Especialista diz que agronegócio borracha é promissor

As boas perspectivas do mercado internacional apontam para uma boa oportunidade de crescimento para os países com possibilidade de expansão da heveicultura no Brasil e, em especial, no Sul da Bahia; a demanda é boa e os preços internacionais tendem a subir.

O mercado mundial de borracha vem superando as previsões realizadas para as metas em longo prazo, segundo o pesquisador Adonias de Castro, da Ceplac. Ele informa que estudos realizados por dois pesquisadores ingleses, Burger K. e Smith H. P. mostram que até o ano 2.020 o mercado terá uma forte elevação nos preços devido ao aumento do consumo e ao menor incremento na oferta. “Tal conjuntura representará uma boa oportunidade de crescimento para os países com possibilidade de expansão da heveicultura, a exemplo do Brasil, e, nesse caso particular, o Sul da Bahia”, destaca o pesquisador, lembrando que os autores citados analisaram o aumento populacional e o crescimento da economia mundial, estimando um incremento expressivo no consumo de pneumáticos, que atingirá 14,7 milhões de unidades em 2020.

Isso, segundo ele, equivalerá ao dobro do consumo registrado no início dos anos 90, ao passo que o consumo global de elastômeros (soma das borrachas natural e sintética) estimado para aquele ano atingirá a marca de 28 milhões de toneladas (o consumo em 2001 foi de 17,5 milhões). Para Adonias, se por um lado essas projeções são consideradas otimistas, convém registrar que já em 2004 o consumo das borrachas natural e sintética foi de 19.880 mil toneladas e a previsão para 2005 é de 21.500 de toneladas, valores que nas previsões de Burger e Smith só seriam atingidos a partir de 2007.
“As estimativas apontam para uma estabilização da oferta mundial de borracha natural, pelo menos nos próximos 15 anos, ou crescimento da oferta inferior ao consumo, além de redução do nível atual de participação deste produto em relação ao mercado total a pouco mais de 25 %, e crescimento do mercado de elastômeros”, salienta o pesquisador, acentuando que as projeções indicam uma taxa de crescimento do consumo mundial de elastômeros de 2,2% ao ano, nos próximos anos. Ele assinala que, se a indústria não se adaptar a outras alternativas de complemento da oferta de matéria-prima, a tendência dos preços da borracha natural será ascendente, até um nível suportável pela indústria. “A reação do mercado será em função da capacidade de emprego na relação borracha natural e borracha sintética dos diferentes países”, destaca, lembrando que a tendência dos preços da borracha sintética (produzida a partir do petróleo) e o crescimento da economia mundial também serão pontos relevantes nesse processo.

Consumo mundial
Até recentemente, o mercado mundial de elastômeros, correspondente à soma das borrachas sintética e natural, apresentou uma oferta ligeiramente superior à demanda. “Nos últimos 10 anos houve um excedente médio de 290 mil toneladas, à exceção do ano 2000, quando os preços mais baixos da borracha natural motivaram um aumento acentuado do consumo”, explica Adonias. Ainda de acordo com ele, entre os anos de 1995 e 2004 o consumo total de elastômeros teve um aumento de 33,7 %, passando de 14.870 mil toneladas para 19.880 mil toneladas, enquanto a oferta incrementou em 34 %, evoluindo de 15.180 mil toneladas para 20.370 mil toneladas.
Outro ponto destacado pelo pesquisador é que o consumo mundial de borracha natural é concentrado nos países desenvolvidos ou em franco processo de industrialização. “China, Estados Unidos, Japão e Índia, principais países consumidores, juntamente com Malásia, Coréia do Sul, Tailândia, França, Brasil, Alemanha e França, são responsáveis por 74,4 % da demanda”, diz Adonias, esclarecendo que a Malásia, a partir do processo de industrialização, vem participando no mercado como grande consumidora de borracha natural, saindo, desse modo, da condição de estritamente produtora de matéria-prima para a de exportadora de produtos industrializados. “Das 500 mil toneladas de elastômeros utilizadas em 2004 naquele país, a borracha natural participou com 433 mil toneladas, o que correspondeu a 87% do volume total empregado”, ele afirma, lembrando que a oferta mundial de borracha natural é concentrada no sudeste asiático.
O pesquisador ressalta que a produção reunida da Tailândia, Indonésia, Índia, Malásia, China e Vietnã corresponde a 90 % da produção global, enquanto que a China, apesar de participar com 5,7 % da produção mundial, possui déficit em borracha natural, tendo em vista que nos últimos 10 anos o seu consumo cresceu a taxas maiores que a oferta.

Preços
Em dezembro de 2001, Malásia, Indonésia e Tailândia passaram a adotar uma postura alinhada, a partir do acordo que deu origem a International Tripartite Rubber Cooperation (ITRC). Esta organização, segundo Adonias, tem o objetivo de regular os preços internacionais da borracha natural, por meio do controle da produção e das exportações no mercado aberto.
Apesar dos benefícios alcançados desde o início, este acordo começou a dar resultados mais concretos em outubro de 2003, após a formalização do International Rubber Consortium Ltd. – IRCo, que passou a controlar os estoques e os preços da borracha natural. Nos últimos 20 anos, o mercado da borracha natural apresentou elevação dos preços no início da década de 1981 e em meado dos anos 90, quando chegou a atingir US $ 1,50 por quilo da borracha do tipo SMR 10 que equivale ao GEB 1 produzido no Brasil pela agroindústria de borracha. A partir de 1996, diz o pesquisador, com a crise econômica dos principais países produtores (Malásia, Indonésia e Tailândia), o preço do produto passou a declinar, despencando nas bolsas em julho de 2001, quando ficou abaixo de U$ 0,50 por quilo, sendo este o valor mais baixo em toda a história do mercado da borracha.
Adonias diz que, a partir de junho de 2002, o mercado começou a reagir, sendo a borracha comercializada entre US $ 0,82 e US $ 0,93 por quilo, voltando atualmente ao patamar de US $ 1,40 por quilo. “A expectativa é que os preços se mantenham entre US $ 1,30 e US $ 1,50 por quilo até 2006, custo que as indústrias de pneumáticos já vêm se preparando para absorver”, explica o técnico, ressaltando que nos anos seguintes o mercado ainda se manterá favorável, em face ao crescimento da demanda, sem uma perspectiva de oferta que pressione os preços para baixo.
Para ele, os preços internacionais da borracha voltarão a subir devido à forte demanda por borracha em países como a China e a alta dos preços do petróleo. Contudo, no mercado interno, a pressão exercida pelas indústrias de pneumáticos, exigindo prazo e descontos devido às facilidades comerciais encontradas em relação ao produto importado, amenizará um pouco o impacto da alta sobre os preços no mercado nacional.

Mercado
O Brasil, a partir da Segunda Guerra Mundial, passou da condição de exportador para importador de borracha natural. Até o ano de 1986, a maior parte da produção interna era oriunda dos seringais nativos da Amazônia, cuja exploração era sustentada por preços praticados pelo governo em valores superiores aos do mercado internacional. “Apesar dos incentivos governamentais para a expansão da heveicultura naquela região, não se alcançaram os resultados esperados, em face de problemas fitossanitários e de infra-estrutura”, afirma Adonias. Ele esclarece, ainda, que a exceção foi o Mato Grosso, que dispõe de áreas de escape ao mal-das-folhas da seringueira.
Os plantios realizados ao abrigo do Programa de Incentivo à Produção de Borracha Natural – Probor -, não obtiveram o sucesso esperado. O pesquisador destaca que a produção brasileira de borracha natural entre os anos de 1991 e 2004 aumentou 238 %, passando de 29.587 toneladas para 100.000 toneladas. Tal incremento deveu-se, principalmente, à entrada em produção dos seringais dos Estados de São Paulo e Mato Grosso, enquanto em outros estados da Amazônia, cuja exploração da borracha era oriunda predominantemente de seringais silvestres, a produção foi reduzida.
Ainda de acordo com o técnico, os estados da Bahia e Espírito Santo apresentaram crescimento de produção entre os anos de 1993 e 2004, sendo isso atribuído à entrada em produção de áreas financiadas pelo Probor e a retomada de algumas áreas com a melhoria do preço da borracha. Entretanto – ele destaca -, na falta de uma política de fomento a novos plantios, a tendência da produção é declinante, sobretudo na Bahia, onde os seringais são mais antigos.
“Nos últimos anos, a produção vem apresentando pouco crescimento e tende a se manter estabilizada, sendo isso conseqüência da falta de investimento em novos plantios”, afirma o pesquisador, lembrando que o consumo de borracha natural no Brasil, entre os anos de 1991 e 2004, evoluiu de 122.929 toneladas para 284.000 toneladas, sendo o incremento no período de 131 %. A previsão para 2005 é de um consumo da ordem de 304.000 toneladas de borracha natural, enquanto a produção poderá chegar a 104.000 toneladas. Ainda de acordo com Adonias, no Brasil, até o ano de 2001, o consumo de pneumáticos foi responsável por 80 % da demanda interna de borracha natural, vindo em seguida o mercado de artefatos com 14 %. “Nos anos recentes as indústrias de artefatos têm ampliando a sua participação nesse mercado”, assinala.

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