Mata da Esperança por José Rezende Mendonça

A história sobre a “Mata da Esperança”, começa realmente numa manchete do Diário da Tarde de Ilhéus, datado de 09 de novembro de1994.
O texto principal dizia: “Já se encontra em fase de elaboração o Plano de Manejo do Jardim Botânico de Ilhéus, que ficará localizado na Mata da Esperança”… “Esse Plano segundo informação do prefeito Antonio Olímpio visa traçar diretrizes de uso da área do Jardim Botânico”.



Naquela época, coube a senhora Rute Collares Pelição, assessora do Meio Ambiente da Prefeitura de Ilhéus, conjuntamente com o engenheiro agrônomo, o senhor Roberto Barreto, pertencente ao quadro do Centro de Recursos Ambientais – CRA, darem os primeiros passos para que esta mata fosse transformada em Jardim Botânico, com o objetivo de proteger uma amostra representativa da Mata Atlântica, manter as espécies raras, endêmicas, vulneráveis ou em perigo de extinção; proteger a paisagem natural e a beleza cênica além de preservar os recursos hídricos.



Foto Panorâmica tirada em 1995 (Elaboração: José Rezende. Foto: Gildefran Alves).

O Plano tinha como objetivos:

1. Criar o Jardim Botânico

2. Centro de Atração Turística

3. Área de lazer e Recreação

4. Núcleo de Educação Ambiental

5. Centro de Pesquisa:

– Ecologia

– Biologia

– Botânica

6. Parque do Trabalhador

7. Horto Florestal

8. Banco de Germoplasma e

Biodiversidade da Mata Atlântica

9. Zoológico e Centro de Reprodução Animal.

Para cumprir esta meta a prefeitura fez parceria com a Ceplac, órgão que nunca deixou de dá sua parcela de contribuição em prol do progresso desta região. Da Ceplac foram convocados: André Mauricio de Carvalho, André Amorim, Luiz Alberto Matos Silva (Responsáveis pelo levantamento de toda flora da área). Antonio Jorge Suzart Argolo (Responsável pelo levantamento da fauna) e José Rezende Mendonça para elaborar os mapas de solos, vegetação, recursos hídrico e cadastral.

Todos os trabalhos que couberam aos pesquisadores da Ceplac foram entregues. Da nossa parte, que além de elaborar os mapas, emitimos pareceres para cada tema solicitado.



Foto Panorâmica tirada em 1995 (Elaboração: José Rezende. Foto: Gildefran Alves).

Vegetação: Constatamos no campo que a mata vinha sofrendo pressões antrópicas das populações que residem nas suas bordas, principalmente na extração de varas e esteios para construção de casas e lenha para cozinhar. Informamos que 1994 houvera um desmatamento onde foram retiradas madeiras de “Lei”, usando-se motoserras, tratores e caminhões. Já em 1995 acontecera um incêndio próximo da “estrada real”. (Estrada de acesso à mata pelo bairro do Banco da Vitória, desde há época das SESMARIAS). Comunicamos que a mata na região Noroeste sofrera uma agressão pela linha de transmissão da Coelba, com isso abrindo um caminho para penetração do homem ao interior da mata. Alertamos para a presença de inúmeros caçadores que capturavam semanalmente animais como: Tatus, Cutias, Luiz Caixeiros, Teiús e Tamanduás, informações prestadas pelos próprios caçadores que encontramos no interior da mata.



Foto Panorâmica tirada em 1995 – lado oeste da mata (Elaboração: José Rezende. Foto: Gildefran Alves).

Pelo levantamento do vôo fotográfico/panorâmico em junho de 1995 – Informamos que do total de 405 ha da mata, apenas 266 ha ou 65,68% dela era realmente mata primária intacta, 115,8 ha ou 28,59%, se tratava de mata primária, mas já perturbada pelo homem.

Informamos também, através de mapas, baseados em levantamento aerofotogramétricos, que a mata em todo seu maciço, representava em 727,5 ha em 1944, já 20 anos depois (1964), esta mata caíra para 512,7 ha, ou seja, fora desmatado 214,8ha, representando 29,52% de desmatamento. Em 1974, a mata é destruída em mais 63 ha , ficando um remanescente de 449,7ha. E finalmente em 1994 (ano do estudo), esta mata era de apenas 437,2 ha, ou seja, só restava 60,10% da mata de 1944.

Hidrologia: Informamos que a rede de drenagem desta mocrobacia, que tem todas suas nascentes no complexo da mata, possui uma superfície aproximada de 359 ha, com uma densidade de drenagem da ordem de 25,06m/ha. O ribeirão principal tem sua nascente a Noroeste da mata, com uma extensão de 1.800 metros. Seus afluentes são riachos perfazendo um total aproximado de 9.000 metros e que a represa que é formada por estes riachos tem uma área aproximada de 7,5 ha.

Solos: Relatamos que são solos profundos, com mais de 2 metros de profundidade, de fertilidade baixa, com uma textura franco-argilosa e de boa drenagem. Coletamos as amostras de solos e classificamos pela nomenclatura regional de solos, Colônia, Valença e Hidromórfico, que são solos com horizonte óxido (B Latossólico).

Como se vê, desde o final de 1995, tudo que poderia ser feito para o Jardim Botânico funcionar já estava concluído, ficando apenas o poder público (Prefeitura), fazer a parte dela.

O tempo passou, o prefeito Antonio Olímpio cumpriu seu mandato em 1996. Assume o prefeito Jabes Ribeiro que administrou nosso município de 1997 a 2004 (Oito anos). Neste período, lembro-me bem da luta da senhora Rute Collares, para que o Plano saísse do papel e diversas denúncias de desmatamento nos jornais e TV. E aí me perdi no tempo, só sei que 10 anos depois, leio no site do meu amigo e colega Roberto Rabat (www.r2cpress.com.br), do dia 10 de fevereiro próximo passado, no INFORMES DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA PREFEITURA, que a “Mata da Esperança é a mais nova meta do prefeito Valderico Reis, onde inclusive já estão sendo aplicados R$ 115 mil para dotar o parque de equipamentos como guarita para controle de acesso e segurança, mirante”… etc…etc…

Espero que desta vez as coisas se concretizem mesmo, pelo menos até o final do mandato do atual prefeito. Porque informes como estes sobre a Mata da Esperança, já li muitos, nestes últimos 10 anos.

Na parceria que foi feita com a Ceplac e Fundação Pau Brasil, deposito minhas esperanças, principalmente em saber que neste bojo, está à frente à Bióloga Marly da Encarnação, pesquisadora muito competente e dedicada em tudo que assume.

Quanto à parte que cabe a prefeitura, darei meu voto de confiança, mas fico a pensar, porque já são tantas metas a serem cumpridas nestes três anos que restam ao prefeito Valderico Reis. Pois, vejamos o que dizem as noticias corriqueiras dos jornais locais, sobre as metas ou promessas desta administração:

1.Nova Central de Abastecimento

2. Central de Reciclagem de Lixo

3. Jardim Zoológico

4. Centro Administrativo

5. Vila Olímpica

6. Novo Aeroporto

7.Shopping da Avenida

8. Shopping a Céu Aberto

9. Museu do Porto

10.Recuperação da “Maria Fumaça”

11. Píer do Pontal

12. Píer da Avenida Dois de Julho

13. Nova Ponte Centro/ Zona Sul.

14. Etc…Etc…

Nota: Para saber mais sobre a Mata da Esperança leiam o livro de Moema Parente Angel, que relata a visita de Maximiliano da Áustria a Ilhéus, em 1860.



José Rezende Mendonça

jrezende.mendonca@ig.com.br

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