Droga contra asma pode vir a ser usada para tratar dengue

Um tratamento desenvolvido por pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) representa a mais nova esperança para tratar a dengue. O método utiliza um fármaco criado na década de 80 para pacientes com asma, mas que não chegou a ser comercializado por não apresentar a eficácia esperada.

A atuação do princípio ativo utilizado –que os pesquisadores preferem, por enquanto, não revelar o nome consiste em inibir a ação de moléculas produzidas pelo sistema imunológico e que tem o papel de recrutar leucócitos durante processos inflamatórios.

“Ele funciona como um antiinflamatório, não impede a infecção pelo vírus, mas atua nos sintomas e impede a progressão da doença”, afirma Mauro Martins Teixeira, professor do departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB (Instituto de Ciência Biológica) da UFMG.

Teixeira diz que o principal diferencial de seu estudo com relação a outras pesquisas que visam a cura da dengue está na abordagem. “O tratamento está voltado para atuar nos sintomas, enquanto a maioria procura desenvolver uma vacina, um antiviral.”

Segundo Teixeira, a droga atua como antagonista do PAF (Fator Ativador de Plaqueta, na sigla em inglês), inibindo a ação do receptor da molécula de lipídio. “O PAF está associado aos sintomas da dengue, como hemorragia, dor abdominal, queda de plaqueta e baixa pressão. Evidências mostraram que o bloqueio deste mediador é importante para reverter os sintomas.”

“Na época que foi desenvolvido, foram feitos experimentos e chegou-se a conclusão de que o receptor não era importante para o tratamento da asma”, afirma.

Testes em animais mostraram que cerca de 70% das cobaias infectadas com o vírus da dengue do tipo 2 tiveram o seu quadro revertido. Ele diz ser provável que os testes em humanos apresentem os mesmos resultados.

Humanos

A próxima etapa da pesquisa é justamente realizar os testes clínicos, desenvolvendo o fármaco em condições para o uso em pessoas. “Esperamos estar com os testes clínicos prontos em dois ou três anos”, afirma o pesquisador, que busca parcerias com laboratórios particulares para desenvolver o medicamento.

O estudo, que já foi apresentado em congressos da área, deve ser publicado em breve em publicações científicas que o autor também prefere não antecipar. O artigo vai reunir informações dos dois anos de pesquisa dos cientistas.

Folha de São Paulo

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