O deputado federal Raymundo Veloso(PMDB) ocupou a tribuna da Câmara dos Deputados nesta terça(30) para relatar o clima de tensão na região com a possível demarcação de mais de 47 mil hectares de terra para os índios Tupinambás. Veloso destacou que desde a publicação do relatório da Funai o conflito entre indígenas e produtores rurais de Ilhéus, Una e Buerarema tem se intensificado, resultando em agressões físicas e prejuízos econômicos. O parlamentar informou que o parecer apresentado tem sido alvo de inúmeras críticas de antropólogos e defendeu a anulação do atual relatório e a confecção de um estudo mais minucioso e amplo sobre a história da região e o seu antepassado indígena.
A área requerida para demarcação compreende uma perda de 26% do território ilheense mais parte dos municípios de Una e Buerarema. O deputado Veloso acredita ser uma área muito grande para poucos índios e aponta os prejuízos desta decisão. “Não se pode cometer tamanha leviandade com a vida de milhares de pessoas. Na área em disputa estão assentados produtores que ali vivem há mais de 80 anos e produzem cacau, seringa, coco, cupuaçu, piaçava, mamão, banana, mandioca, pupunha mais a criação de caprinos, ovinos, apicultura e pecuária, gerando cerca de 4.000 empregos diretos. Além da produção agrícola, a região compreende 20 mil moradores e equipamentos como escolas, associações, postos de saúde e até uma estância hidromineral, que é o maior atrativo turístico de Olivença. É de um radicalismo extremo querer que tudo isto da noite pro dia desapareça. E as conseqüências sociais que irá gerar, quem vai se responsabilizar? A Funai?”, questiona o parlamentar.
O relatório produzido pela Funai tem sido alvo de inúmeras críticas de antropólogos que questionam a legitimidade das informações e o acusam de fraudulento. A antropóloga Célia Giménez afirma que não existe literatura indicando a presença dos tupinambás naquela região e que o nome tupinambá para o grupo em questão foi cunhado oficialmente apenas a partir do ano 2000. Ela acrescenta ainda afirmando que os tupinambás seriam uma tribo extinta. Ela contesta o relatório da Funai e diz que foi feito um estudo muito superficial e que ele ignora a revisão de literatura sobre a história da região, desconsiderando opiniões de historiadores e antropólogos mundialmente conceituados, se limitando a citar os antropólogos da própria Funai.
Devido a tantas contradições, a complexidade do tema e ao número de interessados envolvidos na disputa, o deputado Raymundo Veloso defende uma revisão do relatório produzido pela Funai. “É necessário que se forme uma comissão dos produtores rurais, juntamente com a comunidade indígena e mais os representantes da Funai e da sociedade organizada dos municípios envolvidos para que se reformule este relatório e se chegue a um denominador que não acarrete prejuízos exacerbados a nenhuma classe”.