PESQUISADORES DA UESC MISTURAM PIAÇAVA COM PLÁSTICO

A Piaçava poderá deixar de ser apenas uma palmeira cujas fibras são utilizadas
para confecção de vassouras e coberturas rústicas de cabanas de praia. Um
grupo de pesquisadores da Uesc (Universidade Estadual de Santa Cruz),
liderados pelos professores Luís Ernesto Roca Bruno e Evandro Sena Freire, do
Departamento de Ciência Exatas e Tecnológicas, está realizando o mapeamento da
cadeia produtiva da piaçava, no sul da Bahia.

Além de contribuir para o melhoramento da produtividade e da qualidade, o
Grupo de Fibras Naturais da Uesc (GPFIN) está mesclando as fibras de piaçava
(Ataleia funifera) com plásticos reciclados ou não, para produzir compósitos
poliméricos. No Sul da Bahia e no Recôncavo Baiano (na área de abrangência da
Uesc), se encontram as melhores fibras de piaçava (propriedades mecânicas) que
existem no País as quais estão inseridas na cadeia produtiva do cacau. Foi a
partir daí, que os pesquisadores resolveram mapeá-la, inicialmente, para
conhecer melhor as áreas produtivas, quantidade de fibras extraídas, e numa
segunda etapa poder contribuir com as micros e pequenas empresas instaladas
nas áreas detectadas ao melhoramento da extração/qualidade para obter maior
produtividade dessas fibras preservando a piaçaveira.
Luís Ernesto é Engenheiro de Materiais, com especialidade em plásticos, e
Evandro Sena, Engenheiro Agrícola. Os dois tinham consciência da dimensão do
projeto e a necessidade de interagir com várias áreas. Hoje o grupo está
composto pelos professores e pesquisadores Nestor Santos Correia (físico),
Roberto Carlos Felício (químico), Maurício Santana Moreau (agrônomo), Luiz
Alberto Mattos Silva (botânico), Renê Alberto Giampetro (químico), Neurivaldo
José de Guzzi Filho (químico) e Jonas de Souza (pesquisador Ceplac).
Segundo Luís Ernesto, já existem estudos sobre o aproveitamento de outras
fibras naturais com os plásticos, porém este grupo é pioneiro utilizando a
fibra da piaçava para esta finalidade. A mescla desses dois materiais, fibra
natural e plástico, resulta num produto que na comunidade científica são
chamados de compósitos poliméricos. “Nós acreditamos que este estudo venha a
ser muito interessante para esta região e para o País”, afirma.
A produção da fibra da piaçava da região sul da Bahia basicamente é produto de
exportação como matéria-prima bruta, e o seu aproveitamento nacional, entre
outros, é a confecção de vassouras. A manufatura da vassoura gera um
desperdício no aparamento das extremidades do molho de piaçava de
aproximadamente 15 centímetros de cada lado. Estas e outras perdas que são
jogadas fora também serão aproveitadas na mistura com os plásticos.
Acústico e térmico – De acordo com os professores, as fibras naturais
apresentam boas propriedades térmicas e acústicas prevalecendo essas mesas
características nos compósitos poliméricos. Existe uma tendência mundial para
a utilização desses materiais no revestimento interno de veículos. A Mercedes
Benz já usa material semelhante a partir de outras fibras naturais desde 1995
na produção de encostos de bancos, pára-sol e apoio de cabeça nos seus
caminhões. A Wolkswagen também aderiu a essa tendência no seu novo carro
chamado de “Tupi”.
Além das vantagens econômicas o projeto visa a preservação das áreas da Mata
Atlântica onde se encontram extrativamente as palmeiras Ataleia funifera. Os
professores explicam que são dois projetos paralelos: um analisa toda a cadeia
produtiva da piaçava no campo e o outro prepara compósitos poliméricos.
Tratando-se de uma área nova, a Uesc, através dos seus pesquisadores, vem
estabelecendo parcerias com outros centros de excelência como as Universidades
Federal de São Carlos e Mackenzie, a Ceplac e a empresa Poli-Brasil.

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