O governador Jaques Wagner disse que aposta no Complexo Porto Sul como uma das grandes obras do governo do Estado para o Sul da Bahia. Para ele, o projeto vai aliar geração de empregos, desenvolvimento econômico e, sobretudo, respeito às questões ambientais. Em entrevista ao Diário Bahia, Wagner também trata sobre os rumos do seu governo, sobre os impactos da crise mundial na Bahia e sobre a disputa pela reeleição em 2010.
Diário Bahia – Nos seus planos, há previsão de uma grande obra do governo do Estado para o Sul da Bahia? Qual?
Jaques Wagner – O Sul da Bahia está sendo e será contemplado com uma série de ações do Governo da Bahia, mas sem dúvida a mais importante delas é a construção do Complexo Intermodal Porto Sul, uma obra de mais de quatro bilhões de reais. Além do porto propriamente dito, o complexo incluirá o novo aeroporto de Ilhéus e a Ferrovia Oeste-Leste. É um projeto que carrega enorme potencial gerador de empregos e renda, e certamente devolverá ao sul da Bahia a pujança econômica que a região teve no passado. O Complexo Porto Sul, em razão da sua localização, dará condições ao estado da Bahia de ser um ponto de conexão privilegiado com o restante do mundo, escoando grande parte do minério, grãos e outras commodities produzidas em vários estados brasileiros. Como é sabido, o Porto Sul será construído com todo o cuidado em relação ao meio ambiente. Além de preservar os mananciais, o projeto vai recuperar os locais que hoje, por causa do processo de antropização, encontram-se degradados. Não tenho dúvidas em dizer que o Complexo Porto Sul mudará radicalmente a vida da população do sul baiano, que viverá um grandioso ciclo de desenvolvimento sustentável e prosperidade. E vai impactar positivamente toda a Bahia. Isso, somado aos resultados da recuperação da lavoura cacaueira que começa a decolar, certamente proporcionará um novo ciclo de desenvolvimento para toda a região.
DB – Qual a grande conquista e qual a grande frustração até esse momento do seu governo?
JW- Felizmente não tive nenhuma grande frustração. Fico extremamente feliz por poder citar entre as nossas realizações uma obra imaterial que para mim é um valor fundamental: a democracia. É poder plantar na máquina pública e nas relações com a sociedade a semente do diálogo, da transparência e da política sem perseguição. A Bahia viveu muitos anos sob a mão pesada do autoritarismo. A época do “manda quem pode e obedece quem tem juízo” acabou, e nós nos sentimos muito felizes por ajudarmos a construir um novo tempo. Com a sociedade funcionando dentro da normalidade democrática, o desejado desenvolvimento econômico e social vem em decorrência. Não tenho grandes frustrações, mas obviamente reconheço que quatro anos é muito pouco para fazer tudo o que precisa ser feito na Bahia. Temos feio muita coisa, mas estou sempre insatisfeito porque quero fazer muito mais pela Bahia e pelos baianos.
DB – Pelo andamento do Topa, o senhor. acredita que chegará à meta em 2.010? Por quê?
JW – O Topa é o maior programa de alfabetização de adultos em andamento no Brasil. Quem diz isso é o próprio presidente Lula. Foram 171 mil pessoas alfabetizadas no primeiro ano e mais de 300 mil inscritas em 2009. Como em qualquer programa, em qualquer estado brasileiro, ele pode ter suas metas ajustadas pontualmente. Mas não há nada que indique grandes mudanças em relação ao que foi previsto inicialmente. O Topa tem todo o apoio do governo, porque não é possível admitir a existência de tantas pessoas não-alfabetizadas em plena era da informação. Talvez consigamos inclusive superar a meta de 1 milhão de alfabetizados.
DB – Nos primeiros meses do seu governo, até mesmo a primeira dama declarou publicamente que não havia um rumo. E agora, o Governo Wagner está nos trilhos?
JW – O rumo do governo é melhorar a qualidade de vida dos baianos, é promover desenvolvimento econômico com inclusão social porque de nada adianta sermos a sexta maior economia do país e oferecermos à população a pior educação e saúde públicas – essa foi a realidade que encontramos. Este rumo se concretiza em várias ações como os já citados Topa e Porto Sul, o Água para Todos (que até agora levou água e esgoto para mais de 1,5 milhão de pessoas), a Via Expressa, que ligará o Porto de Salvador à BR 324 e muitas outras. Quanto à primeira-dama Fátima Mendonça, como qualquer cidadão brasileiro, ela é livre para se expressar. São as opiniões da cidadã Fátima Mendonça, que sempre manteve altivez para dizer o que pensa e isso me orgulha muito. Mas não são, necessariamente, as opiniões do governador, nem do governo. Pelo governo falo eu. Portanto, o rumo do governo está muito bem definido em nosso programa aprovado pelo povo baiano em 2006, que está sendo executado sempre auscultando a sociedade, a exemplo do que fizemos na elaboração do Plano Plurianual Participativo.
DB – O que o Sul da Bahia pode esperar do Governo do Estado nestes próximos dois anos?
JW – A atenção que a região sempre mereceu, mas que infelizmente deixou de ter por parte das gestões anteriores. O Porto Sul é um grande exemplo da forma prioritária como o sul baiano é enxergado pelo governo. Ele atrairá diversas empresas, ampliará o comércio, exigirá a construção de escolas, unidades de saúde e obras estruturantes que significarão benefícios para toda a população. Quero lembrar ainda que recentemente estive em Itabuna entregando 70 leitos de hidratação para o combate à dentre, sendo que mais 80 serão entregues nos próximos dias. Foram medidas necessárias, porque é de conhecimento público que a administração municipal anterior não cuidou bem da saúde dos itabunenses, desmantelou a rede de atenção básica e não cumpriu com suas obrigações mínimas no combate à dengue. Itabuna vive uma grande crise e nós estamos fazendo o possível para que a situação volte à normalidade. Itabuna e todos os demais municípios encontram e sempre encontrarão no nosso governo a determinação para abrir novas frentes de desenvolvimento e fortalecer os que já existem, e terão sempre o nosso apoio em situações de emergência, como no enfrentamento à epidemia da dengue.
DB – O PAC do Cacau foi anunciado com estardalhaço, mas por que suas ações ainda não se concretizaram?
JW – Avaliação feita ainda no final de 2008 informou que 80% dos 10 mil produtores que possuem dívidas junto às instituições financeiras haviam aderido ao PAC do Cacau. As condições são vantajosas: até 80% de desconto no valor da dívida, quatro anos de carência e prazo máximo de 12 anos. São 2,2 bilhões de reais em investimentos dos governos federal e estadual. Com tudo isso, podemos considerar que o PAC do Cacau vem cumprindo seus objetivos. Os produtores estão sendo ouvidos pelo nosso governo e com a recente aprovação, pelo Senado, da Medida Provisória que facilita a renegociação das dívidas dos produtores rurais, consolida-se a situação de recuperação da economia da região.
DB – Até que ponto a crise mundial, que atinge o Brasil, pode inviabilizar os investimentos do Governo Federal na Bahia?
JW – O presidente Lula tem dito que os investimentos serão mantidos. Porém, se ocorrer o agravamento da crise e os cortes forem inevitáveis, tomaremos as precauções para que eles não atinjam as ações prioritárias. Fazemos um monitoramento constante da crise e dos seus impactos na arrecadação. Determinamos um contingenciamento de R$ 600 milhões e faremos todos os ajustes necessários para preservar os investimentos em infraestrutura e o bom funcionamento dos serviços.
DB – A disputa PT-Democratas perdeu fôlego na Bahia?
JW – Disputas políticas saudáveis enriquecem a democracia. Gosto do debate claro e limpo. Este governo e o próprio governador fazem do diálogo uma prática diária. É claro que sempre queremos aumentar nossa base de aliados, porque isso fortalece o governo. Por outro lado, tratamos adversários como adversários e não como inimigos.
DB – Geddel será mesmo o seu maior “calo” na disputa pela reeleição?
JW – O ministro Geddel Vieira Lima é ministro do governo Lula e seu partido mantém duas secretarias no meu governo. Ou seja, ele compõe a base de sustentação tanto do governo federal como do governo estadual. Sobre a reeleição, peço a você que volte a me fazer essa pergunta em 2010. Agora é hora de trabalhar pela Bahia!
Original do DIÁRIO BAHIA