Rede de Comunicadores Solidários a Criança

Há um ano, a Pastoral da Criança, organismo de ação social da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com sede em Curitiba, passou a adotar
softwares livres em seu sistema. De 300 computadores rodando em Linux, agentes
voluntários transmitem dados de 35 mil comunidades carentes espalhadas em 4
mil municípios de todo o Brasil, além da sede da instituição em Angola, onde o
software livre também está sendo implantado, formando a maior rede comunitária
do mundo. No total, são 350 milhões de registros computados por trimestre –
entre planilhas de acompanhamento de crianças, dados de ações básicas de
saúde, balanços gerais, etc. – que são captados pelos computadores em todo o
Brasil e que guiam as ações da entidade em termos regionais.

Rodando com servidores Linux, banco de dados Postgresql, linguagem PHP e
distribuição Debian, a instalação do sistema (da compra de máquinas ao
desenvolvimento dos programas) foi financiada pelo governo federal, através do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – total de R$ 1,6
milhão -, e conta com a assessoria técnica de estudantes do curso de
Bacharelado em Ciência da Computação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Desse total, a Pastoral gastaria um montante de R$ 200 mil somente na compra
de licenças, caso a opção fosse por softwares proprietários. “Além de gastar
esse valor alto para nossos padrões, teríamos que criar uma estrutura muito
mais robusta para atualizar os softwares”, comenta Leandro Wistuba, analista
de sistemas da Pastoral da Criança.
Fora o lado financeiro, Wistuba aponta a flexibilidade em se trabalhar com
programas open source como outro fator decisivo na escolha. Ainda mais no caso
da Pastoral. Por lidar com pessoas carentes, de baixa renda e, principalmente,
de pouca instrução, os programas deveriam ter o manuseio o mais facilitado
possível. Ou seja, nada que pudesse confundir os usuários, que muito pouco ou
nada conhecem de informática. Isso só foi possível graças ao desenvolvimento
de um software mais simples, voltado para as pessoas assistidas pela Pastoral.
“Dar um CD usual de instalação para essa gente é como dar um livro para um
analfabeto”, compara Wistuba. Para contornar essa situação, técnicos da
Pastoral da Criança desenvolveram um programa de funcionamento simples, cuja
instalação e configuração são totalmente automáticas. Mesmo assim, 500
representantes das coordenações estaduais da Pastoral foram treinados para
utilizar o software. No total, o processo de treinamento levou quatro meses.
Segurança – De acordo com o assessor técnico da Pastoral da Criança, Renato
Kajita, o Linux se mostrou também uma alternativa segura para todo o sistema.
O programa desenvolvido não permite a instalação de outros softwares que não o
desenvolvido pela Pastoral. “Desta forma, o computador serve à causa da
Pastoral e não a interesses individuais, com pessoas instalando jogos e outros
softwares”, argumenta.
O bloqueio a outros tipos de softwares também combate a pirataria. Como muitos
dos computadores estão instalados em regiões distantes, de difícil acesso,
auditorias para fiscalizar a instalação de softwares piratas são praticamente
impossíveis. “Em algumas regiões amazônicas onde esses computadores estão,
leva-se de 10 a 15 dias para se chegar, já que o barco é o único meio de
transporte”, ilustra Kajita.
A instalação dos computadores rodando em Linux trouxe também maior agilidade
aos procedimentos da Pastoral da Criança. A partir deles, a transmissão de
dados, que antes levava de 30 a 60 dias, passou a ser automática. Tudo porque
o sistema eliminou uma boa parte de informações enviadas pelo correio. Segundo
Kajita, a Pastoral ainda não possui um levantamento conciso de quanto isso
representou de economia com gastos de papel e tarifas de correspondência.
Entretanto, os resultados estão aparecendo a cada dia. “Através de qualquer
computador, os voluntários podem interagir imediatamente”, aponta.
Parcerias – Para atender à demanda, a Pastoral trabalhará em parceria com a
UFPR. Dez alunos do curso de Ciência da Computação e mais três professores
auxiliaram na configuração do CD no sistema, bem como no desenvolvimento de
aplicativos de coleta de informações.
Conforme explica o professor Roberto Hexsel, responsável da UFPR pela
parceria, a partir de agora, o departamento de Informática da universidade
ficará responsável pelo levantamento das demandas computacionais e pela
especificação dos PCs, além da concepção do sistema, escolha de aplicativos,
entre outras funções. “A principal importãncia em se integrar alunos nessa
parceria é o aprendizado que eles adquirem”, argumenta o professor Hexsel.
Pastoral é indicada ao Nobel da Paz – Em 2003, a Pastoral da Criança,
presidida pela médica Zilda Arns, estará concorrendo ao Prêmio Nobel da Paz.
Graças a suas ações educacionais, que atendem a 72 mil gestantes e 1,5 milhão
de crianças de todo o Brasil e de mais 14 países da América Latina, África e
Ásia, o governo federal indicou a Pastoral para concorrer ao prêmio pela
terceira vez. Todo o trabalho da entidade é feito por 150 mil voluntários das
próprias comunidades carentes, que são capacitados a atuarem com ações
educacionais no combate à desnutrição e à mortalidade infantil. Sempre focadas
na família, especialmente nas mães, as ações levam noções básicas de saúde;
nutrição, educação e cidadania às pessoas carentes, como o estímulo ao
aleitamento materno, controle de doenças respiratórias e diarréia,
identificação de desnutrição, alternativas alimentares, entre outras.
Entre as 1,5 milhão de crianças assistidas, a Pastoral alcançou a redução de
6% no índice de desnutrição. Além disso, enquanto a taxa de mortalidade
infantil no país, medida pelo senso do IBGE em 2000, é de 29,6 á cada mil
crianças nascidas, a das crianças atendidas pela Pastoral fica em 14 por mil –
redução de 47%. Para saber mais, acesse o site www.pastoraldacrianca.org br.

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