Histórias do Hotel Tororomba

O ano era 1990 e Geraldo de Castilho Freire colocou na cabeça que precisava comprar um telão para ver a Copa do Mundo que seria disputada na Itália, naquele junho. Dona Dila, sempre com os pés no chão e consciente da realidade, foi contra. Nem havia como colocar o aparelho de grandes dimensões no apartamento em que viviam na capital paulista. E o que fazer com o equipamento depois do evento?
Mas não havia como tirar essa idéia do advogado. Ele estava decidido a fazer a sua vontade.
“Se eu não comprar o telão para ver os jogos, vou ver a Copa lá na Itália. Mas eu prefiro assistir no telão.”
“Mas onde você vai colocar um telão em casa? Não cabe”, questionou Dona Dila, ainda se opondo ao projeto.
“Se aqui não cabe, então vou comprar e colocar no hotel na Bahia. Lá cabe”.
Foi a resposta definitiva.
Na São Paulo do início dos anos 90, ter um telão para ver jogos de futebol já era um acontecimento. Imaginem no interior da Bahia… Nelson estava em Ilhéus, na maioria do tempo mais preocupado com a barraca de praia Roda D’Água do que com a construção do hotel em si. O local já tinha sua clientela fixa e presente em todos os dias de sol, o que na Bahia significa 365 vezes por ano. “Ele queria gastar esse dinheiro e gostava de tecnologia e por isso resolveu investir no bendito telão. Como minha mãe viu que não tinha jeito e ele ia colocá-lo na Bahia, aceitou”, explica o filho de Geraldo.

Assim foi feito. No dia 10 de junho de 1990, quando a Seleção Brasileira dirigida por Sebastião Lazaroni entrou em campo para enfrentar a Suécia no Estádio Delle Alpi, em Turim, Geraldo estava no Hotel Tororomba, ao lado da barraca de praia, acompanhando tudo em seu telão recém instalado e de última geração. E assim foi durante o Mundial que acabou cedo para o Brasil, eliminado pela Argentina nas oitavas de final. Quando veio o apito final, ele voltou para São Paulo, deixando para trás seu sonho de consumo.
O que fazer com um telão no meio de um canteiro de obras? Por algum tempo, teve uma função inesperada. “Os peões do hotel usavam o telão moderno para assistir novela.”, lembra Nelson.
Não foi preciso muita observação para se perceber que aquilo era um desperdício e que algo tinha de ser feito para aproveitá-lo. Por causa deste, nasceu um bar ao lado do Hotel Tororomba. E a 500 metros da barraca de praia Roda D’Água. Empreendimento que surgiu com o único objetivo de dar uma finalidade à novidade trazida por Geraldo de São Paulo antes da Copa.
“Estamos falando de uma época em que não existia DVD. Era difícil encontrar coisas para passar. De qualquer coisa, resolvemos tentar”, afirma Nelson.
Nos primeiros dias, parecia que a tentativa estava destinada ao fracasso. Fitas de VHS passaram a ser enviadas de São Paulo para serem exibidas. Aos poucos, começaram a aparecer pessoas curiosas com a novidade. Um amigo da família resolveu mandar vídeos com som estéreo (o que era raro na época) dos Estados Unidos com a mesma finalidade. O movimento melhorou, mas continuava abaixo do esperado. “Coloquei umas luzinhas para ficarem piscando. Era chato ficar olhando para o telão apenas. Também fizemos uma pista de dança para o pessoal e passamos a exibir futebol, corridas do Ayrton Senna… chegou um momento em que até gravamos videocassetadas do Domingão do Faustão para exibir.”
De repente, o bar começou a crescer. Entre 1990 e 1993, foi a casa noturna mais movimentada da região, não apenas em Ilhéus. Virou boate. Era no local onde hoje está localizado o restaurante do Tororomba. O sucesso foi sem marketing ou publicidade. Apenas na propaganda boca a boca entre clientes. O que foi uma surpresa até porque então a boate não tinha nome. E se tinha, nenhum cliente sabia dizer qual era. Convidavam os amigos para irem ao Farol, ao telão ou qualquer referência que os fizessem lembrar da casa noturna.
O movimento foi tão intenso que o objetivo inicial de toda aquela aventura, a construção de um resort, ficou totalmente relegado a segundo plano. E Nelson não tem o menor problema em reconhecer que isso aconteceu. “Fiquei empolgado e desconectei do hotel. Até porque o sucesso fez com que tentássemos encontrar novas formas de lucrar”, lembra.
Estacionamento, couvert para quem sentava à mesa e taxa de entrada após a meia-noite foram algumas das saídas encontradas e que funcionaram, maximizando o potencial econômico da boate. “No começo não havia nada disso. O sujeito chegava, entrava e pagava apenas o que consumia. Com o aumento do movimento, tivemos de mudar isso”.
Foi uma aposta. O custo maior poderia frear o sucesso da boate, mas isso não aconteceu. Nelson começou a dar plantão na casa. Com uma câmera amadora, passou a filmar festas que aconteciam nos finais de semana porque era mais uma maneira de ter o que mostrar no telão. O salão também foi alugado para quem levava grupos de pessoas, que tinham a entrada franqueada. Poderia ser um negócio ruim à primeira vista, mas o lucro era grande no consumo.
Foi na boate, em um das festas promovidas, que Nelson conheceu a mulher que seria a mãe de seus dois filhos. Decidiu morar com ela em um bangalô que ficava ao lado da boate. “Ela engravidou e eu dei uma desanimada com aquilo tudo porque não tinha mais paciência para ficar a noite inteira na boate, deixando-a em casa. Era muita agitação”, confessa.
A pá de cal foi quando começaram a acontecer brigas no local, algo que era inimaginável no começo de tudo, quando o então bar era freqüentado por poucas pessoas.
Nelson repensou tudo o que estava fazendo no interior da Bahia desde o momento em que decidiu deixar São Paulo para cuidar do sonho do pai de construir um empreendimento onde não havia nada. Havia sido uma experiência surpreendentemente compensadora. Divertira-se, ganharam dinheiro e tivera a sensação de ser o rei da noite de Ilhéus e região. Mas já era chegada a hora de voltar a pensar no Hotel Tororomba. Afinal, era ele a razão de tudo.

VI – Agora é pra valer

Apesar de a fase de empresário da noite ter rendido muitas lembranças, com a nova realidade, havia chegado a hora de Nelson voltar a priorizar o hotel. “Foi uma época boa. Até hoje encontro pessoas da região que se lembram da boate. Mas tinha de pensar no hotel.”
Foi na mesma época em que a prima que saíra de Minas Gerais para ajudá-lo a tocar o projeto resolveu voltar para o Sudeste, já que o marido havia recebido uma oferta de trabalho.
Uma dúvida que pode suscitar em quem ler essas páginas: o que Geraldo, o pai de Nelson e idealizador do resort, achava dessa história de barraca de praia e boate desviando a atenção do filho com relação à construção do hotel, o que era o objetivo inicial e havia consumido horas e mais horas de trabalho e planejamento, além de considerável investimento financeiro? O raciocínio normal seria que ele não ficara muito feliz com as aventuras periféricas.
“Isso não aconteceu. Ele achou bom, até porque o plano inicial dele não era um hotel, era construir alguma coisa na região em que cresceu que pudesse gerar empregos e riqueza. Poderia ser uma barraca ou uma boate. Demos trabalho para muita gente, contratamos um batalhão de garçons, outros funcionários, fornecedores… e tudo aconteceu por causa dele e do tal telão que cismou de comprar.”
Quando a prima resolveu fazer o caminho de volta, pelo menos já havia uma infra-estrutura melhor a serviço do hotel, o que facilitava o serviço. No espaço que era a boate, começou a ser erguido o restaurante. A resolução óbvia era que a hospedagem incipiente que acontecia naquele momento não poderia continuar. Era mais do que necessário profissionalizar o serviço no Tororomba e aumentar a procura de hóspedes. Para isso, era necessário colocar mãos à obra. E a ajuda veio de São Paulo.
Para auxiliar na parte administrativa, uma secretária do escritório de advocacia de Geraldo Freire aceitou se mudar para a Bahia. A roda do Tororomba começara a girar em direção ao progresso.
Mas alguém tinha de fazer o trabalho de mascate nas operadoras de turismo, que são as empresas que oferecem hospedagens aos turistas e entregam a eles a lista de hotéis disponíveis. Sobrou para dona Dila, justamente quem era mais contra o projeto do resort quando seu marido apresentou a idéia. “Acho que ela percebeu que não tinha jeito porque seu único filho já tinha se mudado de mala e cuia para a Bahia e tinha até filho lá. Ela é uma pessoa pé no chão, realista e viu que a única coisa possível era fazer de tudo para que o hotel desse certo. Dona Dila começou a comprar a idéia do Tororomba”, explica Nelson.
Mas apenas entrar na lista das operadoras não adiantava. O mínimo que se precisava para o sistema de reservas era um telefone. E não havia linha na região em que estava instalado o hotel. O esquema montado foi precário. No escritório de advocacia de Geraldo Freire, foi reservada uma sala para cuidar dos assuntos do resort, com uma linha telefônica e atendente exclusivo para receber as reservas. A secretária verificava a disponibilidade. Em plena Avenida Paulista, onde se concentra boa parte do Produto Interno Bruto do País, todos do escritório começaram a cuidar também do Hotel Tororomba. Mesmo os que nunca estiveram na Bahia.
“Era tudo muito improvisado. Mas a gente tinha que começar por algum lugar”, afirma Nelson.
O problema no Tororomba continuava. Havia uma linha telefônica recebendo os pedidos em São Paulo. Mas como quem estava no hotel saberia? O jeito era enviá-los por fax todos os dias para a casa da sogra de Nelson em Ilhéus. Diariamente, um funcionário do hotel ia lá receber a papelada. Era um quebra-galho. Não havia como sustentar um esquema como esse durante muito tempo. Especialmente porque os turistas começavam a descobrir o Tororomba e a alta temporada se aproximava.
Foi quando apareceu uma oferta de um “telefone de longo alcance” que ninguém jamais havia ouvido falar na região. Nelson, que seguia tomando conta da administração sozinho, foi informado de que o sinal era transmitido pelo ar vindo de Olivença e assim, seria possível instalar uma “linha” na recepção do resort. Parecia ser a solução salvadora. Ninguém mais dependeria de faxes recebidos em Ilhéus. “Parecia um negócio mirabolante demais na época. Mas como nós precisávamos muito de um telefone ali naquela região…”
Foi instalado o sistema. E até que funcionou, mas logo teve de ser abandonado porque a população de Olivença estava se revoltando contra o Tororomba, o que seria o pior marketing possível para o empreendimento que ainda engatinhava. Isso porque o sinal das ligações era captado nos aparelhos de televisão em Olivença. Surreal! “A família sentava em frente à TV para ver a novela e de repente começava a sair um som de uma conversa telefônica sobre hotel, reserva, essas coisas. Achamos melhor parar com aquilo imediatamente”, recorda-se Nelson, hoje se divertindo ao contar a história. Mas na época, ele não achou muita graça.
A improvisação teve de continuar durante mais alguns meses. Mesmo que a contragosto.
Até que apareceu uma solução literalmente via Embratel. Por meio de aluguel de uma sala na então estatal de telefonia, era possível implantar um sistema por rádio. Assim foi feito. Mas era caro, bem mais do que seria ter uma linha comum de telefone, como passou a existir depois de muitos anos de lutas políticas.
Pelo menos as reservas já poderiam chegar direto ao hotel, sem intermediários.
Mas nem assim a briga pela chegada da linha telefônica comum, disponível com facilidade hoje em dia em todo o País, terminou. Pelo contrário, ficou mais forte. Quanto mais o resort crescia. Neste ponto, o Tororomba contou com um aliado.
“Meu vizinho, que também tem hotel e começou a construir mais ou menos ao mesmo tempo em que nós, lutou mais ainda para conseguir trazer telefone. A cada eleição, trazíamos políticos e tudo mais. Porque havia toda uma estrutura para o hóspede, mas não havia telefone”, explica Nelson.
Depois de lobby incansável, conseguiram. Mas para isso, tiveram de dar os postes e quilômetros de fiação como contrapartida. Foi feita uma matemática de acordo com o número de quartos existentes nos dois hotéis e assim aconteceu. Depois de anos de batalha, o telefone enfim chegou ao Tororomba. “Tudo o que conseguimos foi com muita luta porque não tinha nada na região. A única coisa que havia para a construção de um hotel era uma estrada boa. E ponto final. Hoje qualquer pessoa que se estabelecer na região vai encontrar tudo pronto, bem diferente da nossa época”.
Outra luta que aconteceu bem depois da guerra do telefone foi o sinal de celular. Com a popularização dos aparelhos móveis, foi imprescindível conseguir que o serviço se estendesse também aos hóspedes do Tororomba. Assim como a cobrança das ligações feitas para Ilhéus, cidade que fica a cerca de oito quilômetros do hotel: era cobrado interurbano.
“Também tinha o problema da energia elétrica. Faltava toda hora porque o gerador que existia para suprir a região não estava preparado para um resort. Era uma estrutura planejada apenas para residências. Quando se ligava muitos freezers, acendia muita luz, caia o fornecimento e às vezes passava mais de dois dias e ninguém vinha arrumar, nem com a gente pedindo. A solução foi a compra de geradores”, explica Nelson.
Um investimento que não foi ruim e tem muita utilidade até hoje, quando os quartos estão todos ocupados. Na alta temporada, não é incomum a queda de energia na região porque o consumo aumenta sensivelmente. Mas os efeitos disso não são sentidos pelos hóspedes do Tororomba graças aos investimentos realizados ainda na década de 90, quando a situação era bem mais precária, para não dizer desesperadora. Os geradores, no verão, volta e meia precisam ser acionados também por causa dos ares condicionados, evitando que as pessoas que visitam o local fiquem no escuro. “Imagina só que situação estranha seria. É algo que não poderíamos permitir que acontecesse e não permitimos”.
Mas quem pensa que terminou, se engana. A luta continua para os administradores do Tororomba pelo menos em mais um aspecto: serviço de transporte público próximo ao resort. Existem várias linhas de ônibus que atendem as cidades vizinhas, mas chegam apenas até o município de Olivença, que fica a seis quilômetros do resort, uma distância pequena para o veículo, mas considerável para uma caminhada. “Estamos tentando. Passou a ser a nossa batalha. Mas estamos certos que com o passar do tempo, vamos conseguir isso também”.
As reivindicações, pedidos, pressões sobre as autoridades aumentaram de acordo com a necessidade de oferecer um serviço de qualidade para um maior número de clientes. E isso era reflexo do sucesso que aos poucos o Tororomba passava a fazer na economia turística da Bahia.

VII – Interatividade

O Tororomba não faz parte das grandes redes de hotel. A verba publicitária não permite extravagâncias como anúncios de página inteira nas grandes revistas de turismo do país, ou comerciais de TV, mesmo que em emissoras regionais. Mas no marketing reside um dos grandes segredos do sucesso do resort e quem já se hospedou no local sabe bem do que se trata. O retorno oferecido pelos clientes é o maior motivo de orgulho para quem trabalha e administra o empreendimento na Costa do Cacau.
“O primeiro dado que nos chama a atenção é os elogios das pessoas que se hospedam. Isso é o que vale mais. Também há a taxa de ocupação, que é surpreendentemente alta porque nossa verba de publicidade tradicional é pequena. Mesmo a participação em feiras de turismo é algo que fazemos com muita parcimônia porque é caro”, explica Nelson.
Em uma inusitada viagem para a Arábia Saudita foi que Nelson Freire percebeu o caminho que poderia seguir para se diferenciar dos demais. Foi uma jornada complicada. A convite de amigos, um deles integrante do corpo diplomático alemão no país árabe, resolveu ir, mas teve o pedido de visto negado. “Não entenderam o que eu, brasileiro, iria fazer lá”, lembra. Foi necessária a intervenção do amigo diplomata e uma carta explicando que Nelson viajaria à Arábia Saudita como convidado do governo alemão. O importante dessa história toda foi a hospedagem em um hotel cinco estrelas. O que seria mais importante para um empresário brasileiro do setor?
“Todos os dias deixavam um jornal interno na porta dos quartos, com dicas sobre a cidade e notícias do hotel. Achei que era uma boa idéia e decidi fazer o mesmo quando voltasse ao Brasil.”
Era uma maneira simples e barata, para qualquer um familiarizado com computador e um sistema de editoração eletrônica, para manter os hóspedes informados, além de ser uma ferramenta útil de comunicação. E foi muito bem recebida. Como muitas coisas que aconteceram no hotel no decorrer de sua história, a otimização do serviço não veio com pesquisas, mas apenas com a observação. Durante algum tempo, o boletim foi deixado nas portas dos quartos. Mas a leitura não era tão frequente quanto se esperava. Então, qual seria a forma mais eficiente de fazer os clientes consumirem aquelas informações impressas?
Na mesa do café da manhã.
“Foi a melhor maneira que encontramos e onde tivemos um resultado mais positivo. Você tem que prestar atenção no que acontece ao seu redor para perceber o que agrada mais às pessoas.”
Um dos segredos do Tororomba no marketing é saber usar as novas tecnologias a seu favor. A principal talvez seja a internet, o que transformou o site oficial do resort (http://www.tororomba.com.br) em mais do que um simples endereço eletrônico para divulgação das atrações locais. É um portal.
Os clientes recebem uma newsletter eletrônica que também pode ser acessada por qualquer internauta. “Nós tentamos sempre apostar bastante nesta parte eletrônica. A idéia é dar todos os subsídios possíveis para a pessoa nos escolher como destino para passar suas férias ou feriados”, afirma Nelson. Há uma rádio on-line com programação musical 24 horas que também não é exclusividade dos clientes: qualquer um pode ouvi-la em qualquer canto do mundo. Recentemente, foram lançados podcasts com entrevistas e novidades do hotel. “Temos conversas com hóspedes, depoimentos de gente que já esteve no Tororomba e voltou, explicando porque decidiu retornar. Um exemplo é três garotos que se conheceram em um verão no nosso hotel. Todos de Brasília. Um tocava violão, outro também e o terceiro cantava. Eles formaram um conjunto. Tem também casos de gente que se conheceu e começou a namorar. Procuramos mostrar ocasiões em que o resort passa a fazer parte da história de vida das pessoas”.
Com atualizações quase diárias, há também o fotoblog que mostra as festas, eventos ou mesmo o cotidiano dos hóspedes na Costa do Cacau. Tudo isso na intenção de manter um ambiente diferente do que se poderia encontrar em hotel de uma grande rede, manter uma relação mais próxima com o cliente, tentando dar-lhe um rosto e fugindo da impessoalidade que prevalece em muitos hotéis.
“Acredito que esse é o nosso diferencial. O hotel cresceu, se transformou em algo maior do que esperávamos quando começamos a construção, mas temos esse toque de pessoalidade com quem nos visita. Fazemos o que for possível para que a pessoa se sinta em casa e aproveite o tempo que tem para descansar e se divertir”, acrescenta Nelson, o idealizador dessa filosofia.
Também foi dele a sacada de criar a TV Tororomba, resquício dos tempos em que pegava uma câmera amadora e filmava as festas na boate para depois exibi-las no telão que quase causou uma reviravolta no projeto de construção de um resort no interior da Bahia.
A marca engloba o circuito interno de TV. Todos os quartos têm acesso ao sinal, que mostra filmagens de eventos que aconteceram no hotel, informações relevantes, programação do resort e entrevistas realizadas em eventos de turismo. Uma das atrações permanentes é a exibição de depoimento de Geraldo de Castilho Freire sobre a criação do Tororomba, um ano antes de sua morte.
Foi de Geraldo que Nelson herdou o gosto pelo marketing, jornalismo e publicidade. Ambos se formaram advogados e exerceram essa profissão. No caso de Geraldo, durante mais de 40 anos. Nelson por um curto espaço de tempo. Mas primeiro pai e depois o filho sempre demonstraram vocação para a escrita e por meios de comunicação. Era um lazer que mais tarde se tornaria fundamental para o crescimento do hotel. É bom lembrar que foi de Geraldo a insistência pelo nome Tororomba, assim como o uso do mico leão como mascote do hotel. Além, é claro, de ter sido o visionário que percebeu que um empreendimento em lugar ermo, no meio de um mangue de águas medicinais, era possível.
Nelson apostou no jornal, no site, na TV. Organizou festas, o parque e utiliza o tempo inteiro ferramentas de interação do hóspede com o resort, criando um laço entre cliente e hotel.
“Sempre tive vontade de fazer essas coisas, criar jornal, mexer com imagens de TV… é uma vocação que tenho e acho que herdei do meu pai, que escrevi muito bem. Gostamos das mesmas coisas e isso foi importante para o desenvolvimento do Tororomba”, analisa Nelson.

VIII – A Família

O ambiente familiar criado no Tororomba é proposital, mas não significa que seja artificial. Muito pelo contrário. Foi algo que aconteceu no decorrer dos anos, como resultado natural do estilo de hospedagem implantado. Também a participação dos hóspedes na divulgação de fotos, notícias e participação em festas colabora para que isso aconteça.
“A intenção desde o início foi criar uma personalidade nossa e única porque se nós imitássemos as grandes redes, não teríamos como vencer porque seríamos comparados a eles. Para que isso desse certo, seria fundamental a participação dos funcionários. Se eles não comprassem essa idéia, não teria como dar certo. Ficaria uma coisa falsa, sem vida”, observa Nelson.
Para contar com a ajuda verdadeira dos colaboradores (e “verdadeira” significa algo sincero, não forçado), a única saída era dar liberdade a eles, trazê-los para perto da administração do resort. Popularizar determinados nomes também faz parte disso. O local onde fica o reservado dos funcionários tem denominação própria, dado na brincadeira por Nelson e que pegou. É o local onde foi construído refeitório, lavanderia, vestiário. Durante a obra, parecia um caos, uma desorganização típica de projeto em andamento. “Eu disse que aquilo parecia a Vila Socó. Acharam graça e ficou. Hoje todo mundo só se refere à área dos funcionários como Vila Socó”, explica Nelson.
O nome permaneceu mesmo com praticamente nenhum dos empregados sabendo o que era exatamente a Vila Socó, em Cubatão, São Paulo, onde em 1984 houve incêndio provocado pelo vazamento de gasolina de um oleoduto da refinaria da Petrobras.
O nome do boletim interno dos funcionários é Jornal da Vila Socó. “Eles nem imaginam a história do lugar. Apenas acharam engraçado e abraçaram o apelido”, conclui Nelson.
Apelido que nem ele escapou logo que chegou à Costa do Cacau para tocar o projeto do resort. Tanto que qualquer um no hotel que pergunte onde está Nelson Freire, pode ter dificuldade para obter uma resposta objetiva. Pelo menos até o colaborador perceber de quem se está falando. Quer uma resposta imediata? Pergunte pelo Barão. Porque este é o nome pelo qual Nelson é conhecido no Tororomba. “Isso aconteceu logo que eu cheguei porque na linguagem popular, barão é quem tem mais recursos, quem manda em alguma coisa. O pessoal fala ‘esse aí é barão’. Foi o que aconteceu comigo”, explica.
De certa forma, é um apelido que resume perfeitamente o papel dele no que concerne às atividades do hotel. Barão é um título nobiliárquico inferior a visconde e superior a baronete. Foi criado no Império Romano pelo Imperador Adriano para premiar soldados e administradores que se destacavam em suas atribuições, mesmo sem ter direito a um lugar entre a alta nobreza. No caso de Nelson, o apelido foi o certeiro porque, enquanto Dona Dila cuida de toda a parte administrativa, de contas, hospedagem etc., é de seu filho o papel de observação das necessidades do Tororomba, assim como supervisionar toda a parte lúdica de atividades para os hóspedes. Atividades que os funcionários também tomam parte ativa.
Dona Dila também não escapou da alcunha quando decidiu deixar São Paulo para morar na Bahia. Mas o apelido foi dado pelo próprio filho. Passou a ser chamada de Dona Xepa, personagem-título de telenovela escrita por Gilberto Braga e exibida pela Rede Globo em 1977, conhecida pela economia. Porque é exatamente desta forma que Dona Dila se comporta quando se trata do Tororomba: com extrema parcimônia no controle do dinheiro. Foi outro nome que caiu nas graças dos funcionários do hotel e Dona Dila não se importa com isso.
O próprio Nelson reconhece que há uma saudável tensão, em alguns momentos, na relação mãe-filho. Porque um tem as idéias para tornar o Tororomba mais divertido, atrativo e uma experiência inesquecível para os hóspedes, mas alguém tem que manter o pé na realidade porque cada novidade gera uma nova conta que precisa ser paga. “Mas é estimulante porque eu tenho de encontrar uma forma de fazê-la perceber que aquilo que estou pensando vai dar certo, funciona e no final de tudo vai gerar mais recursos para o hotel”, explica o Barão.
Mas em monografia escrita sobre a trajetória do Tororomba desde o início de sua construção, Dona Dila soube reconhecer a audácia do filho para realizar o sonho de Geraldo: “Desbravador, ele seguiu os passos do pai. Colocou em prática tudo que foi projetado. Fim de carreira? Não. Início de mais um desafio. Nelson enveredou-se por novos caminhos e criou o departamento de marketing. Usou a sua criatividade e desenvolveu novo projeto: transformou o mico-leão-de-cara-dourada no logotipo e mascote do hotel. Deu vida aos seus sonhos”.
Como em qualquer relação familiar, a harmonia surge do carinho, da discussão e às vezes até mesmo da idiossincrasia entre seus membros. E o Tororomba nada mais é do que parte integrante da família de Nelson Freire e de Dona Dila.
E os funcionários também são parte fundamental dessa família. É muito comum, de fato, encontrar empresas que os donos garantem fazerem parte de uma grande irmandade da qual seus colaboradores diretos e indiretos fazem parte. Algo derivado do que se fala entre jogadores de futebol quando a equipe está vencendo e os títulos estão chegando, mas esquecido no momento da derrota.
No Tororomba, o esforço diário é para que essa premissa seja verdadeira. A receita é simples: incentivar os funcionários. Fazer com que os talentos e aptidões que eles possuam (fora de suas atividades profissionais diárias) sejam exploradas, incentivadas e mostradas aos hóspedes.
“Fazemos de tudo para valorizar os funcionários. O fato de eles terem um jornalzinho só deles é uma mostra disso. Tivemos ate um rapaz que ajudava a fazer esse boletim e que tomou gosto pela coisa e hoje está estudando na faculdade para ser jornalista. Esse tipo de coisa nos deixa muito feliz e mostra que estamos no caminho certo”, comemora Nelson.
Como bem resume o Barão: o primeiro objetivo é tirar o melhor de cada colaborador. Quando isso acontece, todos têm a ganhar. Os hóspedes encaram uma equipe de trabalho prestativa e feliz em atendê-los, o hotel oferece um atendimento de melhor qualidade e os funcionários sentem que são pessoas valorizadas, não apenas uma estatística no número de empregos na economia local.
Uma das formas de valorização é o show “Pratas da Casa”, oferecido regularmente aos hóspedes. Trata-se de evento feito exclusivamente pelos empregados do Tororomba, em que eles demonstram habilidades que nada tem a ver com suas atribuições profissionais no resort.
“O funcionário é colocado como não apenas um simples cozinheiro, para dar um exemplo, mas como o que faz alguma coisa diferente. O hóspede também acha bom isso, é divertido. Eu me lembro que nós tínhamos um rapaz trabalhando conosco e ele era muito tímido. Tocava cavaquinho e bem, mas não queria se apresentar porque tinha vergonha. Nós tanto insistimos, tanto pedimos até que um dia ele se apresentou. Agradou, foi aplaudido e isso deu a ele mais confiança pessoal. Mostrou que as pessoas podem gostar daquilo que ele faz fora do hotel. Perdeu a timidez, que era uma coisa que o acompanhava”, explica o Barão, que foi o maior incentivador para que isso acontecesse.
Além é claro de ter sido o criador do “Pratas da Casa”.
Como retribuição, ele prometeu fazer uma música sobre o Tororomba. Semanas depois, apareceu diante do Barão com a letra e música composta. Com a união de outros funcionários que tocam diferentes instrumentos, foi formado um conjunto musical, o Pagodão Tororomba.
Mesmo que de forma precária, Nelson deu um jeito de disponibilizar o samba para quem quisesse escutar no site do hotel. “Foi gravado em celular, mas foi uma coisa no início”. O vídeo da canção também pode ser encontrado no canal do Tororomba no site Youtube e em outros espaços na internet para compartilhamento de imagens e áudios.
A promessa feita quando houve a promessa do pagode foi: faça que eu gravo. E a promessa será cumprida. “Eu vou atrás de um estúdio em que possa fazer essa gravação. Eu sinto que meu papel nisso tudo é colocar lenha na fogueira e incentivar. Nossa intenção é sempre ajudar os funcionários, criando um clima bom, de verdadeira harmonia”. Qualquer um que já esteve passando férias ou um simples feriado no Tororomba com certeza já percebeu isso, como os depoimentos gravados em podcasts e disponibilizados no portal do tororomba.com.br podem testemunhar. Aliás, essa forma de comunicação surgida recentemente e desenvolvida para aparelhos portáteis como iPod’s ou iPhones também é explorada por Nelson, utilizando também essa ferramenta como marketing de divulgação.
O Pagodão Tororomba é presença constante nos shows “Pratas da Casa”. Com a adaptação de um vocalista que não é especializado em pagode, mas sim em arrocha, ritmo típico da Bahia. Eles também se apresentam em outras festas que acontecem no resort. E aos poucos, novas músicas foram surgindo para serem incorporadas ao repertório. E tudo pode ser conferido na rádio on-line do Tororomba, que serve como veiculação do grupo criado dentro do hotel.
Mas não é apenas de músicas de pagode que é feito o “Pratas da Casa”. Pelo contrário, nem é mesmo uma apresentação apenas musical. Vale quase tudo, quase como um show de calouros: o atendente que sabe contar bem piadas ou causos. O funcionário da reserva que conhece a arte de jogar capoeira, o grupo de dança de qualquer ritmo, que se veste de acordo com a exibição, cantores amadores, porém afinados… enfim, qualquer coisa que mostre o talento oculto de quem trabalha no Tororomba. E a surpresa foi grande com o número de pessoas capazes de se apresentarem e satisfazerem o exigente gosto dos hóspedes que normalmente não se contentam com qualquer coisa. Tanto que se tornou uma das principais atrações do Tororomba
A doação de vídeos de DVD’s de filmes feitos pela família Freire também proporcionou a criação de uma videoteca, agora mantida e com o acervo aumentado pela participação dos próprios empregados, que administram a troca e empréstimo das obras.
Além do jornal, os funcionários contam também com um fotoblog atualizado sempre que acontece qualquer novidade. “É rotineiro colocarmos coisas que não tem como público alvo principal o hóspede, mas a valorização do próprio funcionário”, lembra o Barão.
É comum encontrar fotos de festas internas promovidas entre os colaboradores, ou o nascimento do filho de alguém, se alguém passou no vestibular e vai cursar faculdade… é a versão digitalizada da antiga rádio peão, como eram as chamadas as notícias que corriam de boca em boca entre as pessoas que militam em uma mesma empresa.
Tudo isso é uma das principais armas do Tororomba e um dos seus apelos de marketing para atrair visitantes para a Costa do Cacau: a capacidade de unir o conforto de um hotel de alto padrão e a intimidade de uma grande família sempre disposta a servir.

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