O Engenho de Santana por Arléo Barbosa

Todos os anos, no dia 26 de julho, uma multidão de ilheenses vai ao Engenho de Santana, em verdadeira peregrinação, para assistir os festejos em homenagem a padroeira, Senhora Santana. De acordo com a Igreja, ela é a mãe da Virgem Maria e a avó de Jesus Cristo.
A Capela da Senhora Santana é uma das mais antigas do Brasil. Foi construída pelos Jesuítas, no século XVI. É o único monumento de Ilhéus tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Igreja de Nossa Senhora de Santana

A imagem da Santa e a pia batismal, de mármore de carrara, são originais e chamam a atenção de todos que adentram o pequeno templo religioso. De acordo com a tradição local, a própria Santa escolheu o terreno onde seria erigida a igrejinha. Os Jesuítas queriam construí-la no alto, e a imagem, inexplicavelmente, aparecia, sempre na margem direita do rio Santana, onde se edificou a morada da Santa.

O Engenho de Santana (hoje Rio de Engenho,) surgiu de uma sesmaria doada pelo donatário da Capitania dos Ilhéus a Mem de Sá, em 1537. Posteriormente, a filha do 3º Governador Geral doou o engenho aos Jesuítas. Após a expulsão dos inacianos em 1769, o engenho passou a pertencer a Manoel da Silva Ferreira, depois ao Brigadeiro José Bittencourt e Câmara. Ultimamente pertenceu a D. Alice Maranhão Dias e após o seu falecimento a propriedade passou aos seus herdeiros.

Segundo Terezinha Marcis, o Engenho de Santana foi o centro econômico da Capitania, durante séculos.

O fato interessante da História do Rio de Engenho foi a tomada da propriedade pelos escravos que após matarem o “mestre de açúcar” ocuparam-na por dois anos consecutivos.

De acordo com João José Reis, os escravos redigiram um “tratado de paz” que é um documento “sui generis” do escravismo brasileiro. Entre outras reivindicações, os cativos exigiram dois dias da semana para trabalharem por conta própria. Solicitavam rede, tarrafa e canoas para pesca, além de plantações particulares de arroz, em qualquer lugar no engenho e, o que chama mais atenção, pediam eleição para feitor! Onde aqueles escravos ouviram falar em eleições? Em 1789, ano do levante no Santana, começava a Revolução Francesa e, poucos anos antes, houve a Independência dos Estados Unidos. Incrustados no meio da Mata Atlântica, como tiveram notícias sobre eleições? Havia já uma certa consciência critica naqueles escravos? Em 1821 tomaram novamente o Engenho e somente vão ser derrotados em 1824.

O Rio de Engenho está fadado a ser um dos mais procurados pontos turísticos da cidade.

No dia 26 de julho, os fiéis visitam a Santa e mergulham na atmosfera de liberdade que está impregnada em toda aquela área!

* Prof. Arléo Barbosa é professor universitário; membro da Academia de Letras de Ilhéus; do Instituto Histórico e Geográfico de Ilhéus e da Sociedade de defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Ilhéus. É Diretor do Colégio Fênix/Objetivo.

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