Gutiérrez deverá assinar um pedido formal de visto territorial. Esse é um procedimento de rotina quando algum asilado político desembarca no país que o acolherá. O Itamaraty não soube informar se o visto será assinado hoje ou nos próximos dias.
Gutiérrez está acompanhado pela mulher, Ximena Bohórquez, e pela filha Viviana Estefania, 15. Sua outra filha, Carina Ximena, 20, preferiu ficar no Equador. Ela é cadete do Exército.
Alvo de uma série de manifestações, o presidente deposto precisou sair escondido da embaixada brasileira na capital Quito. Ele deixou a embaixada numa camionete da polícia e vestindo roupas militares.
O veículo que levava Gutiérrez seguiu para o aeroporto de Lacatagunga (80 km ao sul de Quito), onde havia um avião da FAB esperando para levá-lo ao Brasil.
A previsão inicial era a de que o avião pousasse em Porto Velho (RO), mas a FAB informou que houve uma alteração de rota de última hora no vôo.
O presidente deposto pediu asilo ao embaixador brasileiro em Quito, Sérgio Florêncio, na última quarta-feira, quando foi destituído pelo Congresso, acusado de “abandono de cargo” e “uso da força para reprimir manifestações antigoverno”.
O governo brasileiro concordou em conceder asilo territorial, que permite a entrada de Gutiérrez no país, mas aguardava que o Equador liberasse o salvo-conduto [necessário para que Gutiérrez pudesse sair em segurança do país e com a garantia que não seria preso ao deixar a embaixada brasileira na capital Quito].
Salvo-conduto
A operação de busca de Gutiérrez no Equador foi cercada de sigilo. Para garantir a segurança do ex-presidente, o governo brasileiro manteve em segredo as informações sobre a liberação do salvo-conduto ao presidente deposto.
A liberação do salvo-conduto, concedido ontem pelo governo equatoriano a Gutiérrez, só foi confirmada hoje pelo Itamaraty. Ou seja, somente após a saída em segurança do ex-presidente do Equador.
Sem o salvo-conduto, não havia garantias que Gutiérrez pudesse sair em segurança da embaixada brasileira –onde estava refugiado desde quarta-feira (20)– nem que não seria preso ao tentar embarcar para o Brasil. É que havia ordens de prisão contra ele por ter ordenado a repressão violenta dos protestos que antecederam sua destituição.
População
Até a noite deste sábado, o clima na capital Quito ainda era de tensão. Dezenas de manifestantes permaneciam em frente à embaixada brasileira, impedindo a saída de Gutiérrez do local.
Na noite de quinta-feira (21), o carro do embaixador Florêncio foi apedrejado por manifestantes contrários ao envolvimento do Brasil no caso de Gutiérrez. Os manifestantes bateram no carro, mas não atingiram seus ocupantes –Sérgio Florêncio, outro funcionário e o motorista.
Após ser cercado pelos manifestantes, o veículo foi obrigado a retornar para a sede diplomática.
Um grupo de policiais tentou proteger o veículo, mas não conseguiu evitar o ataque da multidão, que gritava palavras de ordem contra o Brasil por ter concedido asilo a Gutiérrez.
Após o incidente, a multidão gritou em coro: “Brasil, não traia o Equador” e “Lula, devolva a mula”.
Crise
O Equador está imerso em uma crise política e jurídica desde o dia 8 de dezembro passado, quando uma maioria governista no Congresso reestruturou a Suprema Corte de Justiça, medida essa que foi qualificada imediatamente pela oposição de ilegal e inconstitucional.
A crise se agravou quando os novos juízes da Suprema Corte anularam os processos contra os ex-presidentes equatorianos Bucaram e Gustavo Noboa e o ex-vice-presidente Alberto Dahik.
A oposição diz que a reestruturação do tribunal constitui interferência do Executivo no Poder Judiciário e acusa o presidente de buscar poderes ditatoriais. Gutiérrez se defende dizendo que as mudanças foram feitas dentro da lei.
FABIANA FUTEMA
Folha Online