Os pesquisadores do Brigham and Women’s Hospital e da Harvard Medical School, em Boston, examinaram 90 mil mulheres, que preencheram questionários em 1991, 1995 e 1999 nos quais registraram a freqüência com que consumiam mais de 130 tipos diferentes de alimentos e bebidas.
As que consumiram uma porção e meia de carne vermelha por dia tiveram quase dobrado o risco de câncer de mama receptor-positivo à presença de hormônios, em comparação com as mulheres que consumiram três ou menos porções de carne vermelha por semana.
O estudo, divulgado na revista médica Archives of Internal Medicine, se soma a outros que já indicavam uma associação entre a ingestão da carne vermelha e o surgimento da doença.
Uma porção de carne foi definida como carne bovina, de porco ou de cordeiro ingerida como prato principal em uma refeição, dentro de um sanduíche ou consumida como hambúrguer, bacon, cachorro-quente ou qualquer tipo de carne industrializada.
A cada dois anos, as mulheres pesquisadas relataram se tinham ou não desenvolvido câncer de mama. Os casos foram confirmados pelos cientistas por meio de registros médicos e relatórios de patologia.
No estudo, os pesquisadores verificaram o surgimento de tumores e também se os tumores foram causados por hormônios, como o estrogênio e a progesterona.
No final do estudo, 1.021 mulheres tinham desenvolvido câncer de mama. Foi constatado que 512 desses casos de câncer foram associados à presença de estrogênio e progesterona, 167 não se mostraram associados a estes hormônios, 110 tinham razões diversas e 232, origem desconhecida.
Saúde pública
“Vários mecanismos biológicos podem explicar a associação positiva entre consumo de carne vermelha e o risco de presença do receptor de hormônio de câncer de mama”, escreveu um dos líderes da pesquisa, Eunyoung Cho, na revista Archives of Internal Medicine.
Uma hipótese levantada pelos pesquisadores é que produtos químicos causadores de câncer, como a amina heterocíclica, foram encontrados na carne vermelha, industrializada ou não, submetida a um processo de cozimento.
Uma segunda potencial ligação entre carne vermelha e câncer de mama é o uso de hormônios de crescimento injetado no gado em alguns países, como nos Estados Unidos.
Os pesquisadores também afirmam que a carne vermelha é fonte do ferro que compõe a hemoglobina que, segundo pesquisas anteriores, acelera o crescimento de tumores causados por estrogênio.
“Dado que a maioria dos fatores de risco para o câncer de mama não são modificados facilmente, estas descobertas têm potenciais implicações na políticas de saúde pública na prevenção de câncer de mama e deveriam ser melhor avaliadas”, escreveu a equipe liderada por Cho.
Carne vermelha ‘aumenta risco’ de câncer no intestino
Um estudo europeu, publicado na revista do Instituto Internacional do Câncer, reforça a tese de que o consumo de carne vermelha pode provocar câncer no intestino. Os alimentos incluem carnes como as de boi, carneiro, porco e derivados como o bacon e o presunto.
O centro Investigação Prospectiva sobre o Câncer e a Nutrição da Europa (Epic, na sigla em inglês) diz ter encontrado novas provas de que a carne vermelha processada pode levar ao desenvolvimento da doença.
“Já suspeitávamos há algum tempo que o consumo a níveis elevados de carne vermelha e processada estava associado a câncer nos intestinos. Agora, temos certeza de que há uma relação séria, já que esse foi o maior estudo do gênero realizado na Europa”, disse Sheila Bingham, uma das autoras.
Os cientistas da instituição observaram os hábitos alimentares de mais de 500 mil pessoas na Europa ao longo de dez anos.
A conclusão é que as que comem mais de duas porções de 80 gramas de carne por dia correm 35% mais riscos de desenvolver a doença do que os que comem apenas uma (ou menos de uma) porção por semana.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia recomendado um consumo maior de peixes e menor de carne.
Proteção
Os cientistas, no entanto, perceberam que os riscos de desenvolver câncer no intestino são menores entre as pessoas que ingerem muitas fibras por meio de alimentos como verduras, frutas e cereais.
A ingestão de peixe também é capaz de proteger as pessoas do problema, mesmo que elas comam carne vermelha.
Apesar de o ser humano ingerir carne vermelha há milhares de anos, o que os cientistas acreditam que ocorra nos tempos atuais é que o consumo do alimento, juntamente com altos índices de gorduras e carboidratos, esteja elevando os riscos de doenças como o câncer de intestino.
BBC