BC aumenta taxa básica de juros pela 2ª vez em 2008, para 12,25% ao ano

Como já era esperado, o Banco Central anunciou nesta quarta-feira (4) o segundo aumento seguido da taxa básica de juros no ano para combater a alta recente da inflação. O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidiu elevar, por unanimidade, a Selic de 11,75% ao ano para 12,25% ao ano, acompanhando a aposta da maioria dos analistas do mercado financeiro.
Em abril, o BC realizou o primeiro aumento desde maio de 2005, e os juros subiram de 11,25% ao ano para 11,75%. A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 22 e 23 de julho, e a expectativa do mercado financeiro é de novos aumentos na Selic.

Em nota divulgada após a reunião, o BC explica apenas: “Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros básica iniciado na reunião de abril, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic pára 12,25% ao ano, sem viés”, sem detalhar o que justificou a alta.

Segundo a pesquisa semanal do BC conhecida como relatório Focus, os economistas esperam que a taxa básica de juros termine 2008 em 13,75%. Isso representa um aumento de mais 1,50 ponto percentual, diluído nas quatro reuniões que o BC realizará até o fim do ano –possivelmente, dois aumentos de 0,50 ponto e dois de 0,25 pp.

Os economistas só esperam que os juros recuem novamente no próximo ano e, mesmo assim, para terminar 2009 em 12,50%, acima do que está hoje.

Inflação

As previsões de novos aumentos dos juros se devem não só à inflação, mas também às palavras do BC na ata da última reunião.

Na ata, a instituição diz que as altas recentes de preços são “impactos inicialmente localizados”, mas que apontam para o risco de uma “deterioração persistente” da inflação, o que justificaria o aumento dos juros.

Em relação às criticas de que o BC pode comprometer o crescimento da economia, o Copom diz que, ao combater a inflação, está ajudando a melhorar o planejamento das famílias e das empresas, além de “resguardar os importantes incrementos na renda real dos assalariados”.

Meta para 2008

Outra preocupação do BC são as previsões de inflação acima do centro da meta –que é de 4,5%– para 2008 e 2009. O mercado já estima que o aumento de preços vá ficar em 5,24% neste ano.

O índice oficial de inflação do governo, o IPCA, que é utilizado como meta para o BC, já está em 2,08% no acumulado do ano. Em 12 meses, o aumento geral dos preços chega a 5,04%.

Apesar dos números estarem dentro do intervalo de tolerância de dois pontos percentuais de inflação acima dos 4,5%, o presidente BC, Henrique Meirelles, disse no mês passado que o Copom tem de mirar sempre o centro da meta, já que há uma defasagem entre o aumento dos juros e seu efeito na economia.

Impacto ao consumidor

A taxa Selic serve de referência para os juros praticados no mercado financeiro. No caso do pequeno consumidor, por exemplo, as ações do BC podem se refletir no custo e na ofertas e crédito.

Segundo levantamento do próprio BC, as taxas cobradas pelos bancos no cheque especial e no empréstimo pessoal subiram em abril e alcançaram, respectivamente, 152,7% ao ano e 50,6% ao ano.

Mesmo assim o crédito vem crescendo, o que pode mudar caso o BC mantenha a trajetória de alta dos juros por muito tempo.

Entenda como a taxa básica de juros influencia a economia

A taxa de juros é o instrumento utilizado pelo BC (Banco Central) para manter a inflação sob controle. Se os juros caem muito, a população tem maior acesso ao crédito e consome mais. Este aumento da demanda pode pressionar os preços caso a indústria não esteja preparada para atender esse maior consumo. Por outro lado, se os juros sobem, a autoridade monetária inibe consumo e investimento, a economia desacelera e você evita que os preços subam (que ocorra inflação).

Com a redução da taxa básica de juros (Selic), o BC também diminui a atratividade das aplicações em títulos da dívida pública. Assim, começa a “sobrar” um pouco mais de dinheiro no mercado financeiro para viabilizar investimentos que tenham retorno maior que o pago pelo governo.

É por isso que os empresários pedem corte nas taxas, para viabilizar investimentos. Nos mercados, reduções da taxa de juros viabilizam normalmente migração de recursos da renda fixa para a Bolsa de Valores.

Em um cenário normal, é também por esse motivo que as Bolsas sobem nos Estados Unidos ao menor sinal do Federal Reserve (BC dos EUA) de que os juros possam cair.

Quando o juro sobe, acontece o inverso. O investimento em dívida suga como um ralo o dinheiro que serviria para financiar o setor produtivo.

Selic

Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e Custódia, criado em 1979 pelo Banco Central e pela Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto) com o objetivo de tornar mais transparente e segura a negociação de títulos públicos.

O Selic é um sistema eletrônico que permite a atualização diária das posições das instituições financeiras, assegurando maior controle sobre as reservas bancárias.

Hoje, Selic identifica também a taxa de juros que reflete a média de remuneração dos títulos federais negociados com os bancos. A Selic é considerada a taxa básica porque é usada em operações entre bancos e, por isso, tem influência sobre os juros de toda a economia.

Copom

O Copom foi instituído em junho de 1996 para estabelecer as diretrizes da política monetária e definir a taxa de juros.

O colegiado é composto pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e os diretores de Política Monetária, Política Econômica, Estudos Especiais, Assuntos Internacionais, Normas e Organização do Sistema Financeiro, Fiscalização, Liquidações e Desestatização, e Administração.

O Copom se reúne em dois dias seguidos. No primeiro dia da reunião, participam também os chefes dos seguintes: Departamento Econômico (Depec), Departamento de Operações das Reservas Internacionais (Depin), Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban), Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab), Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep), além do gerente-executivo da Gerência-Executiva de Relacionamento com Investidores (Gerin).

Folha São Paulo

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