Creche é necessidade básica, dizem crianças

A boa creche ou pré-escola é aquela que dá comida e brinquedo. Essa é a opinião de crianças de cinco e seis anos ouvidas numa extensa pesquisa coordenada pela Fundação Carlos Chagas e realizada a pedido da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e do Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil.
O levantamento das respostas de crianças e pais mostrou que foi em Estados mais pobres que a questão da alimentação apareceu com mais freqüência nas respostas. A conclusão dos pesquisadores é que, para essa população, o acesso à creche não é apenas uma exigência pedagógica mas também uma necessidade básica.
Foram mobilizadas equipes das universidades federais do Ceará, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul, Lavras e do Centro de Cultura Luiz Freire, em Pernambuco. Eles visitaram 52 creches e pré-escolas públicas e particulares e, após falar com 882 pais, professores e funcionários, entrevistaram 254 alunos.

Dos quatro Estados pesquisados (RS, MG, CE e PE), o fator alimentação apareceu com mais força em Pernambuco. Alguns pais chegaram a dizer que seus filhos dependiam da merenda nas creches pois não tinham alimentação adequada em casa.

“A questão da alimentação surgiu entre pais e alunos de forma muito diferenciada de acordo com os Estados. Achamos também muito importante a questão da brincadeira ter aparecido pela voz das crianças porque entre os pesquisadores já existia um consenso de que, nessa fase, ela era essencial para o desenvolvimento”, afirma Maria Malta Campos, da Fundação Carlos Chagas.

Ao ouvir pais e a equipe escolar, os pesquisadores perceberam que o cuidado com a criança preocupa mais do que os aspectos pedagógicos. Os itens com maior proporção de pais que os consideraram “muito importante” para uma boa escola foram cuidar bem da criança (92,5% dos pais), prédio limpo e bem cuidado (89,2%) e crianças bem tratadas (86,7%). Os de menor proporção entre 15 avaliados foram a preocupação em alfabetizar (67,9%), exigir ordem e disciplina (68,9%) e aceitar crianças com deficiência (69,0%).

Todos os percentuais de respostas “muito importante” são altos porque se podia escolher mais de uma opção. Entre docentes e funcionários, o resultado foi parecido. A resposta mais citada foi cuidar das crianças (94,2%) e a menos citada, alfabetizar (47,9%).

“A realidade legal [que estabelece o caráter pedagógico, e não assistencialista, de creches e pré-escolas] ainda não corresponde à realidade. Cuidar bem da criança é de fato muito importante, mas me surpreendeu o fato de até mesmo professores e funcionários terem colocado mais importância nisso”, afirma Campos.

O estudo –que teve apoio da ONG Save the Children, do Reino Unido– objetiva subsidiar os debates sobre financiamento da educação básica, em discussão no Congresso por causa do projeto de lei que cria o Fundeb (fundo que amplia o financiamento estatal para a educação básica).

“O estudo mostra o quanto as creches e pré-escolas são importantes, principalmente para a população de baixa renda. O objetivo é sensibilizar deputados e senadores para que percebam que é importante ter políticas públicas de financiamento adequado a essas crianças. Esse debate decidirá que nível de ensino vai receber menos ou mais recursos”, afirma Denise Carreira, coordenadora da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

Folha de S.Paulo

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