Viradouro apresentou Bahia como terra do biocombustível

A Viradouro esperava contar com a ajuda dos orixás da Bahia para conquistar o título de campeã do Grupo Especial do Rio este ano. Há 12 anos sem vencer o carnaval carioca, a escola mostrou na avenida a contribuição baiana para produção de biocombustíveis. Questionado sobre o ponto forte da vermelho e branca, o carnavalesco Milton Cunha não titubeia: “A energia do negro.” A Viradouro foi a sexta a desfilar na segunda noite.

Milton Cunha relaciona o princípio dos combustíveis verdes à tradição dos povos africanos, que influenciaram a religião e a cultura da Bahia. “O preto velho sempre socou as plantas com pilão para tirar delas o axé, o mesmo axé que as empresas hoje extraem para fazer o biocombustível”, diz. Com o enredo “Vira Bahia, Pura Energia!”, a escola levou para o sambódromo 3,5 mil componentes, 40 alas e oito alegorias.

A Viradouro promete suscitar o debate sobre o meio ambiente, falando até das metas do Protocolo de Kyoto, acordo internacional para redução das emissões de gases causadores do efeito estufa. O setor “Axé, o Protocolo do Bem é meu Rei!” vai exaltar a contribuição da Bahia para o cumprimento do acordo. O Estado é tratado como protagonista de um movimento nacional a favor dos combustíveis alternativos, pela conservação ambiental.

Para Milton Cunha, a atitude ecologicamente correta vem desde os ancestrais africanos dos baianos. “Os negros sempre souberam usar as forças da natureza”, diz. “Nossa crítica vai para os que acham que respeitar a natureza é moderno, porque os negros fazem isso há muito tempo e os Orixás sempre estiveram ligados à natureza.”

Na passarela, desfilaram alas sobre a energia extraída da mamona, do dendê, do bagaço de cana e do pinhão manso. Um setor da escola homenageou as belezas da capital baiana, Salvador. “O carro ‘As Ruas de São Salvador’ traz a reprodução dos pontos turísticos da cidade, como o Mercado Modelo, o Pelourinho e as igrejas barrocas”, adianta o carnavalesco da escola.

A tarefa de cantar o samba-enredo repleto de gírias regionais e palavras de origem africana fica a cargo do intérprete David do Pandeiro. O ritmo, por conta dos 326 integrantes da bateria do mestre Ciça, que teve à frente a rainha Juliane Almeida.

Conheça o samba-enredo, composto por Heraldo Faria, Flavinho Machado, Edu Velocci, Raphael Richaid e Floriano do Caranguejo:

“Vira Bahia, Pura Energia!”

Quando Orum se encontra com Ayê

Oh! Mãe-Pátria! Salve a sabedoria

Eu quero caminhar com a Natureza

Me ensina a desvendar toda essa riqueza

Recebo do seu chão a energia

E bate bem forte o tambor

Nas ruas de São Salvador

Conduz os meus passos, Senhor do Bonfim

Olorum mandou cuidar do seu jardim

E disse mais, vai buscar na mata

No biocumbustível a nossa proteção

Filha do sertão no Tabuleiro

Dendê, meu dengo, óleo de cheiro

Um dia Oxalá iluminou

Tocou no coração da nossa gente

O acordo do bem se faz oração

O mar não pode invadir o meu sertão

Sopra um vento nos canaviais

Brota a doce esperança de paz

Na força do trabalho dessa gente

Do bagaço nasce um tesouro

O lixo se veste de luxo, reluz em ouro

A água deixa o céu e se abraça com o chão

Renova a energia sob as bênçãos de um trovão

Vermelho e branco, que paixão

A Viradouro pede axé

Caô, Xangô, Iansã, Yalodé

Vira-Bahia, pura energia

Explode num canto de fé

A escola ficou com a 8ª colocação com 395,1 pontos.
Pena a diretoria não ter citado Hernani Sá e o ter convidado para o desfile, acreditamos que isso tivesse acontecido o resultado seria melhor.

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