Imbuídos na preservação ambiental do complexo de Mata Atlântica que engloba a bacia do Rio Santana no município de Ilhéus, sua fauna e flora e principalmente a conscientização da população local para a importância de preservar e ao mesmo tempo desenvolver-se sustentavelmente sem agressão ao meio em que vivem, profissionais liberais, autônomos, agricultores, funcionários públicos e ambientalistas organizaram uma expedição de mapeamento do entorno do Rio Santana.
Com equipamentos apropriados para tal empreitada, foi feito o trajeto oeste-leste do Rio Santana, desde a nascente até a foz da junção dos Rios Santana, Cachoeira e Fundão na baía do Pontal (estendendo-se até a praia do Cristo na cabana do “Conde” Badaró), passando pelo distrito de Rio do Engenho (local este onde divide o rio em duas fases, a parte que sofre influência da maré e após a barragem da Empresa Baiana de Águas e Saneamento, onde o rio é pouco navegável em direção a nascente. Com caiaques duplos, máquinas fotográficas, filmadora, GPS (Global Positioning System) para demarcar o curso em coordenadas geográficas precisas e oficiais e ainda alimentar o site www.googleearth.com com fotos com suas respectivas localizações do percurso real.
Uma equipe de 8 pessoas (grupo denominado “Amigos do rio Santana”) formada por: Luciano e Paulo Portela, Aderino França, Ricardo Batista, Roberto Bastos, Enildo Souza, Remo Hermann e Marcus Dória , percorreram mais de 40 Km remando por três dias e duas noites com três pontos de apoio, em fevereiro de 2008, recolhendo todo tipo de material pertinente a formação de dados específicos sobre solo, água, economia, saúde, clima, fauna, flora, educação e turismo.
Grupo “Amigos do Rio Santana” em parada estratégica na mais bonita cachoeira do percurso.
Este trabalho irá regimentar e alertar a população e ao poder público sobre a importância da preservação desse bioma associado à Bacia do Rio Santana, importante recurso hídrico regional, buscando diagnosticar os principais problemas de ocorrência local, como desmatamento, lixo, lançamentos inadequados, bloqueio da piracema e etc, indicando possíveis soluções, em função da melhoria na qualidade de vida da população ribeirinha e dos benefícios ambientais gerados às atuais e futuras gerações.
O principal motivo dessa primeira de muitas expedições que o grupo irá fazer, foi chamar a atenção das autoridades sobre a falta de uma escadaria própria para os peixes realizarem a piracema no rio Santana na altura do Rio do Engenho onde a Empresa baiana de Saneamento e esgoto construiu a alguns anos um barragem e não disponibilizou tal acesso a fauna aquática local, vindo a prejudicar seriamente o meio ambiente e os ribeirinhas margeantes do Rio Santana que queixam-se da falta de peixes após tal construção.
Pontos marcados no www.googleearth.com tirados de GPS durante a expedição.
História
A Costa do Cacau trata-se de uma região de extraordinária beleza cênica que ainda conserva paisagens naturais pouco alteradas- verdadeiros paraísos ecológicos- sempre marcados pela comunidade cientifica mundial como um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do planeta.
Compreendendo os municípios de Ilhéus, Uruçuca, Itacaré, Una, Canavieiras e Santa Luzia. Cenário de densa significação histórica e cultural que permeia três grandes ciclos da historia do Brasil: o pau-brasil, o da cana-de-açúcar e do cacau, abriga uma paisagem encantadora, que às vezes nos faz recordar as terras primitivas que os índios tupiniquins tiveram de entregar ao colonizador português no século XVI. São matas, rios, cachoeiras, corredeiras, trilhas, praias, manguezais, serra, grutas, mirantes, fazenda de cacau, reserva ecológicas, parques temáticos e áreas de proteção ambiental que compõem uma das regiões do estado mais vocacionadas para o reencontro com a natureza. E tudo isso beneficiado pela abundancia do sol. Ao lado desse diversificado cenário, deve-se acrescentar um importante legado cultural: os sítios históricos, com seus casarões antigos, suas capelas e igrejas; os antigos engenhos; as festas populares, as tradições religiosas, o rico artesanato, e os costumes da gente da terra, incluindo uma culinária típica a base de peixes e mariscos. Mas, há mais: as estórias e lendas conservadas na memória coletiva do povo da região, e transmitidas através de gerações pela tradição oral.
A Mata Atlântica da região ainda é bastante preservada com espécies endêmicas de fauna e flora
A Costa do Cacau compreende a faixa litorânea que se estende por cerca de 180 km no sul da Bahia, entre os municípios de Itacaré e Canavieiras. Antigo território dos tupiniquins e aimorés, a colonização da região remonta ao terceiro decênio do século XVI, quando o rei de Portugal, D. João III, o Colonizador, decidiu pôr em prática nas terras do Brasil o plano de povoamento por concessão de donatarias que prosperava nas ilhas da África lusitana. Com este propósito, dividiu o Brasil em quinze grandes glebas – as capitanias hereditárias – que iam da costa até a linha-limite do Meridiano de Tordesilhas, todas se estendendo dez léguas para o mar, abrangendo as ilhas que fossem encontradas.
Plantio de mudas de Pau Brasil nas margens do Santana
O território atualmente ocupado pelo Estado da Bahia, foi dividido em três capitanias: a que se concedeu a Francisco Pereira Coutinho – Capitania da Bahia – e que se estendia por cinquenta léguas da costa, da foz do rio São Francisco à ponta da Baía de Todos os Santos, na foz do rio Jaguaripe, incluindo o Recôncavo desta; a capitania de Ilhéus, doada a Jorge de Figueiredo Corrêa, que se iniciava na foz do rio Jaguaripe, na mesma baía, logo abaixo a ponta sul da ilha de Itaparica, e ia em direção ao sul até a margem norte do rio Grande (atual rio Jequitinhonha); e a Capitania de Porto Seguro, do limite da última até o rio Mucuri (próximo aos atuais limites dos estados da Bahia e Espírito Santo), doada a Pero Campo Tourinho.
A Capitania de Ilhéus, que abrange a atual Costa do Cacau, foi doada em 26 de junho de 1534 a Jorge de Figueiredo Corrêa, fidalgo do Reino, historiógrafo do rei e escrivão da Família Real, um dos homens mais ricos de Portugal. O donatário, no entanto, jamais pôs os pés nos trópicos selvagens (morreu em Lisboa, em 1571), mandando em seu lugar o militar e Cavaleiro da Ordem Cristã, Francisco Romeiro, Castelhano que há muito vivia em Lisboa.
Romeiro, partiu de Lisboa em 1535 e veio ancorar na ilha de Tinharé, onde, depois de guerrear índios bravios, ergueu uma povoação no alto do morro de São Paulo. A modesta povoação porém não prosperou. Francisco Romeiro acabou rumando para o sul. Em um ponto da costa, na baía de Ilhéus, assim denominada devido às ilhotas que se erguem fora da barra, Romeiro fundou no alto de um morro (atual outeiro de São Sebastião) a vila de São Jorge dos Ilhéus, sede da capitania, uma das primeiras vilas do Brasil.
Lindas cachoeiras e corredeiras são encontradas durante toda a viagem
Infelizmente, não se conhece a data em que foi instalada a vila (provavelmente nos primeiros meses de 1536; entretanto há historiadores que acreditam que antes de 1544 a vila não existia), pois os registros se encontravam entre os documentos consumidos pelo incêndio do arquivo municipal. É interessante que Romeiro, administrador da capitania, fez anteceder ao nome da vila a invocação de São Jorge, se não em louvor ao santo católico cuja imagem montada a cavalo saía na procissão de Corpus Christi, em Portugal, mas em homenagem ao capitão-donatário que permaneceu na Corte. São Jorge dos Ilhéus era, então, uma pequena povoação de casas de taipa cobertas de palha que não diferia muito das aldeias dos índios tupiniquins.
Nos primórdios, não se encontrou na Terra de Santa Cruz nem metais preciosos, nem as cobiçadas especiarias, como registrara Américo Vespúcio, em 1501-1502: Nesta costa não vimos coisa de proveito, exceto uma infinidade de árvores de pau-brasil. A riqueza do Brasil eram aquelas árvores frondosas, de tronco vermelho-ferruginoso, com folhas de um verde -acinzentado e belas flores amarelas que se salientavam na densa floresta que cobria o litoral, chegando a alcançar 25-30 metros de altura. Os índios a chamavam de ybirá-pitanga, “pau-vermelho”, e usavam a madeira dura e pesada para fazer arcos e sua tinta vermelha para tingir penas brancas.
Várias piscinas naturais dão mais beleza a região
Início do desmatamento
Estimulada pelos portugueses e por contrabandistas franceses, a extração do pau-brasil foi intensa e predatória; em média, oito mil toneladas de madeira eram levadas anualmente para a Europa, nos porões das naus. Para ilustrar essa depredação vale a pena citar que nos primeiros cem anos de exploração da colônia cerca de dois milhões de árvores de “pau-de-tinta” foram derrubadas, uma assustadora média de 20 mil por ano, ou seja, 55 por dia. Era o início da devastação da Mata Atlântica.
O trabalho nessa primeira fase irá levantar as áreas com necessidade de reflorestamento as margens do rio a serem catalogadas e posteriormente com a doação de mudas serão replantadas com espécies nativas da Mata Atlântica e em especial frutíferas, tudo isso com acompanhamento periódico. Iremos por amostragem na primeira fase (levantamento) distribuir e plantar mudas de ingá.
Importância do Rio Santana na História do Brasil
A exploração do pau-brasil (Caesalpina echinata), marcada pelo escambo com os índios (a madeira era trocada por espelhos, tecidos, facas e quinquilharias), seria, em breve, obscurecida pela cana-de-açúcar. O clima quente e úmido do litoral prestava-se para o plantio da cana, produto de grande valor na Europa, onde o açúcar era vendido pesado em gramas. As terras férteis nas cercanias da vila de São Jorge dos Ilhéus foram conquistadas aos índios tupiniquins para o plantio, onde foi implantado o primeiro engenho de cana-de-açúcar do Brasil – Engenho de Santana. Ao tempo de Mém de Sá, o Engenho Santana chegou a produzir por ano de 12 a 14 mil arrobas de açúcar. Esse antigo engenho de açúcar que ficava em uma sesmaria pertencente ao então desembargador Mém de Sá (que viria a ser o terceiro Governador Geral do Brasil), pode ser visitado no povoado do Rio do Engenho, atual município de Ilhéus. Até hoje o turista ao subir o rio do Engenho (ou de Santana), pode contemplar, à margem da primeira da cachoeira, a igrejinha e vestígios do engenho de açúcar. Na década de 1550, a capitania já contava com oito engenhos de açúcar. Jorge de Figueiredo Correa, Mém de Sá, Fernão Alvarez e Lucas Giraldo, consorciados montaram pelo menos três engenhos em torno da vila de São Jorge (do Rio) dos Ilhéus.
Esses empreendimentos coloniais exigiam mão-de-obra abundante e barata, e os colonos além de escravizarem o gentio tupiniquim, foram às praias do sul do atual estado de Santa Catarina e buscaram os pacíficos carijós. A essa mão-de-obra escrava somaram-se os negros cativos de Guiné. A capitania ostentou por uma década (1550/59) o apogeu da economia do açúcar. Em 1550, foi realizado o primeiro desembarque em Lisboa do açúcar produzido na capitania de São Jorge dos Ilhéus. Tomé de Souza, primeiro governador geral do Brasil, em relato ao rei, declarou que a capitania de São Jorge era a mais rentável da colônia.
Rochas afloram o rio Santana dando rara beleza ao local
Se por um lado, os dóceis tupiniquins deixaram-se, inclusive, escravizar, por outro, os bravios aimorés, índios botocudos, canibais (desses que usavam rodelas de madeiras no lábio inferior) em constantes assaltos, devastavam os empreendimentos dos colonizadores portugueses. Sobre esse aspecto, destacamos um relato da época: “A Capitania de Ilhéus havia sofrido tanto que a população quase toda a deixara; só depois que aquele governador (Mém de Sá, 1558-1568) se decidiu a lá ir pessoalmente com um socorro de naus e de gente, fazendo algumas entradas pelo interior do sertão para castigar os aimorés, é que se tornou a povoar a vila e a crescer em moradores a região”.
Ilhéus de Capitania Hereditária a Município
Como se não bastassem às escaramuças com os aimorés, em 1595 corsários franceses saquearam a vila, ali permanecendo até serem expulsos 27 dias depois. Mais tarde, em 1635, holandeses desembarcaram na Praia do Pontal e invadiram a vila, sendo, igualmente, rechaçados pela população.
As dificuldades foram muitas, mas o objetivo dessa primeira expedição foi alcançado
As intensas lutas com o gentio atingiram duramente a capitania. Muitos senhores de engenho transferiram seus empreendimentos para o recôncavo baiano. Após sucessivos donatários e corroída por problemas internos, a capitania entrou em decadência e, em 1685, já não mostrava vestígios da antiga prosperidade. Na primeira década do século XVIII, portugueses e brasileiros saídos de Ilhéus, migraram para o sul da capitania e às margens do caudaloso rio Pardo (originalmente denominado Jussiape) fundaram um povoado que alguns anos mais tarde daria origem à vila de Canavieiras. Em 1746, as primeiras sementes de cacau, árvore nativa da Amazônia, chegaram à Bahia, sendo o primeiro cacaueiro plantado na Fazenda Cubículo, no atual município de Canavieiras. O introdutor do cacau na capitania foi o português Antonio Dias Ribeiro, com sementes trazidas do Pará pelo francês Louis Frederic Warneau. Em 1754, após sucessivos donatários e em quase completo abandono a capitania voltou a pertencer à coroa portuguesa.
A lavadeira ribeirinha, os animais de montaria e nossos caiaques, um mixto de passado e presente em defesa do mesmo rio.
A cultura do cacau, vocação e identidade da região, se alastraria pelas margens dos caminhos fluviais, subiria as encostas dos morros, invadiria as matas e gradativamente assumiria o lugar da cana-de-açúcar. Com o plantio das árvores dos frutos de ouro principia uma nova era: a civilização do cacau. No século XIX, os coronéis do cacau tomam o lugar que antes pertencera aos senhores de engenho.
Contingentes de desbravadores de terra penetram pela inóspita e exuberante Mata Atlântica e abrem suas “roças” à sombra de jacarandás, vinháticos, cedros, pitiás, ipês, maçarandubas, paus-d´arco, sucupiras, paus-brasis, num sistema de plantio que ficaria conhecido com o nome de cabruca. A conquista das matas, todavia, não se daria de modo pacífico. Houve lutas violentas pela expropriação da terra. Essa saga dos coronéis do início de século foi imortalizada em uma vasta literatura cujo maior expoente é o romancista Jorge Amado, o escritor brasileiro de maior ressonância internacional. Cacau (1933), Terras do Sem Fim (1941) e São Jorge dos Ilhéus (1944) compõem uma trilogia das lutas sangrentas pela posse das matas e pelo domínio da terra para o plantio dos cacauais. “Nasciam frutos enormes, as árvores carregadas desde o tronco até os mais altos galhos (…) a melhor terra do mundo para o plantio do cacau, aquela terra adubada com sangue” Jorge Amado – Terras do Sem Fim.
No final do século XIX, quando o cacau já engrandecia a economia da região, a antiga vila-sede de São Jorge dos Ilhéus foi elevada à categoria de cidade – Ilhéus – por determinação da Assembléia Legislativa Provincial, em 28 de junho de 1881.
Ilhéus se torna uma cidade rica e orgulhosa, a “Princesa do Sul”. As casas dos coronéis erguidas nas avenidas à beira-mar são, na verdade, palacetes neoclássicos; um deles, era a cópia do Palácio do Catete, antiga residência presidencial no Rio de Janeiro. No mesmo local de uma ermida do século XVI, os coronéis do cacau mandam erguer a catedral de São Sebastião, com suas colunas gregas e abóbodas romanas; constrói-se o Palácio Marquês de Paranaguá, sede do poder municipal; monumentos embelezam as praças; inaugura-se o Teatro Municipal, a igreja de Nossa Senhora de Lourdes é construída no mesmo local onde foi erguida a primeira capela de taipa consagrada a São Sebastião, na fundação da vila. A cidade, sustentada pela maior produção de cacau do mundo, irá figurar, na maior parte do século XX, entre as mais ricas do país. Esse cenário foi o pano de fundo para uma história de amor, entre uma mulata e um árabe – Gabriela e Nacib – no romance Gabriela, Cravo e Canela (1958), o livro mais popular, o mais lido, do escritor Jorge Amado.
Rio do Engenho e a igreja de Nossa Senhora de Santana.
Flora e Fauna
A Mata Atlântica é considerada pela comunidade científica mundial como um dos ecossistemas mais ricos em diversidades de espécies animais e vegetais do planeta e o segundo mais ameaçado. Por este fato, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência, a Cultura), elevou a Mata Atlântica à categoria de Reserva da Biosfera, sendo uma das três maiores prioridades de conservação do planeta. A faixa compreendida entre os rios Jequitinhonha e de Contas, conserva a parcela mais significativa da Mata Atlântica do nordeste brasileiro.
No litoral sul da Bahia, a Costa do Cacau preserva verdadeiros santuários ecológicos tropicais com dezenas de quilômetros de praias sombreadas por denso coqueiral, grandes áreas de manguezal e belíssimas fazendas de cacau, cujo sistema de plantio à sombra das grandes árvores iria possibilitar a preservação da Mata Atlântica. Nessa região também estão presentes restingas, ilhas fluviais e marítimas, lagoas cercadas de vegetação, rios pitorescos e praias pouco concorridas, largas e de areias claras.
Destacam-se espécies vegetais e animais raros e ameaçados de extinção, tais como: Jacarandá preto (Dalbergia nigra) e Sucupira (Diplotropis purpúrea), entre as árvores; Rãs (Ceratophrys aurita, Cycloramphus migueli, Leptodactylus spixi), Jaracuçu (Dipsas neivai), Coral Falsa (Siphlophis pulcher), Beija-flor (Ramphodon dohrnii), Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e Mico-leão-da-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas), entre os animais. Nessa região, há, ainda, Áreas de Proteção Ambiental (APAS) como a de Lagoa Encantada e a de Itacaré/Serra Grande. Reservas biológicas, também fazem parte deste cenário, dentre elas a Reserva Zoobotânica da CEPLAC, a Reserva Biológica de Una, além do Parque do Conduru e do Ecoparque de Una, (ver Unidades de Conservação).
Rio do Engenho e Nossa Senhora de Santana
O Rio do Engenho ou Engenho de Santana foi fundado a partir de uma divisão em sesmarias da Capitania de “São Jorge dos Ilhéos”, doada a Jorge de Figueiredo Corrêa pelo Rei D. João III. Jorge Figueiredo, enquanto capitão-donatário, doou parte de suas terras a Mém de Sá, localizada às margens do Rio Santana, medindo 10 km de largura e 6,30 km de comprimento. Desde o seu surgimento, a intenção era a produção de açúcar no local. Monteiro, citado por Marcis (2000, p. 18) evidencia essa questão através do seguinte trecho:
Digo eu Jorge de Figueiredo Correia, por este meu assinado, que dou ao senhor Mem de Sá uma légua e mais meia de largura e uma légua de comprido na minha Capitania do Brasil, com todas as águas, que nesta terra se acharem, para ele fazer todos os engenhos de açúcar que quiser; de que me pagará de cada engenho uma arroba de açúcar de cinco em cada um ano.
A barragem da EMBASA, irregular não respeitou o meio ambiente e não foi feita a escada para os peixes realizarem a piracema, assim vem ano a ano matando a fauna aquatica do Rio Santana.
De acordo com Marcis (2000), o Engenho de Santana, conhecido como um engenho Real, construído por ordem de Mem de Sá, representou o centro econômico da Capitania durante longo período. A moenda era movida por energia hidráulica, com uma capacidade produtiva de grande porte no valor de 10 mil arrobas de açúcar por ano. Em 1570, havia oito engenhos em toda a Capitania de Ilhéus, restando em 1724 apenas o Engenho de Santana. A produção de açúcar no Brasil era muito cara; pois, os equipamentos a serem utilizados eram trazidos da Europa. Esse tipo de cultivo e sua forma de produção foi responsável pela caracterização do modelo agrícola monocultor, latifundiário e escravista (negros – produção do açúcar e índios – para consertos nas construções, cultivo para a subsistência e captura de outros índios) com vistas ao mercado externo. Em 1573, foram inventariados 130 escravos no engenho. Em 1580, após a morte de Mém de Sá, o engenho foi alugado para Jorge Francisco Tomas. Depois passou a ser comandado pelo Conde de Linhares. De 1618 a 1759 passou a ser responsabilidade dos padres de Ilhéus e Lisboa. Fizeram benfeitorias no local criando beneficiadoras de algodão, arroz, cacau, construíram olarias, serraria, uma casa dominical e uma igreja.
As construções de Igrejas geralmente são marcadas por lendas, que permanecem no imaginário das gerações atuais. A Igreja de Santana é um exemplo típico desse fenômeno. Conta a lenda que a Santa, insistentemente aparecia em uma pedra, dentro do rio Santana. Para os moradores, isso indicava que ela, a Santa, queria ficar próximo ao rio. Como os construtores da igreja haviam escolhido um local no alto do morro, as aparições continuavam. Os moradores contam que as aparições cessaram depois da construção da igreja próximo ao rio. Segundo eles, ainda é possível ver na pedra, as marcas dos pés da Santa (MARCIS, 2000, p. 42).
O Engenho de Santana foi estrategicamente construído às margens do rio para facilitar o escoamento da produção até o Porto de Ilhéus de onde era transportado por escunas até Salvador.
Segundo o historiador Stuart Schwartz (1988), citado por Marcis (2000), o Engenho de Santana era atípico de acordo com os seguintes fatores: i) foi fundado distante do Recôncavo Baiano, área de grande concentração de escravos; ii) foi coordenado por padres jesuítas durante muito tempo; iii) a senzala não foi construída num local que possibilitasse ao administrador visualizá-la de sua residência; e iv) as portas ficavam abertas, o que facilitava as fugas. A forma utilizada para controlar a submissão dos escravos eram os castigos físicos, como em qualquer outro engenho.
Incontáveis correideiras compõem o Rio Santana.
Entretanto, os padres davam tratamento diferenciado para aqueles escravos que estavam envolvidos com fases importantes da produção para garantir a qualidade do açúcar e evitar perdas. Devido à localização, era difícil contratar mão-de-obra branca para exercer as funções de mestre-de-açúcar, feitores e carpinteiros; o que implicava em delegar a ocupação desses cargos aos negros do engenho. Eles não eram remunerados, mas havia diminuição da cobrança por trabalho (cinco horas por dia) uma vez que o feitor era negro também. Quando se rebelavam sempre reivindicavam melhorias de vida e mais possibilidades para comercializar os produtos cultivados por eles mesmos. Em 1759, os padres jesuítas foram expulsos da Capitania de Ilhéus e do Engenho de Santana pelo Governo Português. O engenho foi arrematado em leilão pelo Provedor da Casa da Moeda da Bahia, Manuel da Silva Ferreira.
Os escravos do Engenho de Santana, tal como os índios, deixaram registrados para a história, momentos importantes de luta e resistência. Especialmente no conflito e ocupação do Engenho de Santana, eles reivindicaram melhores condições de vida: direito de folgar, dançar e cantar; também formularam reivindicações trabalhistas, como: limitação da quantidade de canas por feixe, aumento do número de trabalhadores para o desenvolvimento de determinadas tarefas, a posse dos instrumentos de trabalho, maior tempo disponível para suas atividades pessoais, limitação da sua jornada de trabalho, etc. (MARCIS, 2000, p. 70-71).
Em 1810, o Marquês de Barbacena, Felisberto Caldeira Brant Pontes, brigadeiro dos exércitos reais em Minas Gerais, passa a ser o novo proprietário da sesmaria de Santana por permuta de terras em Minas Gerais. Em 02 de março de 1834, a posse é dada ao Brigadeiro José de Sá Bitencourt e Câmara, herdeiro do Dr. Bitencourt Accioli. O Brigadeiro e sua esposa foram enterrados dentro da capela de Santana. Em 1896 seus herdeiros tomam posse do engenho já desgastado.
No período de 1896 a 1960 houve transição da escravidão para o trabalho assalariado, e o cultivo da cana-de-açúcar foi substituído pelo cacau. Imigrantes chegavam a Ilhéus atraídos pela facilidade em obter terras para plantar roças de cacau. Como a cultura do açúcar deixou de ser valorizada na região, os costumes, os instrumentos, a infra-estrutura não foi preservada. Existem apenas ruínas que permitem a formação de indícios de onde ficava a roda d’água, um tacho de ferro onde era fabricado o melaço da cana (encontrado enterrado); ainda existe a Igreja de Santana, com a imagem da Santa, uma pia batismal feita em puro mármore trazida de Portugal.
Nossa Senhora Sant’Ana, mãe da Santíssima Virgem Maria e esposa de São Joaquim, vem sempre acompanhada de sua filha. Antigas terras da Condessa de Linhares, filha do então Governador Geral, Mém de Sá, que a passou em 1563 para os jesuítas da Companhia do Colégio de Santo Antão, de Lisboa. A paisagem é recortada por manguezais. Ao aportar na vila do rio do Engenho, vale uma visita na Capela de Santana, uma das mais antigas capelas rurais do Brasil, 3ª construída e atualmente a segunda com sua estrutura em pé) . Em estilo neoclássico, data de 1548. A comunidade do Rio de Engenho, distrito localizado a 20 Km da sede do município, a reverência a sua padroeira no mês de novembro (exceto nos anos de 2006 e 2007 que aconteceu no mês de julho), Nossa Senhora Santana, com diversas atividades de cunho religioso e profano. A programação oficial conta com novenário e shows musicais. Durante os festejos, a vila do Rio de Engenho recebe visitas de turistas e moradores da sede do município, além de áreas adjacentes. Ótimo para a prática de canoagem, rafting e esportes radicais, Rio de Engenho é ideal para o turismo ecológico. No distrito, existem muitos locais inexplorados. Quem visitar o Rio de Engenho durante os festejos em homenagens a Nossa Senhora Santana, terá a oportunidade de desfrutar de rara beleza. Através do rio Santana, a viagem é bem mais prazerosa. Pode-se observar a exuberância da Mata Atlântica e acompanhar a movimentação dos caranguejos no mangue, isso se a maré estiver baixa. De qualquer forma, a viagem ao Rio de Engenho é uma ótima pedida. Por via fluvial ou terrestre, de qualquer maneira é bom viajar ao Rio de Engenho. A festa da padroeira do Rio de Engenho é uma excelente oportunidade para quem não conhece um lugar onde se pode comer moqueca de pitu, de robalo e de carapeba. Existem outros pratos para serem saboreados, a exemplo daqueles à base de mariscos, como o catado de siri. Em Rio de Engenho tudo é natural. O bucolismo toma conta do povoado e o som vindo das corredeiras é um convite para a cesta na rede. No mais é deixar o tempo passar, esquecendo-se do corre-corre da cidade.
Os usos da história, cultura e natureza local na potencialização turística
O turismo já é o sexto produto de exportação na balança brasileira, atrás apenas da soja, do minério de ferro, de carros e aviões, segundo a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo). Em 2007, o setor foi responsável pela entrada de US$ 5,40 bilhões no Brasil, um valor 11% superior do que o gasto dos estrangeiros registrado em 2006.
O turismo é reconhecidamente um setor onde as micros e pequenas empresas estão presentes de forma significativa, compondo a maioria do número de estabelecimentos dos diversos elos da cadeia. Cerca de 90% das empresas envolvidas com o segmento do turismo são de micro e pequeno porte, entre elas pousadas, hotéis, restaurantes, bares e lojas. Hoje, o turismo movimenta diretamente outros 50 segmentos da economia.
Pode-se visualizar a complexidade em manter características histórico-culturais dos grupos sociais. A comunidade representou papel importante na economia do Brasil no período da colonização e, no entanto, apesar de os turistas e visitantes quererem ter contato com os costumes antigos, a passagem do tempo e a mudança de contexto levam consigo, muitas vezes, os artigos históricos concretos deixando apenas as lembranças herdadas no imaginário da população local.
A prática do turismo de caráter histórico no local é precária. Os turistas têm contato apenas com a Igreja de Santana, um dos tachos de fazer o melaço da cana-de-açúcar (uma das etapas de produção do açúcar), que foi encontrado enterrado, colocado à frente da mesma; e ruínas do canal que desviava a água do rio para mover a roda d’água e gerar a energia hidráulica. As ruínas do canal encontram-se cobertas de mato, o que dificulta a percepção.
A qualidade do passeio é ampliada com a presença de um guia turístico que seja capaz de reviver no seu discurso o valor histórico-cultural das ruínas e da terceira capela rural mais antiga do Brasil, tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Uma possibilidade seria a criação de um pequeno museu local com fotos antigas, pinturas, memórias transcritas, possibilitando um acesso mais estruturado à cultura local.
O passeio pode ser melhor aproveitado através do contato com o Sr. Balbino, a dona Estelina e o Sr. Ednilson Araújo (Nicoly), responsáveis por contar as histórias e mostrar os lugares onde supostamente ficavam situadas a moenda, a roda d’água, a senzala. Segundo o Sr. Balbino, os antepassados contavam que havia muito ouro na igreja. Para os visitantes que não recebem explicações das particularidades do local, entram e saem do Rio do Engenho sem perceber todo o seu valor histórico do ponto de vista nacional e regional. Por isso é importante passar informações para os moradores a fim de que eles próprios tomem consciência da singularidade do local onde vivem e demonstrem conscientemente uma identidade que possa ser percebida pelos turistas.
Além do apelo histórico-cultural, a visita ao Rio do Engenho permite o turismo ambiental de alta qualidade devido ao contato direto com a natureza. O passeio de barco (20 minutos) permite contato com a riqueza ambiental, ecossistemas de estuários, especialmente os manguezais.
O acesso ao vilarejo também pode ser feito por via terrestre (de ônibus ou de carro – 20 Km), entretanto, a estrada é de chão, o que dificulta o acesso. Muitos visitantes procuram o lugar para relaxar, para tomar banho de rio e comer comidas típicas.
Durante o passeio feito pelo trajeto fluvial é possível, às vezes, ver os botos nadando na baía do Pontal, na cidade de Ilhéus, onde o passeio é iniciado. A beleza do verde da vegetação e das águas contrasta com populações ribeirinhas vivendo em completa pobreza. O vilarejo é formado por apenas duas ruas, a população possui baixos níveis de escolaridade e renda. Existe um grupo escolar para as séries iniciais e um posto de saúde que não funciona regularmente, segundo relatos dos moradores locais.
A maioria do público que visita o local é da região e em menor proporção os estrangeiros. Há apenas dois empreendimentos privados com maior infra-estrutura. Um é a fazenda na margem oposta e o outro é a “Ilha Hawaii” com acomodações mais confortáveis.
Em 2007 foi inaugurado um atracadouro na vila de Rio do Engenho para melhorar e facilitar o acesso de embarcações para descarga de produtos e pessoas.
Os dois bares/restaurantes da vila funcionam às margens do rio, um ao lado do outro. Não possuem recursos e condições infra-estruturais favoráveis à prestação de serviços apesar da presteza e da intenção dos proprietários e funcionários em fazer o melhor. Como não têm condições de planejar o nível de visitação diário, é comum acontecer a falta de algum tipo de comida típica ou falta de bebida. Os donos dos empreendimentos demonstram a expectativa em receber apoio para aprimorar os serviços prestados e ampliar a estrutura de seus comércios para receberem mais turistas. Na realidade, o que a população demonstra é a vontade de melhoria na qualidade de vida e vêem o turismo como uma possibilidade.
Alguns projetos estão sendo desenvolvidos pela Secretaria de Turismo de Ilhéus (Prefeitura) em parceria com a UESC, CEPLAC, IESB, SEBRAE e Cargil, como: “AMAREA – Associação de Moradores e Agricultores do Rio do Engenho e Adjacências” com enfoque na agricultura familiar; “Agroecologia e Rio do Engenho: uma viagem ao Brasil colônia” com a finalidade de implantação de infra-estrutura turística.
A ocupação do Rio do Engenho é anterior à colonização do Brasil, quando os índios das tribos Tupiniquins e Aimorés viviam na costa do sul da Bahia. Os Tupiniquins se alimentavam da agricultura de subsistência e da coleta de frutos, enquanto os Aimorés por serem nômades, alimentavam-se de caça e da pesca. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, os índios Tupiniquins já realizavam o escambo do pau-brasil (Caesalpinia echinata) com os franceses. Este foi um dos motivos que levou a coroa portuguesa a iniciar o povoamento o Brasil, com a implantação do sistema de capitanias hereditárias. Estas capitanias foram doadas aos nobres da corte, os quais tinham como dever financiar o povoamento. Assim, em 1534 a capitania de São Jorge dos Ilhéus foi doada a Jorge de Figueiredo Correa. Em 1535, Francisco Romero, representante enviado por Portugal, ancorou na Ilha de Tinharé, a atual ilha do Morro de São Paulo. Semanas mais tarde, Romero e seus homens ancoraram mais do sul, onde fundaram a Vila de São Jorge dos Ilhéus. Em 1537 foi doada uma sesmaria a Mém de Sá que fundou o Engenho de Sant’Ana, onde hoje está situado o povoado do Rio do Engenho. A introdução da lavoura canavieira nesta capitania ocorreu com a doação de sesmarias. Com o início da lavoura canavieira, os portugueses penetraram mais para o interior, alcançando a área de domínio dos índios Aimorés. Os índios começaram a atacar os invasores e acabaram afugentando os moradores da região de Ilhéus, o que contribuiu para a decadência da lavoura canavieira neste período. Anos depois, muitos Aimorés foram exterminados a mando do rei de Portugal. Em 1548, é estabelecido o Governo-Geral da colônia acabando com o sistema de capitanias hereditárias. Neste mesmo ano é construída a capela de N. Sra. Santana. Nos dias presentes, sob a proteção da Senhora Santana, o Rio do Engenho segue aparentemente tranqüilo, apesar de seus trabalhadores enfrentarem problemas semelhantes aos encarados pelos escravos séculos atrás. Mas que ninguém confunda sua tranqüilidade com conformismo, afinal, em suas veias, ainda corre o mesmo sangue dos índios e negros corajosos que ousaram desafiar o poder e fazer da sua cultura um importante fato da nossa história. Na atualidade, dentre os projetos em andamento, podem ser citados: “AMAREA – Associação de Moradores e Agricultores do Rio do Engenho e Adjacências” com enfoque na agricultura familiar e agroecologia. E “Rio do Engenho: Uma Viagem ao Brasil Colônia” que objetiva a implantação de infra-estrutura turística com ações em parceria com UESC, CEPLAC, IESB, SEBRAE, Cargill e Prefeitura de Ilhéus (SETUR).
Atualmente o Rio do Engenho é um dos principais pontos turísticos da cidade de Ilhéus. Além de possuir paisagem cênica, este povoado possui grande importância cultural devido à presença de monumentos construídos antes de 1550, tombados pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Este patrimônio é constituído pelas ruínas do engenho de Sant’Ana, um dos primeiros engenhos de cana-de-açúcar no Brasil, e pela capela de N. Sra. de Santana, a terceira capela rural mais antiga do país. Existem vários passeios a barco que percorrem o Rio de Engenho. Estes passeios possibilitam uma bela visão dos ecossistemas estuários, em especial do manguezal, com sua rica fauna e flora. Os roteiros turísticos incluem as opções de trilhas, visitas a fazendas típicas da região, aos manguezais e restaurantes com comidas tradicionais. Como um compromisso de cidadania, por parte dos moradores locais, os visitantes e outros grupos que convivem com o Rio do Engenho, como agentes de desenvolvimento, deve-se ter como princípio o turismo ambiental, com o devido aproveitamento do potencial de lazer do território, respeitando os valores naturais e culturais. No Sítio Histórico do Rio do Engenho foi instalado o primeiro engenho de cana-de-açúcar da Bahia.
Navegando baía adentro, você pode avistar a Avenida 2 de Julho, antiga zona portuária e comercial da cidade, hoje ocupada por diversos bares e restaurantes; o antigo porto; o hidroporto, até passar por baixo da Ponte Lomanto Júnior, que liga Ilhéus ao bairro de Pontal e à BA-001. Em seguida, a enseada da Sapetinga e o canal do Fundão, construído pelos jesuítas para facilitar o acesso das canoas que traziam o cacau da bacia do Rio Almada para o porto. Nesta altura, há o encontro dos rios do Engenho (ou Santana), com o Rio Almada e, mais acima, o Cachoeira. Rio acima surgem os manguezais, um ecossistema costeiro onde vivem inúmeras espécies de crustáceos e onde também ocorre a desova de peixes e a reprodução de diversas aves. A chalana segue na direção do povoado do Engenho de Santana até as corredeiras, onde o rio deixa de ser navegável. Aí está a Capela de Santana, tombada e considerada a terceira mais antiga do Brasil. A chalana dá meia volta para descer o Rio do Engenho, até encontrar o Rio Cachoeira. Reconstruindo os caminhos da história, já que no Brasil Colônia houveram alambiques na sesmaria do Rio do Engenho, atualmente é fabricada a cachaça de alta qualidade de nome homônimo a localidade, armazenada em tonéis de madeira louro canela e castanheira, tipo exportação na fazenda Chapada do Boiadeiro (www.riodoengenho.com.br). O vilarejo foi palco de uma das maiores novelas da Rede Globo, a Renascer, de 1993, de Benedito Ruy Barbosa. Na época, os cenários da novela encantaram os telespectadores com a beleza das trilhas e fazendas de coco e cacau da região.
Objetivo
O turismo é uma atividade que desde o seu surgimento, conforme sua história, esteve centrado no turista sem a preocupação de mensurar os impactos sociais, ambientais e culturais de caráter direto, indireto e induzido nas comunidades onde é comercializado. Sua dinâmica expansionista, variedade tipológica, a globalização, estresse, necessidade de descanso, lazer, aventura, fuga da rotina diária de trabalho, contato com novas realidades e as elevadas taxas de crescimento do turismo mundial evidenciam a importância de analisar os impactos de curto, médio e longo prazo, a fim de planejar e criar infra-estrutura local equivalente à cultura da sociedade e atrativos potenciais a partir da integração de todos os atores envolvidos na promoção do turismo.
Como o consumo do produto turístico implica no deslocamento do turista ao local onde se encontra a sua oferta, algum tipo de impacto, tanto positivo quanto negativo, ocorrerá. Afinal, haverá choque de culturas e contato com o meio ambiente natural e artificial. O que se deve buscar, portanto, é a minimização dos impactos negativos e maximização dos impactos positivos.
Nesse sentido, a complexidade dos impactos positivos e negativos dos fluxos turísticos exige, do poder público, dos turismólogos e outros especialistas, flexibilidade e reavaliação continuada das ações e efeitos, pelo fato de ser uma atividade muito sensível a instabilidades políticas, sociais, ambientais, econômicas, além da difícil combinação dos interesses da comunidade, do turista, do setor público e dos empresários.
Dentre as diversas tipologias do turismo, a mais procurada ainda é a de sol e praia, locais exóticos inexplorados; ou seja, o contato com as belezas naturais ainda representa a maior forma de atratividade. Proteger a natureza tornou-se uma questão de ética, sobrevivência e lucro. O fato de a manutenção equilibrada do ecossistema ser economicamente rentável permite a expansão do impulso conservacionista em prol do desenvolvimento turístico sustentável.
Nesse sentido, apresentar-se-ão alguns aspectos sobre o turismo que é desenvolvido na comunidade Rio do Engenho, localizada no Município de Ilhéus – BA. A prática da atividade turística ainda é precária, necessita de discussões acerca do futuro da comunidade, do ambiente natural e dos resquícios do patrimônio histórico-cultural.
A finalidade é reafirmar a necessidade de conservação, sustentabilidade e conscientização dos nativos no manejo dos recursos de uma localidade, no sentido de permitir o usufruto dos bens naturais, culturais e artificiais pelas próximas gerações. O local foi visitado por meio do percurso fluvial e o método empregado foi o de observação e exploração do espaço, além de estabelecer conversa com os moradores nativos (preferencialmente os mais velhos) e donos de estabelecimentos comerciais do povoado.
A busca da prática da sustentabilidade é relativamente recente. A conscientização do crescimento da degradação ambiental e da urgência de reverter seu quadro evolutivo fez com que a Organização das Nações Unidas (ONU) promovesse pela primeira vez uma conferência mundial em Estocolmo, na Suécia, em 1972 – a ECO-72. Somada à consolidação do termo Desenvolvimento Sustentável, a sociedade, empresários e setor público convenceram-se de que era possível uma gestão ambiental com eficiência e eficácia da atividade turística a ser desenvolvida, mantendo a diversidade e equilíbrio do espaço. Em 1992, foi desenvolvida no Rio de Janeiro a ECO-92, pois, era mais do que claro que o modelo de desenvolvimento econômico adotado até então estava ultrapassado e para o bem da humanidade era primordial a geração de tecnologia limpa.
A visão de sustentabilidade não se resume à questão ecológica, agrega também os campos social, cultural e econômico. Para ser sustentável ecologicamente, o turismo deve ser compatível com os recursos disponíveis, sua biodiversidade e características reprodutivas. A sustentabilidade sociocultural visa respeitar a manutenção e reprodução dos costumes locais. Já a sustentabilidade econômica visa a viabilidade da promoção do destino sob uma perspectiva ética eqüitativa que gere benefícios para a comunidade e permita o usufruto do local pelas próximas gerações.
A ausência de planejamento sustentável da atividade turística e a falta de preocupação com o real bem-estar da comunidade receptora faz com que o turismo ultrapasse a primeira fase de caráter brando e inofensivo, para a segunda fase, quando começa a atingir o estágio de saturação, com início da degradação pelo turismo de massa. A terceira fase, geralmente se configura da tentativa de reverter quadros ameaçadores à continuidade do turismo através de regras específicas. Mas, nesse estágio, perdas irrecuperáveis já aconteceram. Na quarta fase, busca-se um maior controle sobre os atrativos locais e os impactos do seu uso no cotidiano da população.