Agenda de Dirceu mostra que Delúbio, Genoino e até Valério participaram de várias reuniões com empresas no Planalto; um ex-tesoureiro petista do RS confessa que usou o dinheiro do empresário para pagar campanha presidencial; Jefferson poupa Lula e avança sobre Gushiken, que agiria em prol do valerioduto; CPI convoca sócia de Duda, suposta beneficiária de saques de R$ 15,5 mi; ao inaugurar usina de biodiesel no Piauí, presidente chora, abraça o povo e se compara a Getúlio Vargas ao discursar sobre a coragem para confrontar elites
A agenda do ex-ministro José Dirceu, em poder da CPI dos Correios, mostra que os ex-dirigentes petistas José Genoino (presidente), Delúbio Soares (tesoureiro) e Silvio Pereira (secretário-geral) eram tratados na Casa Civil como se fossem ministros do governo Lula. Genoino e Delúbio participavam freqüentemente de audiências concedidas a empresários com quem o PT mantinha um relacionamento de interesses tipicamente partidários, como o Banco Rural, a Usiminas e a Portugal Telecom. Delúbio tem pelo menos 14 audiências registradas na agenda de Dirceu, Silvio Pereira, 16, Genoino, 11 e Marcos Valério, ele mesmo, 3. O ex-tesoureiro do PT gaúcho Marcelino Pies admitiu, nesta quinta, que usou recursos do valerioduto para pagar despesas da campanha de Lula à Presidência em 2002, o que vinha sendo negado veementemente pelo partido. O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) depôs nesta quinta na CPI do Mensalão. Não apresentou muitas novidades, mas fez movimentos políticos diferentes dos anteriores. Por exemplo, recuou no ataque ao presidente Lula, a quem envolveu nos casos Portugal Telecom e Furnas, durante o depoimento do ex-ministro José Dirceu (PT-SP) ao Conselho de Ética na Câmara, na última terça. Em compensação, Jefferson avançou sobre outro ex-ministro, hoje secretário da Presidência, Luiz Gushiken, que cuidou durante dois anos e meio da publicidade do governo e de empresas estatais. Segundo o petebista, Dirceu comandou o esquema do mensalão com a anuência de Gushiken, que cuidou de viabilizar o valerioduto. Na CPI dos Correios, a quinta-feira foi de muita confusão. Parlamentares trocaram farpas por causa do excesso de investigações abertas, nenhuma concluída. Para a deputada Denise Frossard (PPS-RJ), a falta de foco nas investigações exalaria “cheiro de pizza”, ou seja, de acordão para inviabilizar os trabalhos. O PT, por meio da senadora Ideli Salvatti (SC), aproveitou para tentar impedir que a sócia de Duda Mendonça, Zilmar Fernandes Bezerra, que, segundo o empresário Marcos Valério, recebeu R$ 15,5 milhões de suas empresas, fosse convocada. A bancada petista, porém, perdeu mais esse embate, e o requerimento de convocação acabou aprovado. A CPI aprovou também a solicitação de informações à Embaixada do Brasil em Portugal, ao presidente da Portugal Telecom, ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil e à Casa Civil sobre as negociações envolvendo o governo brasileiro e a empresa de telefonia portuguesa, que, segundo o deputado Roberto Jefferson, tinham por objetivo reforçar as finanças do PT e do PTB. No centro desse novo escândalo, de novo Valério. Ele teria se apresentado ao governo de Portugal como “consultor do presidente do Brasil”, de acordo com entrevista dada em julho pelo ex-ministro português António Mexia ao jornal Expresso. Nesta quinta, Mexia visitou a Embaixada do Brasil em Lisboa, recuou e se disse disposto a explicar o mal-entendido em Brasília, se necessário. O banco Opportunity, de Daniel Dantas, que administra a Telemig Celular, divulgou nota também nesta quinta afirmando que o empresário Marcos Valério não representou a empresa de telefonia na negociação havida com a Portugal Telecom, dona da Vivo no Brasil. O presidente Lula passou o dia no Piauí, onde inaugurou usina de biodiesel e aproveitou para fazer corpo-a-corpo com o povo. Em um de seus discursos, comparou o próprio empenho em levar adiante o projeto do biodiesel com a coragem de Getúlio Vargas de criar a Petrobras em 1954, mesmo contrariando a elite da época.
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