Brasil recicla apenas 1% do seu lixo

O País produz 156 mil tonelas de resíduos por dia, um volume que vem
crescendo cinco vezes mais do que a população.
Os dados referentes à produção de residuos sólidos mostram que o cenário
atual já é pra lá de preocupante. A cada ano, cada consumidor descarta em
média um volume de lixo equivalente a 10 vezes o peso do próprio corpo.
Essa informação ganha dimensão ainda maior quando aliada ao fato de que o
ritmo de produção de lixo tem sido cinco vezes superior ao do crescimento
da população brasileira.

As estimativas mais recentes (2000) do Ministério do Meio Ambiente apontam
uma produção diária de 156 mil toneladas de lixo no País, das quais apenas
1% é reciclada. Apesar de a Bahia não contar com números precisos,
especialistas do setor indicam que o Estado segue o mesmo quadro nacional
em termos de reciclagem.

“Uma das nossas demandas é justamente conseguir reunir dados confiáveis
referentes ao Estado”, comenta Maria de Fátima Espinheira, coordenadora do
Fórum Lixo & Cidadania na Bahia. Um outro desafio, destaca, é envolver
todos os segmentos da sociedade em torno da questão do lixo, por acarretar
consequências nas mais diversas áreas, como saúde, saneamento, agricultura,
meio ambiente e no social.

O evento “Construindo Cidades Sustentáveis”, realizado até ontem em
Salvador, é definido por Maria de Fátima como um marco nesse processo de
integração entre os agentes da sociedade. “Fiquei impressionada com o
resultado do seminário. Auditório lotado, público eclético e representativo
dos diferentes segmentos da sociedade”, comentou.

Mas este é apenas o primeiro passo. Os problemas ainda são inúmeros:
lixões, falta de conscientização da população, consumo desenfreado
estimulado pela cultura do descarte, resíduos industriais e falta de
articulação institucional.

Com o apoio do Instituto Ernesto Simões, no entanto, o Fórum Lixo &
Cidadania ganha novo fôlego. “Pretendemos manter a parceria para promover
atividades mobilizadoras que visem ampliar o número de parceiros e ações em
outras áreas do Estado, de forma que se consiga minimizar a produção de
resíduos, aumente a reciclagem e conscientização com relação ao trato e
manejo do lixo”, idealiza Maria de Fátima.

Segundo um dos coordenadores da comissão executiva do Seminário, Waltenn
Garrido, durante todo este ano, o Instituto Simões Filho (ISF) continuará
tratando como prioritário o tema “resíduos sólidos”. “Este é um problema
que afeta todas as classes sociais e que ameça a própria sustentabilidade
do planeta”, aponta.

O diretor de A Tarde e diretor-superintendente do ISF, Silvio Simões,
destacou a importância de se ter consciência de que o modelo vigente de
desenvolvimento está degradando o homem e a natureza. “A expectativa do
Instituto é reunir essa inquietação que vem surgindo a partir da percepção
de que precisamos mudar nossas atitudes para ajudar a começar a transformar
e criar uma nova consciência diante da vida”.

Falta legislação – Apesar da urgência de se identificar mecanismos de
combate à produção desenfreada de lixo, ainda não há no País uma política
nacional dos resíduos sólidos. Essa questão foi o foco da apresentação de
vários palestrantes que compuseram a mesa de debates durante o último dia
do Seminário “Construindo Cidades Sustentáveis”.

Representando o deputado federal do PV Leonardo Mattos, Aparecida Andrez,
mostrou o longo percurso de mais de uma década na Câmara dos Deputados do
projeto de lei que tem como objetivo integrar, articular e disciplinar
ações de gestão de resíduos. “Não é uma matéria fácil. E as divergências
são, fundamentalmente, quanto à responsabilização pós-consumo”, explica.

O presidente da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de limpeza
Pública e Resíduos Especiais), Eduardo Castagnari, também destacou a
importância prática de uma política nacional, mas ressaltou ainda o papel
das políticas estaduais. “O gerenciamento adequado dos resíduos exige
diretrizes establecidas por políticas públicas. E no Brasil se faz urgente
a adoção do princípio de poluidor-pagador”, defende.

Na Bahia, a dificuldade é ainda maior. “Temos um problema grave aqui. Não
se legisla no legislativo. Quem legisla na Bahia é o executivo”, acusa o
deputado estadual, Zilton Rocha, que faz parte da comissão do Meio Ambiente
da Assembléia Legislativa. “Mesmo assim, temos apresentado vários
projetos”, acrescenta.

Incentivo – Além de punir e penalizar as ações ambientais negativas, o
superintendente de Políticas Ambientais da Secretaria do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos, Emmanuel Mendonça, ressalta a importância de se criar
incentivos para as empresas que adotam comportamento adequado com o meio
ambiente.

Por enquanto, a única iniciativa nesta linha e o Prêmio Bahia Ambiental,
que reconhece as melhores iniciativas privadas ecologicamente corretas,
cuja inscrição permanece aberta até o próximo dia 20. “É preciso também
criar fundos adequados de apoio ao meio ambiente, mas ainda não conseguimos
ter aqui”, lamenta.

Representantes de organizações não-governamentais e cooperativas de
catadores de lixo também participaram dos últimos debates do seminário, que
foi encerrado com a apresentação do Bagunçaço, um grupo formado por jovens
do subúrbio que criam instrumentos musicais a partir de materiais recicláveis.

Fonte:www.atarde.com.br

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