Soropositivos citam preconceito como maior problema enfrentado no dia-a-dia

O músico Pedro Carvalho, de Itabuna, 39 anos, há um ano e meio soube que é portador do vírus HIV. A professora Heloísa Santos, de Entre Rios, 31 anos, há quatro descobriu que é soropositiva. Em comum, além da convivência diária com o fato de serem portadores do vírus, enfrentam um enorme problema: a discriminação. Para os problemas enfrentados pelos soropositivos e sugerir políticas públicas para essa área, acontece até amanhã (6), no Hotel Vilamar (Amaralina), o 2º Encontro Estadual de Pessoas Vivendo com HIV/Aids.
O debate é promovido pelo núcleo baiano da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+) e do Movimento Nacional de Cidadãs PositiHIVas (MNCP). O evento conta ainda com a parceria da Secretaria da Saúde do Estado, através da coordenação estadual de DST/Aids.
Na abertura, ontem (4), a assistente social Edvânia Landim, coordenadora estadual de DST/Aids, ressaltou “a dignidade com que os movimentos sociais como a RNP+ e o MNCP vêm se conduzindo e atuando, efetivamente, no controle social”.
Representando o Ministério da Saúde, o coordenador de articulação com o movimento social do Programa Nacional de DST/Aids, Eduardo Barbosa, também chamou atenção para a importância da RNP+, que segundo ele, “tem muito a contribuir na definição das ações de prevenção e assistência das DST/Aids”.
O coordenador da RNP+ na Bahia, Moisés Toniolo, contou que a entidade foi criada em 1995, no Rio de Janeiro, com a finalidade de reunir portadores do HIV/Aids e, desse modo defender seus direitos. “O Movimento de Cidadãs SoropHIVas nasceu posteriormente, a partir da necessidade de haver uma entidade que defendesse as especificidades das mulheres portadoras de HIV/Aids”, apontou.

Panorama atual

Mais de 100 pessoas de Salvador e 15 municípios do interior estão participando do encontro. Para Lívia Lacerda, coordenadora de Comunicação Social da RNP+/Ba, o evento tem importância para o movimento social de pessoas vivendo com HIV/Aids, na medida em que possibilitará traçar um panorama da assistência ao portador do HIV/Aids no estado.
Durante o primeiro dia do encontro, a coordenadora estadual de DST/Aids falou sobre a evolução da epidemia na Bahia, lembrando que o primeiro caso foi notificado em 1984. Atualmente, o número de casos de casos de Aids notificados no estado é de 7.754, sendo 5.252 no sexo masculino e 2.502 no sexo feminino.
Edvânia Landim falou ainda sobre o atual conceito da infecção, que deixou de ser associada a um “grupo de risco”, para assumir o conceito de “comportamento de risco”. “A tendência que se observa é de crescimento de casos em mulheres, pessoas do interior e na população mais pobre”, revelou.
A discriminação e o preconceito que sofrem os portadores de HIV/Aids foi um dos assuntos mais constantes durante o primeiro dia do evento. A professora Heloísa Santos disse que as “perguntas indiscretas” incomodam muito, e que “vencer o preconceito e tomar os medicamentos nos horários determinados” também são dificuldades que encontra no dia-a-dia. “Apesar disso, sou uma pessoa normal, tenho uma vida normal, com algumas restrições”, garantiu.
Pedro Carvalho reparou quando um taxista inventou uma “desculpa esfarrapada” para não levá-lo ao local desejado, ao perceber que era portador de HIV, por causa dos medicamentos que tinha em mãos. Em outra oportunidade, levou “horas” para ser atendido num restaurante, porque o garçom conhecia sua condição de soropositivo.
Apesar dessas e de outras manifestações de preconceito, o músico garante que “não tem nada a esconder”. “A sociedade precisa parar com o preconceito, e aprender que abraço, beijo, carinho e talheres, por exemplo, não transmitem o vírus”, finalizou.
A liderança soropositiva também foi o tema apresentado na manhã de ontem, pela coordenadora de Comunicação Social da RNP+/Bahia no encontro. Assim como a maioria dos participantes, Lívia Lacerda falou sobre a importância de se combater os preconceitos em torno dos portadores de HIV/Aids e sobre o papel das lideranças em defesa dos direitos dessas pessoas.

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