Telemar demite quase mil e sindicato protesta

O grupo Telemar demitiu hoje um total de 955 funcionários em todos os níveis da organização. O quadro de pessoal remonta a 46,3 mil empregos diretos em todas as empresas do grupo (Oi, Telemar e Contax).
Também hoje, a entidade sindical Fittel (Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações) divulgou nota com a informação de que a Telemar teria demitido cerca de 20% do seu quadro pessoal.
O presidente da entidade, José Zunga, informou que o número se refere apenas à operadora de telefonia de longa distância Telemar que, de acordo com a entidade, teria 9 mil empregados. Zunga disse que o número de 20% foi apurado por meio de levantamentos internos nas filiais dos grupos em todo o país, atualizados até as 12h de hoje.

Pelo último balanço disponível do grupo, relativo a setembro, o número de funcionários da operadora de telefonia fixa era de 8.089 funcionários.

De acordo com a Fittel, o enxugamento de pessoal poderia aumentar a possibilidade de fraudes nos indicadores que medem a qualidade dos serviços da empresa e promover um “distanciamento do cliente”.

Ainda segundo a nota à imprensa da Fittel, está prevista uma reunião nesta terça-feira com a direção da empresa para avaliar as demissões. A assessoria da Telemar não confirmou essa informação.

O presidente da Fittel afirmou que foi convidado pelo RH da Telemar para uma reunião no Rio de Janeiro, às 15h, com o presidente da operadora Telemar, Ronaldo Iabrudi. Ainda segundo Zunga, já foi solicitada uma audiência com o ministro das Comunicações, Eunício de Oliveira, para debater as demissões no grupo Telemar.

Reestruturação

Em seu comunicado, a Telemar afirma que a redução dos postos de trabalho (que implicou num corte de 40% de posições geranciais) visa simplificar a estrutura da organização para “obter mais agilidade nas decisões” e aproximar a administração da empresa “dos clientes e do mercado”. A Telemar também afirmou que houve contratação de 230 funcionários no início deste ano.

De acordo com informações do próprio grupo, há um processo de reestruturação em andamento, que pode vir a resultar em novos enxugamentos de pessoal bem como de aumento do quadro em setores mais demandados.

O grupo está envolvido em um processo de universalização do atendimento de telefonia fixa para localidades remotas que poderia resultar na contratação de 850 técnicos pelas “empresas fornecedoras” de serviços.

Perfil do grupo

O último balanço disponível do grupo Telemar mostra que a empresa teve um lucro de R$ 159,3 milhões no terceiro trimestre de 2004 contra um resultado negativo de R$ 23,6 milhões em setembro do ano anterior. No acumulado dos nove meses, o lucro foi de R$ 458 milhões contra um prejuízo de R$ 301,3 milhões no mesmo período de 2003.

As despesas de pessoal da Telemar atingiram R$ 278 milhões no terceiro trimestre de 2004, um salto de 19% sobre o número de 2003 para o mesmo período. Em nove meses, essas despesas alcançaram R$ 796 milhões, um avanço de 12% sobre o período de janeiro a setembro de 2003.

O quadro de funcionários das três empresas (operadora Telemar, Oi e Contax) aumentou de 35.983 para 41.132 entre setembro de 2003 e setembro de 2004. Houve enxugamento na operadora de telefonia fixa (de 9.116 para 8.089) e aumento na operadora de telefonia celular (de 970 para 1.238) e na empresa de call center (de 25.897 para 34.174).

EPAMINONDAS NETO

Candidato único, Renan Calheiros é eleito presidente do Senado

Em 16 minutos, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) foi eleito o novo presidente do Senado, em substituição a José Sarney (PMDB-AP). Ao contrário da Câmara, ele foi aclamado como candidato único da Casa e venceu por 73 votos contra 4.
O senador alagoano havia fechado um acordo com o Palácio do Planalto para suceder Sarney, mas o processo tornou-se conturbado com a tentativa de votação da proposta de emenda à Constituição que permitia a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado. Com a votação frustrada, Calheiros conseguiu ser o único candidato à sucessão de Sarney.
Calheiros foi eleito para o Senado pela primeira vez em 1994. Ele foi ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso e líder do governo durante a gestão de Fernando Collor.

O presidente Sarney, que presidiu sua última sessão, criticou o exercício
das medidas provisórias. “Com as MPs é impossível aprofundar a democracia”, afirmou.

Sarney afirmou que as MPs são a “consagração” de improvisos e sugeriu que elas fossem restritas às matérias financeiras e que tratem de calamidades públicas.

Em seu primeiro discurso, Calheiros seguiu as críticas de despedida de Sarney às MPs. “Exorto o Senado a resistir à tentação de ‘legislar governando’ e lembro ao Executivo a necessidade de não ‘governar legislando'”, afirmou.

“Espero empenarmo-nos todos, acima dos partidos, das doutrinas e das ideologias que podem nos caracterizar, mas não devem separar-nos, quando se trata do interesse coletivo de toda a nação. É neste contexto que temos que continuar a apreciar não apenas o rito, mas a própria substância das medidas provisórias”, disse.

FELIPE RECONDO

INFORMES – ASCOM – PREFEITURA MUNICIPAL DE ILHÉUS

Integração entre professor e aluno marca início das aulas;

Acordo garante funcionamento da Casa dos Artistas de Ilhéus;

Ciclista percorre o Brasil pedindo paz nas estradas;

Biblioteca atrai público com filmes e contação de história;

Agentes de combate à dengue já estão nas ruas com mutirão;

FTC terá cinco cursos a distância em Ilhéus.

Acordo garante funcionamento da Casa dos Artistas de Ilhéus

A Prefeitura de Ilhéus vai garantir os recursos necessários para manter a Casa dos Artistas em funcionamento. Esse compromisso foi assumido nesta segunda-feira (14), em reunião na Fundação Cultural, na qual estiveram presentes a presidente do órgão, Simone Reis, o secretário municipal de Planejamento e Controle Orçamentário, Selem Rachid Asmar, e os representantes da Casa dos Artistas, Romualdo Lisboa e Pawlo Cidade.

Durante o encontro, a presidente da Fundaci salientou que, para o município, é de fundamental importância manter a Casa dos Artistas aberta. “O trabalho de valorização da cultura regional, assim como a qualidade dos espetáculos montados e produzidos na Casa dos Artistas, indicam que seria extremamente danoso para a comunidade ilheense que um espaço como esse deixasse de funcionar”, declarou.

A Casa dos Artistas sofre com uma crise financeira que se acentuou no ano passado e chegou a provocar o atraso no pagamento de despesas com papelaria, pessoal, água, luz e telefones, conforme declaração de Romualdo Lisboa, diretor do espaço. Ele acredita que a parceria com Fundação Cultural, órgão vinculado à Prefeitura, vai tornar possível a manutenção das atividades. Lisboa ressaltou, entretanto, ser fundamental uma maior colaboração da iniciativa privada nos projetos culturais da Casa.

Biblioteca atrai público com filmes e contação de história

As sessões de filmes e de contação de histórias na Biblioteca Municipal de Ilhéus, devem ser ainda mais procuradas, com o início das aulas nas redes particular e municipal. As sessões são acompanhadas por um público interessado e que encontrou uma forma de estar ainda mais próximo do universo da literatura e da cultura em geral. As sessões de filmes acontecem às terças e quintas, e as contações às quartas e sextas-feiras.

Nesta terça-feira (15), será exibido o filme O Rei Leão e, na quinta (17), será a vez da apresentação de Aladdim. Nos dois dias, as sessões ocorrem às 9h e às 15h. “Nesta semana, a programação está reservada ao público infantil, mas as sessões de filmes e contações são abertas à comunidade em geral”, explica a coordenadora da Biblioteca Municipal, Regina Figueiroa. Segundo ela, o público também está aprendendo a apreciar as sessões de contação de história, narradas por uma profissional especializada.

A coordenadora da Biblioteca Municipal afirma que os filmes e a narração de histórias são atrativos a mais, que permitem à população “aproveitar ao máximo o espaço da Biblioteca”. Regina Figueroa salienta ainda que a Biblioteca aceita voluntários que queiram participar das sessões de contação de história. Para isso, basta procurar a Biblioteca Municipal, que fica na praça Castro Alves (antigo Grupo Escolar General Osório).

Integração entre professor e aluno marca início das aulas

As escolas da rede municipal receberam, nesta segunda-feira (14), os mais de 30 mil alunos matriculados em Ilhéus. O primeiro dia de aula foi diferente e deu ênfase à harmonia e às boas relações entre educador, estudante e toda a comunidade escolar. Os alunos tiveram uma recepção em que os professores mostraram a escola e a sala de aula como espaços prazerosos de aprendizagem e de construção de conhecimento.

A secretária municipal de Educação, Maria Carolina Brito Cunha, disse que, apesar das dificuldades encontradas em toda a rede, o governo irá trabalhar para que “a escola municipal se torne um espaço em que a aprendizagem seja estimulada de forma efetiva”. De acordo com ela, o primeiro dia de aula na rede é uma demonstração dessa política educacional, em que professores devem estar atentos às necessidades do aluno. “O educador também será valorizado para que a educação melhore cada vez mais”, enfatiza.

Maria Carolina disse que esse é “realmente, um caminho para que Ilhéus tenha um ensino de qualidade com gestão participativa”. A secretária afirmou que a educação participativa também foi uma das diretrizes traçadas pelos novos dirigentes educacionais e que foram repassadas aos professores na Jornada Pedagógica, atividade de planejamento para o ano letivo que contou com a participação de todos os profissionais em educação do município.

Calendário letivo

O ano letivo na rede municipal terá 200 dias/aula e será encerrado no dia 20 de dezembro. O período final para reposição de aulas será de 26 a 28 de dezembro, conforme calendário definido em reunião do Conselho Municipal de Educação. Os educadores da rede terão neste ano letivo três encontros coletivos, previstos para 7 de maio, 8 de outubro e 19 de novembro.

Ciclista percorre o Brasil pedindo paz nas estradas

O ciclista brasileiro Carlos Henrique Ribeiro, de 40 anos, recordista brasileiro em longos percursos, está em Ilhéus numa campanha contra a violência nas estradas e o uso do álcool no trânsito. Pedreiro de profissão, Carlos Henrique saiu do município de Jardim (MS), em abril de 2002. Decidiu iniciar a jornada ao observar o grande número de acidentes nas rodovias e, em sua cruzada pela paz, o ciclista busca conscientizar motoristas para que sejam mais prudentes ao volante.

Até agosto do ano passado, Carlos Henrique tinha percorrido mais de 28.500 quilômetros e visitado 290 cidades, tornando-se o ciclista brasileiro recordista em longas distâncias. A aventura do sul-matogrossense está incluída na versão brasileira do Guinness Book. Foi também em agosto que ele decidiu iniciar uma outra “maratona”, agora com o objetivo de quebrar o seu próprio recorde e superar a barreira dos 45 mil quilômetros. Para atingir o sonho, trilha em média 150 quilômetros por dia, ficando no máximo dois dias em cada cidade visitada. Com um patrocinador oficial, o curso de idiomas Wizard, Carlos Henrique recorre a apoios nas cidades por onde passa para poder continuar a sua trajetória.

Em Ilhéus, a Secretaria Municipal de Esportes garantiu apoio à estada do ciclista na cidade. O vice-prefeito e secretário Newton Lima assinou também um documento comprovando a passagem do atleta por Ilhéus. Na mochila, o ciclista carrega um álbum reunindo fotos de quase todos os lugares visitados. Ilhéus, segundo ele, já tem seu lugar reservado. “É uma cidade linda, famosa e de grande importância histórica”, reconheceu Carlos Henrique.

Agentes de combate à dengue já estão nas ruas com mutirão

A Secretaria Municipal de Saúde deu início nesta segunda-feira (14) ao mutirão de combate à dengue em Ilhéus. Uma equipe de 129 agentes já está nas ruas para dar para eliminar focos de proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. Os agentes foram contratados em regime emergencial pela Prefeitura de Ilhéus e estão nas ruas após serem aprovados em seleção pública e participar de treinamento.

O mutirão vai abranger toda a área do município e também conta com 14 supervisores da 6ª Diretoria Regional de Saúde (Dires). As visitas domiciliares começaram pela zona sul até o Pontal e Centro até o Malhado. Logo após, a ação parte para os outros bairros da cidade. A previsão é de que este primeiro ciclo de controle dos focos de dengue seja concluído até o dia 28 de março.

De acordo com dados registrados pela Secretaria Municipal de Saúde, o índice de infestação no município é elevado, devido ao baixo nível do controle realizado em 2004. A diretora do Departamento de Vigilância à Saúde, Cássia Virgínia Brito, informou que apenas na última sexta-feira (11), foram encaminhadas para Salvador 15 amostras de sangue de pessoas com suspeita de infecção.

“O município realizou apenas um ciclo de visitas no ano passado”, alerta Cássia. A secretária de Saúde, Vera Jasmineiro, assegurou que o trabalho está sendo retomado de forma efetiva, com visitas domiciliares que serão feitas em todos os ciclos de reprodução do mosquito transmissor, a cada dois meses. A aplicação de larvicida para o tratamento de todos os prováveis focos, como tonéis, tanques, vasos de plantas, garrafas e latas, fazem parte do trabalho dos agentes, que também darão orientações educativas à população.

Para que o controle seja realizado de forma eficiente, a Prefeitura espera contar com a participação dos ilheenses. ” É preciso que a população dê continuidade ao trabalho dos agentes, mantendo limpos os possíveis locais de proliferação do mosquito da dengue”, disse a secretária.

FTC terá cinco cursos a distância em Ilhéus

A Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) vai instalar um núcleo de Educação à Distância em Ilhéus, com aulas previstas para começar em março. Para divulgar a iniciativa, a instituição de ensino promove nesta terça-feira (15), a partir das 19 horas, na Biblioteca Municipal, palestra com o professor Reinaldo Borba, diretor de Tecnologia da FTC / EaD. O evento, que é aberto ao público, contará com a presença da secretária de Educação de Ilhéus, professora Maria Carlina Brito Cunha. Ela considera a proposta da FTC “interessante, na medida em que vai proporcionar a oportunidade de uma maior qualificação curricular para muitos profissionais do magistério, atendendo as diretrizes do plano decenal de educação”. O plano estabelece que os professores da rede pública sejam graduados no ensino superior.

O núcleo de Educação a Distância a ser implantado em Ilhéus vai oferecer os cursos de Letras, Matemática, História, Geografia e Normal Superior, todos com nível de graduação. Os candidatos a freqüentar as aulas, transmitidas em sistema de videoconferência, deverão submeter-se a vestibular, sendo que o primeiro está programado para o próximo mês.

Ética da gestão pública será discutida em encontro de prefeitos

A ética na gestão pública, a modernização administrativa, políticas de inclusão social e as transformações relativas à legislação e aos procedimentos da administração pública são alguns dos temas que serão debatidos no seminário ‘Novos Gestores Municipais-Capacitando para o Desenvolvimento Municipal’, que a Confederação Nacional dos Municípios-CNM realiza entre os dias 16 e 18, no Centro de Convenções da Bahia. As inscrições podem ser feitas no site www.flem.org.br. O encontro pretende reunir cerca de mil prefeitos e gestores municipais da Bahia, Sergipe e Alagoas.

Ingressos para show do U2 são vendidos em 40 minutos

Segundo organizadores da turnê do grupo irlandês U2, os 44 mil ingressos do show da banda no dia 18 de julho em Zurique (Suíça) foram vendidos em 40 minutos. Os ingressos custavam entre 70 e 110 euros (R$ 236 e R$ 370).
“Nunca os bilhetes de um show no estádio de Letzigrund foram vendidos tão rapidamente”, disse um porta-voz. Esse será o único show do U2 na Suíça, e faz parte da “Vertigo Tour”, prevista para começar em 28 do mês que vem nos EUA. A última apresentação da banda na Suíça aconteceu em 2001.

Exame descartável ajuda a detectar câncer de mama

Especialistas da Fundação Oswaldo Cruz, do Instituto Nacional do Câncer e Instituto Fernandes Figueira da Fiocruz estão fazendo um trabalho de observação de um exame descartável para a detecção do câncer de mama. Criado nos Estados Unidos, o exame é chamado de breastcare (cuidado com a mama).
O exame está sendo utilizado em cem pacientes, mas esse número será ampliado para 300. Depois do trabalho de observação, o breastcare será comprado pelo Ministério da Saúde e distribuído para a rede pública de saúde. O preço por unidade do exame é de R$ 40.
O médico mastologista Roberto Vieira, do Instituto Fernandes Figueira, informou à Agência Brasil que o breastcare funciona de forma simples, verificando a temperatura da mama. “Quando um tumor na mama está se formando há um afluxo maior de sangue, aumentando a temperatura do seio. O Breastcare consiste em dois discos capazes de tirar a temperatura da mama. Sabe-se que a temperatura elevada é indício da doença”, explica o especialista.
O breastcare não substitui exames como a mamografia e o ultrasom, lembra Roberto Vieira. “Se o exame constatar alterações na temperatura do seio, o médico deve encaminhá-la para prosseguir a investigação. A sensibilidade desse método é acima de 80%, superior, portanto, à verificada no exame papanicolau, que detecta câncer de útero” informa o médico.

Roberto Vieira informou ainda que o breastcare vai beneficiar principalmente as mulheres que moram longe das grandes cidades. “O exame pode ser levado para qualquer parte do país, inclusive às cidades mais longínquas”. Basta carregar o exame num isopor com uma temperatura mínima de 25 graus. O material pode seguir de ônibus ou barco para os estados da região amazônica e pode fazer um trabalho de detecção precoce do câncer de mama com muita eficiência”, afirma Roberto Vieira.

No Brasil, todo ano são registrados 40 mil novos casos deste tipo de câncer, com a morte de 10 mil mulheres vítimas da doença. O exame clínico da mama e a mamografia são as formas mais eficazes para detecção precoce da doença, mas apenas 10% das cidades brasileiras possuem equipamento de mamografia.

Agência Brasil

Toca-MP3 com pedras de diamante será vendido a US$ 877

Um toca-MP3 fabricado pela Samsung deve se transformar em objeto de desejo. O YP-W3, com estrutura de platina, é decorado com oito pedras de diamante e será vendido nos Estados Unidos por US$ 877.
Esse preço é referente ao equipamento com capacidade de 1GB, mas há outras opção de modelos com 256 MB e 512 MB.
A novidade é compatível com os formatos MP3, Ogg Vorbis, WMA, WAV e ASF. Em sua tela LCD também é possível ver imagens no formato de arquivo JPEG.
Os usuários podem ouvir rádio FM, fazer gravações dessas estações e de voz. A bateria do equipamento, afirma a Samsung, tem duração de 8 horas.

De acordo com a agência de notícias Reuters, os consumidores norte-americanos podem adquirir a novidade a partir de hoje.

Laudo do IML aponta que missionária americana foi morta com seis tiros

Laudo do IML (Instituto Médico Legal) divulgado ontem confirmou que a missionária americana Dorothy Stang foi morta com seis tiros disparados de duas armas diferentes.
“Ela foi atingida à queima roupa, praticamente, com um tiro na cabeça, de uma arma de calibre 45. Esse tiro seria suficiente para matá-la, mas depois ela levou mais quatro tiros nas costas, já caída, e um último tiro no abdômen”, disse o ministro Nilmário Miranda (Secretaria Especial dos Direitos Humanos).
A freira foi assassinada neste sábado, em Anapu (PA). Ela trabalhava na região havia pelo menos 20 anos e lutava contra os grileiros da região. A suspeita é de que Stang tenha sido assassinada por pistoleiros.

De acordo com Nilmário, o laudo mostra que os tiros foram disparados de duas armas distintas. “Ela foi morta com seis tiros à queima roupa, de duas armas diferentes.”

O ministro disse ainda que as investigações do crime estão sendo rápidas. “Pelo andamento, está sendo até rápido. Esse crime tem muitas informações, muitos antecedentes, muitas testemunhas, e agora, tem o laudo do IML. Há elementos suficientes para impedir a impunidade.”

Buscas

A Justiça de Pacajá (PA) decretou hoje a prisão preventiva de três suspeitos. A polícia está na região de Anapu, onde ocorreu o crime, e segundo o ministro Márcio Thomaz Bastos, as prisões devem ser feitas “nas próximas horas”.

Nilmário e a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) viajaram para Altamira (PA), onde definirão as medidas que serão adotadas para apurar a morte da freira.

O presidente do Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária), Rolf Hackbart, o procurador da República Felício Pontes Júnior e parlamentares também seguiram para a cidade.

Folha Online

Ensino médio público tem déficit de 250 mil professores, diz Inep

O MEC (Ministério da Educação) informou nesta segunda-feira que está finalizando um levantamento para identificar quantos professores de química, física, matemática e biologia faltam no ensino médio público. Dados preliminares do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão ligado ao MEC, revelam a falta de 250 mil professores.
Segundo a diretora de ensino médio da Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), Lúcia Lodi, o levantamento vai auxiliar as atividades da Capemp (Comissão de Aperfeiçoamento de Professores do Ensino Médio e Profissional), criado em março de 2004 com o objetivo de traçar alternativas para suprir a carência de educadores.
“O problema é diferente em cada região, de Estado para Estado, e em áreas de conhecimento. Para propormos as medidas, precisamos ter dados que exprimam a realidade da forma mais fiel”, explicou.

De acordo com o secretário de educação básica, Francisco das Chagas, o MEC trabalha na questão. “A falta de professores em sala de aula é responsabilidade dos sistemas”, afirmou. “Estamos elaborando uma proposta. Vamos conversar com os secretários estaduais de educação para que não aconteça de os alunos terminarem o ano sem ter noção das disciplinas nas quais faltam professores.”

A Capemp estuda duas opções. Uma delas é assegurar ao professor em sala de aula a formação que é definida pela legislação para que ele possa exercer a função docente. Outra é considerar para os casos extremos a possibilidade de assistência aos alunos por meio do programa de educação a distância.

Reforço

Na semana, passada, o então ministro interino da Educação, Fernando Haddad, assinou duas portarias que autorizam a contratação de 800 professores de ensino básico (fundamental e médio).

A Portaria nº 411 autoriza a contratação de 110 professores de ensino fundamental e médio pelas universidades federais Fluminense, de Juiz de Fora, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Santa Maria, Rural do Rio de Janeiro, Roraima, Maranhão, Rio Grande (RS), Uberlândia, Acre, Pelotas, Piauí, São Carlos, Sergipe e Viçosa.

A de nº 412 autoriza 690 contratações, 100 delas para o Colégio Pedro II, quatro para o Ines, três para o Instituto Benjamin Constant e as demais para os Cefets e escolas agrotécnicas.

Com a autorização e definição de vagas, em breve serão publicados, os editais dos concursos. As instituições ligadas ao MEC citadas nas portarias têm prazo de até seis meses para fazer a divulgação.

Folha Online
Com informações do site do MEC

VOLTA AS AULAS AQUECE ECONOMIA

COM O FIM DAS FÉRIAS ESCOLARES VÁRIOS SEGMENTOS DA ECONOMIA SE RECUPERAM E PASSAM A ESTABILIZAR SUAS RECEITAS.
AS LIVRARIAS E PAPELARIAS CHEGAM A COMEMORAR 70% DE AUMENTO EM SUAS VENDAS NESTE PERÍODO, O RESULTADO É A CONTRATAÇÃO DE MÃO DE OBRA TEMPORÁRIA E QUE MUITAS VEZES RESULTA EM CONTRATAÇÃO FIXA. JÁ O SEGMENTO DE VESTÚARIO ESPECIALIADO EM FARDAMENTO ESCOLAR CHEGA A UM AUMENTO DE 80% EM SUA PRODUÇÃO E 90% EM SUAS VENDAS, GERANDO EMPREGOS DIRETOS E INDIRETOS NO MERCADO; OUTRO SETOR QUE COMEMORA É O DE CALÇADOS, QUE APÓS AS VENDAS DE NATAL E REVEILLON TEM UMA QUEDA NAS VENDAS E SÓ SE RECUPERA COM A VOLTA AS AULAS, TENDO NESTE PERÍODO UMA ALTA DE 40%. OS SEGMENTOS DE ALIMENTOS E TRANSPORTE VOLTAM A RESPIRAR NESSE PERÍODO, COM AS LANCHONETES E CANTINAS VOLTANDO A FUNCIONAREM E O TRANSPORTE COLETIVO E ESCOLAR GANHANDO CLIENTES QUE POTENCIALMENTE FICAM DE DOIS A TRÊS MESES INATIVOS.

Microsoft faz parceria para aumentar adesão ao Windows Mobile

A Microsoft e a fabricante de eletrônicos Flextronics, de Cingapura, fizeram uma parceria para criar smarphones que levem o sistema operacional Windows Mobile. O Peabody, com padrão GSM, será vendido a operadoras de telefonia móvel, que poderão colocar no equipamento suas próprias especificações.
Segundo o “Financial Times”, essa estratégia permite que a empresa de Bill Gates concorra mais diretamente com a Nokia. A fabricante finlandesa vende telefones por um preço baixo –em comparação com os competidores– e adota o sistema operacional Symbian.
Starkweather disse que os smartphones terão câmeras de vídeo, foto e acesso ao Outlook –com o programa, o usuário tem acesso a calendário, e-mail e contatos. Ao todo, o usuário teria acesso a mais de 18 mil aplicações.
De acordo com as empresas, a novidade reduzirá os custos e tempo de produção dos aparelhos.

“Aí está a importância dessa união: será possível fabricar um alto volume de smartphones com preço reduzido, sem que sua funcionalidade seja afetada por isso”, afirmou John Starkweather, gerente de produtos da divisão de aparelhos móveis da Microsoft.
Além disso, será possível aumentar o nível de segurança da informação, se o usuário quiser. “Se alguém perder o aparelho, poderá apagar todos os dados nele armazenados”, disse.

Folha Online

QS agita Fernando de Noronha

Um total de 14 países estará representado na comemoração do vigésimo aniversário do Hang Loose Pro Contest e o primeiro grande confronto internacional do Circuito Mundial de Surfe Profissional em 2005 será travado nas ondas tubulares de Fernando de Noronha (PE).



O prazo da segunda etapa do World Qualifying Series (WQS) começa nessa segunda-feira e vai até domingo, porém os organizadores do primeiro evento com nível 5 estrelas da temporada devem adiar o seu início no primeiro dia, para aguardar a entrada de maiores ondulações no Havaí brasileiro.

O campeonato vai inaugurar um novo formato de competição que está sendo implantado nas principais provas do WQS, com as primeiras rodadas passando de dezesseis para 24 baterias.

Muitos surfistas anteciparam suas chegadas para já ir treinando na Cacimba do Padre, onde fica instalada a estrutura principal do Hang Loose Pro Contest desde que ele chegou no arquipélago, no ano 2000.



A premiação aumentou de 75.000 para 100.000 dólares e o campeão agora ganha 2.000 pontos no ranking que garante 15 vagas na elite mundial do World Championship Tour.

A maioria dos inscritos é do Brasil, mas surfistas de outros 13 países vieram competir no primeiro grande evento da temporada. A Austrália, os Estados Unidos e a África do Sul formam os maiores esquadrões estrangeiros em Fernando de Noronha, com cerca de dez atletas cada.

A Espanha vem a seguir, com seis surfistas, enquanto os outros terão um ou dois representantes. Completam a lista dos países presentes na 20ª. edição do Hang Loose Pro Contest, o Havaí, a França, Inglaterra, Portugal, Alemanha, Tahiti, Nova Zelândia, Ilhas Canárias e Ilha Reunião.

CABEÇA-DE-CHAVE NÚMERO 1 – Apesar de terem perdido a hegemonia no ano passado com a vitória do sul-africano Warwick Wright, os brasileiros são os grandes favoritos para vencer o campeonato de surfe mais tradicional da América do Sul outra vez.



Como não realizou sua inscrição dentro do prazo, o pernambucano Paulo Moura terá que iniciar na primeira rodada das triagens e o cabeça-de-chave número 1 do Hang Loose Pro Contest 2005 será o carioca Raoni Monteiro.

Isso porque entre os inscritos antecipadamente, ele é o segundo surfista mais bem colocado no ranking mundial do WCT em 2004. Agora, o cabeça-de-chave número 2 é o catarinense Neco Padaratz, o bicampeão mundial do WQS que já foi o “Rei dos Tubos” na Cacimba do Padre numa decisão espetacular em 2003, quando arrancou uma nota 10 para tirar o título das mãos do sul-africano Greg Emslie.

Naquele ano, Neco também perdeu o prazo da inscrição e começou nas primeiras fases das triagens, como o pernambucano Paulo Moura, um dos destaques do Brasil na última temporada da divisão de elite do surfe mundial.

VICTOR RIBAS RECUPERA VAGA NO WCT – Dos brasileiros que fazem parte deste seleto grupo neste ano, o único ausente em Fernando de Noronha é o paranaense Peterson Rosa, que preferiu ir antes para treinar na Austrália, onde são realizadas as primeiras etapas do WCT.

Mas, os outros seis escolheram prestigiar a comemoração de 20 anos do Hang Loose Pro Contest. São eles: Paulo Moura (PE), Raoni Monteiro (RJ), Neco Padaratz (SC), Marcelo Nunes (RN), Renan Rocha (SP) e o cabo-friense Victor Ribas (RJ), campeão em Fernando de Noronha em 2002, que acabou de recuperar sua vaga entre os tops da ASP.

Ele entrou no lugar do californiano Pat O’Connell, estrela do filme Endless Summer II, que, desmotivado com a falta de patrocínio, oficializou sua aposentadoria no Circuito Mundial.

“Ele enviou uma carta confirmando sua saída do WCT 2005 na sexta-feira passada e com isso o Victor Ribas vai competir em todas as etapas com o seeding (ranking de entradas) número 45”, garantiu o catarinense Renato Hickel, Gerente Geral do WCT.

“Agora, o Bernardo Pigmeu passa a ser o primeiro alternate em caso de contusão e o Guilherme Herdy é o segundo. E são grandes as possibilidades deles também entrarem, porque os irmãos Hobgood (C. J. e Damien) e o Nathan Hedge estão com problemas nos ombros e podem precisar de operação”, contou Renato Hickel, por e-mail da Austrália.

DESTAQUES – Certamente, os três terão uma motivação extra para competir no Hang Loose Pro Contest 2005. Herdy venceu a primeira edição disputada em Fernando de Noronha e Bernardo Pigmeu faz parte da Equipe Hang Loose, junto com o experiente Fábio “Fabuloso” Gouveia, outra estrela do esquadrão verde-amarelo nos tubos da Cacimba do Padre.

A lista de brasileiros candidatos ao título é extensa e dos outros países que participam em maior número, o ex-campeão mundial do WQS Luke Hitchings e o jovem Shaun Cansdell são as principais armas da Austrália, Ben Bourgeois é o destaque dos Estados Unidos e a África do Sul vem forte em busca do bi com Warwick Wright e os tops do WCT, Greg Emslie e Travis Logie.

O principal nome da Espanha é Eneko Acero, da França é Mikael Picon, da Inglaterra é Russell Winter e do Tahiti é o bicampeão mundial amador Hira Terinatoofa. Os demais países têm apenas um representante: Scott Dundun do Havaí, Maz Quinn da Nova Zelândia, Justin Mujica de Portugal, Marlon Lipke da Alemanha, Jeremy Flores da Ilha Reunião e Jonathan Gonzalez das Ilhas Canárias.

O campeonato tem uma semana de prazo, mas pode ser realizado em apenas quatro dias de boas ondas na Ilha.

Com apresentação da Nova Schin, a 20a. edição do Hang Loose Pro Contest conta com o patrocínio da Hang Loose e Nova Schin, co-patrocínio da Reef, Arnette e da Brisbane, apoio do Governo do Estado de Pernambuco, Administração da Ilha de Fernando de Noronha, Gráfica Formag’s, Revista Fluir e do Site Waves/Terra, além das surf shops Overboard, Star Point, Hot Water, Bleat, Central Surf, Uluwatu, Bali, Surf X-Press, 2 Surf, The Surf e Sthill.

Mais informações do circuito mundial podem ser acessadas no site oficial da ASP South America, Aspsouthamerica.com.br

JOÃO CARVALHO

Marinha Mercante abre concurso para oficiais

A Marinha Mercante abriu inscrições no concurso que selecionará profissionais de nível superior. O salário é de R$ 3 mil. São 60 vagas para oficial e os candidatos devem ter curso superior completo nas áreas de Engenharia, Astronomia, Física, Matemática, Química, Informática, Produção Industrial, Estatística e Administração. Quem tem cursos de tecnologia naval também pode concorrer. A ficha de inscrição está na internet, no site www.ciaga.mar.mil.br.

COLO-COLO VENCE E PASSA A LIDERANÇA DO BAIANÃO

O Colo Colo venceu o Flu por um tento a zero – gol de Juninho aos 36 do segundo tempo – e se isolou na liderança do Grupo C do Campeonato Baiano de Futebol Profissional. E a proeza foi ainda maior. O representante de Ilhéus fez “cabelo e barba”. Venceu também na categoria de juniores e lidera as duas competições.

Desta vez o Tigre se vingou do Touro. Depois de ter impedido, semana passada, a vitória do Colo Colo no estádio Mário Pessoa, ao fazer o gol de empate aos 49 minutos do segundo tempo e jogar um “balde de água fria” na torcida local, o Touro do Sertão, como é mais conhecido o Fluminense de Feira, sentiu na pele, neste domingo, jogando no Jóia da Princesa e junto a sua torcida, a força do Tigre de Ilhéus.
Segundo dados estatísticos do Colo Colo esta é, até o momento, a melhor campanha do clube desde o seu retorno à divisão de elite do futebol baiano. A vitória neste domingo, em Feira, também serviu para quebrar um tabu. O Colo Colo nunca tinha vencido o adversário no Jóia da Princesxa. “A liderança nas duas competições é fruto de um trabalho sério que o clube vem desenvolvendo e esperamos dar continuidade a este trabalho, contando com o apoio de Ilhéus”, avalia o presidente José Maria de Santana. Tanto o técnico Índio (profissionais) quanto Marcos Garcia (juniores) elogiam a postura do trabalho que vem sendo desenvolvido pelos dirigentes, mesmo levando em consideração que, ao longo do campeonato, vão precisar de reforços. “Na reta final, ao lado de Bahia e Vitória, precisamos ter peças de reposição que nos permitam acreditar num título estadual”, estimula Índio que, ano passado, chegou perto: foi vice campeão da Copa do Interior pelo Atlético de Alagoinhas.

Clássico do Cacau – O próximo passo para consolidar este bom momento será domingo (20). O Colo Colo volta a se apresentar para a sua torcida, no estádio Mário Pessoa, no “Clássico do Cacau”, contra o Itabuna que, neste domingo venceu o Poções por quatro a zero e deixou a incômoda posição de lanterna do Grupo C. “Vamos tentar aproveitar este bom momento. Uma nova vitória praticamente nos garante na próxima fase do campeonato”, afirma Índio. A expectativa para este jogo é de uma arrecadação recorde. Primeiro, pela tradição do clássico. Segundo, porque Colo Colo e Itabuna precisam da vitória. O Tigre para se garantir na próxima fase. O azulino, para manter vivas as suas chances.

Classificação da categoria de profissionais
Classificação – Grupo 01
PG JG VIT EMP DER GP GC SD
1º Vitória 11 05 03 02 00 11 02 09
2º Ipitanga 11 05 03 02 00 09 04 05
3º Atlético 06 05 02 00 03 03 05 -02
4º Camaçariense 03 05 00 03 02 04 06 -02

Classificação – Grupo 02
PG JG VIT EMP DER GP GC SD
1º Bahia 10 05 03 01 01 06 03 03
2º Camaçari 06 05 01 03 01 06 07 -01
3º Catuense 05 05 01 02 02 03 06 -03
4º Palmeiras 01 05 00 01 04 02 11 -09

Classificação – Grupo 03
PG JG VIT EMP DER GP GC SD
1º Colo-Colo 09 05 02 03 00 06 04 02
2º Fluminense 08 05 02 02 01 05 03 02
3º Itabuna 06 05 01 03 01 07 05 02
4º Juazeiro 05 04 01 02 01 04 04 00
5º Poções 02 05 00 02 03 04 10 -06

Inflação do IBGE cai para 0,58% em janeiro e aumenta dúvida sobre juros

A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) recuou para 0,58% em janeiro, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em dezembro, o indicador havia apurado alta de 0,86%.
O IBGE atribui a desaceleração da inflação ao preço da gasolina, que avançou apenas 0,06% em janeiro, e às tarifas de ônibus urbano, que tiveram deflação de 0,10%. Promoções de artigos de vestuário, menores aumentos nas tarifas de água e esgoto e a redução do impacto do reajuste dos cigarros também ajudaram a conter a inflação.
O IPCA de janeiro pode ter forte influência sobre o resultado da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) desta semana.

Os diretores do BC anunciarão na quarta-feira o novo valor da taxa básica de juros da economia brasileira (Selic). Até a semana passada o mercado esperava que o BC elevasse os juros de 18,25% para 18,75% ao ano. No entanto, com o recuo da inflação analistas e o próprio BC podem concluir que a medida seria muito drástica.

Por outro lado, também na semana passada o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a produção industrial cresceu 8,3% em 2004, o melhor resultado em 18 anos.

Por isso, o BC pode ser mesmo obrigado a aumentar os juros para esfriar a economia e evitar que o crescimento seja acompanhado de inflação.

O BC persegue neste ano uma meta de inflação ajustada de 5,1%, ainda mais apertada do que o centro da meta do ano passado, de 5,5%.

Pressões

Tradicionalmente o IPCA do início do ano é afetado por fatores sazonais, como aumento dos preços de hortaliças e legumes, em razão de fatores climáticos, e reajuste de matrículas e mensalidades escolares de acordo com definições em contratos.

O resultado de janeiro pelo IPCA mostra que as principais pressões vieram de alimentos, que tiveram alta de 0,78%. O avanço foi influenciado por produtos sensíveis ao clima, como cenoura (17,87%), batata inglesa (11%), cebola (5,70%) e frutas (2,75%).

O último Relatório de Mercado, organizado pelo Banco Central a partir de consultas a mais de uma centena de instituições financeiras, apontava uma expectativa de inflação de 0,80% em janeiro, levemente abaixo do resultado de dezembro.

O IPCA-15 já havia apurado alta de 0,68% no mês passado. O indicador funciona como uma prévia da inflação do mês, a diferença entre os índices está no período de coleta. Na metade do mês passado, já era possível verificar o efeito das altas de alimentos, energia elétrica, automóveis e educação.

Das 11 regiões metropolitanas que fazem parte da pesquisa, o maior índice do IPCA em janeiro foi verificado em Fortaleza (1,01%). São Paulo e Rio de Janeiro tiveram alta de 0,53% e 0,76%, respectivamente.

O levantamento do IBGE é realizado em São Paulo, Salvador, Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Brasília, Goiânia, Fortaleza e Belém. O índice se refere a preços de produtos e serviços consumidos por família com rendimento de 1 a 40 salários mínimos.

JANAINA LAGE
Folha Online

Ministério amplia a distribuição gratuita da pílula do dia seguinte

O governo federal está ampliando em 57% a distribuição da pílula anticoncepcional de emergência no serviço público, com a intenção de fornecer, a partir do próximo mês, a chamada pílula do dia seguinte a todas as mulheres, não somente às vítimas de violência sexual. Além disso, as unidades do SUS credenciadas para cirurgias de esterilização devem aumentar em 50% até 2007.
As medidas fazem parte da nova política de direitos sexuais e reprodutivos do Ministério da Saúde, cujo foco é garantir a autonomia no planejamento familiar. O documento será lançado em março, mas já está em andamento o processo de compra das 200 mil cartelas adicionais da pílula.

Já estão sendo distribuídas pelo ministério as 352 mil cartelas deste ano para os 1.388 municípios mais populosos do país. O novo lote será distribuído a partir de março para o restante dos municípios que possuem equipes do Programa Saúde da Família.

A pílula do dia seguinte pode ser comprada em farmácias, mas na rede pública é freqüentemente limitada ao atendimento de emergência em casos de estupro.

O governo e os fabricantes consideram que esse método evita a gravidez após o sexo desprotegido. Já a Igreja Católica é contra seu uso.

A novidade é que a política do ministério determina que o medicamento seja disponibilizado de forma mais ampla, sem prejuízo da prioridade de uso dos métodos anticoncepcionais tradicionais.

O documento prevê que a pílula do dia seguinte deve ser fornecida “”de modo que não fique restrita apenas aos serviços de referência para mulheres vítimas de violência sexual”.

Segundo o secretário de Assistência à Saúde, Jorge Solla, o acesso ampliado da pílula contraceptiva de emergência visa garantir o direito reprodutivo das mulheres de camadas mais pobres, que sofrem uma dupla exclusão.

“Primeiro, não tiveram acesso à informação e ao uso de anticoncepcionais de rotina. Segundo, se encontraram em situação inesperada e precisaram do contraceptivo de emergência, mas este não estava disponível”, disse Solla.

A universalização da pílula deve encontrar resistência em parte da classe médica. Há quatro anos, pesquisa feita pela Febrasgo (federação das sociedades de ginecologia e obstetrícia) com 579 ginecologistas brasileiros mostrou que 30% deles consideravam a pílula abortiva e não a receitavam.

Na opinião do médico Jorge Andalaft Neto, presidente da comissão de violência sexual e aborto legal da Febrasgo, hoje a aceitação dos médicos é muito maior porque eles estão mais bem informados sobre o contraceptivo. Para ele, os que se posicionam contrários à pílula o fazem por convicções religiosas ou por falta de informação científica.

Por essa razão, Andalaft considera fundamental que a distribuição das pílulas esteja associada a uma maior capacitação da rede de saúde. “Fazemos hoje um trabalho de formiguinha.”

Para o médico Jefferson Drezett, assessor do consórcio latino-americano de anticoncepção de emergência, há médicos que se neguem a prescrever a pílula de emergência para mulheres da rede SUS, mas que o fazem, “sem o menor constrangimento”, às suas pacientes particulares. “Ainda há preconceito, profissionais que acham que a mulher humilde não saberá usar a pílula.”

Drezett é consultor do Ministério da Saúde e elaborou uma cartilha sobre a contracepção de emergência que será distribuída para os profissionais do SUS. “A pílula não fere o Código de Ética Médica nem o Código Penal e é um direito constitucional.”

Cirurgias de esterilização
Médicos ligados à área de reprodução humana defendem que o Ministério da Saúde ofereça métodos que permitam a concepção, como as cirurgias de reversão da laqueadura e da vasectomia, na mesma proporção que pretende investir nas cirurgias de esterilização. Hoje, são poucos os centros médicos ligados ao SUS que fazem cirurgias de reversão.

Segundo o ginecologista Nilson Donadio, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, 50% dos casais esterilizados (mulheres laqueadas ou homens vasectomizados) se arrependem no prazo de um ano, independentemente ou não do desejo de ter um outro filho.

No serviço de reprodução humana da Santa Casa, três de cada dez casais na fila da fertilização in vitro ficaram estéreis em razão de laqueaduras ou de vasectomias que não puderam ser revertidas.
Para a ginecologista Claudia Gazzo, responsável pelo setor de reprodução do Hospital do Servidor Estadual, também é importante que os médicos sejam orientados a fazer a laqueadura em um local que permita a recanalização.

LEILA SUWWAN
CLÁUDIA COLLUCCI
Folha de S.Paulo

Consumidores se alimentam mais e melhor

Os consumidores ampliaram as compras de alimentos e passaram a priorizar produtos considerados mais saudáveis, mostra uma pesquisa mundial realizada pela consultoria ACNielsen.
A venda de alimentos e bebidas no mundo teve aumento de 4% no período de doze meses encerrado em julho de 2004 em relação ao anterior. A análise engloba 59 países, responsáveis por 93% do PIB do globo e onde estão 77% da população. Foi considerada a expansão em receita com vendas.
Na América Latina -em especial no México e no Brasil- e nos mercados emergentes, como Rússia e Polônia, a alta nas vendas no período foi ainda maior: de 7% e 10%, respectivamente.

Boa parte desse aumento é resultado da maior demanda por itens classificados como saudáveis pelo relatório. A pesquisa mundial informa ainda que o cardápio de duas famosas dietas, a Atkins e a South Beach, rica em proteínas e com poucos carboidratos, ajudaram a “turbinar” a demanda e o desempenho de vendas de certas categorias de produto no mundo nos últimos meses.

As mercadorias que apresentam as maiores taxas de expansão em vendas, em euros, segundo o levantamento, foram as bebidas à base de soja (sucos, leites) e os iogurtes líquidos, seguidos, em terceiro e quarto lugares, pelos ovos e cereais, nessa ordem.

No caso das bebidas fabricadas com soja, a alta mundial atingiu 31% no período entre agosto de 2003 e julho de 2004 em comparação com os 12 meses anteriores. As vendas acumuladas foram de 244 milhões (R$ 873 milhões). No Brasil, a Nielsen informou à Folha que a expansão registrada nesse segmento foi de 19%.

Essa taxa supera a verificada para o período nos Estados Unidos (17%), uma das maiores praças consumidoras do produto. No entanto, como o mercado norte-americano acumula expansões elevadas há alguns anos -ao contrário do Brasil, que registra um aumento recente-, a elevação das vendas acontece em cima de taxas já consideradas altas.

Em relação à receita com vendas de iogurtes líquidos, no Brasil foi constatada alta de 7% de agosto de 2003 a julho de 2004 sobre o período anterior. No mundo, a elevação foi bem maior, 19%.

Por ainda serem produtos de consumo restrito a classes de maior poder aquisitivo no Brasil, é natural que o resultado de venda no país -mesmo positivo- seja menor do que a média mundial.

“Os lácteos em geral tiveram alta de 6,1% em volume vendido no país em todo o ano de 2004 sobre 2003. Ao analisar só iogurtes líquidos, a expansão foi de 12% em volume”, afirma Alberto Bendicho, gerente de comunicação da Danone.

Produtos à base de soja, por exemplo, têm uma das mais baixas taxas de penetração nos domicílios brasileiros de classe média -inferior a 5% -, de acordo com dados de 2002 da LatinPanel, empresa do grupo Ibope.

Outro produto com boas vendas, tanto aqui quanto lá fora, no período analisado, foi a água mineral. Teve o quarto melhor desempenho mundial em termos de receita gerada. Foram 920 milhões (R$ 3,2 bilhões) no intervalo pesquisado pelo relatório -alta de 6% sobre o período anterior.

Crise e consumo
Ao focar a análise do relatório nos dados gerais -são 89 itens estudados-, as taxas de crescimento nas vendas são maiores nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil.

Entre os 89 produtos analisados, 25 registraram, na América Latina, alta de dois dígitos nas vendas. Aí estão incluídos desde itens tidos como supérfluos, como laticínios, doces e biscoitos, como os que são considerados indispensáveis para a alimentação, como carnes e peixes.

Já na América do Norte foram 12 categorias com expansão de dois dígitos nas vendas. Na região classificada pelo estudo como Ásia-Pacífico, foram 11 produtos. A Europa registrou o pior desempenho: só sete mercadorias alcançaram esse patamar. O recorde foi atingido nos chamados mercados emergentes. Neles, 34 categorias tiveram aumento nas vendas igual ou superior a 10%.

“Sem dúvida, as instabilidades econômicas em determinados países inviabilizam os investimentos, travam ganhos de renda e o aumento no consumo. Porém, independentemente desse cenário, em termos de potencial de consumo, são países como Brasil e México que estão mais à linha de frente, com mais espaço para crescer”, afirma Fatima Merlin, gerente de atendimento da LatinPanel.

Segundo Merlin, uma pesquisa em mais de 6 milhões de domicílios, feita pela empresa em 2004 e publicada em setembro, mostra que 30% das pessoas já compram itens diet e light no país. Mais de 50% consomem frutas, legumes e verduras todos os dias.

“Mesmo com as crises de 2001, 2002 e 2003, a América Latina segue as tendências de consumo mundiais voltadas para itens saudáveis”, completa Tereza Araújo, gerente de serviços ao cliente da ACNielsen.

Ditadura do prazer
Na avaliação de Araújo, é possível verificar, pela análise das categorias com crescimento mais rápido em 2004, que há tanto itens voltados para a saúde como outros que podem ser entendidos como menos saudáveis, diz, destinados ao “prazer de consumir”.

Para ela, “os consumidores, e isso inclui o brasileiro, já têm no seu imaginário a questão do “comprar o que é benéfico ao corpo”, mas, ao mesmo tempo, querem adquirir também o que lhes dá prazer”, afirma. Nesse caso, entram os chocolates e bolos e os doces. As duas categorias tiveram taxa de expansão de vendas de 8% e 7%, respectivamente, no mundo no período analisado pela pesquisa.

Nas contas feitas pela ACNielsen é preciso levar em conta que há a pressão dos preços na alta das vendas em valor (moeda). Portanto, a inflação dos produtos ajuda a puxar o resultado para cima.

ADRIANA MATTOS
Folha de S.Paulo

Gabriela, o ícone denso e tenso: raça, género e classe em Ilhéus

Gabriela é um potente símbolo literário e audiovisual do Brasil – Nação; um potente símbolo literário e audiovisual da Bahia – Região; um potente símbolo literário e audiovisual de Ilhéus – Local. Ela é mulher, pobre e mestiça. Ela não tem moral burguesa, mas não é nem prostituta (marginal) nem selvagem (pré-civilizada); ela é inocentemente sensual. Ela é um objecto de atracção por ser a encarnação da mistura específica do Brasil: a adoração de si próprio, a adoração do Povo, é encarnada numa figura feminina desejável. O segredo dessa atracção é o contributo de uma corporalidade inocente e infantil africana, sem a selvajaria e a marginalidade da negritude. Isso permitiu criar uma sociabilidade nova na Europa transplantada para o novo mundo. Ela não é herói civilizador (implicaria ser homem e ter um projecto); é a não-heroína que tempera a civilização, no maior desconhecimento da sua tripla condição subalterna. Por isso é simultaneamente uma representação do wishful thinking sobre a a-conflitualidade, a resolução de contradições, de uma nação nascida de contradições absolutas – é uma superação; e um projecto que, como todos os projectos, traz consigo o triste reconhecimento de que a realidade o contradiz. Por isso não pode ser o símbolo querido de um movimento etnopolítico identitário; mas pode ser o símbolo rentável de uma promoção turística-nacional na globalidade das diferenças culturais mercadorizadas. O problema é que o “ser nacional de” ou “membro do Povo” é o nível identitário por excelência da elisão dos níveis de diferenciação e desigualdade sociais e aquele onde o efeito de hegemonia mais influência exerce e onde mais facilmente se reproduz. Que tenha sido, afinal, um produto da imaginação literária de um autor, letrado e oriundo das elites, só confirma o papel da literatura moderna (no sentido mesmo de anterior à pós-modernidade) na criação de narrativas e símbolos sistematizadores de identidades nacionais.
É por tudo isto que ela é uma marca registada. Basta o seu nome ser enunciado para suscitar comunhões e conflitos, as identificações desejantes ou reticências críticas que todos os produtos suscitam. Mas como é a representação de uma pessoa-corpo, este produto ganha o estatuto de símbolo denso, contendo em si as tensões de ‘raça’, classe e género, que o tornam controverso e objecto de disputas pelo seu significado, na comparação com as experiências de vida.

1. Episódios inéditos de Gabriela

1977. Primeiros tempos da “normalização” da vida política portuguesa depois da revolução de 1974-75. Pela primeira vez surge uma telenovela brasileira na televisão portuguesa. Título: “Gabriela”. O país transforma-se: mais apegado à televisão e, agora, irremediavelmente apegado ao género narrativo telenovelesco, doravante inseparável das representações sociais sobre o Brasil. Diz-se que reuniões do Conselho de Ministros são interrompidas para se assistir aos últimos episódios do amor de Nacib e Gabriela. A vários níveis sociais, a novela institui-se como intermediação narrativa para discutir a vida e como ponto de encontro virtual. Algumas vozes falam, embora ironicamente, de colonização inversa. Outras denigrem intelectualmente o novo género audio-visual, outros ainda marcam-no com os ferros do desprestígio de género e classe – a novela como coisa de mulheres e iletradas.

Vinte e poucos anos depois, no ano da celebração dos 500 anos do Brasil – que em Portugal se diz “dos 500 anos do Descobrimento do Brasil”, e assim mesmo, com D maiúsculo -, cerca de dez novelas brasileiras passam em simultâneo na TV portuguesa. O aumento exponencial de oferta novelesca acompanhou igual aumento na oferta de canais, de publicidade e de possibilidades de consumo no Portugal democrático (que, neste país, é o mesmo que dizer pós-colonial), reinventado como “europeu”. Mas no qual o Brasil, no quadro do “remake neo-colonial sem colónias” chamado “lusofonia”, é o lugar de todas as projecções identitárias; genéricas umas (a alteridade exótica, a tropicalidade, a alteridade sensual – todas mercantilizáveis), especificamente portuguesas, outras (a comprovação da grandiosidade dos descobrimentos, do luso-tropicalismo, o “filho” que cumprirá o que o “pai” não foi).

No centro destas representações de alteridade/alter-ego, pode encontrar-se a figura da mulata. Triplamente subalterna, triplamente desejável, para o olhar hegemónico: porque mulher, porque nome, circulando estampado num objecto pela paisagem urbana.

Quantos personagens de livros ou novelas conseguem espalhar-se assim pelo mundo e cumprirem o desígnio de representarem simultaneamente a localidade extrema (o ancoramento em Ilhéus) e a universalidade (o suposto triunfo de um projecto de mestiçagem)? Creio que só aqueles que, à partida, são construídos a partir de tipos sociais que, em si, correspondem a quadros de interpretação socio-política das realidades coloniais, de novo-mundo ou das suas extensões pós-coloniais. No caso de Gabriela, não se trata de um tipo de personalidade, de uma encarnação de um drama humano, mas sim de um tipo de relações sociais brasileiras e das representações sobre elas feitas: nos domínios a que convencionámos chamar “classe”, “género” e “raça”.

Gabriela é um tríptico noutro sentido também: no primeiro quadro temos a harmonia social brasileira (democracia racial, cordialidade nas relações entre desiguais, sensualidade como superação das tensões de género) que nós, cientistas sociais, desmontamos como construção ideológica; no segundo quadro temos os conflitos sociais brasileiros, segundo as mesmas linhas de clivagem, que nós temos por realidade escondida, revelada graças à análise social feita com a aplicação de conceitos como ‘raça’, classe e género; no terceiro temos o projecto, humanista nuns casos, pós-moderno noutros, da transcendência dessas clivagens. Ou todos são verdadeiros, ou precisamos de ver como as pessoas os vivem na prática.

Um dia encontro, num depósito de sucata da prefeitura de Ilhéus, uma estátua abandonada. Feita com materiais metálicos reciclados, ela representa Gabriela. Terá sido obra de um artista local. Terá estado destinada a exibição em local público da cidade. Terá sido preterida pelas autoridades que não devem ter gostado de uma representação tão… metálica de uma carnalidade imaginada como curvilínea, tenra e terna. Gabriela é suposta ser nítida, transparente, simples, não um “assemblage” de objectos de proveniências diversas. Se a sua origem é o híbrido, o seu destino (ideológico) é a pureza: no seu papel de representante da especificidade brasileira. O celulóide, o suporte magnético ou digital, pelas suas semelhanças com a limpidez das representações mentais – esses sim, são tidos como os suportes correctos para representações de Gabriela.

No terreiro Tombency, sede do bloco afro Dilazenze – e sede de uma rede parental e vicinal que está na base de ambos -, os meus colaboradores de pesquisa mostram-me a cassete do documentário televisivo do realizador português Brandão Lucas, rodado em Ilhéus. Trata-se de um episódio de uma série documental sobre os lugares do mundo por onde os portugueses passaram, um produto mais do ciclo de comemorações dos Descobrimentos que inaugurou, desde os finais da década de oitenta, a produção de uma pós-colonialidade portuguesa. Gabriela, e os “lugares” de Jorge Amado (o Bataclã – que não existe -, o café Vesúvio, etc.) ocupam lugar de destaque. Os meus anfitriões sorriem, mas não comentam, perante as imagens de um documentário que foca os “landmarks” do centro de Ilhéus, que não sobe ao morro onde eles vivem e que presta culto a uma mulher de papel que não conseguiu transformar-se numa entidade com capacidade para “baixar” nos seus corpos. Mas isto é uma interpretação abusiva da minha parte, com certeza. Nada impede que os meus informantes não partilhem do efeito de hegemonia que o ícone Gabrielano comporta.

De regresso a Portugal, e passados muitos meses. Por acaso, leio o romance e crónica de viagens “Baía dos Tigres”, de Pedro Rosa Mendes, livro sobre o desastre angolano contemporâneo, itinerário por cenários de guerra, absurdos e alguma (pouca) dignidade humana. Às tantas, na página 227-8, encontro esta passagem: «Era gente refinadíssima, este grupo de Brigadas, da grande burguesia ou mesmo aristocracia, com carreiras feitas, que tinham radicalizado as suas posições e mantinham o culto das armas. O Lubango recebeu também uma contribuição basca com refugiados da ETA, e ainda elementos do Tupac Amaru, incluindo uma uruguaia quase sexagenária, cujo quarto no Hotel Continental – onde as carpetes vermelhas se tinham tornado cinza-bolor por causa das inundações – era chamado o Bataclã, nome tirado da novela brasileira “Gabriela”». A migração dos símbolos triangulava o Atlântico e os tempos.

2. Excerto do Diário de campo, 24 de Setembro de 1997.

O centro de Ilhéus é marcado por alguns edifícios representativos de uma certa identidade local, coincidente com a auto-apresentação da cidade ao exterior. Símbolos de poder e prestígio. Entre eles, a Catedral, o Teatro Municipal, o bar “Vesúvio”, e a Casa Jorge Amado, todos praticamente paredes-meias. Parte desta última é um museu, elaborado em torno do simples facto de ali ter vivido o escritor, quando jovem. A outra parte alberga a Fundação Cultural de Ilhéus, uma instituição municipal que gere a política cultural. A casa resulta de um esforço de reconstrução recente, elogiado pelo próprio escritor num vídeo que é projectado no auditório da Casa. A exposição permanente é constituída pelos seguintes elementos: capas de livros do escritor em várias edições internacionais e línguas; uma listagem dos idiomas em que a sua obra foi traduzida; painéis de fotografias biográficas, avultando os encontros do escritor com personagens ilustres; e uma galeria com figuras de orixás, em que Oxóssi, sincretado com São Jorge (padroeiro de Ilhéus), ocupa o lugar central. Produto local – da síncrese local – legitimado (só possível graças à?) projecção internacional. O conjunto é completado com uma zona de vendas, onde estão disponíveis bugigangas e produtos locais, bem como livros de autores regionais. É, pois, a própria casa, e a sua arquitectura nobre, que funciona como emblema da presença de Jorge Amado. E da sua ausência: desde a juventude que não vive em Ilhéus e desde então que mudou o lugar da acção dos seus romances, o qual, para todos os efeitos, era um mundo que Ilhéus perdeu – o da gesta do cacau.

O folheto de divulgação da Casa explicita o propósito de protecção do passado, de exaltação do que, localmente oriundo, ganhou projecção maior, ou ainda do que localmente se faz a partir do que tem prestígio global (certos desportos, ballet e dança, artes plásticas, música clássica etc.) – marca, a meu ver, um “tipo de branco” que se confunde com “um tipo de burguês”. Tanto Lindaura como a sua cunhada, presente na conversa, fizeram questão em afirmar que nunca na cidade (presume-se que falem dos seus antepassados ricos) se ligou importância à cultura, pois os locais “só queriam viajar e esbanjar dinheiro e nem aproveitaram para visitar museus”. Orgulhosa da sua filha, bailarina e professora numa academia local, e do filho, campeão de triatlo, Lindaura faz questão de referir também “o negrinho” que adoptou e que colocou “no melhor colégio”.

3. Gabriela toma duche nua numa cachoeira de água pura?

À partida, e sempre, um problema: Gabriela é uma personagem de romance. Este, sendo uma obra individual, de autoria, é também o precipitado de um contexto particular. Os mais pós-modernos diriam, ainda, que o romance é construído pelos leitores, abrindo-se a múltiplas interpretações. Uma conciliação possível entre noções centradas e descentradas de autoria, seria ver o romance como obra aberta para a apropriação social de certos símbolos bons para pensar, por ele fornecidos.

Tica Simões é professora de literatura na universidade local. Num congresso sobre literatura regional, intervém e pergunta-se se existe uma literatura da região do cacau da Bahia. Colocando em alternativa as expressões “literatura do cacau”, “literatura da região do cacau” e “literatura do sul da Bahia”, ela afirma que até há pouco usava as duas primeiras. Mas, agora, a região encontra-se “descaracterizada” e busca alternativas económicas que provocariam, elas mesmas, uma “descaracterização identitária”, contrastante com os anos trinta de riqueza e poder representados por Adonias Filho e Jorge Amado. Estes teriam, aliás, colocado “a região na literatura brasileira”.

Uma questão do domínio da economia-política (a monocultura do cacau) e uma questão do domínio das relações nação-região (a baianidade e, especificamente, a sul-baianidade) são convocadas para a compreensão da literatura. E vice-versa (faltando referir que ambas participam de uma engrenagem mais vasta, aquela que hoje dá pelo nome de globalização). Tica Simões contextualiza: entre 1930 e 1980, a região do cacau foi projectada no Brasil e no mundo. Nos anos 1970, as taxas retidas pelo governo federal eram remetidas para a região através da Ceplac, o que gerou “riqueza e escritores” (!). Mas em 1980 elas passam a ser retidas pelo governo federal e dá-se a chegada das pragas, nomeadamente a vassoura de bruxa. Segundo Tica, passa-se do “ter para o ser” ou, como diz um ditado local, “avô rico, filho nobre, neto pobre”. A situação levaria a uma procura de nova identidade, com uma aposta na dimensão histórica da região, começando a ver-se o que o “cacau não deixava ver”: a Mata Atlântica, a Costa do Descobrimento, a beleza do litoral.

De facto, o descalabro da economia cacaueira tem levado as autoridades locais a promoverem o turismo como principal aposta de desenvolvimento regional. Este turismo é especificamente apresentado – embora não o seja na realidade – como “cultural” e “ecológico”, as duas palavras-chave dos processos contemporâneos de mercadorização de duas realidades objectivadas e reificadas enquanto especificidades locais intercambiáveis num mercado universal de particulares: performances e produtos culturais, e paisagens. Normalmente estes dois universos são mediados por figuras humanas que incorporam características de ambos – daí a sua sexualização, racialização e “especificação” culturalista.

Tica Simões usa “Tocaia Grande”, de Jorge Amado como exemplo do revisionismo dos anos 80. Neste romance o autor teria abandonado a centralidade narrativa dos personagens dos coronéis a favor da perspectiva dos trabalhadores rurais, do negro, da prostituta. Nos tempos “pós-modernos” a atenção virar-se-ia para as minorias, com as temáticas da raça e do sexo, enfatizando, por exemplo, as culturas negras e indígena, num regionalismo com carácter universal – adianta a professora.

4. Dois recortes de jornal à laia de ilustração.

«FUNDACI (Fundação Cultural de Ilhéus) participa em Salvador de curso de Marketing Cultural. Participaram no primeiro curso de Negociação para Captação de Recursos em Projectos Culturais (…) a atriz Carla Mendes, diretora da Casa de Cultura Jorge Amado, e Maurício Pinheiro (diretor do teatro Municipal) (…) (que) visitaram Jorge Amado e Zélia, na residência do casal, quando receberam exemplar da recente tradução de Gabriela para o catalão. O volume fará parte do acervo da Casa» (A Região, Ilhéus, 10.11.97, nº 76)

«O aniversário de Jorge Amado. 85 anos neste Domingo, dia 10. Será comemorado pela FUNDACI com filmes projectados em telão no Largo Cultural (fronteiro ao Teatro Municipal), incluindo um vídeo especial cedido pela TV Globo do Rio, contendo reportagens sobre o romancista e a cidade de Ilhéus, (e) o filme “Tieta do Agreste” de Cacá Diegues recentemente lançado no circuito comercial e participando em festivais nacionais e internacionais, com trilha sonora de Caetano Veloso e protagonizado por Sónia Braga». O evento incluía um sorteio de camisetas com motivos retirados de romances de Jorge Amado. (A Região, Ilhéus, 11.08.97).

5. São Jorge dos Ilhéus.

No início do trabalho de campo li “São Jorge dos Ilhéus”, de Jorge Amado, e não “Gabriela” (que só leria já depois do regresso a Portugal). Tanto este romance como o anterior, “Terras do Sem Fim”, narram a história da conquista das terras cacaueiras pelos coronéis do princípio do século e a passagem daquelas para as mãos dos exportadores forasteiros, a partir da Segunda Grande Guerra. O triunfo do capital comercial e exportador é mal visto por Jorge Amado (na linha de um proteccionismo nacionalista não só recorrente no populismo latino-americano, mas sobretudo entre o comunismo da III Internacional), que prefere o modelo de masculinidade do tempo dos coronéis, mesmo que nele denunciasse o carácter de classe, nomeadamente o seu carácter explorador e a profunda desigualdade social: «…o poeta já lhes dissera algo da luta que antevia entre os grandes exportadores e os donos da terra, os grandes fazendeiros, aqueles conquistadores de matas que haviam passado, trinta anos antes, sobre tantos cadáveres para plantar a árvore do cacau, luta que arrastaria também os pequenos lavradores, que cultivavam suas rocinhas com a sua própria família (…) Os exportadores eram apenas intermediários, mas realmente estavam se tornando os donos do cacau, os que mais ganhavam com a lavoura» (p. 60). Atento às relações de produção e à forma como determinam relações sociais desiguais, num modelo marxista clássico, Amado não resiste, porém, ao elogio de uma masculinidade baseada na bravura, na honra e no combate com a Natureza.

Para Jorge Amado, há, no início, uma terra de ninguém, uma geografia e uma história do nada. A ocupação que dela fazem os coronéis equivale a uma gesta heróica, a gesta possível, mesmo que ela estabeleça uma realidade social nova, feita de senhores e trabalhadores quase escravos. Na geração seguinte, surgirão os filhos dos senhores, empurrados para papéis de mediadores com o estado e a burocracia: «Os filhos dos coronéis, a primeira geração de Ilheenses, aquela que os pais destinavam a grandes destinos, andava, formada em advocacia, em medicina, ou em engenharia, inútil pelos cafés e pelos cabarés».

Paralelamente, Ilhéus é região de imigração, fugitivos na sua maioria à miséria sertaneja e logo feitos dependentes das relações de patrocinato e clientelismo, hegemónicas na definição e significação das trajectórias de vida «António Vítor (personagem de pequeno fazendeiro imigrante recompensado, em terra, pela sua participação em tocaias) tem vontade de dizer alguma coisa, de falar em frases mais largas, de, se isso fosse possível, levar a mão até Raimunda e fazer-lhe uma carícia. Ela também, apesar do seu rosto zangado, tem vontade de externar sua alegria com algo mais do que o sorriso com que saudou a nuvem. Mas não o sabem fazer. Como não o souberam quando nasceram os dois filhos» (p. 85). A mulata Raimunda e o caboclo António (como depois o autor os trata, racializando o seu lugar social) são beneficiários de relações patrão-cliente. Esperam ansiosos a chuva. As suas limitações de expressão emotiva, reflectem, no plano das relações de género, as limitações sentidas nas relações político-económicas.

O mundo dos imigrados, desenraizados (à semelhança dos coronéis na primeira geração), é um mundo de fronteira também no plano afectivo e sexual. As referências à falta de mulher, aos corpos femininos estragados pelo trabalho e a pobreza, à masturbação, ao bestialismo, são recorrentes. E as distracções têm o miserabilismo dos ambientes de exploração, sem o elogio da cultura popular que seria de esperar do populismo neo-realista de Amado: «Sobre o assoalho, que parece encerado, o cacau, que veio dos cochos, seca, revirado pelos pés dos homens, que dançam sobre ele uma dança inventada, que cantam uma canção ali igualmente inventada. A dança lembra outro baile que outros negros, noutros tempos, bailaram sobre a coberta dos navios negreiros e a música fala do desejo que eles abrigam de virem a ser marinheiros um dia» (p. 132). Prenuncia-se aqui o uso que Amado virá a dar, mais tarde na sua obra, à “cultura afro-brasileira” como cultura popular baiana por excelência, na ausência de outra que não seja a que resulta de relações de produção, sem um lugar de origem, uma poética própria.

Em geral, a negritude de pobres e trabalhadores vai de si e raras vezes é referida especificamente pelo autor. A “raça” está subsumida num discurso de classe. Mas a fazenda de cacau é progressivamente complementada (e, mais tarde, substituída) pela favela urbana, mais lumpen-proletarizada e marginalizadora porque, supõe-se, desprovida do valor moral do trabalho e do contacto com a natureza: «à primeira vista, somente, porque em verdade eram duas misérias diferentes. Os meninos das fazendas tinham a cor da terra, as barrigas enormes, os sexos, cedo acostumados aos contactos com os animais, precocemente desenvolvidos. Estes da Ilha das Cobras eram também amarelos, mas de um amarelo diferente, mais verdoso, não tinham barriga, o sexo era sempre pequeno. A pele sobre os ossos, escaveirados, sabidos de fazer medo» (p. 163). Se a cor é sinal de condição social, é-o também de saúde e moralidade. É na linguagem do corpo – um corpo descrito com base em critérios que remetem para o sexo e género e para a raça e condição social – que Amado pinta as diferenças e os seus leitores as compreendem. «Minha cor é do cacau / mulato de querer bem / mas ai! Mulata mas ai! / sou amarelo encapuça’ o/ cor da maleita também» (p. 118).

No extremo oposto da escala social, trata-se de lidar com a transição para um capitalismo sem romantismo. Carlos (o exportador arribado) é assim retratado: «No mais íntimo do seu ser, onde mora o adolescente que vinha da leitura de Júlio Verne para o escutar das histórias de Ilhéus, Carlos lastima que não fosse aquela uma luta heróica, de repetição, tocaias e jagunços. Era uma luta de escritório, de jogo de bolsa, de alta e baixa…» (p. 173). Neste mundo em transformação, a chegada dos forasteiros ligados ao capital transnacional é também o início de representações, no romance, dos aspectos mais facilmente objectificáveis da cultura urbana local, especialmente afro-brasileira. Numa passagem significativa, alguns brancos assistem a um candomblé e a sua atitude parece prenunciar fenómenos contemporâneos: «(…)a argentina sente no corpo o chamado da música. Não é como os tangos de toda a degradação. É música primitiva, de desejos sem desvios (…) os brancos já lhes haviam tomado tudo, tomavam por fim da sua música religiosa para com ela acender os seus desejos (…) o sueco soltou um grito áspero, pensava que assim gritavam os pretos nas macumbas…» (p. 193).

«E como não havia mais terra para conquistar – muito menos para comprar – os coronéis não sabiam o que fazer do dinheiro». s das classes sociais mais baixas. Os que são (ou supomos serem) brancos, nunca são racializados pelo autor. Alguns exemplos: «…solteironas, o coro unânime dos coronéis…comerciantes, exportadores, trabalhadores vindos do interior para a festa, carregadores, homens do mar, mulheres da vida, empregados no comércio, jogadores profissionais e malandros diversos…» (p. 29); «…as caboclinhas humildes nas pobres casas de rameiras, nos povoados» (p. 37); «(mulheres de coronéis) a esposa na cozinha, como uma negra, sem diversão» (p. 38); «O Doutor não era Doutor, o Capitão não era Capitão. Como a maior parte dos coronéis não eram coronéis» (p. 46). Aliás, as relações sociais locais são descritas em termos relacionais e interaccionais: « Como poderia Segismundo, sem cometer grave descortesia, duvidar da palavra do coronel José Antunes, rico fazendeiro, ou do comerciante Fadel, estabelecido com loja de fazendas, gozando de crédito na praça?» (p. 62); «Como a maioria da população, não media pelo nascimento o verdadeiro grapiúna e sim pelo seu trabalho em benefício da terra, pela sua coragem de entrar na selva e afrontar a morte, pelos pés de cacau plantado…» (p. 64).

Na linha dos processos de categorização pelo género, uma atenção especial é prestada à definição das mulheres, e é o personagem de Nacib que assim reflecte sobre a empregada que acaba de perder e abrirá o caminho para a chegada de Gabriela: «A verdade é que já sentia saudades dela, de sua limpeza, do café da manhã com cuscuz de milho, batata doce, banana da terra frita, beijus…De seus cuidados materiais, de sua solicitude, mesmo dos seus resmungos. Quando uma vez ele caíra com febre,… ela não arredara do quarto, dormira mesmo no chão. Onde arranjaria outra como ela?» (p. 59). Tipos femininos que cruzam as diferentes categorias de pertença social são apresentadas: «A mulher loira… formosa, bem vestida e bem pintada, ‘uma boneca estrangeira’» (p. 77); «as irmãs Dos Reis…somavam cento e vinte e oito anos de sólida virgindade indiscutida» (p. 78); «Mariazinha, os pés descalços, a pentear uns cabelos compridos, a matar piolhos. Era mulher de uns trinta… anos, gasta pela bebida, mas ainda com uns restos de graça no rosto caboclo» (p. 87).

Nacib é um dos muitos imigrantes que acorreram a Ilhéus, «zona ubérrima onde se fizera homem» (p. 61), descrito, enquanto ser masculino, da seguinte forma: «…bigodões negros de sultão destronado, a descer-lhe pelos lábios… frondosos bigodes plantados num rosto gordo e bonachão, de olhos desmesurados, fazendo-se cúpidos à passagem das mulheres. Boca gulosa, grande e de riso fácil. Um enorme brasileiro, alto e gordo, cabeça chata e farta cabeleira, ventre demasiadamente crescido…» (p. 61). Os personagens masculinos vão sendo definidos em grande parte pelas suas atitudes face às mulheres: «(Mundinho) talvez os cabelos negros, talvez os olhos rasgados, dava-lhe um toque romântico, fazia com que as mulheres logo o notassem…» (p. 65); «(os bares) hábito que se estendera a toda a população masculina» (p. 73) ou homens «cuja única ocupação era jogar póquer e pegar negrinhas no morro da Conquista» (p. 75), ou um velho coronel pensando em como «os homens precisavam daquilo (cabarés), ele também fora jovem. O que não entendia era clube para rapazes e moças conversarem até altas horas, dançarem essas tais danças modernas, onde até mulheres casadas iam rodopiar em outros braços… Mulher é para viver dentro de casa, cuidar dos filhos e do lar. Moça solteira é para esperar marido, sabendo coser, tocar piano, dirigir a cozinha» (pp. 94-5); «o ideal de cada coronel é dormir com mulher casada» (p. 103).

Se, para lá de classe, género e “raça”, a idade é um nível de identificação e diferenciação social a não esquecer, outro é a sexualidade. Amado encontra lugar para uma breve referência, pejorativa, à homossexualidade: «Tratava-se de dois invertidos oficiais da cidade. O mulato Machadinho, sempre limpo e bem arrumado, lavadeira de profissão, em cujas mãos delicadas as famílias entregavam os ternos de linho (…) E um negro medonho, servente na pensão de Caetano, cujo vulto era visto à noite na praia, em busca viciosa» (p. 111).

É neste universo de rígidas classificações sociais, hierárquicas e assimétricas, que Gabriela vai fazer a sua aparição desestabilizadora das mesmas e prenunciadora do triunfo de um projecto social “brasileiro” que não haveria ainda chegado à cultura de zona de fronteira de Ilhéus. E vai fazê-lo na Segunda parte, logo após uma série de qualificações das atitudes dos homens perante as mulheres: «Porque não culpava certos maridos que nem ligavam para as esposas, tratavam-nas como criadas, enquanto davam de um tudo, jóias e perfumes, vestidos caros e luxo, às raparigas, às mulheres da vida ou às mulatas para quem botavam casa?» (p. 144); «os coronéis reservavam a pena de morte para traição de esposa. Rapariga não merecia tanto…» (p. 149); (um coronel) eram seu luxo, sua alegria na vida, essas cabrochas, mulatinhas no verdor dos anos, que o tratavam como se ele fosse um rei» (p. 150) ou «descobria, quase sempre na sua fazenda ou nos povoados, uma caboclinha simpática» (p. 151); «Diziam que o viúvo levava à noite negrinhas do morro para sua casa» (p. 179); «Por essas e por outras, ele, Nacib, não se casava: para não ser enganado, não Ter de matar, derramar o sangue alheio» (p. 161).

Gabriela, que Nacib descobre no “mercado dos escravos” (sic) para substituir a empregada que havia perdido, vai surgir justamente em contraste com as outras figuras femininas e com as expectativas masculinas em relação às tipologias de mulheres. É através dos olhos de Nacib que ela é apresentada: «…e a viu dormida numa cadeira, os cabelos longos espalhados nos ombros. Depois de lavados e penteados tinham-se transformado em cabeleira solta, negra, encaracolada. Vestia trapos, mas limpos… Um rasgão na saia mostrava um pedaço de coxa cor de canela, os seios subiam e desciam levemente ao ritmo do sono, o rosto sorridente» (p. 180); «… dela vinha um perfume de cravo, dos cabelos talvez, quem sabe do cangote» (p. 181); «Morena e tanto, essa sua empregada. Uns olhos, meu Deus… E da cor queimada que ele gostava»; «Ela sorria, era de medo ou era para encorajar? Tudo podia ser, ela parecia uma criança, as coxas e os seios à mostra, como se não visse mal naquilo, como se nada soubesse daquelas coisas, fosse toda inocência« (p. 204).

A imagem é claramente a do bom selvagem. Mas um bom selvagem no feminino, contrária à figura da Eva pecaminosa, por um lado; e uma boa selvagem que, em vez de ser indígena (ou sequer cabocla), é apresentada como mulata (e mesmo, preferencialmente, como morena). Nestas duas vertentes, ela é genuinamente produto brasileiro, e caracterizado pelo convívio paradoxal, inovador, entre inocência infantil e sensualidade – “não existe pecado a sul do Equador”…. Nacib vai ser o agente dos sentimentos ambíguos em relação a Gabriela, começando pela “confusão” entre os afectos e a relação laboral: «Nunca fizera negócio mais vantajoso como ao contratar Gabriela no ‘mercado dos escravos’. Quem diria ser ela tão completamente cozinheira, quem diria esconder-se sob trapos sujos tanta graça e formosura, corpo tão quente, braços de carinho, perfume de cravo a tontear?» (p. 227); «jamais poderia querer assim, tanto desejar, tanto necessitar sem falta urgente, permanentemente, uma outra mulher, por mais branca que fosse, mais bem vestida e mais bem tratada, mais rica ou bem casada (…) afinal que sentia por Gabriela, não era uma simples cozinheira, mulata bonita, cor de canela, com quem deitava por desfastio?» (p. 233); «Mas como casar com Gabriela, cozinheira, mulata, sem família, sem cabaço, encontrada no ‘mercado dos escravos’? Casamento era com senhorita prendada, de família conhecida, de enxoval preparado, de boa educação, de recatada virgindade» (p. 275).

Gabriela, por seu lado, tem uma atitude de absoluto hedonismo, sem cálculo racional. Gosta de dormir com Nacib por o achar bonito e carinhoso, não como relação de contrato, seja de mancebia ou de casamento. Para ela, «A vida era boa, bastava viver. Quentar-se ao sol, tomar banho frio. Mastigar goiabas, comer manga espada, pimenta morder. Nas ruas andar, cantigas cantar, com um moço dormir. Com outro moço sonhar» (p. 279). É esta imagem de inocência sem culpa, que Amado vai contrastar com projectos de mulher moderna, e não com os projectos, anteriores e tradicionais, de mulher recatada: «A esposa, uma gringa alta e loiríssima, de modos livres e um tanto masculinos, não suportava Ilhéus. Vivia na Bahia… corria de automóvel, fumava cigarros, constava que recebia os amantes em plena luz do dia» (p. 263) e «Mulher sem compostura, dela diziam horrores: bebia tanto ou mais que um homem, ia à praia seminua, adorava adolescentes quase meninos, corria até que gostava de mulheres» (p. 264).

Nacib vai fazer uma derradeira tentativa de domesticar Gabriela como mulher casável e “respeitável”, depois de ela ter cometido a proeza de conseguir levar todos os convivas de um baile burguês para a rua, juntando-os a um popular cortejo de Reisados (uma alegoria da atenuação da rigidez europeia e burguesa conseguida pelo “projecto brasileiro”). Nacib acabará por desistir dessa tentativa, apercebendo-se de que fizera definhar a flor de Gabriela. Um personagem, introduzido para comentar genericamente o sentido social de Gabriela, é um autêntico porta-voz do programa de interpretação nacional de Jorge Amado. Indagando a alma de Gabriela, diz: «De criança? Pode ser. De passarinho? Besteira, Josué. Gabriela é boa, generosa, impulsiva, pura. Dela podem-se enumerar qualidades e defeitos, explicá-la jamais. Faz o que ama, recusa-se ao que não lhe agrada. Não quero explicá-la. Para mim basta vê-la, saber que existe» (p. 428). Mas a verdadeira interpretação, está no subtítulo do último capítulo: por baixo de “O Luar de Gabriela” pode ler-se, em itálico: «Talvez uma criança, ou o povo, quem sabe?».

Com a publicação, divulgação e, depois, passagem a televisão, de “Gabriela”, passámos a ter uma marca registada de uma representação. Julgava eu ter feito uma blague ao colocar o â no título – para vincar este lado de ícone e produto – quando me apercebi, na ficha técnica do livro, de que “Gabriela” e “Gabriela, Cravo e Canela”, são marcas registadas. De facto.

7. Gabrielas, para lá de Gabriela.

Como personagem literário, Gabriela pode ser entendida em relação a dois contextos: o de figuras semelhantes a ela na literatura brasileira, e o de outras figuras na obra do seu criador Jorge Amado. Começando por este último aspecto, relembre-se o episódio da reivindicação, feita por parte de uma pessoa real, de ter sido a fonte de inspiração para um personagem de Amado. Trata-se de Severiano Manoel de Abreu, um pai de santo que recebia o encantado caboclo Jubiabá. Ambos, pai de santo e escritor, se envolveram em polémica, na época em que a definição de uma cultura popular de base afro-baiana estava na ordem do dia, nomeadamente com os congressos afro-brasileiros. Amado, que reivindicou para si, nesses anos 30, os elogios de Gilberto Freyre e Edson Carneiro por “Jubiabá”, é bastante forte na sua reacção contra o protesto do pai de santo. Cita-o Brookshaw, numa entrevista concedida ao Estado da Bahia em 1936, no seu livro sobre o negro na literatura brasileira: «Ora, calcule você que eu pretendi criar um tipo de macumbeiro que fosse um verdadeiro sacerdote na sua religião, um homem bom, um tipo nobre e sereno, verdadeira figura de pai espiritual, de mentor (…) Pois de repente me aparece o mulato Severiano a afirmar que ele é que fora o tipo real sobre o qual eu moldara o meu personagem. Se você conhecesse a história do mulato Severiano, haverá de compreender porque o meu personagem está tão humilhado» (Brookshaw 1983:116). Curioso conundrum: o escritor (esse especialista letrado na criação de representações do povo) supostamente inspira-se num personagem real, ou simplesmente num tipo social; o personagem real (ou alguém que se reconhece no tipo social) reage à qualificação de si feita; e o escritor afirma a superioridade do tipo social à realidade vivida de uma pessoa concreta…. Pena que não tenha surgido nenhuma Gabriela.

Os primeiros romances de Amado, localizados em Ilhéus (“Cacau” e “Suor”, respectivamente de 1933 e 1934), podem ser incluídos no que em Portugal ficou conhecido como neo-realismo (corrente sobre a qual, aliás, Jorge Amado exerceu fortíssima influência), com uma preocupação com a condição das classes trabalhadoras. É o trabalho e a experiência da exploração que constituem o nó central, em relativa independência da questão ‘racial’. Mas a partir dos anos cinquenta, o escritor inaugura uma nova fase da sua obra, após o regresso do exílio, em que começa a focar a cultura negra baiana enquanto cultura regional tornada património da sociedade em geral (negra ou branca), com forte expressão nas camadas populares. Se nesta mudança há sinais positivos – pois um programa político universal é substituído por uma atenção à especificidade cultural – esta é, no entanto, o resultado directo do triunfo de um culturalismo Freyriano, desvinculador das relações de desigualdade baseadas no logro da ‘raça’. Regionalista, nativista, ou mesmo populista, consoante as vontades de classificar a sua obra, o que é certo é que ela depende fortemente, para a sua prossecução, da reprodução dos estereótipos sociais dominantes. Brookshaw analisa Jubiabá, Gabriela e Tenda dos Milagres, como um tríptico em que surgem personagens racializados representando o espectro das “personalidades sociais” afro-brasileiras possíveis. Assim, em Jubiabá teríamos o Herói Negro, em Gabriela a Heroína Mulata, em Tenda dos Milagres o Herói Mulato – a síntese da filosofia do “mesticismo” (Brookshaw 1983) proposta por Amado e espelhando as percepções da época.

Tanto Balduíno como Gabriela são marcados por uma forte sensualidade, por uma capacidade de seduzir que, porém, é desprovida de ambição. Marotti (1975), recorrendo à ética da negritude de Senghor, nota a ignorância da noção de pecado sexual, ausência de noções claras de passado e futuro, vitalidade e recusa da intelectualização. Em Tenda dos Milagres, Archanjo é, tal como Balduíno, um fanático de carnaval e candomblé, mas não se deixa ficar pela cultura popular, antes sendo um auto-didacta que, enquanto bedel da Faculdade de Medicina, defende os africanos das teorias racistas dos académicos com quem convive. No entanto, uma leitura atenta de Gabriela, não permite detectar elementos nem do carnaval nem do candomblé, pois Gabriela não é um romance regionalista afro-baiano, marcado pela vivência de Salvador, mas um romance de “lugar”, marcado pela experiência social ilheense

Onde Brookshaw parece ter mais razão é na qualificação da obra de Amado como populista, ou seja, como preservadora de mitos. Todavia, parece-me que esses mitos estavam, à época, ainda em construção, contrapondo-se à ideia da decadência brasileira por razões raciais. Assim, o mito da mulata sensual, o papel de mulatos como intermediários entre negros em extinção e brancos modificados pela negritude, a caminho do fenótipo e tipo cultural brasileiros ideais (mais branco na cor, mais negro na cultura), era um projecto em construção. E, neste projecto, Gabriela aparece como representante do “povo brasileiro em construção” – daí a sua não conotação directa com a especificidade cultural do mundo afro-brasileiro.

Brookshaw, ao defender a sua ideia de “mesticismo”, fá-lo por oposição à teoria do branqueamento: «O branqueamento está intimamente ligado à política racial e social que não nega a mobilidade de pessoas de descendência mista, mas preferia que elas não tivessem muito sangue negro. O mesticismo, por outro lado, é um posicionamento cultural, uma espécie de nacionalismo dirigido contra a completa hegemonia cultural da Europa enquanto, ao mesmo tempo, considera-se superior às influências culturais puramente afro-ameríndias…» (1983:225). Brookshaw adianta: «na verdade o morenismo não é nada mais do que um equivalente neocolonial do branqueamento» (1983:227). O problema é que esta distinção categorial entre projectos para os corpos e descendências, e projectos para os valores, não colhe na análise do real, feita de conflito entre a naturalização dos atributos pessoais, sociais e culturais, por um lado, e a individuação da pessoa humana própria dos projectos de cidadania. Menos ainda se aplicaria, no contexto pós-moderno, à fragmentação e descentramento das noções de pessoas subjacentes aos dois projectos.

Mas é Mariza Corrêa quem aborda, explicitamente, a figura mítica da mulata, numa discussão sobre a relação entre raça e género. Partindo da passagem do pólo negativo (a miscigenação como o mal do país) para o positivo (a apologia da mestiçagem), nos discursos médicos, literários e carnavalescos (p37). Também ela detecta a recorrência das imagens de uma corporalidade sensual e amoral nas mulatas de Aluísio de Azevedo, João Felício dos Santos ou Jorge Amado. Mas Corrêa detecta o que Brookshaw nem divisou: que o mulato contem um potencial de ascensão social, ao passo que a mulata provoca declínio ou mesmo desordem (p40).

Tentando estabelecer correlações entre o pensamento sobre o sexo e o pensamento sobre a ‘raça’ (ver Stepan), Corrêa relembra como foi no contexto dos estudos sobre candomblé que se começou a falar de homossexualidade, numa atitude próxima da acusação de efeminação feita aos mestiços. Diz ela que, assim como há masculino e Masculino, há também Feminina e feminina, e tanto o negro como a negra precisam branquear para aproximarem-se do pólo idealizado (M e F): «No terreno onde se inaugurou o debate sobre relações raciais, o da evocação de desigualdades biológicas ou orgânicas para explicar desigualdades sociais, as diferenças sexuais parecem ter oferecido um parâmetro implícito para analisá-las» (p. 45; ver Haraway).

Aceitando que o modelo brasileiro privilegiaria um contínuum e não categorias polares, dando prioridade a alocações situacionais e relacionais numa escala cromática, Corrêa faz notar como, no campo do género, as coisas passam-se de maneira diferente: as categorias Masculino e Feminina seriam discretas, definidas por oposição e contraste mais do que por relação (p. 46).

Segundo ela, a figura da mulata poria em xeque ambas as propostas. Na classificação racial, a sua situação no continuum é fixa – apesar de ambígua, está a meio caminho. Tem um lugar certo no encontro das raças. No plano do género, é definitivamente feminina: «Acredito que a mulata construída em nosso imaginário social contribui, no âmbito das classificações raciais, para expor a contradição entre a afirmação de nossa democracia racial e a flagrante desigualdade social entre brancos e não brancos em nosso país. Mas no âmbito das classificações de género, ao encarnar de maneira tão explícita o desejo do Masculino Branco, a mulata também revela a rejeição que essa encarnação esconde: a rejeição à negra preta» (p. 49)

Creio haver em ambos estes contributos uma falha interpretativa que assenta em duas questões metodológicas: a primeira é a concentração nos discursos (literários e outros) em detrimento da sua actualização e da observação etnográfica de situações de acção e relação; a segunda é a utilização, num caso, de argumentações culturalistas e, no outro, de uma focagem de cariz estruturalista. Com algumas reflexões a partir da etnografia de Ilhéus, e o contributo de uma síntese teórica com que concordo (Wade 1997), poderemos retornar à pertinência simbólica de Gabriela.

8. Presente Etnográfico

Um dia encontro Vânia, uma moça negra que dança no grupo de ballet afro do Dilazenze. Está a conversar com Ana, antropóloga do Rio. Conta-lhe que escreveu um trabalho para a universidade sobre o personagem do negro Jeremias, feiticeiro da floresta, em Jorge Amado. Ela compara a sua consciência ecológica e profecias com as memórias dos velhos de hoje que trabalharam no cacau. Também estes acham que os problemas actuais – a vassoura de bruxa – são uma vingança da natureza. Também para ela é claro que a religiosidade afro-brasileira e os seus guardiães, os negros, são preservadores da ecologia e que isso se opõe /os opõe ao racionalismo ocidental.

Esta visão é recorrente nas elites dirigentes do movimento negro local. Moacir Pinho, à altura do trabalho de campo responsável pelo sector de produção cultural na FUNDACI, cargo para que foi indicado por o seu partido, o PT, ter participado na aliança eleitoral municipal, está ligado ao sindicato dos trabalhadores rurais, às comunidades eclesiais de base, ao candomblé, e é lider local do MNU. Estuda filosofia na universidade, debruçando-se sobre a oposição entre a cosmogonia de origem africana e o racionalismo e cartesianismo ocidentais. Nos planos, por ele propostos, de actividade cultural e cívica ligada à problemática dos negros, inclui-se a preservação das zonas de mata por razões ecológicas e para recolha de ervas por parte de pais e mães de santo; a promoção social das comunidades mais pobres, sobretudo marcadas pela etnicidade (negra ou de remanescentes de indígenas); e a promoção de uma especificidade cultural da comunidade negra, não só como baiana, mas como sul-baiana, isto é, praticante de um candomblé “Angola”. O chapéu de chuva destas acções é coincidente com os projectos municipais: a promoção de um turismo ecológico e cultural, criador de especificidades locais.

Outros agentes locais – por exemplo, responsáveis pela agência municipal de promoção turística ou pela organização do carnaval – reforçam também estes aspectos, mas, quanto mais forem ligados às elites “brancas”, mais reforçam a importância (e o capital) simbólico do universo mítico do cacau e da obra de Jorge Amado. Sectores mais críticos – Moacir Pinho incluído – inclinam-se mais para um revisionismo histórico, que dê conta dos processos de exploração das minorias étnicas, e não se reconhecem na simbólica da obra de Jorge Amado. A figura de Gabriela poderia ser justamente um campo de disputa político-simbólica: reforça-se o seu poder de ícone da mestiçagem brasileira, ou denuncia-se o carácter construído dessa figura que elide a reprodução das desigualdades sociais actualizadas racialmente?

Numa coisa todos concordam: o fim do período áureo do cacau, a necessidade de encontrar alternativas, o crescimento urbano concomitante com o aumento da pobreza, e a importância crescente de uma agenda étnica, muitas vezes em confronto com uma agenda de luta de classes mais clássica e estabelecida. Muitas áreas de conflito surgem em torno disto: por exemplo, a existência de dois carnavais, o oficial ou cultural e o antecipado, opondo blocos afro subsidiados municipalmente a blocos de trio empresariais e promotores de lucro. E muitos universos discursivos e de relações sociais reproduzem velhas síncreses de diferenciação à margem das discussões pós-modernas sobre política identitária: basta pensar nas páginas de crimes nos jornais locais e nas fotos em que os corpos pobres, negros e seminús são exibidos como troféus.

Fala Moacir. «Porque na verdade o cacau….porque na verdade o que é que a comunidade negra ou indígena teria com a chamada civilização do cacau? A chamada civilização do cacau… seria equivocado eu dizer assim ‘representou a negação dessas comunidades’. Não é… mas a verdade, o que é que aconteceu com índios e negros com a civilização do cacau? Eles foram…os negros a mão de obra, e os índios definitivamente dizimados… Aí você tem uma história…uma história dos trabalhadores rurais aqui, que são na realidade esses negros, que…as histórias mais escabrosas, de gente que recebia o salário na ponta da cartucheira e essas histórias de jagunços, toda uma violência que é transformada em prosa, num lirismo que acaba desvirtuando da própria realidade, que é feito por Jorge Amado, que acaba sendo a grande referência dessa região, aonde… a comunidade negra não se sente contemplada na literatura regional. A não ser naquela parte mais exótica, da prostituição, da jagunçada…»

Um dos blocos-afro ilheenses mais importantes é o Dilazenze atrás referido. Ligado ao terreiro Tombency e sua linhagem, ao bairro da Conquista e suas redes vicinais e às famílias de sangue e de santo que lhe correspondem, o seu líder (e filho da mãe de santo) está ocupando um papel político-cultural cada vez mais relevante. Uma das chaves do sucesso é a incorporação, na política do bloco, de algo mais do que a preparação do desfile carnavalesco: uma agenda de intervenção cívica, de “conscientização” e de procura de espaços para alianças e intervenção políticas ao nível municipal. Durante umas jornadas sobre cultura negra, uma das sessões foi dedicada às mulheres. Pouco participada – estas sessões e actividades têm uma função fática muito grande, criam “discurso para dentro”, limitando-se a exteriorização à imprensa ou alguns “mediadores autorizados”, como os antropólogos.

Na sessão, Gleide, coreógrafa do grupo de dança e neta carnal da mãe de santo, afirma a sua feminilidade como dirigente do mesmo e Mãe Hilza, mãe de santo do terreiro, relembra a importância das mulheres na direcção espiritual. Qualquer uma delas fala da sua experiência, conta a sua vida e participação, sem explicitação de uma agenda feminista ou para-feminista. Mas quando Dino, um homem, funcionário da prefeitura e responsável pelas relações públicas do Dilazenze, intervém, o seu discurso é programático, ou não tivesse sido iniciativa dos dirigentes masculinos a introdução de um evento “feminista”: «Aqui no Dilazenze há muita democracia. Olha-se as mulheres como companheiras com sexo diferente. A ousadia, a garra de trabalhar também se traduz no homem…No Dilazenze, com mais iluminação dos orixás e Mãe como conselheira, temos mais facilidade. Temos uma maioria de pessoas que não são da família dentro do corpo de baile. A gente vê a discriminação com a mulher, o homossexual, o idoso, a criança – a gente procura ser diferente na cultura da gente. Porquê dar só espaço para os homens? As mulheres não são objecto, objecto sexual. O mesmo sangue que elas têm, da cor vermelha, a gente tem, os homens, a mesma garra que nós temos. Nós por sermos do sexo masculino temos vergonha. Acho que o homem é mais sexo fraco porque não assume que sem uma mulher do lado não chega a lado nenhum. O homem vem de dentro de uma mulher, o homem não pode até ao momento conceber outro homem. A Bíblia tudo bem, fala da costela, a gente não vai discutir isso. A visão do Dilazenze é essa: essas caras bonitas, com ou sem maquilhagem, os corpos suados … o contacto delas, a maneira de sorrir, de pentear, a culinária, a ousadia de discutir, de pesquisar a coreografia, de permitir que a outra colega… O homem é mais durão. Ele necessita daquilo, da lágrima de mulher, para ver que ele também é ser humano (…) A gente percebe que outras entidades não têm tanta participação feminina. Talvez seja essa a razão de tanta ciumeira. Tem um monte de menina virgem no Dilazenze, mas nenhuma delas pode abrir a boca e dizer que os homens do Dilazenze passam a mão no seio, nas coxas, no bumbum…Há paquera, de namorado, claro que existe, mas existe respeito. E a gente sempre debate. O respeito pela mulher».

Marinho, líder do Dilazenze, lança uma pergunta sobre a assunção da identidade de mulher negra. E a mulher negra como símbolo sexual? – pergunta -, acrescentando que nos primeiros anos, em 1981, foram para a rua com vestuários nativos, tribais, mostrar a beleza negra, a sensualidade, mas as pessoas não entenderam a mensagem e olharam as mulheres do ponto de vista sexual. O mesmo problema parece ter acontecido nos Concursos de Beleza Negra: onde começava a afirmação de auto-estima ‘racial’ e acabava a objectificação do corpo feminino, e vice-versa?

A esta dica, Gleide responde: «…naquela época os homens viam (a mulher) como objecto. Um símbolo sexual para mim é uma coisa, um objecto outra. Para mim a mulher negra é um símbolo sexual, porque não mostrar sua beleza? A mulher negra é bonita. Dizem que sou convencida…A gente pode mostrar beleza exterior e interior…»

E Dino interpreta: «…o seu convencimento está no seu interior, você é uma figura iluminada. Se é convencida é porque quando se mostra bonita não é exibicionismo barato, vulgar, é natural. Seja sempre convencida como mulher, sabendo-se colocar no seu lugar, mulher pura, limpa, que luta».

Esta discussão para consumo interno no grupo, marcada por uma agenda politicamente correcta, releva de uma atitude política propositiva: a conscientização e criação de auto-estima negra, da mulher negra enquanto não mulata apenas e do empowerment de comunidades pobres, como ficou explícito durante o trabalho de campo noutras situações. Em Ilhéus é por demais evidente o domínio do poder económico por uma elite branca (embora crescentemente deslocalizada, com transferências de capital para outras partes do país e do mundo), do poder político pela mesma ainda que cada vez mais pelos sectores branqueados através da educação e do funcionalismo; a submissão da ‘raça’ à classe é parte das interpretações correntes (“discriminação social e racial”, é comum ouvir-se) só contrariada pelo movimento negro e os sectores activos no movimento afro-cultural; a assimetria simbólica do género e as desigualdades com base nele reproduzem-se no seio das populações definidas como “pobres e/ou negras”, a não ser nos sectores politizados. Em todos os casos, e perante imensas dificuldades, as movimentações são nos sentido da promoção de igualdade com respeito à diferença, e da recusa da desigualdade e da semelhança. Tal como o género, com os processos de naturalização (ver Yanagisako e Delaney 1995) a ele subjacentes, também a raça se reproduz como categoria naturalizada apesar da desconstrução do seu carácter aleatório com base em sinais diacríticos da percepção visual dos corpos humanos.

9. Compreendendo classe, género e ‘raça’

O fim das teorias raciais como explicativas das desigualdades sociais e nacionais, e a correspondente sagração da cultura explicativa das diferenças, coincidiu com a passagem do horror pela mestiçagem racial ao elogio da mestiçagem cultural, permanecendo incólume o desejo de branqueamento progressivo. Simultaneamente, o triunfo do culturalismo vai abrir as portas a dois tipos de formulação conceptual: a supremacia de explicações de fundo marxista sobre a desigualdade, explicando ‘raça’ através de classe, e a abertura – avant la lettre – de uma retórica do híbrido pós-colonial com Freyre, com a diferença de que se quedou pelos aspectos expressivos da cultura, elidindo as relações sociais subjacentes, nomeadamente as de desigualdade. É compreensível que, neste quadro, as figuras simbólicas de mulatos representem transição, ponto de encontro, ponto de passagem. Esta imagem racializada metaforiza as possibilidades de ascensão (ou o seu obverso, a queda) social, num reconhecimento implícito e/ou pragmático dos privilégios de cor no Brasil, e sexualiza necessariamente estas mobilidades e tendências – já que um fenótipo novo é o resultado de cruzamentos genéticos inesperados.

O que triunfou no Brasil foi um composto de teorias racistas, elogios da mestiçagem, o pano de fundo de um desejo de branqueamento, uma ordem social em que as linhas de privilégio de classe seguem em grande medida divisões ‘raciais’, e uma ideologia de democracia racial correspondente a uma ideia novo-mundista de possibilidades de progresso, transformação e mobilidade garantidas por um carácter nacional cordial, festivo, comunicativo, simbolizado em formas corporais performativas (festa, carnaval, dança etc.) que instauram zonas de comunicação sexualizadas e afectivizadas. É sobre este complexo – sistematizado discursivamente em vários campos do saber e actualizado em certas arenas de interacção social interpretadas como as mais relevantes – que, com a democratização e a globalização, as agendas da política da identidade vão ganhar ímpeto e introduzir a negritude como factor nunca antes explicitado. E isto vai acontecer em diferentes meios sociais (uma coisa é o movimento afro-cultural, outra o movimento político negro, outra ainda as manifestações de auto-estima da classe média negra emergente) e com diferentes agendas cruzadas (a política tradicional de esquerda, sindicalista e classista, as preocupações ecológicas e mesmo new age, ou os movimentos feminista e/ou gay).

Gabriela, enquanto símbolo, poderia ser um pretexto para discutir estas agendas cruzadas: que significa ela para diferentes actores (incluindo, a meu ver, o “interno”) como uma desiring machine.

É justamente na análise – não aplicada ao Brasil – da situação pós-moderna, que Wade nos pode ajudar a ultrapassar certos vícios do debate interno brasileiro nas ciências sociais (ligados, a meu ver, à comparação Brasil-EUA, às análises baseadas na classe ou, alternativamente, demasiado culturalistas). Wade diz que o feminismo teve uma influência crucial ao abordar claramente a identidade como algo de construído através de processos de relacionalidade e representação, enquanto processo e não coisa; que a reificação e essencialização da identidade foi desafiada pelo descentramento dos indivíduos; que as identidades múltiplas e o desafio às metanarrativas tornam menos importante responder a perguntas sobre a primazia de classe, raça ou outro nível; e que a cultura e mais exactamente a política da cultura tornou-se num assunto central, junto com a mercadorização da cultura e os movimentos sociais.

Estes elementos permitem a subscrição das ideias de Brackette Williams (1991, cit. in Wade 1997) sobre como as tentativas nacionalistas no sentido de criar unidade cultural se fizeram através da assimilação de “elements of that heterogeneity through appropriations that devalue them or that deny the source of their contribution”, o que constituiria uma hegemonia transformista na qual a dominação funciona em parte através da apropriação e resignificação. É isto que permite que o ênfase na mestiçagem na nação veja o branqueamento como um mecanismo fundamental do racismo na América Latina. É possível, assim, aceitar diferentes formas de racismo, sem que estas – digo eu – tenham que ser vistas do ponto de vista da excepcionalidade qualificada (como aconteceu com o lusotropicalismo)

Finalmente, um conjunto de dimensões político-culturais da identidade são perdidas quando se centra a análise no viés politico-económico das abordagens instrumentalistas, desde os aspectos sexuais, de música, dança, ou performance. Por exemplo, a ambivalente atracção sexual de brancos por negros é um tema recorrente dos contextos coloniais (Young 1995). Não perdendo de vista processos político-económicos, a análise simbólica das representações é importante (se não nos cingirmos a ela – um dos problemas de grande parte dos estudos pós-coloniais -, mas para isso ajuda a etnografia). As duas podem juntar-se na análise de processos concretos de política da representação cultural. Precisamos ver como as essências são construidas, assim como hoje é impensável subscrever o construccionismo social sem abordarmos como as categorias naturalizadoras são elas mesmas construídas.

Bibliografia

Amado, Jorge, 1986, São Jorge dos Ilhéus. Lisboa: Europa-América

Amado, Jorge, 1998, Gabriela, Cravo e Canela. Lisboa: Europa-América

Brookshaw, David, 1983, Raça e Cor na Literatura Brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto.

Corrêa, Mariza, 1996, “Sobre a Invenção da Mulata”, Cadernos Pagu, 6-7: 35-50.

Haraway, Donna, 1991, Simians, Cyborgs and Women – the Reinvention of Nature. New York: Routledge

Hollanda, Heloisa, org., Tendências e Impasses – o Feminismo como Crítica da Cultura. Rio de Janeiro: Rocco.

Marotti, Giorgio, 1975, Perfil Sociológico da Literatura Brasileira. Porto: Paisagem.

Stepan, Nancy, 1994, “Raça e Gênero: o Papel da Analogia na Ciência”, in Buarque de

Wade, Peter, 1997, Race and Ethnicity in Latin America. Londres: Pluto Press.

Williams, Brackette, 1991, Stains on my name, War in my veins: Guyana and the Politics of Cultural Struggle. Durham: Duke University Press.

Yanagisako, S. and C. Delaney, orgs., 1995, Naturalizing Power. Essays in Feminist Cultural Analysis. New York: Routledge.

Young, Robert, 1995, Colonial Desire: Hybridity in Theory, Culture and Race. Londres: Routledge.

Miguel Vale de Almeida
Professor Auxiliar do Deptº de Antropologia do ISCTE, em Lisboa. Nasceu em 1960. Publicou, entre outros, “Senhores de Si, Uma Interpretação Antropológica da Masculinidade” (1995, com versão inglesa “The Hegemonic Male”) e editou “Corpo Presente: Treze Reflexões Antropológicas sobre o Corpo”, 1996). Desde 1997 começou a estudar questões de “raça” e etnicidade, com trabalho de campo em Ilhéus, BA . Presentemente redige o livro sobre essa pesquisa e estreou o documentário O Espelho de África. Áreas: Portugal, Brasil, Pós-Colonial Lusófono; “Raça”, Etnicidade, Género, Sexualidade, Estudos Pós-Coloniais. É também autor de ficção, cronista da imprensa e activista político e de movimentos sociais.

Governo do Brasil cede a protestos e reabre a exploração de madeira na Amazônia

Para desânimo dos grupos ambientalistas daqui e do exterior, o governo brasileiro restaurou as licenças de exploração de madeira que foram suspensas no ano passado, como parte de um esforço para impedir o desmatamento em áreas de fronteira da Amazônia, onde a floresta está desaparecendo rapidamente.
A mudança ocorreu depois que madeireiros e seus aliados bloquearam uma importante estrada que cruza o coração da floresta e um grande afluente do Rio Amazonas, queimaram ônibus, ameaçaram poluir as águas com produtos químicos e tomaram um aeroporto.
Mas os grupos ambientalistas descreveram a mudança inesperada da política do governo como um revés aos esforços de preservação da Amazônia e disseram que ela apenas encorajará uma maior desobediência da lei em uma área já conhecida pela violência.
“Ceder a chantagem é sempre um perigoso precedente, e eu acho que este é o caso aqui”, disse Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental, um importante grupo de pesquisa e advocacia. “Não vai demorar muito até outra pessoa aparecer, também querendo forçar negociações unilaterais, então é importante que o governo não enfraqueça a implementação da lei.”

Esta disputa é a mais recente de várias desde que Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores, de esquerda, assumiram o governo dois anos atrás, e nas quais se curvaram a atos organizados de desobediência civil.

Latifundiários, produtores de arroz e agricultores que bloquearam as estradas no ano passado para impedir a criação de uma reserva indígena no norte da Amazônia também conseguiram o que queriam, e os camponeses sem-terra regularmente invadem e ocupam fazendas sem que nenhuma ação legal seja movida contra eles.

Em 27 de janeiro, uma alta autoridade ambiental no Estado do Pará, no leste da Amazônia, prometeu que o governo “não cederá a chantagens”. Mas quando o líder da associação dos madeireiros foi citado como alertando que correria sangue a menos que as exigências do grupo fossem atendidas, e líderes empresariais e políticos nas cidades ao longo da bloqueada rodovia BR-163 começaram a se queixar de que seus suprimentos estavam se esgotando e o comércio normal está quase parando, as autoridades em Brasília aparentemente mudaram de idéia.

O anúncio oficial da mudança foi feito pouco antes do Carnaval, um momento em que a atenção do Brasil está concentrada nas festividades. Os porta-vozes da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, uma ex-seringueira, disseram que ela não estava disponível para entrevistas. Silva foi amiga e aliada do líder ambientalista Chico Mendes, que foi assassinado em 1988 por homens contratados por fazendeiros.

Mas em uma declaração divulgada em Brasília, o governo disse que “não cedeu a nenhuma pressão ou recuou em qualquer uma de suas decisões anteriores”. A restauração das licenças para exploração de madeira foi descrita como uma medida “temporária” que visa acabar com “o impasse enfrentado pelos setores produtivos” na Amazônia.

O que está por trás da disputa madeireira é outra questão ainda mais importante: a propriedade de terras na Amazônia. Por toda a selva, mas especialmente na área do Pará ao redor da cidade de Novo Progresso, onde os madeireiros praticaram a desobediência civil, terras de propriedade do governo federal foram ocupadas ilegalmente, subdivididas e então vendidas repetidamente sem títulos de propriedade legais, freqüentemente de um grupo madeireiro para outro.

Segundo a regulamentação anunciada no ano passado, o governo cancelou o registro de grandes propriedades na região. Os requerentes tinham até 31 de janeiro para fornecer documentação apropriada para um novo registro ou enfrentariam uma eventual expulsão das propriedades que ocupam, um prazo que o governo concordou em prorrogar no acordo que negociou com os madeireiros rebeldes.

Os madeireiros também foram acusados de empregar trabalho escravo, não pagar impostos sobre seus lucros e subornar burocratas para obtenção de licenças de exportação. “Se propriamente implementada, a regulamentação de terras poderá ser um instrumento importante no enfraquecimento de todo o sistema que predomina na região”, disse Ramos.

O governo Lula disse que pretende introduzir uma legislação neste mês que praticamente encerrará a prática de permitir que terras públicas na Amazônia sejam ocupadas por interesses privados e então vendidas. Em vez disto, as empresas e indivíduos receberiam concessões de lotes por períodos fixos, durante os quais a extração de madeira e outras atividades seriam permitidas, mas rigidamente monitoradas e controladas.

“Obviamente, não é possível colocar um policial sob cada árvore”, disse Paulo Adario, o coordenador de campanha para Amazônia do Greenpeace, em uma entrevista por telefone, em Manaus. “Mas é possível dar passos para colocar atividades que atualmente são clandestinas em um sistema regulamentado, legalizado, se for possível passar esta proposta pelo Congresso sem que seja modificada demais.”

Leis não cumpridas

Um esboço inicial da proposta do governo vazou para a imprensa brasileira no ano passado e foi retratada como uma entrega da selva para empreendimentos comerciais predatórios, a maioria estrangeiros. Grupos ambientalistas disseram que foi uma descaracterização da medida com motivação política, cujo sucesso final dependeria da capacidade e disposição do governo de manter seu cumprimento.

“A intenção é ser capaz de governar a extração de madeira, mas não está claro para mim que um sistema de concessão será capaz de fazer isto”, disse Stephan Schwartzman da Environmental Defense, que visitou a área de conflito no mês passado. “Nós sabemos, por exemplo, que as concessões de madeira na Indonésia não fizeram nada pela floresta ou pelas comunidades nativas.”

O órgão de defesa ambiental do governo sempre se queixou que a falta crônica de dinheiro e pessoal a impede de aplicar as leis que, apesar de parecerem duras no papel, são amplamente ignoradas.

“A extração de madeira começa em junho”, com a chegada da estação seca da Amazônia, disse Adario, “então teremos que esperar para ver se teremos uma extração legal neste ano”.

“Todos estão posicionando seus tanques”, disse ele. “O verdadeiro combate ocorrerá daqui para frente.”

The New York Times
LARRY ROHTER
Tradução: George El Khouri Andolfato

Fundação oferece bolsas de estudo na Espanha

São mais de 170 opções de especializações, pós-graduações e pesquisas em 14 áreas de conhecimento

A Fundação Carolina, instituição do governo espanhol, está selecionando candidatos para seu programa permanente de bolsas de estudo naquele país, destinadas a cursos de especialização, pós-graduação, pesquisa e formação de professores. Podem concorrer jovens graduados, profissionais e pesquisadores dos países que integram a comunidade ibero-americana, Brasil incluído. São bolsas para mais de 170 opções de cursos em 14 áreas de conhecimento. Para a maior parte dos cursos, as inscrições se encerram no dia 15 de março e devem ser efetuadas exclusivamente através do site www.fundacioncarolina.es – clicar no link “Becas”, escolher a área de estudos e a opção desejada; depois, clicar em “Solicitud on-line”, criar uma identificação de usuário e senha, acessar o sistema e incluir o currículo. Não há taxa de inscrição.

As áreas de conhecimento, com o respectivo número de cursos ofertados, são as seguintes: para especialização e pós-graduação – ciências exatas e experimentais, física e química (dois cursos); tecnologias da informação e das comunicações (dez); energia e abastecimento energético sustentável (dez); biotecnologia, ciências biomédicas, saúde e genética, tecnologia dos alimentos (18); infra-estruturas territoriais (quatro); meio ambiente, conservação da terra, ecologia, biodiversidade e qualidade da água (13); economia e finanças, organização e inovação empresarial, desenvolvimento econômico e integração regional, cooperação internacional (34); bem-estar social, desigualdade, inclusão social (nove); modernização jurídica e política, democracia, governabilidade, direitos humanos e relações internacionais (25); sociedade do conhecimento, educação e desenvolvimento dos recursos humanos (oito); humanidades, cultura, artes, língua e história (18); e ciências sociais e da comunicação (16).

Além dessas, há opções para doutorado e pesquisa: formação docente de doutores (dois cursos e inscrições até 15 de maio) e pesquisa e formação permanente (um curso e inscrições até 10 de setembro). A Fundação Carolina oferece várias modalidades de bolsas de estudos, com valores e coberturas diversificadas – consultar, no site, o item “Dotación Económica”, com a descrição de cada curso (dados em espanhol). Os bolsistas também podem ter acesso a créditos educativos em condições especiais, para o pagamento de taxas escolares que não são cobertas integralmente pelas bolsas. A instituição exige dos candidatos de língua portuguesa a comprovação do grau de competência e domínio do idioma espanhol, outorgado pelo Instituto Cervantes em nome do Ministério da Educação, Cultura e Esportes da Espanha, com o Diploma de Espanhol como Língua Estrangeira (Dele). Informações no endereço eletrônico http://cvc.cervantes.es/aula/dele.

Toni Vasconcelos