Viana comandava a Ceplac quando a vassoura-de-bruxa foi criminosamente espalhada
ITABUNA – O ex-coordenador geral da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), engenheiro Carlos Viana, confirmou ontem ao Correio da Bahia que foi criminosa a disseminação da vassoura-de-bruxa, praga que causou prejuízos à região sul do estado estimadas em US$10 bilhões e gerou uma massa de mais de 200 mil desempregados. Viana garantiu ainda ter encontrado em diversas fazendas galhos infectados amarrados a pés de cacau.
Viana contou que em maio 1989 – cerca de dois meses após a detecção do primeiro foco da praga, em Uruçuca (distante cerca de 50km de Itabuna) -, descobriu um saco contendo galhos de cacaueiros infectados com vassoura-de-bruxa em uma mesa do Centro de Pesquisa do Cacau (Cepec), órgão da Ceplac responsável pelos estudos relacionados à lavoura. “Junto ao embrulho, havia um bilhete escrito à mão, em letra de forma, dizendo: `Seus idiotas, a vassoura-de-bruxa já está espalhada aí, na cara de vocês”, relatou.
Profundo conhecedor da lavoura cacaueira, irmão do ex-deputado estadual Jorge Viana e superior hierárquico, em 1989, da sede baiana da Ceplac (situada entre Itabuna e Ilhéus), o engenheiro disse que não havia como a praga ter chegado ao sul do estado senão por obra de funcionários do órgão. “Eles é que tinham acesso às dependências da Ceplac e poderiam driblar a forte segurança no local, colocando aquele saco na mesa da direção do Cepec”, analisa.
Viana informou ainda que, caso a disseminação da vassoura-de-bruxa fosse acidental, a praga jamais estaria a cerca de 3km de distância entre as estradas e o interior das fazendas onde os primeiros focos foram descobertos, em Uruçuca e Camacã. “Digo mais. Quando vi os galhos infectados amarrados aos pés de cacau, eles estavam em pontos altos, de forma que pudessem se espalhar melhor pela ação dos ventos”, explicou.
Embora acredite em motivação política no ato de terrorismo biológico denunciado pela revista Veja, Viana evita dizer se a ação foi obra dos principais acusados pelo réu confesso no crime, o ex-militante político do PDT Luiz Henrique Franco Timóteo – o ex-prefeito de Itabuna e candidato a deputado federal, Geraldo Simões, Jonas Nascimento, Everaldo Anunciação e Eliezer Correia, todos funcionários da Ceplac, com histórico no movimento sindical do sul do estado e ligados ao PT local. “Não tenho provas para isso”, justificou.
Procurado pela reportagem, Franco Timóteo afirmou que foi ele, junto a Nascimento e Correia, que entrou na Ceplac em 1989 na tentativa de disseminar a praga nas reservas de pesquisa órgão. “Os galhos infectados estavam embrulhados em um jornal, mas não conseguimos colocá-los nos cacaueiros da Ceplac. Ambos (Nascimento e Correia) resolveram guardar o pacote, mas acabaram colocando em um saco. Eliezer (Correia) foi quem escreveu o bilhete”, informou.
Ao Correio da Bahia, Franco Timóteo ratificou o que disse em depoimento prestado na última semana à PF, acerca do recebimento de francos suíços e dólares por parte de Simões, em 1994, cujo montante totalizava cerca de US$20 mil. “Ele (Simões) deu esse dinheiro para que eu sumisse. A troca para a moeda brasileira foi efetuada por uma suíça, que era dona de uma agência de viagem situada na Rua Marquês de Paranaguá (centro de Ilhéus)”, disparou.
O delegado federal encarregado do caso, Miguel Sena, informou não ter encontrado o inquérito aberto em 1989 nos registros da PF. Afirmou que poderá em breve requerer o processo administrativo que teria sido instaurado na Ceplac, em 1989. Questionado sobre as buscas em torno da suíça, Sena se limitou a dizer que estava trabalhando para encontrar a mulher citada como sendo um dos elos entre Simões e Franco Timóteo.
CORREIO DA BAHIA/Jairo Costa Júnior/06.07.2006 = www.correiodabahia.com.br