Esta é a última publicação neste site com o formato atual, chega vou dá um tempo e parar para pensar.
Dediquei os últimos e melhores vinte anos de minha vida a Ilhéus, mas a cada dia esta cidade me fere mais me machuca mais me deprime mais.
Tenho certeza que meu caso de amor com Ilhéus não acabará nunca, mas as crises existem para agente parar e pensar. Será que ainda ta valendo a pena?
É esta a pergunta que tenho que responder a mim mesmo, quando tiver resposta terei um destino mesmo que ele seja ficar no mesmo lugar.
A gota da’gua foi ver a demolição da fábrica dos Kaulfmann, um tiro no peito para os que sonharam um dia em ver Ilhéus ser um destino turístico diferenciado e competitivo, usando para isso exatamente sua historia única no mundo a história de uma civilização forjada nas matas, plantando cacau e forjando a cultura da sustentabilidade.
Gerson
A vitória da insanidade
É verdade que esta fábrica representava um perigo para a segurança pública dos cidadãos que usam o terminal, é verdade também que seus proprietários demonstraram desprezo pelo perigo aos outros e pelo próprio patrimônio, mas a derrubada da primeira indústria de beneficiamento de cacau da América do Sul é mais uma lamentável perda e confirma nossa tendência a destruição da memória de Ilhéus.
Novamente a saída foi pelo caminho mais fácil, com isso perdemos todos, o local deveria ter sido desapropriado e transformado em um museu do chocolate ou coisa parecida. Dentro deste prédio existem as mais antigas máquinas de beneficiamento de cacau do Brasil, provavelmente do mundo, existem máquinas e equipamento que já não se fabrica mais, existe história pura e viva.
Com esta derrubada o poder público da mais uma demonstração da total ignorância e falta de respeito com a historia da cidade.
A história desta indústria tem a ver com a história do chocolate no Brasil, com a história desta região, com a história da família Kaufman uma das mais antiga e tradicional na produção, industrialização e venda
de cacau e derivados do mundo.
Mais que isso este prédio tem valor histórico por sua arquitetura, por sua chaminé a mais alta de toda a Bahia, por ser uma das primeiras indústrias do estado foi considerada um marco na industrialização desta região e de toda a Bahia.
A sua derrubada é um ato de pura ignorância, lastimável em uma cidade já tão sem memória.
A visão de saída única, ou seja, ou derrubava ou ela cai em cima dos outros é medíocre, faltou inteligência e respeito a história, desapropriar, recuperar, reerguer, transformar em espaço cultural, em equipamento de turismo de valor histórico, museu, galeria de arte, teatro entre outros usos seria o caminho adotado por qualquer povo que respeita e preserva sua história.
O futuro nos vai cobrar por esta barbaridade, este ato de insanidade ignóbil. Haverá um dia que teremos que reconstruir nossa história e lastimaremos muito ao descobri que um patrimônio deste chegou ao século
vinte e um e foi destruído por que as pessoas que são pagas para defender os interesses coletivos não souberem cumprir seu papel.
Onde estão nossos historiadores, onde estão os ilheenses verdadeiramente preocupados com nossa história, onde está o Instituto Histórico e
Geográfico de Ilhéus, os museólogos os artistas os intelectuais desta terra, a Fundação Cultural?
Sugiro ao Zé Nazal que faça um documentário fotográfico desta destruição insana com certeza um dia estes documentos iconográficos serão muito úteis, quando construírem uma aberração modernosa e fizerem um supermercado no local, os saudosos irão promover uma
exposição fotográfica da mais antiga indústria de chocolate das Américas e dirão aqui jaz a memória de um povo. Ilhéus já teve isso.
Gerson Marques
gerson-marques@uol.com.br