Gil afirmou que no momento não há ‘nenhuma razão’ para a saída de Leitão do cargo. Para Gil, a polêmica faz parte do ‘estado democrático’. ‘Tá bom, tá ótimo’, disse. Segundo ele, Caetano ‘está exercendo papel de cidadão’ que acompanha o trabalho do ministério: ‘Vejo com bons olhos, (Caetano) não é como alguns outros que fazem críticas e ao mesmo tempo dizem que não acompanham o trabalho’, disse, numa referência indireta a Gullar.
O ministro afirmou que ‘sempre foi difícil’ acabar com privilégios – na carta, Caetano cita expressão usada por Leitão na resposta a Gullar, quando referiu-se aos críticos como ‘ex-privilegiados do cinema’. ‘Quem é privilegiado? Quem não é privilegiado? Eles estão dizendo que havia privilégios e que estamos acabando? Está errado? Eu quero saber’, disse o ministro, sem citar nomes. ‘A idéia do ministério que nós estamos tentando perseguir claramente é que a política pública evite isso (o privilégio), que o edital, todos os modos democratizantes do processo decisório sejam adotados. Se está errado, me perdoem, eu não sei qual é o papel do governo. No nosso entender, o papel do governo é esse.’
Leitão representa o Minc junto às estatais e trabalha com elas na formulação das políticas de patrocínio de programas como o Petrobrás Cultural. ‘Ele é um (dos conselheiros), são oito. Não sei o que está por trás disso. Eles é que têm que dizer a que estão reagindo, por que estão reagindo. Estou aqui para ver quais são as políticas abrangentes, abertas, democráticas, públicas, que dêem acesso a número maior de atendidos’, disse Gil.
Barões da Cultura
Sá Leitão afirmou hoje que é vítima de ‘campanha difamatória’ iniciada por um grupo liderado pelo cineasta Luiz Carlos Barreto. ‘Havia acesso privilegiado aos cofres públicos, agora a política é democrática. Eles se sentem como ex-privilegiados, como se houvesse direito adquirido. Agora é tudo por editais’, afirmou. ‘Há interesse de querer claramente derrubar quem eles identificam como sendo um adversário dos interesses particulares deles, isso é o que está por trás da ação.’
Barreto não foi localizado em sua casa nem no escritório – o celular estava sem sinal. O secretário não criticou Caetano – para ele, os argumentos do compositor ‘são bons de debater’. ‘Levar isso adiante agora só interessa a quem quer antecipar a campanha eleitoral. Na verdade, sabe o que vai acontecer? Vai começar uma competição entre esses barões da cultura para ver quem vai ser o cara que vai bater mais no ministério. Para se colocar mais em oposição ao Lula como sendo alternativa para a Cultura. Óbvio que é isso. Com o Caetano é outra coisa, ele entrou num debate.’
A carta de Caetano foi publicada pela Folha de S. Paulo. ‘Meu argumento é o seguinte: seria totalitário se, além da contraposição no plano das idéias, nós tomássemos alguma medida usando, aí sim, o poder de Estado, que fosse discriminatória, assim: não gostamos do Ferreira Gullar, discriminamos o Ferreira Gullar. Isso seria totalitário, mas isso não está colocado, o Minc não fez e não fará nada disso’, afirmou Leitão. ‘Não é porque o cara critica o ministério que eu vou passar a tratar ele como inimigo, agora eles são assim. Como eu rebati uma crítica, passaram a me tratar como inimigo. Por que uma instituição pública não tem o direito de se defender de uma crítica? Comportamento totalitário tem sido o deles. A gente não quer adesão total, quer crítica qualificada. Então eu não ouço os discos do Caetano, mas critico? Não leio os poemas do Gullar, mas critico? Quantas pessoas criticam o Paulo Coelho sem ter lido?’
Fonte: O Estadão