O protesto começou às 8h45, quando o navio Arctic Sunrise, do Greenpeace, atracou no porto para obstruir a aproximação de uma balsa que descarregaria grãos.
Antes de a polícia chegar, cinco dos quase 40 tripulantes do navio desembarcaram e tentaram escalar duas colunas que sustentam uma ponte do porto para tentar estender uma faixa com a inscrição ‘Fora Cargill’. Funcionários da empresa impediram a escalada usando jatos d’água. Quando a polícia chegou, os alpinistas foram presos e o restante da tripulação se trancou dentro de compartimentos do navio.
A situação ficou mais tensa quando um grupo de sojicultores conseguiu entrar no porto e tentou invadir a embarcação. A polícia federal conteve a reação e depois arrombou ela própria as portas das cabines para deter outros ativistas do Greenpeace. O navio foi rebocado depois para longe.
Segundo a ONG, uma ativista se feriu após cair da coluna que tentava escalar e outro foi atirado na água. A Cargill nega ter funcionários envolvidos nas agressões. ‘Infelizmente, contudo, muitos habitantes locais são contrários à campanha do Greenpeace na Amazônia’, afirmou a empresa em um comunicado. Paulo Adário, porém, diz que a Cargill ‘facilitou’ o acesso dos sojicultores às suas instalações.
Adário diz ter sofrido ameaças de morte e quer reavaliar a agenda do Greenpeace para os próximos dias em Santarém. ‘Está marcada uma manifestação na cidade para domingo, juntamente com outras ONGs, mas não sei se vai ser seguro participar.’ Até o fechamento desta edição os integrantes do Greenpeace continuavam na sede da Polícia Federal, que estava cercada por uma manifestação de sojicultores. Alguns policiais foram encarregados de proteger o navio.
Desmatamento exportado
A multinacional Cargill é apontada em um recente relatório do Greenpeace como a principal ‘vilã’ do desmatamento na Amazônia por fomentar a produção de soja para exportação.
As obras do porto da empresa, indutor da recente expansão da soja para a região de Santarém, sofreram contestações por parte do Ministério Público por falta de estudos de impacto ambiental.
As instalações recebem e estocam grãos que vêm de outras partes da Amazônia. De lá, a soja vai para a Inglaterra, onde é processada pela Sun Valley, subsidiária da Cargill que faz ração de frango.
RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo