Quando pediu ao cacique autorização para surfar na área de sua tribo, na Paraíba, Diana Cristina de Souza só tentava repetir o que via no quintal de casa, durante os campeonatos profissionais.
Ontem, seis anos depois, a jovem potiguara mostrou o resultado das aulas. Aos 15, tornou-se a mais jovem atleta a vencer uma etapa do WQS (segunda divisão), e logo em sua estréia. É também a primeira índia a obter tal feito.
“Estou muito feliz. Foi difícil, achei que não conseguiria”, afirmou a atleta, que neste ano foi quinta no Mundial júnior. Após iniciativa da Funai, ganhou apoio do governo da Paraíba.

O que fez no Costão do Santinho (SC), ontem, reflete a trajetória que Diana iniciou aos nove anos. Ela subiu na prancha pela primeira vez por incentivo de um primo.

Na época, espelhava-se em nomes como Fábio Gouveia, que, além de surfar em Tambá, na Baía de Traição, passava horas contando histórias enquanto saboreava o peixe na folha de bananeira feito pelo então cacique Raqué.

Diana encontrava poucas mulheres para enfrentar. Por isso, competia com homens.

“Me ajudou bastante a ficar mais agressiva”, contou ela.

Ontem, a surfista ficou atrás de Karina Petroni (EUA), quinta do WQS, até os cinco minutos finais da bateria. A brasileira, que se posicionava em uma área diferente das rivais –onde os homens costumavam procurar as ondas–, teve frieza para esperar a grande chance. E com um 8,67 virou a disputa.

“Aí o mar baixou. Elas não conseguiram pegar mais nada. Também tive ajuda da sorte.”

MARIANA LAJOLO
da Folha de S.Paulo