Heveicultura é o cultivo da seringueira (Hevea brasiliensis) para a extração do látex-elastômero para a fabricação de borracha natural.
A seringueira é originária do Brasil
A seringueira (Hevea brasiliensis) é originária da região amazônica do Brasil. A borracha dessa árvore foi descoberta em meados do século XVIII e atualmente é a principal fonte de borracha natural do mundo.
Foi levada pelos ingleses para suas colônias asiáticas
A importância econômica e industrial da borracha natural fazia da seringueira uma árvore estratégica, sendo que sementes foram levadas pelos ingleses para serem plantadas em suas colônias na Ásia. Naqueles países a seringueira foi cultivada como uma espécie comercial, diferentemente do Brasil, onde estava em seu habitat natural. Portanto, enquanto o sistema de produção brasileiro era o extrativismo, o asiático se baseava na exploração comercial. Esse foi o principal fator de sucesso da produção de borracha na Ásia. Além desse aspecto agronômico, na Ásia não existia o fungo causador do mal-das-folhas (Microcyclus ulei), que é uma das doenças mais comuns dos seringais – sobretudo na Amazônia.
Extração da seiva na seringueira
O Brasil então perde competitividade
Era praticamente impossível para o Brasil competir com a Ásia no mercado mundial, uma vez que o sistema de cultivo asiático era intensivo e não havia o mal-das-folhas.
No Brasil, o governo insistia na extração de borracha na região amazônica, gastando muito dinheiro para subsidiar esse sistema de produção. Quase todas as tentativas de cultivo intensivo da seringueira na Amazônia fracassaram devido à incidência do fungo microcyclus.
O impacto na economia extrativista da Amazônia foi muito forte. As tensões cresceram entre proprietários de terras e de usinas e os seringueiros, há muito tempo pressionados por um regime de trabalho e uma remuneração injusta.
O sucesso da seringueira na Ásia
Os investimentos em pesquisa agrícola também explicam o forte crescimento da produção do látex na Ásia. A grande disponibilidade de mão-de-obra naqueles países foi outra característica que permitiu o avanço do cultivo, uma vez que o processo de sangria exige bastante trabalho manual.
Atualmente, Tailândia e Indonésia são os maiores produtores do mundo, respondendo por 27% e 29% da produção total mundial, respectivamente. O Brasil, que no início do século XX detinha o monopólio da produção mundial, hoje responde por apenas 1%, não conseguindo sequer suprir as necessidades da indústria consumidora instalada no país.
Brasil muda a mentalidade de produção
O Brasil só voltou a ter esperança de ser novamente um grande produtor de borracha quando descobriu que poderia cultivar a seringueira fora da região amazônica, escapando do mal-das-folhas e utilizando modernas técnicas agronômicas.
Aos poucos, agricultores e pesquisadores começaram a levar a seringueira para regiões localizadas mais ao sul do país. Além disso, todas as políticas públicas, que sempre foram destinadas exclusivamente à borracha da Amazônia, passaram a contemplar, igualmente, as iniciativas de cultivo em outras regiões. Mas isso só começou a ocorrer nas décadas de 1970 e 1980.
A seringueira encontrou nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil ótimas condições de cultivo, particularmente nos estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Espírito Santo.
Nessas regiões, há mão-de-obra especializada e maior volume de capital para investimento em tecnologia. Além disso, a maioria das indústrias consumidoras está ali instalada, reduzindo os custos logísticos com o transporte da matéria-prima. O clima apresenta-se adequado para a seringueira, que perde suas folhas na estação seca, cortando o ciclo do fungo causador do mal-das-folhas e, conseqüentemente, mantendo as árvores sadias.
Paralelamente, governo, entidades representadas por seringueiros e ONG’s intensificaram os esforços em busca de alternativas para a sustentação das populações extrativistas da Amazônia. Hoje, o movimento em defesa dos seringueiros da região Norte do país é bastante forte.
Os resultados começam a aparecer
Apesar de todos os desafios, o cultivo da seringueira no Brasil está se estabelecendo como uma atividade lucrativa e sustentável. A produção ainda é pequena, mas cresce substancialmente a cada ano.
A indústria de beneficiamento de borracha passou por um forte período de modernização a partir de 1996, conseguindo produzir borrachas de elevado padrão de qualidade.
O futuro da borracha natural brasileira
As perspectivas de crescimento da produção de borracha natural no Brasil são muito positivas. Espera-se que dentro de alguns anos o país possa, pelo menos, suprir as necessidades da indústria nacional.
Seringa consorciada com cacau
Recentemente, alguns aspectos não vinculados à extração do látex também vêm contribuindo para impulsionar a heveicultura. Um deles se refere à proteção ao solo e aos mananciais proporcionada pelo cultivo da seringueira, o que a coloca em evidência numa época em que a preservação ambiental está no centro das preocupações.
A seringueira também ganha destaque nas discussões sobre efeito estufa e aquecimento global, uma vez que estudos mostram que a árvore pode fixar carbono e (três vezes mais que o eucalipto), desta forma, contribuir para a redução dos gases de efeito estufa.
Além disso, a Hevea brasiliensis é uma espécie apta à reposição florestal e sua madeira pode ser comercialmente explorada (após os 40 anos de produção de seiva) no setor moveleiro e artigos escolares.
Adicionalmente, outras culturas – como cacau, café, bananeira e leguminosas – podem ser plantadas intercaladas com a seringueira. São os chamados Sistemas Agroflorestais ou consórcios, cujo principal benefício é a otimização do uso de uma área já ocupada, resultando em renda extra ao produtor.
Pesagem do cernambi na Fazenda São Nicolas
A borracha natural é um polímero obtido da seiva da seringueira, depois de sua coagulação e secagem, este material é aquecido e posteriormente processado com outras substâncias químicas, transformando-se em borracha.
A Alemanha desenvolveu uma tecnologia para fabricá-la artificialmente a partir do petróleo (energia não renovável e altamente poluente). Apesar de a borracha sintética ser muito parecida com a natural, ela não é tão resistente ao calor e racha com a mudança de temperatura muito rápida. Devido a esse fator desvantajoso da borracha sintética os materiais confeccionados têm que receber uma porcentagem de borracha natural.
No Brasil, a maior parte da borracha produzida industrialmente é usada na fabricação de pneus, correspondendo a 70%. Além disso, ela é empregada em calçados, instrumentos cirúrgicos (tubos, mangueiras, seringas, produtos farmacêuticos, luvas e preservativos…) existe no mercado global mais de 50 mil artigos produzidos da borracha.
Trabalhadores no momento da pesagem
No Sul da Bahia, região cacaueira, tem uma gama de produtores (cerca de 400 mil pessoas envolvidas diretamente com a cultura), muitos deles em sistema do plantio consorciado, gerando um grande numero de empregos em parceria com os seringueiros. A planta produz durante 10 meses do ano, garantindo a sustentabilidade dos envolvidos e chega a custar R$ 2,15 por quilo em algumas regiões do Brasil. Um dos problemas encontrados é a falta de mão-de-obra especializada colocando as plantas em risco de queda de produção e diminuição da vida útil (produz de 35 a 40 anos ininterruptamente). Para começarem a produzir “serem sangradas” dependendo da variedade demoram de 6 a 8 anos.
A seringueira fixa o homem ao campo em virtude do elevado número de pessoas que emprega em caráter permanente, já que cinco (5) hectares da cultura demandam renda suficiente para o sustento de uma família de quatro pessoas, assim evitando o êxodo rural.
A produção mundial em 2005 foi de 8.682 milhões de toneladas, para um consumo de 8.742 milhões de toneladas, sendo que 79% são originárias do sudeste asiático. O consumo da borracha natural cresce 4% ao ano e os maiores produtores mundiais não têm mais área para expandirem seu plantio e conseqüentemente sua produção, assim o Brasil com sua geografia continental e clima favorável tem todas as possibilidades de abocanhar uma fatia maior na produção e no mercado mundial, vindo até mesmo a se tornar alto suficiente, deixando de importar, já que sua média por hectare é de 1.400 quilos, já o maior produtor mundial, a Tailândia tem média de 900 quilos por hectare. O Brasil produz 100 mil toneladas ano (consome 300 mil toneladas) precisando importar 200 mil toneladas ano acarretando um gasto de 1 bilhão de Reais, para alcançar a auto-suficiência necessita de ocupar 340 mil hectares e passar a produzir 446 mil de toneladas ano, expectativa para os próximos 20 anos.
Créditos de Carbono
Ainda não há no Brasil nenhum projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ( MDL) que esteja pagando ao produtor o beneficio ambiental de fixação de carbono em biomassa, no látex e na borracha produzida, previsto no tratado de Kioto. Outra grande dificuldade do produtor é a falta de incentivo do governo e a burocracia bancaria para financiamentos.
Por ser utilizada para fabricação de múltiplas coisas úteis ao homem, gerar empregos e renda, proteger o meio ambiente contra o efeito estufa e ser lucrativa, a seringa tem grande importância neste mundo globalizado.
As informações para está matéria foram concebidas do trabalho interdisciplinar da discente do curso de ADM, Thiane Melen (foto), apresentado a banca examinadora da Faculdade de Ilhéus (CESUPI) em 2007, ela administra com sua mãe Suzane Melen o espólio Fazenda São Nicolas, produtora de cernambi no município de Una no Sul da Bahia.