Brasil se despede da Copa sem show e sem resultado

A Seleção Brasileira deixa a Copa do Mundo na Alemanha sem jogar o futebol virtuoso que muitos esperavam de Ronaldinho Gaúcho e companhia e sem o resultado que o técnico Carlos Alberto Parreira pregava como prioridade para a equipe.
“Tenho que ser muito sincero: é um momento duro ser eliminado nas quartas-de-final”, confessou Parreira, após a derrota por 1 a 0 para a França. “Não me preparei. Ninguém estava preparado para sair da competição antes das finais.”
O treinador havia estipulado a decisão do Mundial como grande objetivo do Brasil na Alemanha. Por isso, quando a Seleção jogava mal, mas saía com a vitória, Parreira lembrava que ganhar os jogos era o que realmente importava.
Mas, diante da França, o Brasil perdeu, e mereceu cair diante da superioridade da equipe liderada pelo craque Zinedine Zidane. A Seleção que combinava veteranos do penta de 2002 e os mais talentosos jogadores da nova geração não deu certo.
“Temos que pedir desculpas à torcida. Não fomos a verdadeira Seleção Brasileira”, disse o meia Kaká. “Eles jogaram melhor e mereceram. A França impôs seu ritmo de jogo muito mais que a gente. É um dia triste para o futebol brasileiro.”
Script
Uma das maiores surpresas na derrota do Brasil para a França foi a decisão de Parreira de mexer no esquema que a Seleção utilizava desde o ano passado.
O treinador fez aquilo que boa parte dos críticos cobrava: encontrou um lugar para Juninho Pernambucano, reforçou o meio-campo e deu mais liberdade para Ronaldinho Gaúcho.
Mas, desde o início da preparação do Brasil para a Copa, no final de maio, na Suíça, Parreira não treinou uma única vez a equipe com a formação que foi para campo no jogo deste sábado.
Apesar da retórica pragmática, o técnico campeão em 1994, que sempre se irritou com o rótulo de “retranqueiro” e aceitou o desafio de voltar a dirigir a Seleção depois da saída de Luiz Felipe Scolari, deixou a impressão de que queria vencer e convencer.
O fracasso na Alemanha frustrou Parreira. Sempre coerente, o treinador garante que não tem arrependimentos, mas admite que espera ser cobrado pela derrota.
“Mas não me arrependo em nenhum minuto. Quem comanda tem que ter coragem em tomar decisões”, disse Parreira. “Quando um time ganha é por causa do talento dos jogadores. Quando perde, o culpado é o técnico. Estamos apenas confirmando o script.”
Geração vencedora
Com a eliminação diante da França, alguns jogadores devem encerrar seu ciclo dentro da Seleção Brasileira.
Pela idade, Cafu, Roberto Carlos, Zé Roberto, Gilberto Silva, Juninho, Emerson, Rogério Ceni, Cris, Gilberto, Mineiro e Ricardinho dificilmente disputarão o Mundial da África do Sul, em 2010, quando todos terão mais de 33 anos.
O futuro de Ronaldo, que terá 33 anos na próxima Copa, é incerto. O atacante quebrou um recorde histórico na Alemanha e tornou-se o maior goleador da história do torneio, mas ainda avalia que é cedo para pensar na motivação de disputar mais um Mundial.
“Somos uma geração vencedora, mas todos precisam de tempo para esfriar a cabeça e esquecer a derrota”, disse o atacante. “Mais para a frente, a gente volta a pensar na Seleção.”
Para Cafu, que aos 36 anos alcançou na derrota deste sábado a impressionante marca de 150 jogos com a camisa do Brasil, o fim parece mais próximo.
Colecionador de títulos, vitórias e recordes, o capitão do penta caiu de produção nos últimos anos e foi, ao lado de Kaká, um dos destaques negativos da Seleção na partida contra a França. O lateral evita falar em despedidas, mas já faz um balanço da carreira.
“Desde 1994, venho chegando em todas as finais com a Seleção e sabia que, em algum momento, a gente podia perder”, disse Cafu. “Na próxima Copa, eu vou ter 40 anos e ser convocado ou não vai depender do Parreira ou do próximo técnico. Tenho uma história na Seleção e não é essa derrota que vai manchar minha carreira.”
Ronaldinho
O desafio de recuperar a coroa do futebol mundial deve recair, portanto, sobre jogadores como Robinho, Kaká, Adriano, Cicinho e, principalmente, Ronaldinho Gaúcho.
O craque, que chegou à Alemanha como melhor jogador do mundo, decepcionou e teve uma atuação apagada na Copa. Na avaliação do experiente Cafu, o peso de sempre ter de dar show atrapalhou Ronaldinho.
“Ele é um grande jogador, mas criaram uma expectativa muito grande em cima dele, que ele tinha que passar o pé em cima da bola, que tinha que ficar driblando”, diz o capitão. “Em Copa do Mundo, não dá para fazer esse tipo de jogada. É uma competição de muita marcação.”
“A maior frustração foi não cumprir o nosso objetivo”, lamentou o próprio Ronaldinho. “Espero que a gente aprenda com a derrota.”

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