Ficção ou Realidade?

Por: Maurício Maron

“Paraíso Tropical”, a próxima novela da Rede Globo, contará a história de um empresário que viaja pelo País em busca do lugar ideal para investir na construção de um resort. Nas últimas semanas, as autoridades municipais se esmeravam em confirmar Ilhéus como um dos cenários escolhidos para a gravação da novela, que se passará na cidade fictícia de “Pedra Bonita”, como se este fato, por si só, pudesse representar a redenção do turismo local. O assunto terminou por ganhar mais repercussão do que propriamente a troca do eficiente terceiro secretário municipal de Turismo, Hermano Fahning, que apesar de prestigiado pelo trade terminou a semana rebaixado à categoria de assessor técnico da Setur.

O problema é que mais do que a confirmação da ”ficção”, Ilhéus tem lamentado a falta de ações na sua história da vida real. Óbvio que a cidade virar cenário de uma novela global é garantia de uma mídia gratuita (?) que pode refletir em resultados positivos nos próximos verões. Se bem que já fomos cenário de “Gabriela” e “Renascer” e nossa vida quase em nada mudou. Mas durante ou após “Paraíso Tropical”, quem nos visitar vai encontrar uma cidade organizada e segura? Pronta para receber turistas? Com ruas limpas, sem buracos, sinalizadas? Com hotéis e restaurantes modernos e serviço eficiente? Esta é a diferença que pode definir o que é ficção e realidade, o que é o “paraíso” ou o “inferno” tropical.

Pergunte a qualquer especialista em turismo. Uma cidade só será efetivamente boa para os seus visitantes, quando puder ser digna para os seus moradores. Ilhéus não é. Nossas ruas estão sujas e esburacadas, as praias abandonadas, o trânsito desorganizado. Nossas favelas crescem. Não temos projetos de desenvolvimento. Estamos parados no tempo. Os hotéis vazios são o puro reflexo de uma cidade economicamente estagnada, sem investimentos e sem perspectivas. Se bem que a notícia da gravação de uma novela que será exibida em horário nobre, me parece mais alvissareira do que os últimos temas “nacionais” a que fomos submetidos pela grande mídia brasileira, como a compra de vereadores que ganhou espaço no “Jornal Nacional” e o nepotismo implantado no Palácio Paranaguá que se não nos choca mais, ainda recebe a indignação de grandes e importantes jornais e revistas brasileiros.

Fiquemos, portanto, eufóricos, como estão os representantes de um governo sem caminho, pelo simples fato de se gravar durante 15 dias uma novela global em nosso chão grapiúna. Vá lá que, no fundo, eles têm até uma certa razão. É bem melhor termos a cidade como cenário de um “Paraíso Tropical”, do que sermos escolhidos para o remake da Série Brasileira “O Bem Amado”, aquela escrita por Dias Gomes, nos anos 70, que imortalizou como o despreparado prefeito de Sucupira, o coronel Odorico Paranguaçu, como uma das mais “pitorescas” e “alucinadas” personalidades da vida pública brasileira.
Mas atenção: qualquer semelhança sobre que digo nestas linhas com a vida real, terá sido uma mera coincidência.

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