Os cacauicultores que defendem o sistema cabruca no cultivo da lavoura consideram que a inclusão do cacau no FNE Verde (Programa de financiamento à conservação e controle do meio ambiente) é uma conquista histórica, mas é apenas o primeiro passo na luta pela recuperação da principal atividade agrícola do Sul da Bahia. “Para que esse programa tenha sucesso, é preciso que haja o deságio da dívida, que é muito complexa, mais crédito e uma série de medidas por parte do governo do Estado”, alerta o presidente da Associação dos Produtores de Cacau (APC), Henrique Almeida.
Uma entrevista coletiva inédita, realizada hoje, na Associação Comercial de Ilhéus, reuniu, além de Almeida, o diretor geral da Ceplac, Jay Wallace, o vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado da Bahia (FAEB), Guilherme Moura, diretor do Instituto Cabruca, Durval Libânio, coordenador da Câmara Setorial do Cacau, Fausto Pinheiro, presidente da Amurc (Associação dos Municípios da Região Cacaueira), Moacir Leite, e o secretário de Agricultura de Ilhéus, Isidoro Lavigne. Todos concordaram que a situação do cacau continua muito difícil, mas que a decisão de incluir a lavoura no FNE Verde é um alento para o futuro do cultivo da lavoura.
Para o diretor do Instituto Cabruca, agrônomo Durval Libânio, um dos aspectos mais importantes é que o “cacau está reconhecido pela política pública como uma cultura conservacionista”. No caso específico do Sul da Bahia, a lavoura é responsável pelo grau de preservação do ecossistema Mata Atlântica, que detém uma dos maiores índices de biodiversidade do planeta. Com o FNE Verde, além de alongar o prazo de pagamento das dívidas dos produtores, outros compromissos serão assumidos para corresponder aos benefícios.
O FNE Verde destina-se ao financiamento de atividades produtivas com ênfase na conservação ambiental e itens de proteção ambiental das atividades produtivas em geral, contemplando empreendimentos de agropecuária orgânica, incluindo a conversão dos sistemas tradicionais para orgânicos, manejo florestal, reflorestamento, agrossilvicultura e sistemas agroflorestais, geração de energia alternativa, sistemas de coleta e reciclagem de resíduos sólidos, estudos ambientais, implantação de sistemas de gestão ambiental e certificação, tecnologias limpas, recuperação de áreas degradadas, entre outras.
“Nós somos uma região agroflorestal e precisamos reconstruir o modelo de produção do cacau, e esse é um esforço que demanda o interesse e a participação de todos. A grande diferença é que agora estamos participando da construção da política pública”, afirma Fausto Pinheiro, da Câmara Setorial do Cacau. Segundo o agrônomo Durval Libânio, agora é fundamental que o governo viabilize maior presença na fiscalização e licença ambientais, rebate linear nas dívidas das etapas 1,2,3 e 4 do Programa de Recuperação da Lavoura Cacaueira, inclusão do PESA e securitização, criação do curso superior de Engenharia Florestal, formatação de um programa de silvicultura de árvores nativas, consolidação da Lei da Cabruca, cujo projeto de lei já foi apresentado pelo deputado federal Geraldo Simões, entre outras ações.