Em 23 de agosto de 1939, às 08:52 minutos tinha inicio um dos maiores desastres marítimos da cidade de Ilhéus. Este, que não foi o único a acontecer na “boca da barra”, entrada da Baía do Pontal, ficou marcado pela grandiosidade da tragédia, e pelo drama no resgate às vítimas.
A embarcação que vinha de Salvador, trazendo membros de famílias importantes da região, militares, religiosos entre outros, emborcou em uma velocidade absurda, no momento em que entrava na baía, próximo ao morro de Pernambuco. Segundo populares, o mês de agosto é conhecido como mês de ventos fortes, ondas altas e violentas, o que pode ter contribuído para esta tragédia. Além desta informação, muitas outras são contadas, aumentando a proporção do evento. Entre estas, conta-se que o prático da embarcação acostumado a fazer a entrada, por motivos particulares não teria vindo nesta viagem, tendo então, vindo outro que, mesmo inexperiente, optou por não esperar a ajuda de um rebocador. Existe ainda outra versão mais racional, que diz respeito a uma reforma, que a embarcação teria sofrido antes da viagem, onde as mudanças estruturais teriam deixado a mesma sem a estabilidade necessária para atravessar as fortes ondas do local.
Cerca de uma hora após o sinistro, os primeiros corpos, translúcidos e vazios de vida chegavam à praia. Os que chegavam vivos, não sabiam se seus familiares tiveram ou teriam a mesma sorte. Entre as maiores perdas, sem dúvida a maior tragédia, foi para uma família de sergipanos, a família Pinheiros, que, dos dezessete membros embarcados na viagem, apenas seis conseguiram sobreviver. Dos onze mortos, apenas seis corpos foram achados, ficando os outros cinco encerrados dentro da embarcação.
Enquanto vários corpos, e mesmos náufragos, eram retirados do mar, dentro da embarcação, que ficou conhecida como “sepulcro de aço”, pessoas lutavam pela própria sobrevivência. Registros da época revelam que alguns passageiros foram retirados da embarcação através das “vigias” (janelas da embarcação) e, somente conseguiram sair, por causa da bravura e criatividade dos pescadores.
Como exemplo, podemos citar o de uma jovem professora, que teve que sair despida e com o corpo coberto de óleo para conseguir passar através da vigia de seu camarote; juntamente com ela, saíram também um tenente e outro homem; este último levando consigo o corpo da filha, que não resistiu às baixas temperaturas. Outros não tiveram a mesma sorte. Dentre estes, um comerciante português, conhecido por vender em Ilhéus miudezas trazidas da capital baiana. Era chamado de “gringo”; por ser obeso não pode sair pela vigia.
Sabemos também que, em situações como esta, a imaginação, ou mesmo a fé das pessoas, produz histórias paralelas. Entre as muitas histórias do Itacaré, soubemos também a de que uma mulher vestida de branco ajudava os pescadores no resgate, indicando onde e como resgatar as vítimas. Há também a história de um menino, ou um bebê do sexo masculino, que foi encontrado boiando sobre uma tábua. Verdade ou mentira, não será possível comprovar, pois os jornais datados do período de 24 de agosto a 16 de setembro de 1939 não revelam nada a respeito.
Moradores das redondezas afirmam que, na noite do dia 23 de agosto de 1939, não foi possível dormir, pois aqueles que estavam encerrados vivos dentro do iate pediam socorro. Na época, os poucos recursos disponíveis contribuíram para um elevado número de vítimas fatais. Os que foram salvos puderam agradecer à bravura dos pescadores que, corajosamente, se lançaram ao mar para socorrer as vítimas.
Dos 47 passageiros e 22 tripulantes, 40 pessoas foram resgatadas com vida. Entre os 29 náufragos, apenas 12 corpos foram encontrados, ficando os outros encerrados dentro da embarcação. Entretanto, nunca foi possível determinar com certeza o total de vitimas deste naufrágio, visto que muitos passageiros não estavam na lista de viagem da embarcação.
O que mais impressiona na história do Itacaré, é a maneira como este emborcou, não dando chance d as vítimas se salvarem.
Diante de tamanha tragédia, o comércio da cidade ficou parado por um dia e meio, e de todas as partes da cidade, as pessoas chegavam para, à beira do mar, acompanhar o resgate. Durante muito tempo, o casco da embarcação ficou lá, transformado em sepulcro e símbolo da força do mar.
O naufrágio do Itacaré comoveu e abalou a todos. Chegaram de toda parte, votos de condolências. Dentre eles, chama a atenção o telegrama enviado pelo Presidente da República, Washington Luís Pereira de Souza, cobrando investigações severas para uma tragédia de proporções espetaculares.
Ainda hoje o Itacaré é relembrado por populares, seja por suas histórias, seja em reverência à grandeza do mar. Nunca foi encontrada uma resposta para a causa do naufrágio.
*Texto baseado na monografia de final de curso (Comunicação Social – UESC)
Maria Luiza Heine
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