Greenpeace obstrui porto de exportação de grãos da Cargill

Dezessete ativistas da organização Greenpeace foram detidos pela Polícia Federal ontem em Santarém (PA) após um protesto no porto da multinacional graneleira Cargill, na confluência dos rios Amazonas e Tapajós. Os ambientalistas, que protestam contra o plantio de soja em áreas de floresta, foram presos após um tumulto envolvendo funcionários da empresa e sojicultores contrários à presença da ONG no Pará.
O protesto começou às 8h45, quando o navio Arctic Sunrise, do Greenpeace, atracou no porto para obstruir a aproximação de uma balsa que descarregaria grãos.
‘A Capitania dos Portos falou pelo rádio que não tínhamos autorização e que nossa ação era ilegal’, disse Paulo Adário, coordenador da campanha Amazônia do Greenpeace. ‘Respondi que o que era ilegal era o porto da Cargill, questionado pelo Ministério Público, e que iríamos ficar lá.’

Antes de a polícia chegar, cinco dos quase 40 tripulantes do navio desembarcaram e tentaram escalar duas colunas que sustentam uma ponte do porto para tentar estender uma faixa com a inscrição ‘Fora Cargill’. Funcionários da empresa impediram a escalada usando jatos d’água. Quando a polícia chegou, os alpinistas foram presos e o restante da tripulação se trancou dentro de compartimentos do navio.

A situação ficou mais tensa quando um grupo de sojicultores conseguiu entrar no porto e tentou invadir a embarcação. A polícia federal conteve a reação e depois arrombou ela própria as portas das cabines para deter outros ativistas do Greenpeace. O navio foi rebocado depois para longe.

Segundo a ONG, uma ativista se feriu após cair da coluna que tentava escalar e outro foi atirado na água. A Cargill nega ter funcionários envolvidos nas agressões. ‘Infelizmente, contudo, muitos habitantes locais são contrários à campanha do Greenpeace na Amazônia’, afirmou a empresa em um comunicado. Paulo Adário, porém, diz que a Cargill ‘facilitou’ o acesso dos sojicultores às suas instalações.

Adário diz ter sofrido ameaças de morte e quer reavaliar a agenda do Greenpeace para os próximos dias em Santarém. ‘Está marcada uma manifestação na cidade para domingo, juntamente com outras ONGs, mas não sei se vai ser seguro participar.’ Até o fechamento desta edição os integrantes do Greenpeace continuavam na sede da Polícia Federal, que estava cercada por uma manifestação de sojicultores. Alguns policiais foram encarregados de proteger o navio.

Desmatamento exportado

A multinacional Cargill é apontada em um recente relatório do Greenpeace como a principal ‘vilã’ do desmatamento na Amazônia por fomentar a produção de soja para exportação.

As obras do porto da empresa, indutor da recente expansão da soja para a região de Santarém, sofreram contestações por parte do Ministério Público por falta de estudos de impacto ambiental.

As instalações recebem e estocam grãos que vêm de outras partes da Amazônia. De lá, a soja vai para a Inglaterra, onde é processada pela Sun Valley, subsidiária da Cargill que faz ração de frango.

RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo

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