Fome ou indigestão, eis a questão!

O prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, passou a temer os próximos dois anos do seu mandato. Acha que, com a administração estadual petista, fortalecida com a histórica votação do seu principal opositor, Geraldo Simões, para a Câmara Federal, Itabuna vai viver a pão e água.
Mas como diz – sem meias palavras e permeado de verdade – o velho ditado popular, pimenta nos olhos dos outros é refresco. Eleito prefeito de Itabuna, anos atrás, Geraldo Simões foi levado por um interlocutor ao Palácio de Ondina. A missão era reivindicar obras para a sua cidade. Esperou horas, um dia inteiro, na ante-sala do Palácio e não foi recebido por um ex-governador pefelista que, à época, alegou compromissos mais importantes.
Nem pão, nem água serviram ao petista. E aqui, os que hoje começam a chorar, riram muito da descortesia. Até comemoraram.
Não me digam que isso é coisa da política. Não é. Principalmente quando no meio de toda essa guerra está a população carente de uma cidade cheia de problemas, à espera de soluções. Aliás, façamos uma justiça. Mais que o parceiro estadual, considerado o aliado de fé, o atual prefeito de Itabuna não foi esquecido – apesar de jamais citá-lo – pelo governo Lula. Recursos estão chegando. Obras importantes, também. E os projetos implantados durante o governo Geraldo Simões, jamais foram abandonados pelo governo federal após a administração municipal ter sido entregue a um “opositor”.

Na Bahia, a histórica eleição do ex-ministro Jaques Wagner é, de certa forma, a esperança de um novo tempo na política tupiniquim. Sem arrogância ou autoritarismo. É sonho? Por enquanto é. Ainda acredito em sonhos. Mas a realidade preocupa. O futuro governador precisa ter muito cuidado para não servir de linha divisória entre os que acham que vão passar fome e os que começam a se lambuzar antes da primeira refeição, vomitando arrogância e despreparo para a vida pública.

Nas últimas semanas ele próprio admitiu – e condenou – que a “fome” pelos quase 20 mil cargos na estrutura do governo estadual tenha levado alguns correligionários a situações indigestas, no mínimo, ridículas, comprometendo a sua imagem pregada ao longo da campanha, quando defendeu uma nova forma de se fazer política e de tratar as pessoas. Por isso a sua reação foi imediata. Convocou alguns interlocutores, e pediu para que, em suas bases, assumissem uma postura clara: discussão de cargos, somente após o segundo turno das eleições presidenciais. Ninguém está autorizado a falar ou se comprometer, por ele, em nada além desta decisão.

A mensagem foi levada aos quatro cantos da Bahia, inclusive aqui no sul, onde é condenável a postura de alguns “eleitores-aliados (?)”. Muitos se antecipando a quem poderia das ordens, têm até visitado repartições públicas em busca de informações que (pelo menos ainda) não lhes pertencem. Naturalmente que eles têm recebido a indignação de alguns setores da sociedade, e este sentimento, de certa forma, termina atingindo o governador eleito. Estão confundindo um direito de reivindicar com o ato de humilhar. Tem gente arrogantemente visitando a Direc, a Dires e tantos outros órgãos, querendo números, informações internas, sem autorização oficial do governador Wagner ou de pessoas de sua inteira confiança. Tem gente promovendo contagem regressiva na porta de instituições como o SAC, já se apresentando como substituto natural dos que, de lá de dentro, se sentem cercados e intimidados. Fazem isso no momento em que o governador eleito defende “o sepultamento de um modelo político superado, marcado pela truculência e pela falta de respeito”.

O governador Jaques Wagner vai precisar ser duro, rigoroso nessa fase de transição e de definições políticas. Saber escolher o caminho que pretende tomar e ser um firme comandante das transformações que defende. Ainda há muito tempo para que o seu governo seja montado de uma forma sonhada por todos os baianos, onde não haja fome para os que discordam, nem indigestão para os seus pseudo-ocupantes. É dele que a população vai cobrar. Mas como diria o filósofo Somerset Maugham, “um excesso de vez em quando é ótimo. Impede a moderação de se tornar um hábito”.

Maurício Maron