Nível de gás carbônico na atmosfera atinge novo recorde

Dados de um laboratório americano obtidos pela BBC indicam que a concentração de dióxido de carbono da atmosfera voltou a crescer no ano passado, atingindo um novo recorde.
O gás carbônico é considerado o principal poluente responsável pelo aquecimento global, e sua concentração na atmosfera tem crescido todos os anos desde 1958.
De acordo com a pesquisa do Laboratório de Monitoramento e Diagnóstico do Clima do governo americano, feita com base em informações coletadas em um observatório do órgão no Havaí, a concentração de gás carbônico chegou a 378 partes por milhão (ppm).
Apesar disso, os cientistas descobriram que o aumento da presença do gás na atmosfera em 2004 foi menor do que nos dois anos anteriores.

Estados Unidos

Segundo o cientista Pieter Tans, diretor do observatório no Havaí, as variações no aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera ano a ano se devem a uma série de fatores como, por exemplo, alterações na taxa de absorção do poluente por plantas e oceanos.

Tans e outros cientistas do centro de pesquisas, porém, acreditam que são as emissões de gás carbônico humanas que vêm provocando o aumento constante da concentração do gás na atmosfera.

O Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor recentemente, prevê uma redução nas emissões de gases que provocam o efeito estufa nos países signatários.

Os Estados Unidos, maiores responsáveis pela emissão de gás carbônico em todo o mundo, não aderiram ao protocolo.

O laboratório no Havaí, responsável pelos novos dados, é considerado um dos mais confiáveis do mundo para esse tipo de avaliação.

Informações sobre a concentração de CO2 na atmosfera vêm sendo coletadas há quase um século pelo centro construído a uma altitude de 3,5 mil metros, perto do vulcão Mauna Loa.

O ar dessa região do Pacífico é ideal para a avaliação porque é “bem balanceado”, o que significa que não há, perto do laboratório, nenhuma fonte evidente de poluição, como uma indústria, ou uma fonte natural de absorção de CO2, como uma floresta.

Temperatura da Terra pode subir em até 11ºC, diz pesquisa

As temperaturas na Terra podem subir em até 11ºC, quase o dobro do que se previa, segundo uma das projeções mais abrangentes já realizadas sobre o clima, pela Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha.

Os cientistas por trás da pesquisa, chamada Climateprediction.net (“Previsões sobre o clima”, em tradução livre), dizem que não existe um nível seguro de emissões de gás carbônico (CO2).

O estudo, que foi publicado na revista científica Nature, usou computadores pessoais de todo o mundo para produzir dados: em vez de usar um supercomputador para rodar modelos climáticos, o projeto pedia que usuários comuns de PCs baixassem um software que funciona quando o computador não está sendo usado.

Mais de 95 mil pessoas se registraram, em mais de 150 países. Somados, esses computadores rodaram mais de 60 mil simulações do clima no futuro.

Diferenças

Cada PC roda uma simulação ligeiramente diferente da outra, e cada uma examina o que acontece com o clima mundial quando os níveis de gás carbônico na atmosfera são duas vezes maior que os níveis pré-industriais – o que, segundo os cientistas, pode ocorrer em meados deste século.

O que variou mais entre as simulações foi exatamente a natureza do processo físico, como por exemplo o das correntes de ar dentro de nuvens tropicais, que rege o transporte do calor em torno do planeta.

Dessa forma, nenhuma simulação produziria exatamente os mesmos resultados.

De maneira geral, o projeto produz um retrato da possível abrangência de resultados, considerando-se os conhecimentos científicos que se tem hoje.

O menor aumento de temperatura que o estudo prevê é de 2ºC, podendo chegar a 11ºC.

‘Urgência’

A variação real vai depender da velocidade com que se duplicará a quantidade de CO2. Mas grandes aumentos só devem ocorrer dentro de pelo menos um século.

“Acredito que esses resultados sugerem que é talvez mais urgente do que se pensa a necessidade de fazermos algo em relação às mudanças climáticas”, disse à BBC o cientista David Stainforth, um dos autores do Climateprediction.net.

“Entretanto, com o que sabemos hoje, não podemos definir qual é o nível seguro de gás carbônico na atmosfera.”

Na segunda-feira, a Força-Tarefa Internacional para Mudanças Climáticas, anunciou que uma concentração atmosférica de gás carbônico de mais de 400 ppm (partes por milhão) seria “perigosa”.

Atualmente, esse índice está em torno dos 378 ppm, subindo cerca de 2 ppm por ano.

Os pesquisadores por trás do Climateprediction.net acreditam que, por ser distribuído em computadores individuais, o projeto pode ajudar a informar as pessoas sobre o assunto – o que pode, para eles, acarretar em mudanças políticas.

O uso de PCs para pesquisas científicas não é novidade. Projetos como o Seti (Search for Extra-Terrestrial Intelligence ou “Busca por Inteligência Extra-Terrestre”, em tradução livre) contam com milhões de pessoas que baixaram seu software, permitindo aos cientistas analisar dados da observação de galáxias distantes.

Quantidade de luz solar na Terra “é cada vez menor”

Cientistas acreditam que a Terra está recebendo uma quantidade cada vez menor de energia solar – e que, paradoxicalmente, isto pode ser resultado do aquecimento global.

Os pesquisadores chegaram a esta conclusão após terem analisado medições da luz solar colhidas nos últimos 50 anos.

Eles suspeitam que a redução do nível de luz solar se deva à poluição atmosférica.

Partículoas sólidas lançadas ao ar por atividades poluentes – como cinzas e fuligem – refletem a luz de volta para o espaço, impedindo com que ela chegue à terra.

Além disso, a poluição também modifica as propriedades óticas das nuvens, aumentando a sua capacidade de refletir os raios de Sol de volta para o espaço.

Repercussão

O primeiro cientista a observar o fenômeno da redução do nível de luz solar foi o britânico Gerry Stanhill, que comparou dados obtidos em Israel na década de 1950 com medições mais recentes e encontrou uma queda de 22%.

A partir daí, ele procurou dados semelhantes sobre outros países e observou que a redução também se observava em vários outros lugares.

Em partes da antiga União Soviética, ela chaga a 30%, na Grã-Bretanha, a 16%, nos Estados Unidos, a 10%.

Embora a variação seja grande de lugar a lugar, a estimativa é que o declínio tenha sido de 1% a 2% por década em um período de 50 anos.

Seu trabalho, publicado em 2001, não teve grande repercussão, mas os resultados foram reforçados agora por uma equipe de pesquisadores australianos que utilizou métodos totalmente diferentes para avaliar a quantidade de luz solar que chega à Terra.

O fenômeno está sendo chamado de “turvação global”.

Subestimação

Os cientistas agora temem que isto esteja fazendo com que menos luz solar chegue aos oceanos, o que pode afetar o padrão da ocorrência de chuvas no planeta.

Há quem sugira que a turvação global esteja por trás das secas que causaram centenas de milhares de mortes na África sub-saariana nos anos 1970 e 1980.

Alguns dados preocupantes insinuam que algo parecido pode estar acontecendo agora na Ásia, onve vive metade da população mundial.

Uma outra conclusão suscitada pela descoberta é que os cientistas podem ter subestimado o poder do efeito estufa.

Muitos especialistas acham surpreendente que a energia extra acumulada na atmosfera terrestre pelas emissões extras de dióxido de carbono só tenha causado um aumento de temperatura da ordem de 0,6 grau centígrado.

Acredita-se que, na Era Glacial, quando houve um aumento parecido de CO2, a temperatura tenha subido 6 graus.

Mas agora está ficando aparente que o aumento da temperatura causada pelo CO2 em excesso pode ter sido amenizado pelo esfriamento causado pela redução do nível de radiação solar que chega à Terra.

Isto indica que o clima pode ser muito mais sensível ao efeito estufa do que se pensava anteriormente.

Má notícia

Se este for o caso, aí então se trata de uma má notícia, segundo o climatologista Peter Cox.

Do jeito que as coisas estão se encaminhando, estima-se que os níveis de dióxido de carbono vão continuar subindo de forma acentuada nas próximas décadas, enquanto há sinais encorajadores de que a emissão de partículas sólidas na atmosfera está sendo colocada sob controle.

“A implicação é que vamos, ao mesmo tempo, reduzir o poluente que causa o esfriamento e aumentar o que causa o aquecimento, e isso será um problema”, diz Cox.

Mesmo as mais pessimistas projeções sobre o futuro do clima global teriam então que ser revisadas para cima, o que significaria que um aumento de 10 graus centígrados por volta de 2100 não seria de todo inimaginável.

BBC BRASIL

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