A vaca pescada por Guilherme Adami

Após uma semana inteira de temporal, eis que amanhece o dia, com o mar de almirante. Mar calmo, dia claro, gaivotas voando baixo. Já que a lancha (Carbrasmar 32 pés), estava apoitada no Iate clube de Ilhéus, e abastecida, de água e combustível, resolvemos sair para corsear, coisa que já não fazíamos, há uma semana devido ao mau tempo. Sabe como é pescador né? Dia bonito, da logo vontade de ir ao mar, pescar. Diferente de Itacaré, que se aproxima muito da plataforma continental, e rapidinho chegamos ao pesqueiro, Ilhéus é muito afastado, e portanto a chegada no pesqueiro é muito mais demorada. Ao chegar-mos em águas azuis, diminuímos a velocidade da lancha, e colocamos cinco linhas na água. As varas laterais, colocamos Lulas artificiais, uma de cada lado, e as três varas da popa, três rapalas. E assim continuamos nosso trajeto em direção ao pesqueiro, que nós conhecemos muito pelo nome de beirada das canoas. Local de grandes peixes, Marlins, Dourados, Cavalas e etc…
geralmente, gosto de navegar no flybridge da lancha, que é o local mas alto dela, e de lá da para ver toda extensão do mar.

Sempre vejo enormes tartarugas, na flor d’água.
Tão grande meu espanto, quando ao longe percebi algo muito estranho, pela forma e pela distância em que se encontrava, parecia uma baleia morta ou uma grande arbusto.
Logo comuniquei ao marinheiro, que mudou o rumo da embarcação, e navegamos em direção à esse objeto não identificado, pois possivelmente poderia ter algum peixe grande ao lado desse objeto.
Cada vez que nos aproximávamos, o objeto tomava formas diferentes em nossas cabeças, chegamos mesmo a pensar em até um grande tubarão.
Mas o a grande surpresa ainda estava por vir, foi quando ao chegarmos bem perto, pudemos constatar de que se tratava de uma vaca.É sim, caro leitores,uma vaca!!!!!
Surpreendentemente, esse animal, se encontrava a 15 milhas da costa, e ainda com vida. E como lutava por sua vida!
Ao perceber a presença da embarcação, o animal começou a nadar em direção dela, tentando a todo custo subir, coisa impossível de acontecer.
Sensibilizados com a luta pela vida, resolvemos tentar salvar aquele animal. Desligamos os motores da lancha e traçamos uma maneira de poder rebocar o animal até o porto de Ilhéus.
Utilizando o bicheiro, passamos uma corda entre o pescoço e uma das patas do animal de forma que a corda não a enforcasse.
Foram as mais tensas e longas horas que passamos até a chegada no porto. A cada ondulação maior, o animal tomava um grande caldo, de até mesmo pensar, “Que pena agora ele morreu”.
Que morrer que nada! Chegamos ao porto de Ilhéus, e à medida que nos aproximávamos, os funcionários portuários iam se aglomerando acompanhando a lancha, imaginando coisa tipo, que enorme cação, não é um grande canapú e etc.
Tiramos o laço do animal, pedimos a um dos funcionários, que era nosso conhecido, para que providenciasse retirar o animal da água com o guincho do porto, e que fornecesse algum abrigo até que nós voltássemos da pescaria, pois pescador é tudo igual, saiu para pescar, tem que ir pescar.
Saímos do porto em direção ao pesqueiro, só que agora com os motores a todo gás, pois tínhamos ganho um grande tempo rebocando aquela vida, mas perdido horas de pescaria, hora que queríamos recuperar.
chegamos ao pesqueiro ainda há tempo de fazer-mos uma boa pescaria, tanto de corso como de fundo. Pegando muitas peças, como atuns, dourados, cavalas, olhos de boi, vermelhos , guaiubas, oriocós, e etc.
Ao retomarmos da pescaria, ficamos sabendo que se tratava de uma vaca, da raça pardo-suíço, e que estava prenha.
ainda houve quem dissesse,”Vamos matá-la, vamos fazer um grande churrasco!!!” Ô instinto maldoso de alguns humanos não? Passamos horas tentando salvar e salvamos uma vida, e um imbecil, diz para matar o animal.
Pois é caros leitores.
Esse animal viveu por muito tempo em nossa fazenda, dando uma cria por ano, e suas crias, dando crias.
Hoje sereia não esta mais entre nós, pois morreu de velhice.
E acreditamos que estamos aqui contando esta história para vocês, graças termos salvado uma vida no mar.
Pois, muito tempo após esse episódio, fui vítima de um naufrágio há 05 milhas da costa e, incrivelmente, sem coletes, sem bóias sem nada, apenas contando com as forças da natureza, consegui chegar em terra-firme são e salvo e, não há quem me convença que isso não foi um crédito pelo salvamento daquela vaca!

Guilherme Adami de Sá
Médico e Pescador

A história foi publicada no blog de Duda Mendonça
www.blogdoduda.com.br

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