Gil e Caetano geram polêmica

‘Peçam a minha cabeça ao presidente.’ Assim o ministro da Cultura, Gilberto Gil, reagiu à polêmica iniciada pelo poeta Ferreira Gullar e ampliada hoje, pela carta aberta do compositor Caetano Veloso, na qual ele afirma que a gestão do ex-companheiro de tropicalismo está ‘a um passo do totalitarismo’. Gil saiu em defesa do secretário de Políticas Culturais do Minc, Sérgio Sá Leitão, que respondeu às críticas de Gullar ao ministério chamando o poeta de defensor do stalinismo, o que motivou a manifestação de Caetano.
‘Digam qual é o próximo passo, apontem, o que é totalitarismo no ministério? Digam. Totalitarismo? É vago, eu não sei o que é, me digam, eu também preciso saber’, declarou o ministro ao Estado, após rápido almoço, em pé, no Palácio Gustavo Capanema. ‘O que é que Sérgio Sá Leitão fez de errado? O que ele fez em nome do ministério que não esteja de acordo com a orientação do ministério? Por que não pedem a minha cabeça em vez de pedir a dele? Peçam a minha cabeça, peçam ao presidente.’, declarou.

Gil afirmou que no momento não há ‘nenhuma razão’ para a saída de Leitão do cargo. Para Gil, a polêmica faz parte do ‘estado democrático’. ‘Tá bom, tá ótimo’, disse. Segundo ele, Caetano ‘está exercendo papel de cidadão’ que acompanha o trabalho do ministério: ‘Vejo com bons olhos, (Caetano) não é como alguns outros que fazem críticas e ao mesmo tempo dizem que não acompanham o trabalho’, disse, numa referência indireta a Gullar.

O ministro afirmou que ‘sempre foi difícil’ acabar com privilégios – na carta, Caetano cita expressão usada por Leitão na resposta a Gullar, quando referiu-se aos críticos como ‘ex-privilegiados do cinema’. ‘Quem é privilegiado? Quem não é privilegiado? Eles estão dizendo que havia privilégios e que estamos acabando? Está errado? Eu quero saber’, disse o ministro, sem citar nomes. ‘A idéia do ministério que nós estamos tentando perseguir claramente é que a política pública evite isso (o privilégio), que o edital, todos os modos democratizantes do processo decisório sejam adotados. Se está errado, me perdoem, eu não sei qual é o papel do governo. No nosso entender, o papel do governo é esse.’

Leitão representa o Minc junto às estatais e trabalha com elas na formulação das políticas de patrocínio de programas como o Petrobrás Cultural. ‘Ele é um (dos conselheiros), são oito. Não sei o que está por trás disso. Eles é que têm que dizer a que estão reagindo, por que estão reagindo. Estou aqui para ver quais são as políticas abrangentes, abertas, democráticas, públicas, que dêem acesso a número maior de atendidos’, disse Gil.

Barões da Cultura

Sá Leitão afirmou hoje que é vítima de ‘campanha difamatória’ iniciada por um grupo liderado pelo cineasta Luiz Carlos Barreto. ‘Havia acesso privilegiado aos cofres públicos, agora a política é democrática. Eles se sentem como ex-privilegiados, como se houvesse direito adquirido. Agora é tudo por editais’, afirmou. ‘Há interesse de querer claramente derrubar quem eles identificam como sendo um adversário dos interesses particulares deles, isso é o que está por trás da ação.’

Barreto não foi localizado em sua casa nem no escritório – o celular estava sem sinal. O secretário não criticou Caetano – para ele, os argumentos do compositor ‘são bons de debater’. ‘Levar isso adiante agora só interessa a quem quer antecipar a campanha eleitoral. Na verdade, sabe o que vai acontecer? Vai começar uma competição entre esses barões da cultura para ver quem vai ser o cara que vai bater mais no ministério. Para se colocar mais em oposição ao Lula como sendo alternativa para a Cultura. Óbvio que é isso. Com o Caetano é outra coisa, ele entrou num debate.’

A carta de Caetano foi publicada pela Folha de S. Paulo. ‘Meu argumento é o seguinte: seria totalitário se, além da contraposição no plano das idéias, nós tomássemos alguma medida usando, aí sim, o poder de Estado, que fosse discriminatória, assim: não gostamos do Ferreira Gullar, discriminamos o Ferreira Gullar. Isso seria totalitário, mas isso não está colocado, o Minc não fez e não fará nada disso’, afirmou Leitão. ‘Não é porque o cara critica o ministério que eu vou passar a tratar ele como inimigo, agora eles são assim. Como eu rebati uma crítica, passaram a me tratar como inimigo. Por que uma instituição pública não tem o direito de se defender de uma crítica? Comportamento totalitário tem sido o deles. A gente não quer adesão total, quer crítica qualificada. Então eu não ouço os discos do Caetano, mas critico? Não leio os poemas do Gullar, mas critico? Quantas pessoas criticam o Paulo Coelho sem ter lido?’

Fonte: O Estadão

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