A PIAÇAVEIRA

Escrever semanalmente uma matéria para jornal, não é tarefa fácil. Principalmente quando esta não é nossa atividade principal. Mas, em compensação, nos dá uma grande experiência, pois nos ensina a buscar um tema, quando não o possuímos.
Esta semana fiquei a pensar sobre o que poderia escrever e, nada me veio à cabeça. Quando isto ocorre ponho-me a buscar em meus arquivos, até encontrar algo que possa interessar ao que me proponho a fazer. E foi assim que cheguei à piaçaveira, uma palmeira nativa, patrimônio natural desta região.

Por outro lado, de acordo com o professor francês Hugues de Varine-Boham, homem de grande erudição e assessor internacional da UNESCO, a problemática do Patrimônio Cultural é bastante abrangente. Ele sugere que tal patrimônio seja dividido em três grandes categorias de elementos. Primeiramente, ele arrola os elementos pertencentes à natureza, ao meio ambiente. “São os recursos naturais que tornam o sítio habitável. Nesta categoria estão, por exemplo, os rios, a água desses rios, os seus peixes, a carne desses peixes, as suas cachoeiras e corredeiras transformáveis em força motriz movendo rodas de moendas, acionando monjolos e fazendo girar incrivelmente rápidas as turbinas das usinas de eletricidade” (LEMOS, 2000). É partindo desta afirmativa, que me ponho a falar da nossa piaçaveira, como patrimônio cultural do sul da Bahia.

Valorizar nosso patrimônio natural faz parte da preservação do meio ambiente e do nosso patrimônio cultural.

Desta forma pode-se afirmar que, dentre as palmeiras que produzem fibras, a piaçaveira é considerada a que detém maior importância econômica. A necessidade de poucos recursos financeiros para o plantio, manutenção e exploração, tornam a piaçaveira uma opção agrícola atraente, pelos reduzidos riscos e altos rendimentos que proporciona ao investidor.

Se forem agregados os rendimentos de outras culturas presentes num sistema agroflorestal, provavelmente esse será o mais rentável, por unidade de área, além de preservar outros recursos naturais como água e solo. É importante ressaltar que a mata com piaçaveiras, apesar de apresentar menor produtividade, é de grande importância ecológica, podendo até mesmo tornar rentáveis reservas legais e outras matas mantidas conservadas, que tenham piaçaveiras ou possam ser enriquecidas com elas, porque não é necessário derrubar a mata para plantar a piaçaveira; isto poderia provocar um grande desequilíbrio com conseqüências negativas incalculáveis.

A exploração das piaçaveiras na Bahia é uma atividade puramente extrativista, cuja colheita gera empregos diretos e indiretos com importância social relevante. A piaçaveira está presente em nossa história desde que os portugueses aqui chegaram. E pode se tornar uma fonte de renda atrelada ao turismo, pois é matéria prima importante para o artesanato local.

Segundo Moreau, existem várias formas de comercializar o produto, propiciando diferentes valores de ganho, podendo o processo envolver até cinco etapas, entre o produtor e o consumidor.

A piaçaveira é uma palmeira nativa e endêmica, principalmente na zona de transição entre a restinga e a mata higrófila – ecossistemas do bioma Mata Atlântica – ao longo do litoral da Bahia. Por se tratar de uma espécie bastante adaptada a solos ácidos e de baixa fertilidade natural, pode ser considerada uma excelente opção de diversificação, podendo ser empregada no repovoamento florestal e na implantação de novos piaçavais tanto em áreas degradadas como em sistemas agroflorestais.

A exploração não predatória das piaçaveiras, por meio do manejo florestal, além de preservar o meio ambiente, pode vir a ser um modelo de exploração sustentável, considerando que a planta não é “sacrificada” durante o processo de obtenção da matéria-prima. Daí a importância social na geração de empregos diretos e indiretos nas fases da colheita, beneficiamento e comercialização. Acrescenta-se a tudo isso a sua importância no resgate da cultura indígena, que é mantida pelos seus descendentes, verdadeiros artesãos na utilização da borra da piaçava.

A piaçaveira tem também um papel social, pois nas áreas produtoras, centenas de empregos são mantidos nos depósitos de piaçava, onde é feito o seu beneficiamento, assegurando o sustento de muitas famílias. Dessa forma, tem-se a criação de trabalho, tanto no meio rural como urbano. Há também dezenas de unidades produtoras de vassouras, espalhadas em vários municípios, agregando maior valor ao produto.

A necessidade de poucos recursos financeiros para o plantio, para manutenção e exploração, torna a piaçaveira uma opção agrícola atraente, pelos reduzidos riscos e altos rendimentos que proporciona ao investidor.

A produção de fibras tem como destino outros estados da Federação, como também a exportação para países como Estados Unidos, Reino Unido, Portugal, Bélgica, Holanda, Alemanha e Argentina.

A piaçaveira ainda é uma riqueza pouco explorada, correndo o risco de extinção pelo desmatamento desenfreado. É um verdadeiro tesouro de nossa região, que está citado nas cartas dos portugueses, desde que eles chegaram a Porto Seguro.

Maria Luiza Heine
mlheine@oi.com.br

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