Palestra sobre história do trio elétrico vira “grito” de carnaval em Ilhéus

A palestra sobre a história de 60 anos do trio elétrico com a banda Dodô & Osmar, realizada na noite de quinta-feira, no auditório da Faculdade de Ilhéus, transformou-se, ao final, numa grande festa de carnaval. Um dos filhos de Osmar, Aroldo Macedo, discorreu sobre a invenção da guitarra elétrica e do trio elétrico, sobre a importância desse fenômeno musical para a Bahia e o Brasil, e terminou o pocket-show levando ao delírio cerca de 500 pessoas que lotaram o auditório da Faculdade, entre alunos, professores, músicos locais e pessoas da comunidade em geral.

O evento faz parte da exposição ‘Corredor da História’ que está aberta à visitação pública no hall da Faculdade, na zonal sul de Ilhéus, desde a última quarta-feira. Através de banners ilustrados, instrumentos e outros objetos, a mostra oferece uma viagem no tempo desde a formação do conjunto musical Três e Meio, com Dodô, Reginaldo Silva (violonista) e Dorival Caymi, depois integrado por Osmar Macedo, aos 19 anos. A exposição fica aberta ao público até domingo, dia 3.

Segundo Macedo, naquela época – idos de 1942, os instrumentos eram acústicos e os instrumentos elétricos estavam chegando. “Omar era metalúrgico e Dodô era radiotécnico e, de repente, viu o violonista Benedito Chaves ao passar por Salvador, plugar o seu violão elétrico numa caixa de som amplificada. Ele copiou o captador e passou a usá-lo no cavaquinho e no violão. Por causa da caixa acústica dos instrumentos, ao aumentar o volume do som gerava microfonia. Ao abafar o bojo dos instrumentos com pano e papel, eles perceberam que diminuía a microfonia, mas não solucionava o problema por completo. Então, Osmar sugeriu que fosse utilizado um cepo maciço, e na oficina de seu Dodô, eles estenderam uma corda de violão sobre o cepo, com o captador embaixo, obtendo um som alto, puro e cristalino. Assim, começou a engenharia de criação da guitarra baiana, através do pau elétrico. Gente, a guitarra é uma criação baiana e brasileira”, afirmou o músico.

Dodô e Osmar foram os primeiros guitarristas elétricos do Brasil, e um dos primeiros do mundo. A partir daí, a “fóbica” levou o som da guitarra para o tradicional carnaval baiano e a história do carnaval de rua começou a mudar com a nova sonoridade do grupo. O trio elétrico se consolidou e provocou a maior democratização da música brasileira, haja vista que hoje praticamente todos os gêneros musicais utilizam o trio.

Os maiores impulsos para o sucesso do trio elétrico foram dados pelo patrocínio do refrigerante Fratelli Vita, pelo surgimento do cantor de trio, através de Moraes Moreira, e pelo cantor Caetano Veloso que, em 1969, compôs “Atrás do Trio Elétrico”, dando um recheio no movimento tropicalista. Durante alguns anos, Dodô e Osmar desistiram do trio, mas, logo depois, criaram o primeiro mini-trio para os filhos de Osmar, que deram prosseguimento à saga do trio elétrico. Os inventores Dodô e Osmar foram posteriormente reconhecidos pelo Governo Federal, que os outorgou a Medalha da Ordem do Mérito Cultural Gran-Cruz, maior comenda do governo brasileiro concedida a personalidades e instituições por contribuições à cultura nacional e mundial, a exemplo também de Villa Lobos, Luiz Gonzaga, Oscar Niemayer, entre outros.

Itabuna e Ilhéus – Aroldo Macedo contou também que as únicas vezes em que o trio Dodô & Osmar deixou de tocar no carnaval de Salvador, aconteceu em 1982, quando veio para Itabuna, na gestão de Fernando Gomes, e em 1984, em Ilhéus, no primeiro mandato do então prefeito Jabes Ribeiro. Atualmente, a banda participa de diversos projetos sociais, mantém uma escola de música com 60 crianças, faz shows e palestras no Estado e no País, com o objetivo de manter viva a história do trio elétrico. A exposição ‘Corredor da História’ é patrocinada pela Bahiagás, através do FazCultura, programa  do Governo do Estado da Bahia.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *