Nenhum pesquisador até hoje, determinou com exatidão a origem do nome da CAPOEIRA. Porém, dentre as muitas hipóteses que surgiram e que ainda surgem, a que mais se assemelha ao correto é de que esta palavra seja de origem Tupy-Guarany, pois o local onde os negros se refugiavam das perseguições dos feitores e capitães-do-mato e também onde se travavam lutas entre eles para que não voltassem às senzalas.

Foto: Divulgação
Os índios chamavam de KAPU`ERA este local, que era sempre no meio das matas ao redor das fazendas de engenho, onde o mato era ralo, rente ao chão ou às vezes até mesmo cortado (roçado) pelos negros para a prática dos movimentos e golpes da luta. Até hoje os povos do interior dos estados brasileiros, principalmente de Minas Gerais chamam estes locais de capoeira muitas vezes sem saber que esta é o nome que dá significado à palavra capoeira.
Ao serem trazidos como escravos para o Brasil, os negros angolanos passaram a usar esta luta não mais para se divertirem, mas para se defenderem das atrocidades do homem branco. Não é possível dizer com exatidão em que data ou local se travou a primeira batalha corporal entre negros e brancos. Na qual foram utilizados golpes de capoeira. Porém, já foram encontrados registros de sua existência a partir do século XVII, no litoral da Bahia, onde era maior a concentração de negros no Brasil. Também se diz dos litorais de Pernambuco, Rio de Janeiro, Alagoas e Paraíba.
Conta a história que os negros do Quilombo dos Palmares, o maior e mais famoso reduto de negros fugitivos que existiu, levaram uma enorme vantagem nas lutas corporais contra os seus perseguidores, tendo em vista a rapidez, a violência e a potencia com que os negros deferiam golpes de pés e perna, conseguindo cada guerreiro levar vantagem sobre três ou quatros homens do rei, como eram chamados os soldados naquela época. Foi devido a esta habilidade de lutar de seus integrantes que o Quilombo dos Palmares resistiu por mais de cem anos ás invasões e á destruição.
Até chegarão que é hoje a arte da capoeira, passou por muitas “provações”, pois ter sido marginalizada e até mesmo proibida, ainda sobreviveu por conta de seus maiores expoentes humanos, ou seja, Mestre Pastinha e Mestre Bimba que, apesar de toda a fama que tiveram, morrer am abandonados, na miséria e sem verem sua arte valorizada e difundida aos quatro cantos do mundo.
Contar a história da capoeira é “quase” impossível. Porém, para ficar menos difícil, é só lembrarmos de Zumbi que, na verdade, foi o primeiro “mestre”de capoeira da história.
Dos tempos da escravidão pra cá, muita coisa aconteceu no mundo da capoeira,. Foram crises, proibições, perseguições, etc.
Atualmente, a capoeira é reconhecida e praticada mundialmente por um número incalculável de pessoa.
Porém, existem pontos a serem discutidos e melhor evidenciados. Dentre eles, muitas coisas que as pessoas falam, mas, que até agora, não disseram realmente nada.
O crime que virou esporte.
Na época da escravidão a prática da copeira foi perseguida a ferro e fogo, porém, depois de passado este período, a capoeira ainda continuou a ser alvo de poderosos que tentavam dar-lhe um fim, impondo leis à sua prática. O código penal de 1890, criado durante o governo do Marechal Deodoro da Fonseca, fazia proibição à prática da capoeira em todo o território nacional e reforçado por decretos que impunham penas severas aos capoeiristas, este código só fez aumentar o ódio às perseguições dos chefes de policia que tentavam a todo custo fazer valer a lei contra os capoeiristas. O motivo de tanta perseguição era que a capoeira trás em toda a sua essência, ou seja, a liberdade.
Mesmo passando por todas estas provações, a capoeira resistiu e se firmou até os dias atuais. De luta proibida antigamente, a capoeira passou a ser um suporte, ou melhor, o esporte nacional. Genuinamente brasileira, a capoeira hoje é uma “potência” que dá aos seus praticantes mais fiéis um meio de vida e sustento, sem luxo nem ostentações, mais com dignidade e respeito.
Hoje, o esporte capoeira é praticado no Brasil de sul a norte e, mundo afora, a capoeira já conquistou países como Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Suíça, Inglaterra, Japão, Portugal, Espanha, Israel, Itália, França, Suécia, Áustria, dentre outros.
Do crime reprimido à duras penas ao esporte praticado pelo mundo afora, esta é a capoeira, uma herança negra que todo mundo guarda em si como um tesouro invaliável.
No tempo da República, quando foi proibida, a capoeira se fez transformar em crime e o crime gera a violência. Nesta época, os capoeiristas eram considerados marginais e, para dar continuidade a prática proibida, eles se escondiam em barracões das companhias portuárias das cidades do Rio de Janeiro, Recife e Salvador. Os capoeiras, como eram chamados, se organizavam em bandos e esses bandos eram chamados de “maltas”. Os maltas de capoeira saíam para enfrentar rivais em festas e datas comemorativas diante das bandas militares e procissões religiosas misturado assim, brincadeiras e violência. Os que eram mais perigosos não se empunham tanto assim, mas eram bons nas lutas de faca, porrete e navalha. Á propósito, a navalha era uma das armas mais usadas por aqueles que não tinha poder aquisitivo para possuir uma arma de fogo. Elas eram constantemente roubadas das barbearias para o uso como arma de luta.
Nesta época, o sistema partidário político era movido à corrupção, e para tanto, a capoeira foi uma ferramenta ideal pois,alem de ser considerada prática criminosa,os capoeiras faziam verdadeiras badernas, tornando-se uma valiosa arma entre partidos rivais para que um pudesse destruir o comício do outro. Para isso, um partido contratava sorrateiramente duas maltas rivais sem que uma soubesse do contrato da outra para que se encontrasse no comício e a partir daí, a confusão estava formada, cabendo á policia, acabar com a festa.
Duas das “gangues” mais violentadas do Rio de Janeiro, naquela época,eram as dos Guaiamuns e dos Nagoas, verdadeiras fortalezas em matéria de briga de rua e de desordem publica. A gangue dos Nagoas servia ao Partido Conservador e a dos Guaiamuns, ao Partido Liberal, sendo estes dois maiores e mais poderosos partidos políticos da época, imagina-se resto.
Até então a lei punia com penas que variam de trezentos açoites com sal e cachaça mais a ida para o calabouço das prisões a quem fosse pego na capoeiragem. Porém, o auge da repressão se deu em 1893, quando foi instituída a deportagem dos capoeiras do Rio de Janeiro para a ilha de Fernando de Noronha onde havia um presídio de trabalhos forçados. Na Bahia, a capoeiragem foi desorganizada pela eminência da Guerra do Paraguai e, todos os que fossem pegos na vadiação da capoeira eram mandados para a linha de frente da guerra de 1864. as gangues do Recife só foram extintas em 1912 por pura falta de graça para a violência pois, foi a partir desta data que a capoeira passou a ser considerada como brincadeira e deu origem ao frevo, como tudo o que deixa de ser proibido perde a graça…
Foi em nome da liberdade para a capoeira como um todo que a luta continuou e continua até hoje. Mesmo sob o ferro da repressão, grandes nomes de capoeiristas celebres passaram para a história. Entre estes estão nomes que já se foram como Mestre Pastinha, Mestre Bimba, Mestre Gigante, Manduca da Praia, Mestre Leopoldina, Pedro Cobra, Nascimento Grande e Besouro Mangangá, que ganhou este apelido devido ao conteúdo de uma lenda que o cercava e que dizia que quando ele se via cercado por muitos homens armados, ele se transformava num inseto, um besouro gigante e saia voando, deixando todos apavorados com o seu sumiço. Sem usar armas, a capoeira bateu-se esse tempo todo contra a injustiça que perseguia seus praticantes. Hoje a capoeira é arte, arte livre e pura que trás em seu íntimo a luta de um povo pela própria liberdade de viver.
No Brasil a capoeira cresce num contexto de conflito no recôncavo baiano, nas fazendas do Rio de Janeiro e nas serras de Pernambuco. Através das sagas dos quilombos foram aprimoradas técnicas de combate, dissimuladas nas senzalas, onde, diante dos olhos do feitor, era praticada a luta em forma de dança. No dia 31 de outubro de 1821, o intendente geral da polícia da corte recebia do príncipe regente, instruções para por fim às desordens provocadas pelos capoeiras. Com a Guerra do Paraguai, estes capoeiras faziam parte das maltas de capoeira que promoviam a desordem pública e atemorizavam os transeuntes, intimidando pessoas pacíficas.
Cabe destacar que, além de muitos elementos oriundos de classes mais pobres, muitos rapazes de alta roda da burguesia cultivavam com entusiasmo a prática da capoeira que já estava criando raízes na sociedade carioca. Em 1890, com o advento da república, teve início uma ferrenha campanha contra a prática da capoeira, levando muitos jovens da sociedade a se transformarem em marginais, já que a capoeirA ERA TIDA COMO CRIME. Devido tanta proibição foram criados códigos e estratégias de comunicação através dos toque de cavalaria(a policia anda a cavalo), ou através do toque Amazonas ou de são Bento Grande que dava aviso de área livre.
Toda esta perseguição era na verdade preconceito, racismo de classes misturados com medo e ignorância por parte daqueles que se sentiam ameaçados com o fortalecimento da cultura afro-brasileira. No entanto, em 1937, o então presidente Getulio Vargas,revogou a lei de SampaioFerraz,liberando a capoeiragem.Isto depois de assistir a uma apresentação de Mestre Bimba e de seus aluno. Esta apresentação deixou Getulio Vargas muito impressionado com a beleza da arte da capoeira,e dando licença a Mestre Bimba para registrar sua “escola,” tornando-se o primeiro a sistematizar o ensino da capoeira no Brasil.Mestre Bimba introduz inovações no jogo, golpes e contra-golpes de bateria, o atabaque,o berimbau,o agogô, o reco-reco,destituindo do jogo rituais como a ladainha,por exemplo.Era capoeira Regional. O estilo Angola resiste e permanece até hoje como a expressão primeira da capoeira. Comparação à parte, o que importa mesmo a historia dessa cultura tão rica e tão importante que é parte maior da atual cultura brasileira.
Capoeira Regional
A capoeira Regional é uma manifestação da cultura baiana, que foi criada em 1928 por Manoel dos Reis Machado (Mestre Bimba). Ele utilizou os seus conhecimentos da Capoeira Angola e do Batuque. A Capoeira Angola é uma manifestação primitiva que nasceu de necessidade de libertação de um povo escravizado, oprimido, sofrido e revoltado. Podemos considera-la a mãe da Capoeira Regional. O batuque, é uma luta braba, violenta, onde o objetivo era jogar o adversário no chão usando apenas as pernas. MESTRE BIMBA DISSE “EM 1928 EU CRIEI, COMPLETA, A REGIONAL, QUE É O BA TUQUE MISTURADO COM A ANGOLA, COM MAIS GOLPES, UMA VERDADEIRA LUTA, BOA PARA O FÍSICO E PARA A MENTE.”
Manoel dos Reis machado (Mestre Bimba), nasceu em 23 de novembro de1900, no bairro de Engenho Velho de Brotas, em Salvador, Bahia, filho de Luís Cândido Machado, famoso campeão baiano de batuque, e de Maria martinha do Bonfim. Foi carvoeiro, doqueiro, trapicheiro, carpinteiro, mais principalmente capoeirista, MESTRE DE CAPOEIRA, condição esta adquirida por reconhecimento popular e pelo respeito da sociedade, numa época em que a perseguição às manifestações da cultura negra era muito intensa e perversa. Muniz Sodré, Ex-aluno se refere ao Mestre dizendo “foi uma das grandes figuras do que se poderia chamar de ciclo heróico dos negros da Bahia.” Somente aos 12 anos de idade, Bimba o caçula de dona martinha, iniciou-se na capoeira, na Estrada das Boiadas, hoje bairro da liberdade. Seu Mestre foi o africano Bentinho, Capitão da Companhia de navegação baiana. As características principais da Capoeira Regional são:
Exame de Admissão: Seqüência de Ensino de Mestre Bimba. Seqüência da Cintura Desprezada . Batizado.
Esquenta Banho. Formatura. Lúna. Curso de Especialização. Músicas.
1- Exame de admissão: Consistia de três exercícios básicos, cocorinha, queda de rins, e deslocamento (ponte), com a finalidade de verificar a flexibilidade, força e equilíbrio do iniciante. Em seguida a aula de coordenação onde o aluno aprendia a gingar auxiliando pelo Mestre Bimba. Para ensinar a ginga, Mestre Bimba convidava o aluno para o centro da sala e frente a frente pegava- o pelas mãos e ensinava primeiramente os movimentos das pernas e a colocação exata dos pés, e em seguida realizava o movimento completo em coordenação com os braços. Este momento era importantíssimo para o iniciante pois lhe transmitia coragem e segurança. Acordeon Ex- aluno do Mestre poeticamente diz… ELE ERA FORTE NA ALMA TINHA UMA FACA NO OLHAR QUE CORTAVA A GENTE DE CIMA A BAIXO QUANDO ESTAVA A ENSINAR…”.
2- Seqüência de Ensino de Mestre Bimba: O Mestre criou o primeiro método de ensino da capoeira, que consta de uma seqüência lógica de movimentos de ataque, defesa e contra-ataque, podendo ser ministrada para os iniciantes na forma simplificada, o que permite que os alunos aprendam jogando com uma forte motivação e segurança. Jair Moura, Ex- aluno explica “esta seqüência é uma série de exercícios físicos completos e organizados e em número de lições práticas e eficientes, a fim de que o principiante em capoeira, dentro de um menor espaço do tempo possível, se convença do valor da luta, como um sistema de ataque e defesa”. A seqüência original completa de ensino é formada com 17 golpes, onde cada aluno executa 154 movimentos e a dupla 308, o que desenvolve sobremaneira o condicionamento físico e a habilidade motora especifica dos praticantes.
3- Cintura Desprezada é uma seqüência de golpes ligados, e balões, também conhecido como Movimentos de Projeção da Capoeira, onde o capoeirista projeta o companheiro, que deverá cair em pé ou agachado jamais sentado. Tem o objetivo de desenvolver a auto-confiança, o senso de cooperação, responsabilidade, agilidade e destreza.
4- Batizado é um momento de grande significado para o aluno, depois de ter aprendido toda a seqüência, encontra-se apto para jogar pela primeira vez na roda. Itapoan, Ex-aluno retrata o Batizado da seguinte maneira. “O Batizado consistia em colocar em cada calouro um “Nome de guerra” o tipo físico, o bairro onde morava, a profissão, o modo de se vestir, atitudes, um dom artístico qualquer, serviam de subsídios para o apelido”. Fred Abreu referindo-se ao batizado, cita que na intimidade da Academia de Mestre Bimba ele assim se dizia “Você hoje vai entrar no aço”. Desta maneira o Mestre avisava ao calouro que chegou a hora do seu batizado era um momento de grande emoção, pois trata-se de jogar capoeira pela primeira vez na roda animada pelo berimbau. Para este jogo era escolhido um formado ou um aluno mais velho da Academia que estivesse na aula, que como padrinho incentivava ao afilhado a jogar (soltar o jogo), e após o jogo o Mestre no centro da roda levantava a mão do aluno e então era dado um apelido “Nome da Guerra” com o qual passaria a ser conhecido na capoeira.
5- Esquenta Banho- Segundo Itapoan o “esquenta banho” originou-se da necessidade dos alunos de se manterem aquecidos “esquentados” …”. Logo após o termino da aula todos os praticantes corriam para o banheiro a fim de tornarem uma chuverada, no entanto o banheiro da academia era pequeno com só chuveiro com água fina, o que proporcionava um congestionamento e a inevitável fila. Para não esfriar o corpo, os aluno mais velhos, normalmente os formados tomavam a iniciativa e começava o “Esquenta Banho”. Este era um momento fértil da aula, pois se tratava do espaço do aluno, também chamado de “Bumba Meu Boi” ou “Arranca Rabo” devido aos freqüentes desafios para acerto de contas, como exemplo, descontar um golpe tomado durante a roda. Muitos formados aproveitavam para testar suas capacidades desafiando dois três, ou mais adversários. Também era muito comum o utilizar esse momento para o treinamento de golpes difíceis e satisfatório como: vingativa, rasteira, banda de costa e etc.
6- Formatura- A formatura era um dia todo espacial para o Mestre e seu alunos, um ritual com direito a paraninfo, orador, e madrinha, lenço de seda azul e medalha. A festa era realizada no Sítio Caruano no Nordeste de Amaralina na presença dos convidados e de toda a academia. Os formados vestidos todo de branco, usando basqueteira, atendiam o chamado do Mestre Bimba que solicitava a demonstração de golpes, seqüência, cintura desprezada, jogo de esquete (jogo combinado), em seguida a prova de fogo, o jogo com os formados, também chamado de “Tira Medalha”, um verdadeiro desafio, onde os alunos formados antigos tentavam tirar a medalha dos formados com o pé, e assim manchar a dignidade e roupa impecavelmente branca. Itapoan descreve com muita propriedade, “O objetivo de formado antigo era tirar com um golpe aplicado com o pé, a Medalha do peito do formando, caso isso acontecesse, o aluno deixava de formar, o que era um vexame!”. Por isso o aluno jogava com todos os seus recursos, enfrentando um capoeirista malicioso e técnico até o momento que o Mestre apitasse para encerrar o jogo. Ai, o formado conferia se a medalha continuava presa ao peito, que alivio estava formado! Dando continuidade ao ritual de formatura acontecia as apresentações de maculelê, Samba de Roda, Samba Duro e Candomblé.
7- Lúna- A Lúna é uma marca registrada da Capoeira Regional de Mestre Bimba, é um toque de berimbau criado pelo Mestre, que era tocado no final das aulas ou em eventos especiais, uma toque onde só os alunos formados tinham acesso a roda, com a obrigatoriedade de realizar um “jogo de floreiro”, bonito, criativo, curtido, malicioso e que deveria ter movimentos de projeção. Este jogo suscitava muita admiração e emoção.
8- Curso de Especialização – Este era um curso secreto onde só poderia participar os alunos formados por Mestre Bimba. Tinha como objetivo a aprimoramento da capoeira, com uma ênfase para os ensinamentos de defesa e contra – ataque de golpes advindos de um adversário portanto armas como: navalha, faca, canivete, porrete, facão e até armas de fogo. Sua duração era de três meses divididos em dois módulos, o primeiro com a duração de sessenta dias e era desenvolvido dentro da academia através de uma estratégia de ensino muito peculiar do Mestre. O segundo com duração de 30 dias e era realizada na Chapada do Rio Vermelho, tinha como conteúdo às “emboscadas” a qual Itapoan assim se refere “Uma verdadeira guerra, verdadeiro treinamento de guerrilhas. Bimba colocava quatro a cinco alunos para pegar um de emboscada. O aluno que tivesse sozinho, tinha que lutar até quando pudesse e depois correr, saber correr, correr para o lugar certo”. Ao final do curso o Mestre Bimba fazia uma festa aos moldes da formatura e entregava aos concluintes um “lenço Vermelho” que correspondia a uma titulação de Graduação dos Formados Especializados.
9- Músicas- Podemos dividir em duas partes – a primeira referente aos toques de Berimbau, São Bento Grande, Santa Maria, Banguela, Amazonas, Cavalaria Idalina e Lúna. A rigor cada toque tem um significado e representa um estilo de jogo. São Bento Grande é um toque que tem ritmo agressivo, indica um jogo alto com golpes aprimorados e bem objetivos, um “jogo duro”. A Banguela é um toque que chama para um jogo compassado, curtido, malicioso e floreado. Cavalaria é o toque de aviso, chama a atenção dos capoeiristas que chegou estranhos na roda, outrora avisava da aproximação de policias. Lúna é um toque espacial para os alunos formados por Mestre Bimba, incita um jogo amistoso, curtindo, malicioso e com a obrigatoriedade do esquete. Santa Maria, Amazonas e Idalina são toques d3e apresentação. A segunda referência é sobre as musicas- quadras e corrido. As quadras são pequenas ladainhas com versos compostos de 4 a 6 linhas. O corrido são cantigas com frases curtas que é retido pelo coro.
10- Principais Mestres- Existem hoje muitos Mestres que se dedicam ao ensino da Capoeira Regional. Porém, vamos nomeá-los inicialmente os alunos de Mestre Bimba que estão atuando na capoeira, seja ministrando aulas ou mesmo trabalhando com pesquisas e difusão da Capoeira Regional. Segue a relação nominal e os respectivos “nome de guerra”adquirido no batismo da capoeira.
Resumo Biográfico de Mestre Pastinha.
Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 1889, filho do espanhol José Señor Pastinha e de Dona Maria Eugenia Ferreira. Seu pai era um comerciante, dono de um pequeno armazém no centro histórico de salvador e sua mãe, com a qual ele teve pouco contato, era uma negra natural de Santo Amaro da Purificação e que vivia de vender acarajé e de lavar roupa para famílias mais abastadas da capital baiana.
Menino ainda, Pastinha conheceu a arte da capoeira com apenas 8 anos idade, quando um africano que chamava carinhosamente de Tio Benedito, ao ver o menino pequeno e magrelo apanhar de um garoto mais velho resolveu ensinar-lhe a arte da capoeira. Durante três anos, Pastinha passou tardes inteiras num velho sobrado da rua do Tijolo em Salvador, treinando golpes com meia lua, rasteira, rabo de arraia e outros. Ali ele aprendeu a jogar com a vida e a ser um vencedor.
Viveu uma infância feliz, porém, modesta. Durante as manhãs freqüentava aulas no Liceu de Artes e Ofício, onde também aprendeu pintura. Á tarde, empinava pipa e jogava capoeira. Aos treze anos era o moleque mais respeitado e temido do bairro. Mais tarde, foi matriculado na Escola de Aprendiz Marinheiros por seu pai, que não concordava muito com a vadiagem do moleque. Conheceu os segredos do mar e ensinou aos colegas as manhas da capoeira.
Aos 21 anos voltou para o centro histórico, deixando a Marinha para se dedicar à pintura e exercer o ofício de profissional. Suas horas de folga eram dedicadas à prática da capoeira, cujos treinos eram feitos às escondidas, pois no início do século esta luta era crime previsto no código penal da república.
Em fevereiro de 1941, fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, no casarão número 19 do largo do Pelourinho. Esta foi a sua primeira academia – escola de capoeira. Disciplina e organização eram regras básicas na escola de Pastinha e seus alunos sempre usavam calças pretas e camisas amarelas, cores do Ypiranga Futebol Clube, time do coração de Pastinha.
Mestre Pastinha viajou boa parte do mundo levando a capoeira para representar o Brasil em vários festivais de arte negra. Ele usava todos os seus talentos para valorizar a arte da capoeira. Fazia versos e chegou a escrever um livro, Capoeira Angola, publicado em 1964, pela Gráfica Loreto.
Pastinha trabalhou muito em prol da capoeira, divulgou a arte o quanto lhe foi possível e foi reconhecido por muitos famosos que se maravilharam com suas exibições.
Aos 84 anos e muito debilitado fisicamente, deixou a antiga sede da academia para morar num quartinho velho do Pelourinho, com sua segunda esposa, Dona Maria Romélia e a única renda financeira que tinha era a das vendas dos acarajés que sua esposa vendia. No dia 12 de abril de 1981, Pastinha participou do último jogo de sua vida. Desta vez, com a própria morte. Ele, que tantas vezes jogou com a vida, acabou derrotado pela doença e pela miséria. Morreu aos 92 anos, cego e paralítico, no abrigo D. Pedro II, em Salvador.Morreu Mestre Pastinha numa sexta- feira, 13 de novembro de 1981, vitima de uma parada cardíaca que, no estado frágil em que se encontra, foi fatal.Pequeno e notável em sua arte, Pastinha nos deixou seus ensinamentos de vida em muitas mensagens fortes e inesquecíveis como esta:
“NINGUÉM PODE MOSTRAR TUDO O QUE TEM AS ENTREGAS E REVELAÇÕES, TÊM QUE SER FEITAS AOS POUCOS. HÁ MOMENTOS QUE NÃO PODE SER DIVIDIDOS COM NINGUÉM E NESTES MOMENTOS EXISTEM SEGREDOS QUE NÃO PODEM SER CONTADOS A TODAS AS PESSOAS.”
Mestre Pastinha 10/10/80
CAPOEIRA ATUAL
Já ouvimos falar sobre capoeira estilizada, capoeira regional e capoeira de angola. Percebemos que no começo da história capoeirística havia apenas a capoeira sem diferenciações e depois apareceu alguns estilos, os quais conhecemos hoje.
O mundo é dinâmico e está sujeito a transformações e aprimoramento das suas criações. É o sentido da vida. Hoje já ouvimos falar em copobox, capojitsu e alguns outros estilos que misturam a capoeira e outras lutas. Apesar de estarmos cientes do dinamismo das coisas existem artes que se forem modificadas suas raízes será modificada a arte em si. É o caso das artes marciais orientais que perduram há séculos no mundo, das massagens como o do-in que existe a séculos e pode-se dizer que da capoeira também. Se modificarmos suas origens, se tirarmos dela sua essência deixará de ser capoeira para tornar-se algum outro tipo de arte, luta ou dança. A capoeira é uma manifestação de culturas na qual se modificarmos sua linearidade estaremos negando as culturas pertencentes a esta, estaremos negando sua história, seus valores, sua arte, estaremos abrindo mão de um livro de nossa história. (um dos mais importantes) escrito sem páginas… ou seja que foi transmitido através das gerações. Devemos manter suas raízes, sua essência, podemos claro, adicionar-lhe novas técnicas sem no entanto alterar o seu básico.
Não podemos esquecer que nós fomos feitos de “sangue e suor repleto de amor e magia…” que nossos antepassados “nasceram num cantinho do inferno o qual todos chamam senzala…” e no dia em que negarmos as raízes da capoeira, estaremos negando nossos antepassados e tudo o que há ao nosso redor.
O MACULELÊ
Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, cidade marcada pelo verde dos canaviais, e terra rica em manifestações da cultura popular de herança africana. Berço da capoeira baiana, foi também o palco de surgimento do Maculelê, dança de forte expressão dramática, destinada a participantes do sexo masculino, que dançam em grupo, batendo as grimas (bastões) ao ritmo dos atabaques e ao som de cânticos em dialetos africanos ou em linguagem popular. Era o ponto alto dos folguedos populares, nas celebrações profanas locais, comemorativas do dia de Nossa Senhora da Purificação (2 de fevereiro), a santa padroeira da cidade. Dentre todos os folguedos de Santo Amaro, o Maculelê era o mais contagiante, pelo ritmo vibrante e riqueza de cores.
Sua origem, porém como aliás ocorre em relação a toda as manifestações folclóricas de matriz africana, é obscura e desconhecida. Acredita-se que seja um ato popular de origem africana que teria florescido no século XVIII nos canaviais de Santo Amaro, e que passara a integrar as comemorações locais. Há quem sustente, no entanto, que o maculelê tem também raízes indígenas, sendo então de origem afro-indígena. Conta a lenda que a encenação do Maculelê baseia-se em um episódio épico ocorrido numa aldeia primitiva do reino de lorubá, em que, certa vez, saíram todos juntos os guerreiros para caçar, permanecendo na aldeia apenas 22 homens, na maioria idosos, junto das mulheres e crianças. Disso aproveito-se uma tribo inimiga para atacar, com maior número de guerreiros. Os 22 homens remanescentes teriam então se armado de curtos bastões de pau e enfrentando os invasores, demonstrando tanta coragem que conseguiram pó-los em denbadada. Quando retornaram os outros guerreiros, tomaram conhecimento do corrido e promoveram grande festa, na qual os 22 homens demonstraram a forma pela qual combateram os invasores. O episódio passou então a ser comemorado freqüentemente pelos membros da tribo, enriquecido com a música característica e movimentos corporais peculiares. A dança seria uma homenagem à coragem daqueles bravos guerreiros.
No início deste século (xx), com a morte dos grandes mestres do Maculelê de Santo Amaro da Purificação, o folguedo deixou de constar, por muitos anos, das festas da padroeira.Até que, em 1943, apareceu um novo mestre – Paulino Aluísio de Andrade, conhecido como Popó do Maculelê, considerado por muitos como o “pai do Maculelê no Brasil”. Mestre Popó reuniu parentes e amigos, a quem ensinou a dança baseando-se em suas lembranças, pretendendo incluí-la novamente nas festas religiosas locais. Formou um grupo, o “Conjunto de Maculelê de Santo Amaro”, que ficou muito conhecido.
É nos estudos desenvolvidos por Manoel Querino (1851-1923) que se encontram indicações de que o Maculelê seria um fragmento do Curumbi, dança dramática em que os negros batiam roletes de madeira, acompanhados por contos. Luís da Câmara Cascudo, em seu “Dicionário do Flocore Brasileiro”, aponta a semelhança do Maculelê com os Congos e Moçambiques.Deve-se citar também o livro de Emília Biancardi, “Olelê Maculelê”, dos mais completos estudos sobre o assunto.
Hoje em dia, o Maculelê se encontra integrado na relação de atividades folclóricos, colégios e universidades. Contudo, convém registrar as observações feitas por Augusto José Fascio Lopes, o mestre Baiano Anzol, ex-aluno do mestre Bimba e professor de capoeira na Universidade federal do Rio de Janeiro: “…neste trabalho de disseminação, o Maculelê, vem sofrendo profundas alterações em sua coreografia e indumentária, cujo resultado reverte em uma descaracterização. Exemplo: o que era originalmente apresentado como uma dança coreografada em círculo, com uma dupla de figurantes movimentando-se no seu interior sob o comando do mestre do Maculelê, foi substituído por uma dupla entrada em fila indiana com as duplas dançando isoladamente e não tendo mais o comando do mestre. O gingado quebrado, voltado para o frevo, foi substituído por uma ginga dura, de pouco molejo.
“Mais recentemente, faz-se a apresentação sem entrada em fila. Cada figurante posta-se isoladamente, sem compor os pares, e realiza movimentos em separados, mais nos moldes de uma aula comum de ginástica do que de uma apresentação folclórica requintada.
“Deve-se reconhecer que não só o Maculelê mas todas as demais manifestações populares vivas ficam sempre muito expostas a modificações ao longo do tempo e com o passar dos anos. (…) Entendo que todas essas modificações devam ficar registradas, para permitir que os pesquisadores, no futuro, possam estudar as transformações sofridas e também para orientar melhor aqueles que vierem a praticar esse folguedo popular de extrema riqueza plástica, rítmica que é o Maculelê”.
INSTRUMENTOS
BERIMBAU- O berimbau originou-se da harpa, existindo a mais ou menos quatro anos mil anos AC. Possui apenas uma corda (arame), que segura uma madeira (Biriba), uma cabaça, um caxixi (chocalho artesanal), uma vareta (baqueta) e uma pedra ou dobrão (moeda de cobre). Possivelmente originário do Egito ou do Sul da Índia. Sendo seu emprego inicial totalmente desconhecido, usado por mendigos para pedir esmolas e por mercadores para chamar atenção dos fregueses. Não se sabe como foi introduzido na Capoeira.Na grande maioria, as rodas de capoeira são usados três berimbaus: Gunga, médio e viola; O gunga serve para puxar o toque, o médio acompanhada e em caso de quebra de um dos berimbaus e o viola serve para dobrar. Deste modo a roda não pára, tem continuidade normal.
PADEIRO – Instrumento de percussão, composto de um arco circular de madeira, guarnecido de soalhas, e sobre o qual se estica uma pelo, preferencialmente de cabra ou bode, e que se tange batendo com a mão, com os cotovelos, nos joelhos e até nos pés. Ainda é controvertida a sua origem, segundo alguns autores, ele esta incluído entre os instrumentos antigos, sendo usado também em cerimônias religiosas.
ATABAQUE- Tambor primário, feito com pele de animal distendida em uma estrutura de madeira com formato de cone vazado nas extremidades. Percutido com as mãos, usando nas danças religiosas e populares de origem africana. O termo atabaque é de origem árabe. O atabaque é um instrumento oriental muito antigo entre os Persas e os Árabes. O atabaque chegou ao Brasil através dos portugueses, para ser usado em festas e procissões religiosas. 3 tipos: RUM = GRAVE; RUMPI = MÉDIO; LÊ = AGUDO. É o instrumento sagrado do candomblé, também usado na Capoeira Angola e grupos folclóricos.
AGOGÔ- Instrumento de percussão de origem africana, que significa “sino” em língua nagô. Constituído por duas campânulas de ferro, o qual se percute com uma vareta do mesmo metal, e é usado particularmente nos candomblés, baterias de escola de samba, maracatu, conjuntos musicais…(além de grupos folclóricos)
RECO-RECO- Instrumento de percussão, feito de bambu ou madeira, no qual abrem-se rasgos transversais, onde se passa uma vareta de madeira fazendo um som rasgante.