Uma semana da criança com uma programação baseada em atividades
sócio-educacionais. Esta é a proposta do Instituto Arapyaú, que há dez meses
desenvolve em Serra Grande, no município de Uruçuca, no sul da Bahia, o Vila
Aprendiz. Um movimento que vem promovendo uma grande interação entre
crianças, jovens, escola e comunidade. Entre os dias 5 a 12 de Outubro será
realizado o I Festival da Vila Aprendiz, uma culminância do movimento em
prol da infância e juventude de Serra Grande que contará com várias
ações lúdicas e educativas, entre elas: esportes, música, culinária, artes e
teatro, irão compor a programação desse esse evento.
Cercado pela natureza, Serra Grande é muito mais do que um lugar bonito para
viver ou visitar. É um espaço para oportunidades educacionais. Através da
parceria entre a Escola Municipal Eliés Haun e o Instituto Arapyaú surgiu o
Vila Aprendiz, que vem ampliando o espaço escolar e invadindo praças, ruas,
sítios e toda a vizinhança. Qualquer lugar pode virar sala de aula. Lara e
Dona Gura emprestam suas cozinhas para a aula de matemática e de leitura. Ao
mesmo tempo em que as crianças aprendem a fazer pizza e pão integral, as
professoras falam sobre cálculos e incentivam a leitura de receitas.* *
Uma outra parceria acontece na fazenda São Pedro, onde as crianças vão uma
vez por semana e participam de um circuito de atividades pedagógicas. É uma
festa e uma lição de cidadania. Aqui elas tem noções de música, consciência
corporal, responsabilidade e respeito aos colegas. Numa simples brincadeira
de pular corda elas desenvolvem a coordenação motora e aprendem a contar.
“Meu filho sempre se queixou que se sentia preso na sala de aula. Foi então
que conheci o Vila Aprendiz e resolvemos, com toda a família, que seria
importante abrir a nossa fazenda para que as crianças tivessem espaço para
outras atividades. Está valendo a pena”, Garantiu Iracema da Silva, dona de
casa e mãe de Gustavo que está no 1º ano.
O Vila Aprendiz é uma proposta pioneira de educação no sul da Bahia porque
aposta alto na integração com a comunidade e faz com que os educadores e os
alunos vejam o lugar onde moram como uma grande sala de aula e passam a
utilizar os espaços para a aquisição de conhecimentos. “O projeto vem nos
ajudando muito. Vimos que é importante que as crianças saíam da sala de aula
e se aproximem da comunidade. O *que elas *aprendem fora da classe também
vira conhecimento aqui na sala de aula”, diz a professora Silvani Dantas
Pimenta.
A Coordenadora do projeto, Valerie Nicollier, diz que o objetivo é
transformar Serra Grande numa “comunidade aprendente”: “ Todos acabam
aprendendo uns com os outros e isso é muito enriquecedor. Temos várias
parcerias com os moradores locais que abrem suas casas, seus espaços para
que nossas crianças e jovens possam ter um aprendizado com mais qualidade”,
disse.
As portas da escola se abrem para um novo mundo. Os resultados mostram que
esse é o caminho certo e os mestres estão preparados para ajudar nessa
tarefa. Eles passam por um processo de capacitação e já vêem na sala de aula
o desenvolvimento das crianças e jovens. “Tudo que é novo é um desafio e
estamos vencendo as dificuldades. Já conseguimos grandes vitórias
especialmente em relação à leitura. As crianças fazem questão de vir à
escola e contam os dias que faltam para o dia das atividades que são
realizadas fora da sala de aula”, garante a professora do 2º ano, Ana Paula
Silvestre da Silva.
Nessa metodologia ganham todos. Os pais são os primeiros a despertarem para
as mudanças positivas dos filhos. “ Igor tinha dificuldades em se relacionar
com outras crianças e hoje, com o Vila Aprendiz, sinto que meu filho está
mais sociável e isso é um grande progresso para o desenvolvimento dele fora
e dentro da escola”, disse a agente de saúde, Maria das Dores Oliveira
Campos.
A Mãe de Lorena de 6 anos e aluna do 1º ano também tem motivos para
comemorar. “As atividades ao ar livre tem animado minha filha em ir para a
escola. Não preciso mais forçar, ela vai por si mesma. E quando ela chega em
casa conta tudo para mim, especialmente as histórias do faz de conta. Sinto
ela mais independente e feliz”, garante a dona de casa Valderez Maria dos
Santos.
E na hora de dizer o que o Vila Aprendiz tem de bom, as crianças não
vacilam. Hoje tudo mudou para melhor. “ Tenho aprendido muito na aula de
música e quando crescer vou ser cantora, diz Larissa Oliveira, de 6 anos.
Erivelton de Jesus Santos, de 8 anos, tem outros planos: “ quero ser jogador
de futebol e estou aprendendo os passos dos jogadores famosos”. Tiago tem 6
anos e esta é a primeira vez que vai à escola. “ Olha meu caderno. São
letras”, diz o menino que começa a ver o mundo através das palavras.
De eletricista a educador comunitário. Essa foi a trajetória de António
Barbosa. Há quatro meses ele está engajado no Vila Aprendiz e está muito
satisfeito com o trabalho. Ele garante que essa é uma experiência nova. Sua
função é ser o elo de ligação entre a comunidade e a escola. “ O que faço
hoje não tem preço. Não tem dinheiro que pague ver que as crianças e jovens
estão mudando de vida e para melhor. Estou muito feliz por fazer parte
disso”, diz Barbosa.
O Vila Aprendiz acredita que a participação da comunidade é fundamental para
a construção de uma escola de qualidade. Esse é um exemplo de que é possível
criar uma corrente em prol de uma melhor estrutura educacional, aliando
parcerias e disposição. Um espaço onde é possível aprender lições para toda
a vida.