CACAU RENASCE E ELEVA PREÇO DE TERRAS

Produtores da Bahia renovam 30% das áreas
atacadas pela doença da vassoura-de-bruxa. O avanço do processo de combate à doença
da “vassoura-de-bruxa” no sul da Bahia está reaquecendo o mercado de terras na
região. O hectare, que no período mais agudo da crise chegou a custar R$ 300, hoje
não sai por menos de R$ 2 mil e a expectativa é de que em cinco anos chegue a
triplicar de valor, atingindo os R$ 6 mil do período pré-crise. A crise, que
transformou o Brasil de exportador em importador mundial, foi tão violenta que
áreas valorizadíssimas nos anos 70 e 80 foram abandonadas e invadidas por
sem-terras.

As terras estão se valorizando à medida que avança o processo de substituição das
árvores doentes por espécies resistentes ao fungo da vassoura-de-bruxa. Estima-se
que 30% da área cultivada de cacau tenha sido renovada nos últimos quatro anos. A
meta é chegar a 50% até 2007, informa a Comissão Executiva do Plano da Lavoura
Cacaueira (Ceplac). “O objetivo é chegar a 50% porque estamos incentivando
sobretudo a renovação de áreas com condições agronômicas perfeitas para a cultura”,
diz Everaldo Anunciação, diretor-adjunto da Ceplac. “Nos demais 50%, vamos
incentivar o plantio de outras culturas como fonte de renda”, afirma.

A renovação da lavoura de cacau deveria ter sido concluída em 2000, mas por
restrições orçamentárias teve início somente naquele ano. O maior empecilho é o
custo elevado, de R$ 3,5 mil por hectare. Outra dificuldade é a lentidão na
recuperação do investimento: uma vez renovada, a árvore leva dois anos para começar
a produzir e outros seis anos para que amadureça e a produção de amêndoas
estabilize.

A tecnologia que tem permitido aos produtores de cacau voltar a sonhar com os anos
de riqueza e glória é um método conhecido como enxertia. Nele, o material genético
resistente à vassoura é enxertado em uma árvore doente, sem a necessidade de que
ela seja arrancada do solo. A árvore doente absorve a nova genética e ao longo dos
anos se torna sadia.

Isidoro Lavigne Gesteira, grande produtor em Itajuípe e Ilhéus, onde planta 380
hectares de cacau, já renovou 50% da área cultivada e espera concluir o processo
nos próximos quatro anos. “Tudo depende da liberação de novos recursos. Se tiver
que usar recursos próprios, não termino antes de oito anos”, diz o produtor, cuja
família planta cacau há cerca de 60 anos.

Gesteira, assim como a grande maioria dos agricultores da região, pleiteia o perdão
de uma dívida de R$ 160 milhões contraída logo após o surgimento da
vassoura-de-bruxa na região. De acordo com ele, os métodos recomendados pela Ceplac
na época não surtiram efeito. “Seguimos a orientação do governo e, apesar disso, a
doença só avançou. Por isso, não achamos justo pagar a dívida”, diz.

De acordo com Anunciação, da Ceplac, os métodos de combate estavam corretos, porém
o crédito só foi suficiente para atender 30% dos produtores da região. “Todos os
agricultores tinham que combater o fungo ao mesmo tempo, para que não restasse
nenhum foco de resistência da doença. Como a grande maioria não teve acesso à linha
de financiamento, a doença persistiu”, afirma. Recentemente, o governo renegociou a
dívida dos cacauicultores, que ganharam 20 anos para pagar e desconto de 25% para
as parcelas pagas em dia. Além disso, no último Plano de Safra o governo anunciou
uma linha para renovação das árvores, na qual o produtor tem oito anos para pagar,
com carência de quatro anos e juros de 8,75% ao ano.

Além da renovação das árvores, os produtores estão investindo no adensamento das
plantações. Gesteira, que antes plantava 550 árvores por hectare, está adensando e
quer chegar a 1 mil plantas por hectare. “Vamos aumentar a produção e a
produtividade”, acredita. O Brasil, que chegou a produzir 406 mil toneladas de
cacau, não deve colher 200 mil toneladas neste ano.

O ataque do fungo, que dizimou as lavouras de cacau da Bahia no final dos anos 80,
provocou uma onda de empobrecimento que levou à proliferação de assentamentos de
sem-terra. Na região que abrigou oligarquias há 104 assentamentos, com 5,3 mil
famílias ocupando uma área de 30 mil hectares. “Áreas produtivas foram abandonadas
e ocupadas por sem-terras que hoje produzem cacau”, diz Anunciação, da Ceplac. “Com
o renascimento da cultura e dos preços, agricultores estão tentando reaver suas
propriedades na justiça”.

Para o analista Thomas Hartmann, de Salvador, a recuperação da produção vai
resultar em preços menores para o agricultor. “O mercado local é balizado pelos
preços da mercadoria importada, FOB Holanda”, diz. O cacauicultor brasileiro recebe
US$ 1,7 mil a tonelada, enquanto o da Costa do Marfim ganha US$ 400 por tonelada.
“Quando o País for auto-suficiente, os agricultores vão receber preços de Brasil. E
a renda será equilibrada pelo aumento da produção”.

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