A competência e a globalização

Na época ele já fazia o programa de rádio intitulado “Na fumaça do gongo”, na pioneira Rádio Cultura de Ilhéus. Era um programa muito mais movimentado, uma novidade na radiodifusão regional, uma verdadeira sintonia com o rural, com o homem do campo.
Os ouvintes ligavam e contavam alguma história da sua vida, sua atividade na roça. E muitos participavam para mandar os recados para os amigos de outras roças, fazendas e até mesmo recados para os parentes que moravam no centro de Ilhéus. Também aqueles que moravam na cidade aproveitavam a grande audiência do programa para enviar suas mensagens a aqueles do campo, povoados e vilas. Já era globalização da comunicação em Ilhéus.

Com o início das atividades na Rádio Cultura, o progresso da comunicação tomou conta de todos os cantos da cidade de Ilhéus. A partir daí, todos os cidadãos desta cidade tinham a emissora como o verdadeiro canal de informações, de prestação de serviços e utilidade pública. A Rádio Cultura foi a grande percussora de fato desta terra, principalmente com o advento do “Fumaça do gongo”. Se o comércio iria abrir ou fechas as portas; Se tal médico iria atender tal dia ou não; Se fulano ficou internado; se D. Maria teve nenê; se beltrano morreu; que horas o ônibus da linha tal iria seguir viagem, etc… Se a Cobrazil iria admitir mão de obra, etc… Somente o rádio poderia informar. O telefone somente público e pouquíssimos, a Tevê somente alguns fazendeiros ou funcionários do Banco do Brasil possuíam.
O rádio era a grande revolução do momento. E Zé tiro seco foi a grande unanimidade. Foi através da Rádio Cultura que Zé tiro seco se projetou. Emissora de maior audiência na época, maior potência dentre as de Amplitude Modulada, possibilitou esta relação de interação que existe hoje no rádio. Hoje, nos seus mais de setenta anos, Zé tiro seco continua atuando no rádio, com a mesma disposição e característica profissional, sempre dando espaço ao homem do campo e contando causos de fazenda. Fala dos seus pais como viviam antigamente, de sua vida quando criança, das pescarias, trotes de cavalo, lampião, plantações e muito mais. Com o avanço da tecnologia atualmente, esta interatividade diminuiu. A privatização da telefonia e o surgimento da internet colaboram para isso. Sem contar que a sua saída da Rádio Cultura contribuiu maciçamente. Mas, nada disso apaga ou diminui a importância e o brilho de Zé tiro seco.
Apesar de funcionário de uma emissora de menor porte e menor potência, Zé tiro seco continua liderando no horário da manhã. São quase cinqüenta anos no ar, sem faltar ao serviço e a mesma voz e mania de sempre. Muiiiito bem, Muiiiito bem!
No rádio tivemos e temos bons profissionais e grandes audiências: Quem não lembra de Toni Neto (Falecido) – A verdade Bendita; Adocival Araújo (Aposentado) – Programa Para Ouvir na Praia; Evaldo Tabajara (Falecido) – Programa Policial Esquema Quatro; Erivaldo de Jesus Vila Nova e Osmário Manoel dos Santos – Programa Policial Força Livre (Não souberam superar os momentos de revezes e acabaram divergindo e enterrando o programa).
Hoje ainda temos nomes consagrados na radiodifusão Ilheense: Jorge Raposo, Raymundo Jacson e Ivonete Vasconcelos. Pena que a Rádio Santa Cruz só viva fora do ar. Na Rádio Cultura de Ilhéus Malthez de Athaíde, Quinto de Souza e Toni Matiolli são os destaques. Na FM Conquista, apesar de comunitária e sem nenhuma potência convencional, Vila Nova continua descendo a madeira nos concorrentes. FM Gabriela, com a potência que dispõe e pelos bons profissionais que têm em seus quadros, falta apenas mais criatividade apenas na programação.
Com a rotatividade de programação e profissionais na Rádio Bahiana, pouco se pode avaliar. Todo dia altera a grade de programação e toda semana entra ou sai um profissional. No entanto, a grande preciosidade da emissora continua sendo Zé tiro seco. Pelo amor ao microfone, pelo profissionalismo, pela dedicação e o seu sacerdócio à radiodifusão. Não é a toa que um locutor está a meio século no ar. E liderando.
Quem não dá risadas com os causos da vaquinha mimosa? Da época que Zé tiro seco comia água? Da maneira errada e caipira de pronunciar as palavras e divulgar os anunciantes? Quem não dá risadas com o causo da suposta baleia que apareceu morta na Avenida Soares Lopes?
Por causa do causo da baleia, Ilhéus toda foi mobilizada e quase Zé tiro seco foi processado.
Estamos globalizados, nossas rádios são boas, nossos profissionais são criativos e são ótimos. Incompetente são alguns diretores!

Elias Reis,
eliasreis.ilheus@gmail.com

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