A Economia do Ócio segundo o Marketing Multinível

 Por *Danilo Reis/photossíntese

Quem leu o livro “A Economia do Ócio”, organizado por Domenico de Masi, encontrou uma verdadeira crítica do “culto ao trabalho” instalado na cultura ocidental moderna, isto é, a visão do trabalho como uma virtude intrínseca, um bem, um fim em si mesmo. A ideia central do livro demonstra que o trabalho deve ser visto como um meio de se produzir os bens e serviços necessários para se obter um determinado patamar, equilibradamente distribuído na sociedade, de conforto material. Os verdadeiros fins da produção econômica são o consumo e o lazer, e não o trabalho e a produção. 

A obra não despreza a necessidade de trabalho e não afirma que não se deva produzir, mas considera que a perspectiva de pensamento do “culto ao trabalho” é errônea e alienante. O trabalho não pode ser a única vicissitude da vida como se prega na cultura capitalista. Não há extremismo no pensamento, ao contrário, entendo que há uma busca de equilíbrio, pois se o ser humano está feliz com o que trabalha e está produzindo o ócio será necessário para recarregar a suas energias e voltar a produzir com prazer.

A organização dos trabalhadores, as constantes conquistas nas negociações trabalhistas e a evolução da legislação trabalhista no mundo inteiro são historicamente visíveis, tendo como um dos benefícios mais urgentes a redução da jornada de trabalho. Assim, os trabalhadores passaram a ter um tempo menor dedicado à produção e a ociosidade conquistada deveria ter sido usada para a melhoria da qualidade de vida. Entretanto, como as necessidades humanas são ilimitadas estes acabam utilizando o tempo que deveria ser de ócio e dedicação familiar para trabalhar em outra atividade no intuito de gerar mais riqueza.

“Neste esquema não há produção, não há geração real de riqueza, portanto, não há sustentabilidade.”

Jensen e Meckling, em 1976, no estudo Theory of the Firm: Managerial Behavior, Agency Costs and Ownership Structure demonstram que o homem é um ser oportunista e que sempre agirá em interesse próprio, a fim de maximizar a sua utilidade individual. É aqui que entra o Marketing Multinível (MMN). “Não trabalhar mais”, “tenha ganhos sem sair de casa”, “recupere o seu investimento em dois meses”, “seja o próximo milionário”, são alguns dos slogans utilizados por empresas que utilizam a prática recentemente denominada de Marketing Multinível, nomenclatura usada para burlar o nome de Pirâmide Financeira, que é uma prática criminosa de marketing de rede.

Diante de uma “oportunidade” de não trabalhar e obter ganhos acima dos trabalhadores na ativa é que muitas pessoas tem embarcado nas empresas de MMN. Historicamente muita gente já perdeu dinheiro com este tipo de prática. Normalmente, ganha, temporariamente, quem está no topo da pirâmide.  

O mais famoso caso de esquema de pirâmide foi protagonizado por Charles Ponzi, autor de uma gigantesca fraude na década de 1920, a qual conseguiu ter maiores repercussões do que outras fraudes anteriores. Assim, o esquema de pirâmide passou a ser chamado de Esquema Ponzi. O Esquema Ponzi foi uma operação fraudulenta de investimento do tipo esquema em pirâmide, sofisticada para a época, que prometia pagamento de rendimentos vultosos aos investidores, às custas do dinheiro pago pelos investidores que chegarem posteriormente. Neste esquema não há produção, não há geração real de riqueza, portanto, não há sustentabilidade.

Essa promessa de ganho rápido e elevado tem levado diversos homens de bem a optar por este tipo de “investimento”. Tenho visto empresários vendendo suas empresas, trabalhadores pedindo licença sem remuneração do serviço público e pessoas tomando empréstimos para colocar nesse tipo de “negócio”. A grande maioria que tenho conversado tem o mesmo argumento: “não sei até quando vai durar, mas já recuperei o que coloquei”. E as pessoas que estão abaixo de você na rede não importam? O estudo de Jensen e Mecklin se confirma na prática, o homem é oportunista e age em interesse próprio. *Muitos comerciantes estão reclamando que o dinheiro deixou de circular no comércio. Muito recurso financeiro tem sido empregado em algo que os próprios “investidores” sabem que tem fim e sabem que o fim é trágico.

“Você que acaba entrando e precisa recuperar o seu dinheiro para não parecer um idiota que caiu em um golpe e acaba iludindo os seus familiares e amigos e os induz ao erro, também.”

É a degradação da sociedade, é a desarticulação da estrutura produtiva por uma falsa ilusão de ganhos proposta por oportunistas mal intencionados e que tem iludido Você. Você que quer ter a chance de viver em condição financeira melhor, Você que tem boa fé e não acredita que algo tão disponível não pode ser mentira, Você que acaba entrando e precisa recuperar o seu dinheiro para não parecer um idiota que caiu em um golpe e acaba iludindo os seus familiares e amigos e os induz ao erro, também.

A Economia do Ócio do livro organizado por Domenico de Masi nos leva a uma reflexão da melhor possibilidade de produção e melhoria da qualidade de vida do trabalhador, e Você é parte da solução. A Economia do Ócio impregnada pelo MMN nos leva a uma sociedade sem produção, sem escrúpulos, sem lisura, sem amor ao próximo, sem caridade, sem pessoas, sem possibilidade de continuidade… e Você é parte do problema.

*Danilo Reis é Economista, Professor de Finanças e Mestre em Contabilidade e Finanças e colunista do Photossintese.

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