Pesquisadores identificam fungo que mata caranguejo

Consumo tem queda de 70% na Bahia, Ação do homem amplia a mortandade

Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná identificaram o fungo responsável pela mortandade dos caranguejos-uçá. O causador é o Exophiala, fungo semelhante às leveduras de cerveja que se propaga pelas células do crustáceo e destrói seu sistema digestivo e nervoso. Após apresentar os sintomas da contaminação, o animal não sobrevive mais que três dias. O fungo é o causador da morte caranguejo, crustáceo mais vendido nos bares e restaurantes de seis estados do Norte e Nordeste.
A comprovação de que o Exophiala é o causador do problema só ocorreu no início deste ano, depois da misteriosa mortandade dos caranguejos da cidade de Caravelas, no Extremo Sul da Bahia. Há oito anos, pesquisadores e biólogos tentam desvendar a causa do problema. Mesmo sem saber do que se tratava, o surto foi batizado pelos especialistas como Doença do Caranguejo Letárgico (DCL), por deixar o animal lento e atordoado antes de morrer.

Os estudos prosseguem para identificar como se dá a contaminação. Sabe-se que o Exophiala é encontrado em abundância na natureza, entretanto, ainda é uma incógnita o porquê dele ter se tornado prejudicial aos caranguejos, como explica o coordenador do Grupo Integrado de Aqüicultura e Estudos Ambientais (GIA), Antônio Ostrensky. “Depois de infectado o caranguejo não consegue comer nem controlar os movimentos. Acaba morrendo de fome”, assinala.

Outra questão que os pesquisadores não conseguiram saber é se a ingestão do caranguejo contaminado traz riscos à saúde humana. Ostrensky afirma que existe a proposta de coletar saliva dos pescadores das regiões afetadas para identificar possíveis infecções. “O mais difícil foi comprovar que esse fungo era o causador da mortandade. Agora, temos de avaliar as formas de contaminação”, diz. Mesmo sem querer precipitar novas descobertas, o pesquisador não descarta a possibilidade de o fungo ter sofrido mutação pela ação danosa do homem na natureza.

Combate – A única forma de combater esse fungo e evitar o extermínio da espécie, explica Ostrensky, é auxiliar para que a reprodução dos caranguejos aconteça de maneira rápida e eficaz. Estima-se que em seis anos um local afetado pela DCL tenha sua população de caranguejos-uçá repovoada, uma vez que o Exophiala não permanece muito tempo em uma única região. Depois de matar boa parte dos caranguejos, o fungo desaparece e as fêmeas, mesmo antes de morrer, conseguem fecundar as larvas que darão origem aos filhotes.

Os primeiros casos da DCL apareceram em 1997, no Rio Grande do Norte, seguindo pela Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Por aqui, os pesquisadores descobriram que sua atuação começou em 2001 na região do Baixo Sul, próximo de Morro de São Paulo, e segue em direção as cidades do Sul. O curioso é que o único crustáceo afetado é o caranguejo-uçá. “Isso causou grande impacto porque essa espécie tem um forte apelo econômico”, diz Ostrensky, referindo-se ao fato do animal ser consumido não somente nos bares e restaurantes como também por servir de alimento às famílias residentes nas regiões de mangue.

Eder Luis Santana, do A Tarde On Line

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