A IMPORTÂCIA DA CULTURA NA TERRA DO CACAU

O ser humano criou a Cultura – hábitos e costumes, transformação da natureza. A cultura existe a partir do grupo e difere de um grupo para outro, porque os grupos sociais têm hábitos diferentes e vivem circunstâncias diferentes. Assim, a cultura dos povos que habitam locais frios é diferente daquela das regiões tropicais. Mas seja qual for o grupo social, pobre ou rico, habitante de zona temperada, da Groelândia, ou do deserto de Saara, a cultura é o grande bem que o grupo possui, pois ela é reflexo do seu modo de pensar e agir. Assim, nossa cultura é a soma da cultura dos diversos grupos sociais que deram origem ao povo ilheense: índios, negros e brancos, vindos de diversos locais diferentes, como suíços, alemães, franceses, turcos, sírios, libaneses, espanhóis, além, evidentemente, de portugueses. Os negros também vieram de grupos diferentes. Houve também uma migração interna, dos quais os principais protagonistas foram os sergipanos.

Esta cultura nos faz comer “quibe no tabuleiro da baiana”, conforme a professora Maria Luiza Santos, da UESC. Esta cultura é muito importante porque é nossa. É ela que nos confere identidade. Portanto, é muito importante que tenhamos consciência de sua existência e passemos a transmitir estes ensinamentos aos nossos jovens.

A importância de conservar nossas tradições, transmitindo-as às nossas crianças, é, pois, fundamental, para que eles permaneçam. A transmissão da cultura acontece pela educação, pois educar é, também, ensinar a criar hábitos.

Existem coisas muito interessantes que, nem sempre, nos damos conta. É sabido, é falado, que o brasileiro é um povo limpo que gosta de tomar banho. Isto é cultural e foi herdado dos indígenas. O europeu não partilhava destes hábitos, foi seu encontro com o índio brasileiro, certamente “calorento”, que gerou esta cultura do banho, da limpeza. As tradições culturais e a cultura imaterial são muito importantes e precisam ser transmitidas para as gerações que nos sucedem.

Conservar nosso patrimônio imaterial é preservar nosso patrimônio cultural. Alguns autores já colocam até a natureza como parte do patrimônio cultural, pois é o ser humano que lhe confere significado. E, como nas sociedades simples, são os mais velhos que transmitem para crianças e jovens a importância do patrimônio.

Segundo a historiadora Ecléa Bosi, “o passado não é o antecedente do presente, é a sua fonte”. Historicamente são poucos os povos que criaram o hábito de conservar a produção cultural de seu povo, pois era comum se valorizar a história e o patrimônio ligado aos grupos de elite, mas o popular era considerado sem importância e, por isso mesmo, se perdia no tempo. Do ponto de vista da história é relativamente recente a importância que se dá à cultura vinda do povo; começou na década de trinta do século passado, com o movimento que teve início na França, denominado Ecole des Analles.

Atualmente, com a mentalidade surgida na França e introduzida no Brasil nos anos sessenta, já não se concebe que o patrimônio histórico e cultural de um povo seja destruído, seja ele qual for. Um grupo de idealistas e sonhadores, dentre os quais me incluo, vem lutando, primeiro para fazer nosso patrimônio conhecido, já que, nem isso ele era… ou é. Depois, o que é mais difícil e importante, para que ele seja preservado. Assim, temos lutado e falado e divulgado da importância dessa preservação, até mesmo para desenvolver a atividade turística.

Recentemente, um jovem de oitenta anos, Manoel Carlos Amorim de Almeida, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Ilhéus criou, elaborou os estatutos e tornou legal, a Sociedade de Defesa do Patrimônio Histórico de Ilhéus, a SDPHI. Nele pode ser incluído, patrimônio histórico e cultural, pois um não existe sem o outro.

Precisamos ampliar a abrangência do nosso trabalho, incluindo nas grades curriculares de nossas escolas, como disciplina transversal, o amor pelo patrimônio edificado e pelas práticas culturais de nosso povo.

E gostaria de encerrar estes comentários, fazendo minhas as palavras de Mário de Andrade, grande responsável pela manutenção de nosso patrimônio cultural: “O ensino primário é imprescindível, mas não basta ensinar o analfabeto a ler. É preciso dar-lhe contemporaneamente o elemento em que possa exercer a faculdade que adquiriu. Defender nosso patrimônio histórico e artístico é alfabetização”.

Maria Luiza Heine
mlheine@oi.com.br

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