Índios expulsos protestam em Ilhéus

Índios expulsos protestam em Ilhéus

Tupinambás cobram da Funai retorno para a Fazenda Timiquizinho, em Belmonte, que consideram terras de seus antepassados

ANA CRISTINA OLIVEIRA

ILHÉUS ( JORNAL A TARDE – DA SUCURSAL SUL DA BAHIA) – Cerca de 70 índios tupinambás, que foram expulsos da Fazenda Timiquizinho, em Belmonte, extremo sul do Estado, fizeram um protesto, ontem, contra a forma como foram expulsos e cobram interferência da Funai para retornarem à fazenda, que consideram terras de seus antepassados. O cacique Juvenal disse que os 70 policiais militares, de Salvador e Belmonte, chegaram para despejá-los no início da noite do dia 22 último, mas eles resistiram e só saíram no dia seguinte, às 4 horas da manhã.

“Tiraram nossos pertences de qualquer jeito e espalharam nosso povo, que não tem para onde ir”, disse Juvenal, que pediu abrigo para uma parte dos companheiros na Aldeia dos Tupinambás de Olivença, em Ilhéus, onde não há espaço para abrigá-los. O cacique disse que foram despejados por uma liminar da Justiça de Belmonte, sem que eles soubessem da existência de algum pedido de reintegração de posse por parte do dono da fazenda, que também não notificou a Fundação Nacional do Índio (Funai).

Durante o protesto, o chefe do posto da Funai, Valdir Mesquita, prometeu negociar com os donos das fazendas o ressarcimento dos prejuízos que os índios tiveram, ao deixar as terras às pressas. Ele também vai buscar meios judiciais para que os tupinambás possam voltar às terras, que seriam de seus antepassados, segundo um mapa de 1944, que mostra todas as tribos que viviam na região de Belmonte e foram expulsas por fazendeiros e coronéis.

ABANDONADAS – O líder tupinambá revelou que há quase três anos 90 famílias ocupavam os 60 hectares da Fazenda Timiquizinho, na localidade de Boca do Córrego, em Belmonte, sem que aparecesse alguém para reclamar as terras. A propriedade integra o Conjunto Três Lagoas, formado ainda pelas fazendas Bertioga e Coroa de Palha.

Segundo Juvenal, as três estão abandonadas há 16 anos, mas os tupinambás só estavam na Timiquizinho, que seria de uma mulher, identificada como Denise, moradora em Salvador. Ele reconhece que alguns índios avançaram por terras da Coroa de Palha e isso deve ter despertado dois pistoleiros, conhecidos como Zé Maria e Alberto Ciolin, que grilaram as terras e se dizem donos das duas fazendas. “Os dois se uniram à Denise e conseguiram a liminar na Justiça”, afirmou o cacique.

“Nós queremos retornar às terras que foram de nossos antepassados e retomar nossas coisas que construímos e ficaram para trás”, disse Juvenal. A cacique da aldeia Tupinambá de Olivença, Valdelice Amaral Jamapoty, afirmou que não tem como abrigar tanta gente. Ela cedeu uma parte de sua casa e armou barracas ao lado da casa de sua mãe, no centro de Olivença, mas a maior parte dos índios foi abrigada de forma precária em barracos de lona na Praia de Batuba.

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