O Instituto, que divulgou seu Índice de Fome Global, também alertou que 127 milhões de crianças sofrem com insuficiência alimentar no mundo.
O índice mostrou que os problemas são mais graves nos países da África subsaariana. As dez piores posições do ranking são ocupadas por países dessa região.
Outro traço comum entre eles é o histórico de guerras civis ou conflitos violentos, afirmou o relatório.
Na América Latina, o Haiti tem problemas “alarmantes” nessa área, de acordo com o indicador.
MELHORES NOTAS – RANKING GERAL
Belarus – 1,59
Argentina – 1,81
Chile – 1,87
Ucrânia – 1,97
Romênia – 2,07
Fonte: Instituto de Pesquisas sobre Políticas Alimentares
O índice levou em consideração fatores como mortalidade infantil, desnutrição infantil e o número de pessoas com deficiência alimentar em 119 nações pobres ou emergentes até 2003.
Dos 12 países com as maiores pontuações no índice, nove enfrentaram guerras civis ou conflitos violentos..
“Conflitos armados agravam o problema da fome para além do seu impacto no desempenho macroeconômico dos países: combatentes frequentemente usam a fome como uma arma de guerra, cortando o fornecimento de alimentos, submetendo populações ‘inimigas’ à inanição, e capturando ajuda alimentar destinada a civis”, afirmou o relatório.
Os países do sudeste asiático registraram os piores resultados de mortalidade infantil.
No entanto, afirmou o relatório, “na maior parte da Ásia onde a Revolução Verde aumentou o fornecimento de alimentos, a fome e a desnutrição estão em queda desde os anos 80”.
Mulheres e Aids
O instituto criou uma pontuação que varia de zero a cem, em que zero é o melhor resultado.
A maioria dos países da América do Sul tem uma pontuação menor que dez, indicando problemas “moderados”. A exceção na região é a Bolívia, que está na faixa de pontuação 10-20, ou “grave”, junto com outros países centro-americanos.
PIORES NOTAS – RANKING GERAL
Burundi – 42,7
Eritréia – 40,4
Rep. Dem. Congo – 37,6
Etiópia – 36,7
Serra Leoa – 35,2
Fonte: Instituto de Pesquisas sobre Políticas Alimentares
O Haiti é o único latino-americano com pontuação maior que 20. Nessa faixa, também estão os países do sul asiático, destacou o relatório.
“Na Índia e em Bangladesh há altas taxas de desnutrição infantil. O status inferior das mulheres nos países do sul asiático e sua falta de conhecimento nutricional são determinantes importantes para a alta prevalência de crianças com baixo peso na região”, sublinhou a pesquisa.
O estudo apontou uma relação entre a Aids e a fome, já que muitos países com alta incidência do HIV tiveram resultados medíocres no ranking.
O diretor-geral do instituto, Joachim von Braun, disse que espera “mobilizar a vontade política para aumentar urgentemente o progresso na luta contra a fome nos países onde ela é pior”.
“Graças à adoção das Metas do Milênio, a fome e a pobreza saltaram para o topo da agenda do desenvolvimento global, com o objetivo de cortar a fome à metade em 2015”, ele lembrou.
Mas acrescentou: “Não podemos estar satisfeitos com apenas cortar a fome pela metade. O problema deve ser erradicado completamente.”
Índice mostra que, em 20 anos, Brasil reduziu fome pela metade
Em 20 anos, o Brasil reduziu pela metade o seu problema de fome, mostrou o Índice de Fome Global divulgado nesta sexta-feira pelo Instituto de Pesquisas sobre Políticas Alimentares, organização com sede em Washington.
Em 1981, o Brasil fazia parte do grupo de países com problemas “graves” de fome – pontuava 10,43 num ranking de zero a cem, em que zero é o melhor resultado.
Em 2003, ano até o qual foram compilados dados para o índice, o país pontuou 5,43 e ficou no grupo com problemas “moderados” de fome, afirmou a organização.
O índice levou em consideração fatores como mortalidade infantil, desnutrição infantil e o número de pessoas com deficiência alimentar em 119 nações pobres ou emergentes. Cerca de 815 milhões de pessoas passam fome no mundo, revelou a organização.
América do Sul
Em uma comparação com alguns países do Cone Sul, no entanto, a posição brasileira é pouco confortável.
MELHORES NOTAS – AMÉRICA LATINA
Argentina – 1,81
Chile – 1,87
Cuba – 2,57
Uruguai – 2,74
México – 5,10
Brasil – 5,43
Fonte: Instituto de Pesquisas sobre Políticas Alimentares
Mesmo em meio à crise dos anos 2000, o indicador caiu de 2,93 para 1,81 na Argentina, entre 1997 e 2003. O Chile teve trajetória e indicadores semelhantes para o mesmo período.
A ilha de Cuba, apesar do embargo econômico norte-americano, tem uma pontuação de 2,57 na lista.
Por outro lado, o relatório destacou que os países andinos fizeram “progressos significativos” nos últimos 20 anos, mas continuam em situação pior que o Brasil.
A Venezuela, país petroleiro que sofreu especialmente quando os preços internacionais do petróleo caíram, na década de 80, viu sua pobreza aumentar ente 1981 e 1997, quando começou a cair novamente.
A Bolívia é o único país sul-americano classificado como “grave” em termos de problemas alimentares.
Políticas
A pesquisadora do instituto e criadora da metodologia, Doris Wiesmann, propôs uma relação entre a capacidade econômica de cada país e seu desempenho no indicador da fome.
Considerando os recursos que têm disponíveis para o combate à fome, por exemplo, a Bolívia, assim como o Equador, “têm um bom desempenho” no combate à fome, ela afirmou.
Por outro lado, o Haiti, país que sofreu nos últimos anos ondas de instabilidade política, deixa a desejar nas estratégias de reduzir a insuficiência alimentar.
PIORES NOTAS – AMÉRICA LATINA
Haiti – 25,3
Guatemala – 16,9
Honduras – 14,0
Nicarágua – 13,5
Panamá – 12,21
Fonte: Instituto de Pesquisas sobre Políticas Alimentares
Brasil e México, países com economias grandes e problemas de fome de semelhantes intensidades, foram considerados “na média”.
A pesquisadora elogiou os programas de distribuição de recursos, como o Bolsa-Família, afirmando que eles são eficientes para romper a “armadilha” da fome.
Esquivando-se de opinar sobre a situação no Brasil, Doris citou explicitamente os programas sociais mexicanos.
“Se os pais de uma família são pobres e seus filhos não podem ir à escola porque têm de trabalhar, as crianças crescerão pobres. É muito difícil dar o primeiro passo e romper um ciclo de pobreza que dura gerações”, disse a especialista.
“É claro que tudo depende da implementação desses programas. Mas conceitualmente, eles ajudam muito”.
BBC