha mãe!” E a filosofia,
prostituta, vendida, prostituída, a inventar meios termos e expressões complicadas
para fazer de conta que não vê o genocídio, que não existe o massacre, para forjar
álibis para os assassinos vigaristas de colarinho branco que mandam no mundo, o
mundo do dinheiro, um pedaço de papel que eles mesmos cunham e só eles mesmos têm,
valendo este pedaço de papel muito mais do que todos nós, os filhos de ninguém,
cidadãos de lugar nenhum, os donos de nada, a força de trabalho que movimenta suas
máquinas e suas indústrias para que fiquem cada vez mais ricos e nós cada vez mais
pobres!
Inútil ciência, serviçal da burguesia, razão instrumental corporificada em provetas,
bisturis, tubos de ensaio… Inútil política, instrumento das elites dominantes
para eternizar-se no poder… Inútil lei, que qual cobra venenosa, só morde os pés
de quem está descalço…Inúteis para nós, o povo trabalhador, as massas populares.
Funcionais ao Estado e à classe dominante.
Prezados senhores, não sou nenhuma escritora com livros publicados, não sou famosa,
tampouco conhecida, mas tomo a ousadia de enviar-lhes hoje algumas reflexões que, se
forem do vosso interesse, podeis tornar público, fazendo jus, claro, ao meu crédito.
Sou professora da rede municipal de Ilhéus e Itabuna, sou concursada nos dois
municípios e tenho uma especialização em Política e Planejamento Educacionais.
Atualmente leciono filosofia na Escola Municipal do Pontal, sob a direção de Maria
José Barreto.
*Maria de Lourdes da Silva é professora de
filosofia em Ilhéus-Itabuna-Ba