Produtos usados na fabricação de biocombustíveis de terceira geração podem se transformar em pragas perigosas com expansão acelerada e descontrolada, dominando solo fértil usado para o cultivo de alimentos. Essa é a conclusão e o alerta feito após estudo pelo Global Invasive Species Program em parceria com o Nature Conservancy e a União Internacional para a Conservação da Natureza, apresentado durante a 9ª Conferência das Partes da Convenção de Controle Biológico (CBD) realizada em Bonn, na Alemanha.
Nesta categoria de potenciais pragas de rápida e descontrolada disseminação estão incluídas matérias-primas como a mamona (Ricinus communis), o pinhão manso (Jatropha curcas) e o dendê (Elaeis guineensis), entre muitos outros menos conhecidos ou populares nas pesquisas em curso no Brasil, indica o estudo. A pesquisa compara o impacto da expansão do cultivo não controlado dessas matérias-primas com as lavouras que produzem insumos para biocombustíveis de segunda geração, como a cana de açúcar, a soja, a batata doce, o girassol e alguns grãos usados também na produção de alimentos, destacando a vantagem destes últimos.
O Brasil tem ampla experiência com alguns produtos considerados pelo estudo como de terceira geração,, casos do dendê e da mamona. Há anos, culturas e mesmo na forma silvestre, essas plantas convivem com a produção de alimentos e outros insumos no País, sem que se tenham tornado pragas, graças, por exemplo, ao profundo conhecimento de especialistas da Embrapa e outros estudiosos.
O estudo traz uma tabela que detalha, um a um dos insumos de terceira geração, descreve onde são cultivados e o modo como essas plantas se alastram. No caso do dendê, por exemplo, sugere que a planta se dissemina facilmente sozinha, pela ação dos animais silvestres, assim como a mamona. Mas tanto a mamona quanto o pinhão manso também se alastram por meio da água e do trânsito de animais e veículos agrícolas, o que agrava os riscos de sua cultura nas proximidades de plantações de alimentos.
O estudo faz, em seguida, um alerta: “Não deixe que o cultivo de biocombustíveis ataque o seu país”. Na visão dos especialistas responsáveis pelo documento, o controle da disseminação dessas plantas para lavouras próximas pode ser difícil, o que tende a causar riscos de “maiores perdas do que ganhos financeiros”, argumenta o estudo.
O documento sugere que os riscos são particularmente alarmantes quando se leva em conta que as novas culturas de insumos para a terceira geração de biocombustíveis vêm sendo realizadas por investidores sem experiência agrícola, mas com muita pressa para obter retorno do patrimônio investido. Por fim, recomenda que os países envolvidos com a terceira geração de insumos realizem estudos mais cuidadosos antes de implementar grandes cultivos dessas plantas e dêem preferência a insumos de segunda geração, como a cana de açúcar, entre outros, que comprovadamente são mais seguros.
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