Produção de chocolate inspira novo roteiro turístico na terra do cacau

Cenário de praias exuberantes, trechos de Mata Atlântica, cachoeiras e de rica produção literária, histórica e cultural, o sul da Bahia ganhará brevemente mais uma atração turística, com a criação do roteiro “Estrada do Chocolate”, projeto desenvolvido conjuntamente pela Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (Setur) e as prefeituras de Ilhéus e de Uruçuca. O novo itinerário será instalado na rodovia BA-262, que liga os municípios de Ilhéus e Uruçuca, com o intuito de transformar o patrimônio herdado da lavoura cacaueira em mais um atrativo para os milhares de visitantes que chegam a Ilhéus e outras cidades da região durante todo o ano.

O potencial turístico preservado no entorno da “Estrada do Chocolate” ganhou holofotes graças à diversificação experimentada nos últimos anos pelos cacauicultores da região, que apostam na fabricação de chocolate fino – ou gourmet como definem alguns – para contornar as dificuldades que atingem a produção e comercialização de amêndoas de cacau. Incipiente mas promissora, a nova atividade é fruto da busca de alternativas dos produtores para a crise que compromete o cultivo de cacau na região desde a chegada da vassoura-de-bruxa, no final da década de 1980.

Informação e capacitação – O secretário de Turismo de Ilhéus, Alcides Kruschewsky, ressalta que a iniciativa da criação da “Estrada do Chocolate” é capitaneada pela Setur, que planeja investir em dois portais de informações turísticas na rodovia Ilhéus-Uruçuca e já contratou uma empresa para instalar a sinalização em todo o percurso. “A empresa é a TTC Soluções em Mobilidade, que concluiu a etapa de vistoria e agora coleta dados para completar o trabalho”. Também ficará a cargo da Setur a capacitação empresarial dos produtores de cacau envolvidos no projeto.

Kruschewsky adianta que na segunda quinzena de julho próximo será realizado um encontro entre o prefeito de Ilhéus, Jabes Ribeiro, a prefeita de Uruçuca, Fernanda Silva, e representantes do Governo do Estado para apresentação do roteiro “Estrada do Chocolate”. Em seguida, serão reunidos os empresários que participarão do projeto para a definição de uma agenda comum de trabalho. “Além do empenho pessoal do secretário estadual de Turismo, Domingos Leonelli, entusiasta do projeto, contamos agora com a participação do secretário de Agricultura da Bahia, Eduardo Salles, que se propõe a apoiar a criação de um moderno e interativo museu do cacau no novo roteiro”, ressalva o secretário ilheense.

A proposta de criação do novo roteiro turístico é do presidente da Associação de Turismo de Ilhéus (Atil), Marco Lessa, anunciada em janeiro deste ano, logo após sua posse no cargo. Foi sua a ideia de trazer Domingos Leonelli à região, ganhando do secretário estadual de turismo apoio imediato para o projeto. Lessa é também o idealizador do Festival Internacional do Chocolate, que chega este ano a sua quinta edição, com programação anunciada para o período de 3 a 7 de julho, no Centro de Convenções de Ilhéus e consolidado como um dos grandes eventos do turismo baiano, com uma média de visitação de 30 mil pessoas por temporada.

Acervos natural e histórico – Com 42 quilômetros de extensão, a rodovia Ilhéus-Uruçuca é cercada por antigas fazendas de cacau, entre elas a Renascer, Provisão e Riachuelo, e sítios históricos como o Rio do Braço e as ruinas da estrada de ferro que impulsionou a região no auge da produção cacaueira. O novo roteiro turístico integrará também as fábricas de processamento de amêndoas de cacau instaladas no Distrito Industrial de Ilhéus, a unidade de produção de mudas do Instituto Biofábrica de Cacau, o campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFBA) de Uruçuca, além de outros valiosos patrimônios históricos e culturais resguardados na sua extensão.

As roças de cacau-cabruca, “sistema ecológico de cultivo agroflorestal”, conforme definição do engenheiro agrônomo da Ceplac, Dan Érico Lobão, e fragmentos de Mata Atlântica farão parte do novo roteiro. Para ilustrar a riqueza natural que a região guarda, o pesquisador informa em artigo publicado no site da instituição – www.ceplac.gov.br – que “estudos e levantamentos realizados na Região Cacaueira da Bahia dão uma ideia geral sobre sua diversidade, biometria e composição florestal. Em Serra Grande, distrito de Uruçuca, foram identificadas 458 espécies lenhosas em apenas um hectare. Existem fragmentos florestais com exemplares arbóreos medindo mais de 40 metros de altura.”

Para quem desejar conhecer as fazendas da região antes mesmo da criação da “Estrada do Chocolate”, a Fazenda Provisão, localizada à margem da BA-262, oferece ao visitante um lindo cenário, com barcaças de secagem do cacau, capela e o Rio Almada, que passa em toda a extensão da propriedade. A casa, em estilo colonial, abriga um museu com objetos que pertenceram ao primeiro intendente de Ilhéus, coronel Domingos Adami. Na Fazenda Riachuelo, que fica a 20 quilômetros do centro de Ilhéus, o turista conhece tudo sobre cacau, desde a produção, pesquisa até a fabricação de chocolate.

Segundo Alcides Kruschewsky, a antiga Fazenda Mucambo será transformada em hotel, para fomentar o fluxo de visitantes no novo roteiro da estrada Ilhéus-Uruçuca. “A proposta é explorar todo o potencial histórico e cultural que permeia a região do eldorado do cacau”, justifica o secretário, referindo-se ao histórico de riqueza gerado pela lavoura cacaueira no século passado.

 

Produtores confiam no cooperativismo 
para impulsionar ciclo do chocolate

 

Para o presidente da Cooperativa Agroindustrial de Cacau e Chocolate (APC Cooperativa), José Carlos Maltez de Souza Bastos, a lavoura cacaueira que projetou o sul da Bahia no Brasil e no mundo ainda hoje é considerada a locomotiva da economia regional. Animados com as perspectivas que vislumbram a partir da fabricação de chocolate fino, os 50 produtores que integram a cooperativa pretendem produzir 500 quilos do produto por dia em futuro próximo.

A APC Cooperativa, que reúne produtores dos municípios de Ilhéus, Itabuna, Uruçuca, Ubaitaba, Itacaré, Itajuípe, Coaraci e Camacan, planeja realizar ações conjuntas com órgãos como a Ceplac e CAR – Companhia de Desenvolvimento e Ações Regionais da Bahia, para aquisição de equipamentos que incrementem a produção. “Isoladamente, o produtor de chocolate tem poucas chances de se manter neste mercado, que é altamente competitivo, por isso enxergamos o cooperativismo como o caminho mais viável para concretizarmos a antiga aspiração dos cacauicultores, que é a verticalização da produção”, ressalva Maltez.

O presidente da APC Cooperativa aplaude a iniciativa do roteiro turístico em torno do tema chocolate. “Mas o produtor pode, e deve, utilizar todo o potencial de comercialização do cacau, fabricando e oferecendo ao visitantes outros itens além do chocolate, como geleia, licor, doces, biscoitos, cocadas, vinho, vinagre, enfim, uma série de artigos que atraiam o interesse turístico e contribuam para a geração de renda”, sugere.

 

 

 

O universo mágico e rentável do chocolate

 

Amargo, meio amargo, branco, com frutas, amêndoas, licor ou conhaque. Em forma de coração, de flor, de bichinhos e com vários outros formatos, quente ou gelado, há várias maneiras de penetrar no mágico e rentável mundo do chocolate. A mistura da amêndoa do cacau, com leite e açúcar resulta, sem dúvida, em uma das mais cobiçadas guloseimas do mundo, que traz em si narrativas culturais e econômicas, histórias de amor e uma série de contribuições para o metabolismo humano.        

Segundo pesquisas, comer chocolate faz bem para a saúde. O alimento considerado “o manjar dos deuses” aumenta os níveis de substância antioxidantes na corrente sanguínea, diminuindo o risco de doenças do coração e até mesmo de câncer. Além de proporcionar sensação de bem-estar, pois contém feniletilamina, substância estimulante, dopamina e a epinefrina, que atuam no cérebro promovendo a sensação de prazer e calma. Já o chocolate amargo tem maior porcentagem de cacau e, por isso, contém alto teor de flavonoides, antioxidantes que ajudam a reduzir os riscos de doenças cardiovasculares.

Tudo isso associado a um local com vasta riqueza natural, arquitetônica, literária e cultural é possível encontrar no sul da Bahia, em Ilhéus, onde a produção do chocolate é símbolo da recuperação da economia e ressignificação das fazendas do cacau.  A realização anual do Festival do Chocolate em Ilhéus, a participação da Bahia no Salão do Chocolate de Paris e, recentemente, o surgimento do Aleluia Ilhéus Festival, na Semana Santa, são indicativos de que o cacau baiano busca novos espaços de negócios para sobreviver.

Uma das mais tradicionais da cidade, a Fábrica de Chocolate Caseiro Ilhéus serve, em suas lojas, além do delicioso chocolate gelado, licores a base do produto. A recepcionista de vendas, Mira Gonçalves, destaca o licor da Gabriela, uma mistura de chocolate, cravo e canela como sucesso de vendas entre os turistas. “Além de agradar aos turistas, nessa época de São João ele é um dos mais vendidos”. O comprador pode ainda levar para casa o copo feito de chocolate como acompanhamento da bebida. Para quem deseja beber um saboroso chocolate quente, a Fábrica oferece a iguaria e um delicioso roteiro histórico. Criada através da visão empreendedora de Hans Schaeppi em 1985, o empreendimento foi a primeira fábrica de chocolates artesanais da Bahia e do Nordeste do país.

Outro investimento que se destaca na cidade são as bebidas quentes e frias feitas com chocolate. As irmãs paulista Adriana e Mariana Fricelli acreditaram no potencial de Ilhéus e abriram, no centro da cidade, a lanchonete Praça do Mestre, que tem como especialidade o Chocolate Especial preparado com chocolate derretido com o cappuccino. Outro destaque das irmãs é a venda de Milk Shakes, no Pontal. Adriana relata que em tempos de calor a preferência é pelos gelados Milk Shakes a base de chocolate, já no inverno os chocolates quentes são mais vendidos.

História – Os primeiros relatos sobre o chocolate datam do período em que os povos Maias e Astecas habitavam a América. Eles fabricavam uma bebida cobiçada, feita de sementes moídas de cacau, pimenta e outros condimentos. Oficialmente, o cultivo desta planta começou no Brasil em 1679, com a publicação de uma Carta Régia que autorizava os colonizadores a plantá-la em suas terras.

Em 1746, houve a primeira plantação de cacaueiro na Bahia, na fazenda Cubículo, às margens do rio Pardo, atual Município de Canavieiras. O responsável pelo plantio foi o colonizador Antonio Dias Ribeiro, que trouxe do Pará as sementes da nova cultura regional. No ano de 1752, o cacau chegou à cidade de Ilhéus, que se tornou o principal polo cacaueiro da Bahia, com o maior porto exportador do Brasil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *