Yuri é hoje em dia um dos caras mais novos, se não o mais novo brasileiro, que surfa Jaws. Ele mora há mais de 10 anos na ilha de Maui (Yuri é surfista local de Olivença) . É considerado como local. Tem o maior respeito entre todos, inclusive de Laird Hamilton e Dave Kalama. Laird chegou a apontar Yuri e Ian Walsh como os dois melhores surfistas locais da nova geração. Isso saiu publicado numa revista local de Maui.
Ele também quebra nas marolas, tem um power surf de manobras fortes. Este ano ele pegou um tubão de backside em Jaws, mas perdeu o prazo de inscrição no XXL. Mas ele com certeza ainda vai dar muito trabalho e alegria para o Brasil, pois mora a poucos minutos de Peahi e está sempre presente quando o pico quebra. Ele agora também faz parte do time de Rodrigo Resende e Danilo Couto. É um time de três que tem tudo para arrebentar.

Meu nome é Yuri Souto Maior Soledade, 29 anos. Nasci em Ilhéus, Sul da Bahia. Fui criado em Olivença, onde comecei a surfar com 10 anos. A partir daí, sempre fui vivendo onde as ondas me levavam. Com 14 anos, fui morar em Salvador para estudar e dar continuidade à carreira de surfista. Competi muito antes de vir para o Hawaii com 18 anos.
Ao chegar, vim direto para Maui, onde vivia um tio, Paulinho Magulu, a quem devo muito. Aqui cheguei com US$ 50 no bolso. Mas, com muita vontade de morar e poder surfar ondas grandes. Comecei lavando pratos no restaurante Fish Market e hoje sou o dono. Foi muita ralação, mas sempre tive como objetivo poder surfar sem ter que depender necessariamente de uma grande empresa por trás. Somente agora, com o financeiro mais ou menos estabilizado, vou em busca do objetivo.
Qual foi a primeira vez que você fez tow-in em Jaws e o que achou?
A primeira vez foi há uns cinco anos. Fiquei muito impressionado com a velocidade da onda, foi vício imediato. Mas sabia que teria que treinar muito para chegar ao nível que gostaria. Passei umas duas temporadas só aperfeiçoando a técnica do tow-in em outros mares também, assim como cuidei do condicionamento físico e mental para depois voltar com tudo há três temporadas .
Quantas vezes neste ano você conseguiu surfar em Peahi e como tem sido a sua performance?
Com certeza essa foi a melhor temporada dos últimos anos. Não sei ao certo, mas foram de 10 a 15 vezes com ondas grandes e boas, o que é e muito raro. Por isso não podemos perder nenhum dia pois, as ondas nunca voltaram atrás. Uma outra coisa que fez uma boa diferença esse ano foi a formação de um time de três pessoas, uma parceria entre eu, Danilo Couto e Rodrigo Resende.
Conseguimos puxar ao máximo um ao outro, fazendo a evolução ser mais rápida e eficiente. Trocamos muitas informações, sempre com o mesmo objetivo de melhorar as nossas performances que contribuíram para essa ótima temporada. Consegui o respeito e o reconhecimento mundial pela atitude dentro da água e estou muito satisfeito com isso. Acredito que os meus parceiros também.
Qual seu equipamento para essas ondas?
Há mais ou menos três temporadas, juntamente com Danilo e Rodrigo fechamos esse trio. Por isso estou sempre com um ou outro. Nessa temporada saí muito com Rodrigo, pois o Danilo mora em Oahu e geralmente só aparece nos dias maiores. Quanto ao equipamento, temos dois jets e várias pranchas com diferentes pesos e tamanhos .
Como funciona esse trio?
Geralmente vamos com dois jets e sempre tentamos levar um cinegrafista, pois estamos
coletando imagens para um filme. Fazemos um revezamento no mar sem maiores problemas. Um aspecto positivo é que sempre tem alguém no canal para ajudar, se der qualquer problema. Outro fato positivo é, no caso de um parceiro ficar impossibilitado de surfar, o que geralmente acontece com uma certa freqüência, principalmente no tow-in, por acidentes mais sérios ou por contusões mínimas, estando em três já existe uma harmonia com o parceiro.
Acho que aos poucos os praticantes de tow-in vão acabar se tocando disso e, em vez de duplas, teremos times de três ou mais. Laird Hamilton, por exemplo, já faz isso há alguns anos com Darrick Doerner e do David Kalama. Sem contar que é um esporte muito caro, então sai mais em conta se os custos forem divididos por três.
Ouvi falar que vocês surfaram ondas grandes na remada durante o mês de marco. Como foi essa experiência?
A essência do surf sempre foi na remada. Para mim, o tow-in tem a finalidade de possibilitar surfar ondas que na remada seria impossível entrar. Sempre que posso tento surfar nos “outer reefs”, pois lá não existe crowd e você consegue aperfeiçoar sua leitura e posicionamento no oceano.
Em marco, eu, Rodrigo Resende e Kevin Kennedy surfamos na remada ondas num pico animal, um lugar assustador, onde nada pode dar errado. Tem que estar bem preparado e com o equipamento certo.
Quais as principais diferenças e dificuldades entre surfar de tow-in e padle-in?
O tow-in tem a máquina, que tem que estar perfeita; também tem que depender de um bom piloto e parceiro. A técnica tem de estar bastante apurada, mas, em compensação, você já está em pé na onda e com velocidade, o que facilita um pouco.
Na remada é preciso ter um bom preparo para entrar na hora certa, ter um bom posicionamento e uma boa leitura do oceano. Sem falar que você tem que controlar uma prancha grande, geralmente medindo uns 10 pés. A coisa boa é não ter que se preocupar com a vida de um parceiro em suas mãos. Mas, de qualquer maneira, você tem que saber o que está fazendo, seja na remada ou no tow-in.
Como compara a vida em Maui com Oahu?
A vida em Maui é muito mais tranqüila, as pessoas estão em um outro nível. É como comparar uma cidade grande a uma cidade bem pequena. Aqui todo mundo se conhece. Quanto ao surf, Oahu tem o North Shore, o melhor lugar para surfar, ondas de todos os tipos tamanhos e forças, concentrados em um só lugar. Fora isso, os melhores surfistas e a mídia estão toda lá.
Em Maui os picos são bem afastados um do outro e com muitos outer reefs, o que prejudica a mídia, pois dificilmente alguém irá saber o que acontece lá fora. Mas, em compensação, virou o paraíso dos praticantes do tow-in. O ideal é estar sempre indo lá e cá.
Quais os planos para o futuro?
Bom, o plano é evoluir ainda mais. Estou tentando ir para o Tahiti e depois para a América do Sul com o intuito de treinar forte. Também pretendo ir para o Brasil visitar meus parentes, amigos e tentar achar alguma empresa que possa vir a se interessar a me apoiar, pois sou o único do time que ainda não tem uma marca por trás.
Rodrigo e Danilo já estão bem patrocinados e são bastantes conhecidos no Brasil. Então pretendo estar em forma, surfando bem, para poder começar a aparecer um pouco mais na mídia e assim criar uma boa imagem, assim como os meus parceiros. Também estamos bem focados no objetivo de finalizar esse filme. Por isso estaremos investindo em algumas surf trips para continuar a coletar imagens.

O que poderia falar para aqueles que sonham surfar Jaws um dia?
Treine bastante. Quando achar que está pronto, treine um pouco mais, pois vai chegar a hora de cada um. E, quando chegar, será todo esse treinamento que vai definir o melhor ou o pior momento de sua vida. Então, é melhor estar bem preparado física e psicologicamente.
Qual o momento mais marcante, mais insano, que você viveu ou presenciou este ano em Jaws?
O que mais me marcou foi a evolução em geral, de todos. O nível está muito alto esse ano, isso ficou realmente claro. Foram várias ondas gigantes muito bem surfadas, muitos tubos insanos, sem dúvidas. A galera está realmente surfando, buscando o total domínio dessas montanhas de água.
Quanto ao que passei, não sei se foi o tubo que fiz naquele dia grande em janeiro ou todos os outros que não fiz. Foram várias vacas insanas, uma em especial em que achei que seria minha última! Mas esse é o preço que pagamos por estar buscando o ponto mais crítico ou o tubo mais profundo.

Você com certeza deve ter se preparado bem para isso. Como é o seu treinamento?
Acho que existem dois aspectos, o físico e o psicológico. Para mim, um vai em
conjunto com o outro. Este ano fiquei muito focado em me preparar psicologicamente.
Também dei meu máximo fisicamente. Treinei com o mesmo técnico de Laird e Dave Kalama. Foram seis meses de trabalho duro, com exercícios não só para o corpo, mas também para a mente. Além disso, faço canoagem havaiana e remo bastante. Ando de bicicleta e tento surfar quase todos os dias, em qualquer condição de mar.
O que achou da cobertura da última temporada havaiana no Waves.Terra e qual recado daria para os usuários do site?
Achei a cobertura animal, pois teve relatos de várias pessoas. Nem sempre a opinião de um só escritor vai ser coerente com os fatos. Portanto, continuem sempre com vários correspondentes para cobrir a temporada. Gostei também pela não-politicagem, pois ao contrário de outros meios de comunicação, que só abrem espaço para surfistas patrocinados por marcas que anunciam, o Waves.Terra abriu espaço para vários novos atletas que estão se destacando com méritos, patrocinados ou não. A renovação é inevitável e devemos apoiar a nova geração. Um abraço, Yuri Soledade!

Yuri Soledade, 28, baiano radicado em Maui, é hoje um dos mais bem-sucedidos empresários do setor de alimentação em Maui.
O restaurante dele, o Fish Market, localizado na esquina principal do centro comercial de Paia, Maui, fatura cerca de US$ 2 milhões por ano.
Além de estar se dando bem nos negócios, Yuri é um dos melhores surfistas nascidos no Norte do Brasil e anda arrepiando as esquerdas de Jaws, mostrando tudo o que o baiano tem.

Nessa entrevista exclusiva concedida em seu restaurante, ele conta como chegou ao Hawaii e se transformou em um dos líderes do ramo alimentício na Ilha.
Conta como você veio parar no Hawaii.
Eu participava de campeonatos profissionais no Brasil, mas foi em um evento amador que eu ganhei uma passagem para a California. Meu tio Paulo Magulo já morava no Hawaii e me convidou para passar um tempo aqui.
Quando foi isso?
Em 1994. Só que eu cheguei no fim do inverno e tive que ficar o ano inteiro aqui para poder desfrutar de todo o inverno no ano seguinte.
E como decidiu de morar aqui?
Foi no mesmo ano. Quando me deparei com essas ondas alucinantes, não quis mais ir embora. Eu também conheci uma americana com quem fiquei casado por quase cinco anos. Desse modo, fui ficando até hoje.
Você agora é casado com uma brasileira.
Sou. A Maria já morava aqui também. Estamos juntos há alguns anos e já temos dois filhos, uma menina e um menino.
Quais foram os primeiros empregos?
Eu comecei no Fish Market mesmo. Eu lavava pratos e depois de um tempo passei para o caixa. Na seqüência, fui para a gerência. E hoje sou um dos três sócios. Tenho duas sócias que também moram em Maui.
E fica lotado desse jeito o ano inteiro?
O movimento, gracas a Deus, é sempre forte.
Quanto você fatura por ano?
Cerca de US$ 2 milhões.
A especialidade de casa é peixe?
Os principais pratos são de peixe, mas como você sabe, temos ótimos spaghettis, carne e frango também.
E o gosto para as ondas grandes, especialmente o tow-in, pegou quando?
Olha, nos últimos dois anos é que estou levando mais a sério. Mas ja faz uns cinco que eu faço.
Quais outros esportes você pratica?
Canoagem, kitesurf, surf, tow-in, um pouco de cada, dependendo das condições.
Você também sempre ajuda na organização da Tow-In World Cup. O que você faz exatamente?
Eu ajudo nos bastidores do evento, cuido da sala VIP, entre outras funções.
Eu sempre vejo uma galera do Brasil que você dá uma força e ajuda nos trampos. Quem já passou por suas mãos?
(risos) Daniel Hardman, Leonardo Oliveira, Danilo Couto, o Marcio Freire aqui ao lado. É maneiro estar ao lado dos amigos. Também tem mais uma boa galera que não estou recordando agora.
Você pretende voltar ao Brasil?
Saudades é o que não falta. Olha, quem sabe daqui a alguns anos. Na verdade, eu gostaria de conseguir controlar a minha vida no futuro para passar metade do ano aqui e a outra metade no Brasil.
BRUNO LEMOS
WAVES