6ª Flip aposta em pluralidade cultural e reuniões inusitadas entre autores

A sexta edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que acontecerá entre 2 e 6 de julho no centro histórico da cidade do Estado do Rio de Janeiro, contará com um amplo diálogo entre a literatura e suas áreas afins, criando uma pluralidade cultural que deve ser o destaque principal deste ano. A gande novidade deste ano ainda não confirmada pode ser a transmissão de todas as mesas via internet. Os ingressos começam a ser vendidos na próxima terça (10).

Aliando nomes consagrados da literatura mundial com encontros inusitados entre eles, a Flip 2008 terá um caráter mais diversificado que nos anos anteriores. O caráter literário do evento, como de costume, será misturado a temas como psicanálise, história, jornalismo, música e cinema, durante as discussões.

Em entrevista coletiva a primeira já feita nos seis anos da Flip Mauro Munhoz, presidente da Associação Casa Azul (organização que realiza o evento), e Flávio Moura, diretor de programação, deram detalhes de como serão as mesas com os autores que estarão na Flip deste ano e anunciaram a participação inédita de nomes da Alemanha (Ingo Schulze) e da Itália (Alessandro Baricco).

Munhoz lembrou os benefícios cultural e sociais que a Flip levou a Paraty desde sua primeira edição, em agosto de 2003, e comparou o feito ao conquistado pela cidade espanhola de Barcelona que, segundo ele, soube utilizar os Jogos Olímpicos, em 1992, para trocar sua cara decadente, à época, por referência de pólo cultural.

“Hoje podemos dizer que a Flip é fundamental para Paraty. E estamos felizes de que uma idéia, que antes era considerada quase improvável, esteja se institucionalizando”, afirmou Munhoz, ressaltando que a cidade foi incluída no projeto Destinos Indutores, previsto no Plano Nacional de Turismo 2007-2010 do governo federal, como um dos destinos-referência do país.

Programação

Moura, o diretor de programação da Flip, explicou que os eventos que acontecerão neste ano na feira foram pensados a partir de três pontos centrais, que guiaram a escolha dos convidados e a concepção do panorama dos encontros.

“Nosso norte e maior prioridade era trazer grandes nomes da literatura mundial como nos anos anteriores. Pessoas de calibre incontestável como Tom Stoppard ou Cees Nooteboom, autores de trajetórias exemplares”, disse Moura antes de afirmar que é “difícil definir uma estrela para esta edição”.

Além de convidados de internacionais, Moura disse que a terceira base da programação da Flip 2008 é o diálogo da literatura com outras áreas relacionadas. “Nosso foco é sempre literário, porém, vemos que este diálogo com outros campos enriquece a literatura e a favorece.”

O mosaico cultural terá bons representantes segundo Moura, que destacou alguns dos nomes que representarão diversas áreas. Entre eles, estão Elisabeth Roudinesco (psicanálise), Tony Judt (história), Carlos Lyra (música), Neil Gaiman (HQs) e o correspondente da BBC Misha Glanny (jornalismo).

No cinema e na TV, Luiz Fernando Carvalho, diretor do filme “Lavoura Arcaica” e da série “Os Maias”, e Lucrecia Martel, cineasta argentina responsável por “O Pântano” e “A Menina Santa”, devem compor duas das mesas mais concorridas de toda a Flip, segundo as expectativas da organização e imprensa.

Mesas

Moura ainda selecionou, a pedido dos jornalistas presentes, alguns dos encontros mais aguardados que devem acontecer em Paraty, durante as mesas de conversa.

Entre elas, o diretor destacou a reunião entre Lucrecia Martel que lançou em Cannes seu mais novo longa-metragem, “A Mulher Sem Cabeça” e o escritor gaúcho que estréia na Flip, João Gilberto Noll, na mesa intitulada “Ficções”.

Segundo ele, ambos, apesar de trajetórias e repertórios distintos, se assemelham em sua inventividade e encontram afinidades em seu lado experimental quase pós-moderno e, assim, criam um encontro fora do lugar-comum e da obviedade.

Ainda abordando os encontros inusitados, Moura citou a mesa “A Mão e a Luva”, que contará com o quadrinista inglês Neil Gaiman criador de “Sandman” e o escritor e roteirista norte-americano Richard Price, que além de uma série de obras de sucesso com a crítica, também foi o responsável pela trama do clássico videoclipe “Bad”, de Michael Jackson.

O diretor lembrou ainda da mesa “Guerra e Paz”, que abordará aspectos da literatura africana hoje. Chimamanda Ngozi Adichie, estudante de Yale, autora de “Meio Sol Amarelo” e dona de uma visão política particular sobre a África, e o angolano Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, mais conhecido pelo pseudônimo Pepe, são os convidados do encontro.

Machado de Assis

Neste ano, a Flip também prestará uma homenagem aos 100 anos da morte do escritor e ícone da literatura brasileira Machado de Assis. A homenagem, porém, segundo Moura, será “comedida, discreta, crítica e equilibrada”, já que focará mais na polêmica da figura e das obras do autor do que na excelência de seus escritos.

O primeiro evento que envolve a lenda de Assis é a própria abertura do ciclo de debates da Flip. Em uma mesa chamada “A Poesia Envenenada de Dom Casmurro”, Roberto Schwarz falará no dia 2 de julho, a partir das 19h, sobre o livro do escritor carioca a partir de um texto inédito de sua autoria.

Outra mesa que focará no escritor é a “Papéis Avulsos”, que acontecerá no último dia de programação. A conversa será entre o embaixador Sergio Paulo Rouanet, que atualmente faz curadoria das correspondências de Assis para um projeto da ABL, a pesquisadora Flora Süssekind e o cineasta Luiz Fernando Carvalho, que atualmente faz uma adaptação de “Dom Casmurro” para uma série da TV Globo chamada “Capitu”, com estréia programada para o segundo semestre.

Tom Stoppard

Moura e Munhoz também destacaram a mesa “Shakespeare, Utopia e Rock’n’Roll”, que terá a presença do dramaturgo Tom Stoppard, tido por muitos críticos como o principal autor de teatro em atividade no mundo.

Stoppard terá sua trajetória relembrada na Flip em uma entrevista conduzida por ninguém menos que Luís Fernando Veríssimo, fã confesso da obra do dramaturgo e que deve roubar a cena durante o encontro.

Segundo os organizadores, a obra de Stoppard é importantíssima para a dramaturgia mundial. Porém, eles afirmam que sua pouca penetração na cultura brasileira se deve à dificuldade em traduzir seus textos, normalmente repletos de gírias ou expressões idiomáticas locais.

Sobre o número de visitantes esperados na Flip, Moura e Munhoz afirmaram que o número varia entre 15 mil e 20 mil pessoas e informaram que pretendem criar uma pesquisa, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, para analisar comprovadamente o número de visitantes.

6ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty)
Quando: de 2 a 6 de julho, no centro histório de Paraty (Rio)
Quanto: R$ 25 (tenda dos autores, onde os encontros podem ser assistidos ao vivo) e R$ 7 (tenda do telão, onde as mesas são reproduzidas em vídeo)
Informações e ingressos: www.flip.org.br

Veja a programação da Flip 2008

Quarta (02/07)

19h – A poesia envenenada de Dom Casmurro

Roberto Schwarz

Show de abertura

21h30 – Luiz Melodia

Quinta (03/07)

10h – mesa 1 – Primeiro Tempo

Adriana Lunardi

Emilio Fraia

Michel laub

Vanessa Barbara

11h45 -mesa 2 – O Espelho

Elisabeth Roudinesco

15h – mesa 3 – Retrato em Preto e Branco

Carlos Lyra

Lorenzo Mammì

17h – mesa 4 – Conversa de Botequim

Humberto Werneck

Xico Sá

19h – mesa 5 – Admirável Mundo Novo

Tony Judt

Sexta (04/07)

10h – mesa 6 – Formas Breves

Ingo Schulze

Modesto Carone

Rodrigo Naves

11h45 -mesa 7 – Ficções

João gilberto Noll

Lucrecia Martel

15h – mesa 8 – Os Fuzis

Caco Barcellos

Misha Glenny

17h – mesa 9 – Estética do Frio

Martín Kohan

Nathan Englander

Vitor Ramil

19h – mesa 10 – Veludo Cotelê

David Sedaris

Sábado (05/07)

10h – mesa 11 – Guerra e Paz

Chimamanda Ngozi Adichie

Pepetela

11h45 -mesa 12 – A Mão e a Luva

Neil Gaiman

Richard Price

15h – mesa 13- Fábulas Italianas

Alessandro Baricco

Contardo Calligaris

17h – mesa 14 – Paraíso Perdido

Cees Nooteboom

Ferando Vallejo

19h – mesa 15 – Shakespeare, Utopia e Rock’n’Roll

Tom Stoppard

Domingo (06/07)

10h – mesa 16 – Os Livros que Não Lemos

Marcelo Coelho

Pierre Bayard

11h45 -mesa 17 – Seco, Mentiras e Videotape

Cíntia Moscovich

Inês Pedrosa

Zoë Heller

15h – mesa 18- Papéis Avulsos

Flora Süssekind

Luiz fernando Carvalho

Sergio Paulo Rouanet

17h – mesa 19 – Folha seca

José Miguel Wisnik

Roberto Damatta

19h – mesa 20 – Livro de Cabeceira

Convidados da Flip 2008 lêem trechos de seus livros prediletos

Folha de São Paulo

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