França: bafômetro pode substituir licor nos restaurantes

Ainda mal recuperados da proibição ao fumo imposta este ano, os franceses estão se preparando para a próxima novidade a ser adotada pelos seus bistrôs: um teste de bafômetro eletrônico.
Na terça-feira, o Executivo nacional francês encaminhou à mais alta autoridade legal do país, o Conselho de Estado, um decreto que requere que até 44 mil bares, cafés, restaurantes e casas noturnas instalem os aparelhos de teste até o dia 1° de janeiro.
O decreto, que originalmente se aplicaria apenas a alguns milhares de casas noturnas, foi ampliado para incluir todos os estabelecimentos que sirvam álcool até 2h ou mais tarde.

A medida foi anunciada depois de um final de semana especialmente sangrento nas rodovias francesas. Pelo menos 19 pessoas morreram em acidentes de automóveis nas estradas do país no final de semana passado, de acordo com dados do Ministério dos Transportes.

O uso de bafômetros pelos clientes dos estabelecimentos será voluntário, mas representantes do governo e de organizações de defesas das vítimas de acidentes de automóveis dizem esperar que os fregueses optem por fazer o teste antes de dirigir.

Em um país no qual o álcool é parte essencial da vida social e cultural, a proposta já causou celeuma. Cinco meses depois que uma nova lei relegou ao passado os dias dos cafés enevoados pela fumaça de cigarro, gerando declínio no faturamento desses estabelecimentos, de acordo com alguns proprietários, o setor não está nada contente com a possível necessidade de ter de cumprir mais uma norma dispendiosa.

“Eles querem nos forçar a fechar, isso é um escândalo”, disse Bernard Quartier, presidente da Federação Nacional de Cafés, Bares e Casas Noturnas da França, classificando a proposta como “ridícula”.

Francis Attrazic, vice-presidente do Sindicato da Indústria e Comércio de Hospitalidade, o principal grupo de lobby do setor de hotelaria francês, alertou que as pequenas empresas do ramo podem se ver forçadas a enfrentar custos proibitivos.

“Mal colocaram em vigor a lei que proíbe o fumo nos bares e cafés e agora já decidiram lidar com a questão da bebida alcoólica”, teria declarado Attrazic, de acordo com a edição de terça-feira do diário Le Parisien.

Os bafômetros poderão ser adquiridos ou arrendados. Uma das empresas fabricantes, a Alcoroute, arrenda as máquinas aos bares por cerca de 360 euros, ou US$ 560, por semana.

O preço de compra é da ordem de 3 mil euros por unidade, de acordo com a federação dos empresários de hotelaria. Alguns proprietários de bares receberam a medida com agrado, no entanto, expressando a esperança de que ela venha a absolvê-los de qualquer responsabilidade judicial por acidentes causados por fregueses embriagados.

O decreto que tornaria compulsória a presença de bafômetros nos bares, cafés, restaurantes e casas noturnas é parte de uma iniciativa mais ampla do governo da França para reduzir o número de acidentes rodoviários relacionados ao consumo de álcool, que respondem por uma em cada três mortes ocorridas em acidentes automobilísticos.

O governo também está planejando proibir a venda de bebidas alcoólicas em postos de gasolina e adotar medidas que tornem obrigatória a instalação de bloqueadores de ignição ligados a bafômetros nos carros de motoristas condenados por acidentes de trânsito.

Os bafômetros não permitem que o carro seja acionado caso o nível de álcool no sangue do motorista supere o limite legal vigente, que é de 0,05 grama por 100 mililitros.

A partir de setembro de 2009, ônibus escolares e outros veículos empregados para o transporte de crianças terão de contar com bloqueadores de ignição desse tipo.

Tradução: Paulo Migliacci ME
Katrin Benhold
Herald Tribune

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